No circuito diário de uma flacidez encardida,
imposta por um estranho impositor, de conluio com os seus pares, de nada vale o
desespero deste Colunista do
Observador, Alberto Gonçalves, e de tantos que vêem o espectro da ruína a
avolumar-se sobre as vidas, com a conivência noticiarística atroadora e
implacável, de desvergonha confinada numa só temática….
Quando a Covid contagiar as séries
televisivas /premium
Quando os responsáveis da Assembleia
de Sábios se esquecem de conservar o peixe e Mendes, o Sábio Diminuto, não
consegue sentir o pivete, percebe-se que afinal há ali Covid.
ALBERTO
GONÇALVES Colunista do Observador
OBSERVADOR, 21 NOV 2020
The Crown
Um
épico acerca da evolução de um monarca perante as agruras do tempo. Como não
manda nada, o monarca aproveita o ócio para tirar fotografias com os súbditos
e, sobretudo, despir-se em público. O rei não vai nu, mas quase: qualquer
motivo serve para trocar de calções ou remover a camisa. Com o advento da
Covid, Sua Majestade sujeita-se a 40 testes diários, o que lhe concede folga
para lavar a roupa e pretexto para a tirar. À chegada da vacina da gripe, dá um
exemplo profiláctico ao povo e desata a tomá-las sem parança, naturalmente em
pelota. Como toma demasiadas, não sobram vacinas para a ralé. Felizmente, a
ralé venera o seu soberano e não leva a mal. Subtil e densa, “The Crown” mostra
que debaixo das vestes reais existe um ser humano complexo e frágil. “The
Crown” raramente mostra as vestes reais.
Lost
Após
o descarrilamento de um comboio esterilizado da CP, dezenas de pessoas dão por
si num lugarejo aterrador e remoto a que, por definição, atribuem o nome de
“Portugal”. “Portugal” é um sítio misterioso, com florestas em cinzas,
arquitectura medonha e inúmeras rotundas. E um vírus nunca visto, que só ataca de
madrugada e após os almoços dos fins-de-semana. “Lost” acompanha o confronto
das personagens com o ambiente hostil, uma relação que passa do medo inicial
para a resignação. Aos poucos, estabelecem um sistema organizativo
complicado, em que metade dos habitantes exerce o poder e a metade restante vai
à pesca para os sustentar. Aos sábados, fazem-se patuscadas. Quando os
responsáveis da Assembleia de Sábios se esquecem de conservar o peixe e Mendes,
o Sábio Diminuto, não consegue sentir o pivete, percebe-se que afinal há ali
Covid. Instala-se o pânico, o estado de emergência e dezassete comissões para
observar ambos. Os “ganchos” deixam o espectador em suspenso: será que a doença
dizimará toda a gente? Alguém conseguirá pressionar a enigmática “mola” e achatar
a ambígua “curva”? Cancelar as patuscadas impedirá a propagação? Porque é que
Jerónimo, o Sábio Vermelho, parece ser imune ao contágio? No final, as
personagens reúnem-se no Infarmed a inventar medidas, sugestão velada de que
estarão mortas. Ou pelo menos parvas.
Cops
Em
estilo de reportagem, “Cops” segue brigadas policiais em missões de reconhecido
risco: capturar lojistas a trabalhar para lá das regras do confinamento,
transeuntes sem declaração da entidade empregadora, proprietários da
restauração que permitem grupos de sete comensais, etc. A princípio, a série
parece estúpida. Com o hábito, notamos que é ainda mais estúpida.
The Sopranos
A
série centra-se na família de Tony “César” Soprano, que trabalha no
negócio da recolha de lixo para esconder o negócio da distribuição de lixo, ou
seja, dos incontáveis parentes por empregos sortidos. Tony “César”, o
patriarca, frequenta uma psicanalista para aliviar a consciência: pesa-lhe
ainda não ter conseguido empregar um concunhado do genro, rapaz que se baba e
daria um excelente director-geral. Tudo se complica no momento em que uma
família rival, chefiada por Don Rio, vai ao Benfica contratar Andrea Venturini,
um fora-da-lei que adora a lei. A função de Venturini é chatear Tony
“César” durante um jantar do período de confinamento, que limita o número de
convivas ao agregado nuclear. Como estarão apenas oitenta e quatro pessoas à
mesa, o plano de Venturini implica aparecer, com umas garrafas de vinho,
disfarçado de primo em terceiro grau – e depois atirar ciganos para cima de
Tony “César”. Infelizmente, Venturini chega à caixa do supermercado às 20h03,
hora a que o vírus, que passa o dia a fugir do álcool, já se entrega a uns
copos. Incapaz de comprar o Murganheira, Venturini muda de plano e vagueia
pelas ruas em busca de pedófilos para castrar. Sem pinga, a família de Tony
“César” ocupa o jantar a olhar para o balão (vazio). De repente, o ecrã fica todo
preto. O espectador poderá pensar que é Venturini. Mas não é: é um amigo dele.
Keeping Up With
The Kardashians
O
“reality show” em voga. Umas senhoras (com o ocasional cavalheiro à mistura, a
título de pechisbeque) sem nada para dizer falam incessantemente. A
radical ausência de méritos das protagonistas não as impede de decretar
comportamentos e “estilos de vida”. Dia após dia, sentadas atrás de uma
mesa, debitam insanidades contraditórias sobre a Covid como se tivessem acesso
a um patamar de conhecimento superior e não a um emprego que o PS lhes
arranjou. Usem máscara, não usem máscara. Visitem lares, não visitem lares.
Fiquem em casa, saiam de casa. Abram as escolas, fechem as escolas. Etc. Ao
lado, sujeitos traduzem o paleio a benefício (?) dos surdos-mudos. A tradução
para débeis mentais é desnecessária. Por falar em débeis mentais, há um público
para isto, e Graça Kardashian, a figura mais destacada, é uma “influencer” de
proa: muita gente cultiva orquídeas ou deixa falir restaurantes por sugestão
dela. Devido ao sucesso obtido, Graça e Marta Kardashian são capa regular das
publicações da moda, como a Notícias Magazine, a Tv Guia e o Público.
Walking Dead
Uma
visão distópica, na qual os cidadãos perdem os direitos, a autonomia e a
vontade e são condenados a vaguear pela Terra ou, à noite e nos fins-de-semana,
pelas respectivas salas de estar. A angústia suscitada pela série está na
absoluta arbitrariedade do Novo Normal, que determina regras sem fundamento ou
coerência. Os protagonistas, que são os escassos resistentes, vivem em fuga
permanente de mortos-vivos mascarados, sedentos de os besuntar com álcool-gel
ou denunciá-los à polícia. O objectivo dos nossos heróis é chegar a qualquer
concelho onde haja festança do PCP, o único lugar livre de imposições e
fanáticos do “distanciamento social”. O início de “Walking Dead” decorre num
hospital em ruínas, retrato do que sucedeu ao melhor SNS do mundo depois de o
PS o salvar.
Telejornal/Jornal
das 8/Jornal da Noite/CM Jornal/etc.
Produções nacionais, conjuntas, infantis e, até ver, as únicas já
disponíveis desta lista. Os nossos noticiários televisivos são a versão
ficcionada do dia-a-dia do governo socialista e dos seus aliados leninistas.
Nesta adaptação muitíssimo livre, não há interesses ocultos, redes de
corrupção, saques generalizados, abusos de poder ou supressão de liberdades: há
uma frente de esquerda que genuinamente se empenha em melhorar a vida dos
portugueses. Trata-se, pois, de uma narrativa onírica, tipo “Feiticeiro de Oz”
sem anões e com gordos. Os actores interpretam-se a si mesmos, embora a
tendência do dr. Costa para rir no meio das frases derrube a “quarta parede” e
desmonte o carácter paródico daquilo. Em plena quinta temporada, a Covid ajudou
a reinventar uma fórmula que ameaçava esgotamento. Nos últimos meses, os
noticiários têm criado, com notável inventividade, a história de um governo em
acção contra o vírus. Os mais pequenitos são levados a acreditar que aquela
gente sabe o que está a fazer, além de destruir a economia e subtrair dinheiro
à “Europa”. Apesar de o seu carácter absurdamente fantasioso não se destinar a
adultos, os noticiários proporcionam belos serões em família, de preferência
confinada.
POLÍTICA SÉRIES CULTURA PANDEMIA SAÚDE CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA
COMENTÁRIOS
Dinis Silva: Genial! joao
nunes: Gostei .... Alberto Rei: Tim, eu escolheria "os
mais pequenos são levados a acreditar que aquela gente sabe o que está a fazer,
Além de destruir a economia e subtrair os dinheiros da Europa" Realmente é
o que têm feito. Timóteo
Portela Ó meu caríssimo
Alberto Gonçalves : isto hoje está divinal !!! O sábio diminuto ...éhéhéhéhéhéh
! Não há açoite mais doloroso e eficaz do que aquele que espanca as ridículas
cavalgaduras com o requinte humorístico e a fina inteligência e ironia que aqui
magistralmente lhes aplica! Isto é escrita sarcástica que nada deve ao nosso
melhor e estimado Eça! Bem haja! PS: o mistério da imunidade do sábio vermelho é fácil de
explicar. Para lá de comprada, pelo preço de um orçamento do Estado, a um reles
náufrago esbracejante, radica na origem do onírico bicho: é cheneês cómunista.
Enviado precisamente para acabar com a liberdade e a democracia burguesa, em
auxilio do sábio vermelho. Até agora, estão a ganhar. E já levam um grande
avanço ...
Cipião Numantino: Hoje, o nosso estimado AG, pregou-me uma rasteira. Ou, antes, quando pensei
que iria ter a bola controlada fiquei sem ela num ápice. Donde, para não andar
aos papéis, e sem conseguir alcançar a sua pedalada, o melhor mesmo é eu ir
dedicar-me à pesca.
E foi isso exactamente o que fiz e, sem cana ou anzol,
tratei de pescar um suculento artigo proveniente do Wall Street Journal, com
tradução que não é logicamente minha, mas sim retirada de um site brasileiro
pelo que peço desde já desculpas pela inserção das brasileirices que entendi
por bem não alterar.
E aí vou eu, passando a transcrever o tema. Please,
leiam que acho que vale a pena pensar um pouco sobre o actual inferno
socialista na Venezuela:
…...//......
A multinacional irlandesa Smurfit Kappa, líder em
embalagens de papelão ondulado da Europa e uma das principais empresas de
embalagens de papel do mundo, anunciou recentemente sua saída da Venezuela,
alegando impossibilidade de manter sua produção perante as destrutivas
políticas implantadas pelo governo socialista de Nicolás Maduro. Foi mais
uma multinacional a sair do país. Mas este caso trouxe uma reviravolta.
Centenas de empregados venezuelanos da empresa, que dependem da multinacional
irlandesa para transporte, educação, moradia e alimentos, continuam aparecendo
diariamente na empresa querendo trabalhar. Eles se revezam em turnos para
proteger toda a pesada maquinaria contra roubos e saques, algo que se tornou
uma desenfreada rotina à medida que a Venezuela se afunda na hiperinflação e no
caos econômico. [...] "Socorro, precisamos de um patrão aqui! Estamos
desesperados!", disse Ramón Mendoza, funcionário há 17 anos da divisão
florestal da Smurfit. "Estamos apavorados porque só agora estamos vendo
que a única coisa que o governo sabe fazer é destruir absolutamente tudo,
todas as empresas. "O sofrimento destes trabalhadores ressalta a
devastação que as comunidades rurais venezuelanas estão vivenciando à medida
que as empresas privadas vão se retirando daquele país que já foi não apenas
o mais rico da América Latina, como também o quarto mais rico do mundo. A
economia já encolheu 50% nos últimos quatro anos. A única exclamação que me vem
à cabeça após ler a declaração do senhor Mendoza é: uau! Ele de fato entendeu
exatamente o que se passa:
"a única coisa que o governo sabe fazer é
destruir absolutamente tudo". Eis outro trecho do artigo: Os trabalhadores que
vivem perto da empresa haviam recebido empréstimos a juros zero da Smurfit para
suas casas. Os residentes afirmaram que, com a saída da empresa, eles não
mais podem contar com as quatro ambulâncias que a empresa bancava para servir
as comunidades ao redor. Na Escola
Técnica de Agricultura, que fica na cidade de Acarigua e que foi inteiramente
financiada pela Smurfit, aproximadamente 200 crianças que viviam na extrema
pobreza passaram a receber educação, moradia e também refeições quentes, as
quais se tornaram um luxo após o colapso das escolas públicas do país. Ao longo de duas décadas, muitos
dos formandos desta escola técnica foram trabalhar na Smurfit. O ano acadêmico
deveria começar em 1º de outubro, mas, sem dinheiro para alimentar e
transportar os estudantes, há apenas silêncio nos corredores e nas salas de
aula. "É como se todo o nosso futuro tivesse sido repentinamente
abolido", disse a senhora Sequera.
Agora, atenção
para o trecho a seguir. O governo venezuelano não apenas não faz a mais mínima
ideia de como consertar a baderna que ele próprio provocou, como os próprios
trabalhadores estão rejeitando o ideal socialista de assumir o controle dos
meios de produção.
Nos últimos dias, a administração Maduro afirmou que
havia encontrado uma solução para as instalações da Smurfit: os trabalhadores
iriam eles próprios administrá-la. O governo não irá estatizá-la, mas nomeou um
comitê temporário para ajudar a reiniciar as operações.
O Ministério do Trabalho não ofereceu detalhes de como
iria substituir toda a rede de distribuição da Smurfit, por meio da qual a
empresa abastecia suas subsidiárias em outros países. No entanto, os próprios
trabalhadores vieram a público dizer que eles não querem e não são capazes de
gerenciar as instalações, e insistem que querem ter patrões — mas desde que
não sejam funcionários do governo.
"Sabemos como transportar a madeira daqui para a
fábrica. Mas não sabemos nada sobre finanças e marketing", disse o senhor
Mendoza".
Novidade nenhuma, é claro. Isso é divisão do trabalho
pura e simples. Se operários fossem igualmente capacitados para também efetuar
tarefas administrativas, eles formariam cooperativas e seriam eles seus
próprios patrões. Só que, ao contrário do mundo cor-de-rosa imaginado por
socialistas, nem todo o operário é qualificado para efetuar também questões
financeiras e gerenciais. Nem todo operário pode assumir o controle dos meios
de produção com a mesma competência de empreendedores e capitalistas. Com
efeito, nem todo operário quer se tornar um empreendedor.
É interessante constatar como um
simples e rotineiro exemplo venezuelano jogou por terra todo um enorme
arcabouço marxista.
De resto, é impossível não se solidarizar com os
trabalhadores (agora sem patrões) da Smurfit. Eles simplesmente querem
trabalhar honestamente em troca de um salário honesto. Eles não querem brincar
de revolução, não querem ficar sem patrões e nem muito menos assumir o controle
dos meios de produção. Querem apenas continuar trabalhando, algo tornado
impossível pelas políticas socialistas adotadas pelo governo da Venezuela.
.….....//........
E pronto. Espero
que tenham gostado da minha pescaria mesmo que ao degluti-la seja necessário
colocá-la em molho de escabeche.
Eis aqui um exemplo actuante da contumaz desgraceira
socialista. São coisas deste tipo que nos esperam por estas bandas, se não
cortarmos o passo aos Costas e Medinas desta vida, mais as suas pancadas
ideológicas que estão a levar ao desespero as pessoas que vislumbram onde isto
nos vai levar. Boa prisão domiciliária para todos!
E não esqueçam, o xing y ling chinês só ataca após as
13 horas de sábado e domingo. Bicho esperto este, hein? Bem mais do que as
amibas que pululam pela xuxarada que nos calhou em sorte!...
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