domingo, 1 de novembro de 2020

Porque não “Faire la queue”?

 

Os livros, sendo uma fonte de alimento cultural imprescindível, mesmo hoje, não mereciam ser assim marginalizados. Tal como se fazem bichas para os supermercados e demais estabelecimentos alimentares, farmacêuticos e outros imprescindíveis, porque não se usa idêntico processo para com o resto dos negócios de vendas – roupas, calçado, ferragens, livros, discos…. – evitando este atropelo aos negócios, ainda que de forma rígida, por meio de paciente bicha – as bichas prestam-se a leituras, por exemplo, para não desesperarmos, enquanto esperamos… Façamos bicha, como no tempo da 2ª Guerra, para as senhas do arroz, das massas e do açúcar racionados. A minha mãe também fez, na loja de cima, bem apetrechada, do sr. Celestino, e trocava depois com a srª Palmira, as aquisições do açúcar desta pelas nossas das massas, lá em Pinheiro, onde às vezes, antes de partirmos para a escola, nos adoçava o leite da manhã com rebuçados, o que não sabia nada bem, ficou-me a lembrança. Em casa da srª Palmira não se tomava café com leite, pela manhã, ela usava menos açúcar e mais massa, era nossa vizinha e tinha terras próprias, que exigiam outras substâncias alimentares de destreza, logo pela manhã…

Fechar assim, as livrarias? Em França, o país das Luzes? “Ces romains sont fous”!

Com as livrarias fechadas em França, Shakespeare and Company pede ajuda para sobreviver

Icónica livraria parisiense com 69 anos de história, cujas vendas caíram quase 80% desde Março, pediu a leitores que a apoiem com compras online. Sector livreiro diz que encerramento de quatro semanas decretado por Emmanuel Macron surge, tragicamente, na altura em que as livrarias registariam mais lucro.

DANIEL DIAS

PÚBLICO, 30 de Outubro de 2020

A Shakespeare and Company, uma das livrarias mais emblemáticas do mundo, está a pedir aos seus clientes habituais que apoiem a casa com compras e encomendas através do site, contanto que tenham “os meios e o interesse” para o fazer. Situado no alinhamento da Catedral de Notre-Dame, o histórico espaço parisiense – cujas vendas, revelou a administração na quarta-feira, caíram quase 80% desde Março – está a passar por uma situação de grave sufoco financeiro, cujas proporções podem crescer ainda mais com o novo confinamento parcial em França, que entrou esta sexta-feira em vigor.

“Como muitas empresas independentes, estamos a passar por dificuldades, a tentar encontrar um caminho neste tempo em que temos vindo a trabalhar com prejuízo”, assinala a Shakespeare and Company na newsletter enviada aos leitores. Sylvia Whitman, filha de George Whitman, proprietário que abriu a “versão actual” da Shakespeare and Company em 1951o norte-americano deu ao seu espaço o nome Shakespeare and Company em homenagem à livraria homónima que Sylvia Beach fundou em 1919, noutra rua de Paris, e que viria a fechar em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial –, disse ao jornal britânico The Guardian que a casa já usou “todas as suas poupanças” e que nesta fase está a fazer uso dos “apoios governamentais” a que tem podido recorrer. “Mas isso não cobre as dívidas todas, já tivemos de atrasar uma grande parte da nossa renda”, assinala.

Quando abriu a actual Shakespeare and Company, que celebrará 70 anos em 2021, George Whitman quis imprimir ao espaço a mesma dimensão acolhedora da loja de Sylvia Beach, por onde passaram escritores como James Joyce, Ezra Pound, Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald ou Gertrude Stein. A “nova” livraria recebeu (e, nalguns casos, chegou a hospedar) nomes incontornáveis da Geração Beat: Allen Ginsberg, Gregory Corso, William Burroughs e Lawrence Ferlinghetti eram visitas regulares, sendo que Ferlinghetti acabou por traçar uma amizade particularmente forte com Whitman, falecido em Dezembro de 2011.

O primeiro confinamento em França manteve a loja fechada cerca de dois meses, período durante o qual, sustenta o The Guardian, a administração não apostou nas vendas online. Agora, com o novo encerramento de todos os serviços considerados não-essenciais e de espaços culturais até 1 de Dezembro, a Shakespeare and Company não tem outra possibilidade senão tentar investir na remodelação do site e no incentivo às compras digitais.

Para já, confirma Sylvia Whitman, a estratégia tem surtido efeito. Desde o envio da newsletter, diz a responsável, a livraria tem recebido várias doações e encomendas – um cliente terá gasto mil euros no âmbito da oferta especial Year of Reading, através da qual a Shakespeare and Company enviará, a partir de 2021, um livro por mês aos subscritores. “Não tínhamos dito nada publicamente no passado porque temos a noção de que toda a gente está em situações difíceis. Só queremos pedir às pessoas que nos ajudem a fazer o que fazemos, que é vender livros. Não queremos simplesmente dizer: ‘OK, abram as vossas carteiras e dêem-nos dinheiro.’ É mais do tipo: ‘Olhem, é isto que temos nas prateleiras. Aqui estão alguns dos lindos livros raros que temos. E seria incrível se conseguissem comprar um deles agora.’”

Sector livreiro contesta encerramento

Após o anúncio de novo confinamento feito pelo Presidente francês Emmanuel Macron, a União Editorial Nacional (SNE), o Sindicato das Livrarias Francesas (SLF) e o Conselho Permanente de Escritores (CPE) publicaram um comunicado de imprensa conjunto apelando a que as livrarias possam permanecer de portas abertas. Anne Martel, do SLF, explicou posteriormente à rádio France Inter que este encerramento forçado não poderia ter chegado em pior hora para o sector livreiro, numa altura em que o Natal já espreita.Um quarto dos livros vendidos em França é comprado entre Novembro e Dezembro. Ou seja, 25% da facturação de uma livraria, em média, vem no final do ano”, frisou.

François Hollande acabou por se juntar a este protesto, defendendo que as livrarias e bibliotecas devem poder funcionar “em condições que não causem qualquer problema de saúde”. “Eu estive numa livraria na quarta-feira. É um lugar onde as regras de segurança podem ser plenamente respeitadas”, disse o ex-Presidente francês à rádio Europe 1. “Quando já não temos liberdade de movimento, devemos pelo menos ter liberdade de ler e pensar”, acrescentou.

Em “solidariedade” para com as livrarias, o Prémio Goncourt e o Prémio Renaudot, duas das mais importantes distinções literárias francesas, adiaram por tempo indeterminado as cerimónias protocolares de anúncio dos vencedores, ambas inicialmente calendarizadas para 10 de Novembro. O Prémio Interallié, que teria sido entregue no dia 18, seguiu o mesmo exemplo, bem como o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa.

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