Um texto de António Barreto que mereceu críticas gerais, como, de resto, vem
sucedendo a quem o conhece melhor. Sim, as vacinas, as descobertas científicas,
o que favorece o espírito humano, para defesa da saúde do homem… António Barreto fica feliz com essa eficiência e
rapidez na descoberta, pondo a nu, como é seu lema, outros valores, para além
da inteligência e da solidariedade, favorecedores dessa rapidez, alguns mais do
foro interesseiro, que ele alinha com o costumado êxito discursivo, a mostrar vaidosamente
saber e argúcia próprios, mas desta vez sem zanga. Mas a recente derrota de
Trump deixa-o igualmente feliz, autêntica vacina contra o seu vírus anti
trumpista. E vá de o escarrapachar no seu texto de felicitações, reconciliado
com a vida e com os homens. Não, também não gostei.
OPINIÃO: O
melhor também é possível
O que uns milhares de cientistas
fizeram, em menos de doze meses, sob enorme pressão humanitária, merece o
aplauso universal e é credor de admiração sem reservas.
ANTÓNIO BARRETO PÚBLICO, 28
de Novembro de 2020
Por
entre desastres e ameaças, os últimos tempos também nos trouxeram boas
notícias. A derrota de Donald Trump e a vitória de
Joe Biden estão nesse número. Assim como as primeiras vacinas contra o vírus covid-19.
Os
cientistas e a sua investigação acabam de prestar inesquecível serviço à
humanidade. Raramente ou nunca os esforços dos profissionais e dos
laboratórios chegaram tão depressa a resultados tão promissores. Sabe-se que há concorrência excessiva, com
propaganda e mentira à mistura. Sabe-se que há muito dinheiro em causa e que,
com a competição descomunal, se perdem meios e recursos. Que há quem exagere na
demonstração de bons resultados e quem esconda as insuficiências. Que as
vacinas estarão prontas para uns, mas não para todos.
Que os que têm mais poder, mais dinheiro, mais reputação e a nacionalidade
certa terão vacinas mais rápidas e mais eficazes do que os outros. Que há quem,
pessoa, governo, empresa ou Estado, use as vacinas para obter vantagens
económicas, comerciais ou políticas, legítimas ou não. Sabemos isso tudo.
Também
sabemos que, para certas doenças, não se encontram facilmente vacina e
tratamento. E quando ambos existem, nem sempre estão acessíveis. Sabemos que
doença de pobre não tem vacina fácil nem cura pronta. Como sabemos que doença
de todos ou de país rico depressa tem tratamento e vacina. E não ignoramos que,
por vezes, mesmo quando há vacina, tratamento e cura, não chegam sempre a todos
e a tempo. Tudo isso e muito mais não impede que o que se está a conseguir,
neste ano de triste memória, é motivo de regozijo e encanto. E admiração.
Dá
alegria viver com a certeza de que, em certas circunstâncias e sob determinadas
condições, as capacidades técnicas e científicas estão de tal modo
desenvolvidas que nos é possível ter confiança na humanidade. Habituámo-nos às missões espaciais que exigem uma
precisão e uma coordenação inacreditáveis e consideramos que são banais, que
qualquer um pode chegar lá. A ponto de pensarmos que a ciência e a técnica são
coisas de todos, banais. É com facilidade que julgamos que uma peça musical
barroca, uma escultura gótica, um belo romance ou um grande filme contemporâneo
são o supra sumo da criação e da inteligência, enquanto admitimos que qualquer
dispositivo técnico ou um adiantamento da ciência fazem parte da rotina. De um cientista ou de um engenheiro,
rapidamente diremos que “não faz mais do que as suas obrigações”, mas de um
poeta ou de um pintor, não hesitamos em classificar de genial a sua obra. E
assim não deveria ser.
O que uns milhares de cientistas fizeram, em menos de doze meses, sob
enorme pressão humanitária, merece o aplauso universal e é credor de admiração
sem reservas. E deixa-nos uma réstia de esperança, a certeza de que o espírito
humano, a organização científica e o esforço dos profissionais são capazes de
feitos memoráveis. São equipas e organizações como estas, em vários países, em
muitas universidades, em diversos laboratórios e em diferentes empresas que nos
reconciliam com o tempo presente. Não conhecemos ainda as consequências e a
eficácia de tais vacinas. Nem percebemos os êxitos obtidos nas áreas do
tratamento e da cura. Mas sabemos já que um grande empenho científico, sem
entraves artificiais, com nenhumas ou poucas distorções políticas, produz obra
de que a humanidade se pode orgulhar.
Notícias
boas também as que chegam da América. Eleições muito renhidas deram uma vitória
clara a Joe Biden, um sensato e cinzento democrata, contra
Donald Trump, uma das
maiores ameaças contra as liberdades e o equilíbrio das nações. Não foi vitória
simples nem folgada. Para surpresa de muitos, os resultados eleitorais do
Presidente Trump foram muito altos para uma presidência tão contestada. A
verdade é que foi a democracia que impediu os riscos que a democracia corria.
Como é sabido, também os sistemas democráticos podem destruir as democracias e
as liberdades. Uma decisão democrática não é necessariamente justa, solidária e
livre. Como se sabe hoje, as democracias “caem por dentro”, quantas vezes
através de processos democráticos. Como se vê hoje na Europa, na América Latina,
em África e na Ásia.
Há vinte anos que a democracia conhece um processo de inversão ou de captura. Há duas décadas que forças radicais ameaçam
eleitoralmente as democracias, conquistam posições nos parlamentos e até tomam
conta de governos. Na América Latina, graças a eleições com demagogia e
populismo, os maiores e mais ricos países daquele continente têm hoje
democracias frágeis ou fictícias. Em
África, quase
todas as experiências auspiciosas de poder democrático fizeram uma reversão,
retomando estruturas de poder violentas, procedimentos contestáveis e governos
de absoluta hipoteca partidária, militar e tribal. Na Ásia, enquanto alguns países nem sequer ergueram
estruturas aparentes de democracia, a maior parte recorre a esses procedimentos
e na verdade os governos estão cada vez mais prisioneiros de famílias, empresas
e partidos. Na Europa, países de antiga e sólida democracia vêem crescer
movimentos e partidos não democráticos e antidemocráticos, radicais de direita
ou de esquerda, enquanto países de novas e recentes democracias dão já sinais
inequívocos de quererem, com apoio do eleitorado, aprisionar e manipular a
democracia.
A democracia também é o regime
dos não democratas. E dos antidemocratas. É a sua força. E a sua fraqueza.
Dentro da democracia, está o seu próprio veneno, a sua morte. Mas também está o
seu remédio. A sua salvação
Estes
têm sido anos de dificuldade democrática excepcional. E os democratas nem
sempre parecem ter percebido ou terem meios de obstar, por vias democráticas,
ao declínio da democracia. Donald Trump e
os Republicanos causaram danos à democracia americana e ao mundo ocidental
cujas consequências não conhecemos ainda. Felizmente que os eleitores
americanos, isto é, um pouco mais de metade deles, reagiram, reduzindo assim a
quatro anos pretéritos o período de verdadeira violação da democracia que se
anunciava para durar muito mais. Os eleitores americanos acudiram a tempo, por
pequena margem, acrescente-se, mas por vias democráticas. A mensagem enviada ao
resto do mundo é clara: é possível que a América e os americanos não embarquem
em períodos de democracia alucinada, quem sabe se iliberal e caprichosa. É possível,
dentro da própria América, encontrar forças de resistência a todas as
tentativas demagógicas que proliferam por esse mundo.
A
democracia também é o regime dos não democratas. E dos antidemocratas. É a sua
força. E a sua fraqueza. Dentro da democracia, está o seu próprio veneno, a sua
morte. Mas também está o seu remédio. A sua salvação.
Sociólogo
TÓPICOS: OPINIÃO
COVID-19 VACINAS INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DEMOCRACIA ELEIÇÕES EUA 2020 JOE BIDEN
COMENTÁRIOS
Por bom caminho e segue INICIANTE: Não se entende este azedume em relação ao que Barreto
escreve se não se perceber primeiro que se origina em rancor partidário,
ignorância ou pura estupidez, características demasiado frequentes do povo
português. 28.11.2020 Fowler Fowler INICIANTE: Este optimismo não é inocente! Na verdade, à
segunda-feira, todos acertam no totobola! Foi preciso o democrata, o “cinzento”
Biden, ganhar as eleições nos USA para AB começar, pela 1ª vez, a qualificar o
Trumpismo. Antes disso, e depois disso, este liberal de pacotilha resume a
democracia apenas a um consenso de regras simples, uma pessoa um voto e todos
se podem candidatar a eleições, esquecendo, deliberadamente, que a democracia é
muito mais que isso.
Raquel Sousa INICIANTE: e qual seria a equivalência aqui no Putregal senhor
Barreto depois de ter possibilitado a venda do Alentejo aos espanhóis logo a
seguir a defender o Alqueva? Aqui deixam-se entrar os pais dos mexicanos só
porque são mais ricos e assim não fecharam as fronteiras no covid, pois não
podiam- tem negócios chorudos do lado de áa....Ou talvez as negociatas que
agora foram pela primeira vez proibidas pelo BE, PCP e PSD, do PS o seu partido
senhor Barreto? Ou as anteriores todas , e mais uma vez a Tap? Porque não
podemos ser um pais sem uma frota nossa perdulária, dado os ministros voarem e
não na easy jet como o comum dos mortais e vá lá que á é uma sorte? Ou vender a
plataforma continental aos chineses como O costa prepara há anos senhor
Barreto? Bloco central em queda nos 2 lados isso for sure. Responder Qualquer coisa EXPERIENTE: Haja esperança! Claro que mensagem de glória a nós
próprios por termos inventado a vacina rapidamente é desmontada em copos
sucessivamente menos cheios, porque isso é que dá negócio para os media. Eu sou
dos que acha do feito, um autêntico milagre civilizacional. Se todos nós tentássemos
viver mais os que nos une do que o contrário seríamos mais felizes. Já agora
alguma vez se sentiu feliz a queixar se do mundo? Sorria, é de borla. Pirandello INICIANTE: Que muitos o leiam e bem entranhem as suas palavras.
Sobretudo, as abundantes personalidades Portuguesas que não se acanham em
admitir que de Matemática e Física pouco percebem, mas às quais jamais
poderíamos fazer a desfeita de os dizer ignorantes de Séneca ou Baudelaire. A
estes junta-se um rol de pais que se perguntam por que razão devem os filhos
ter boas notas em Ciências se vão seguir carreiras em Marketing ou Direito...
Jonas Almeida MODERADOR: Estou em crer que a Democracia - a da Demos, não a do
clientelismo partidocrático ou a de aldrabices "sem alternativa" - é
a grande pela qual lutará o cidadão este século. Roberto34 MODERADOR: A luta pela Democracia já dura há muito tempo não é
deste século. Foi essa luta que originou a UE por exemplo, uma união de
Democracias Europeias prósperas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário