Para repegar no tema banalizado da morte
assistida, contestando o chumbo do referendo pelos digníssimos parlamentares
que não sei se estudaram bem a lição ou se se deixaram embarcar nos argumentos
dos que palram melhor, em obediência aos seus anseios de difusão do bem-estar
social. Nenhum dos comentadores apoiou Isilda
Pegado, todos do partido da piedade pelos que sofrem, como
se tem visto. E foram insultuosos, tais comentadores. Ainda eliminei uma das
diatribes – do último comentador, por me parecer excessiva, mas a facúndia
insultuosa foi geral. A morte desses sofredores será bem-vinda, no mundo de intensa
piedade em que vivemos. Creio que o nazismo também foi adepto desses
extermínios, embora sem assistência, naturalmente, para não se pôr em risco as
vidas dos que os ordenavam. A nossa morte assistida é entregue a médicos
especializados, despenalizados desses crimes que lhes pesarão nas consciências,
se as tiverem, em vez de dizerem à família do condenado: “Faça você isso! Carregue
você com o fardo…”
Chumbo do referendo ou a eutanásia chumbada
Se esta lei for aprovada deste modo,
está aberto caminho para o autoritarismo e o despotismo. A democracia está
fragilizada e à mercê de quem se quiser apresentar para “limpar o mundo”.
ISILDA PEGADO, Presidente
Federação Portuguesa pela Vida, mandatária da I. P. Referendo
OBSERVADOR, 01 nov
2020
1O Parlamento
reprovou o Referendo à Eutanásia que uma iniciativa popular, nos termos da
Constituição, lhe dirigiu. Fê-lo com argumentos falaciosos e toldados por
uma ideologia que não se pode deixar de denunciar.
2Disse-se:
“A pergunta proposta era inconstitucional”. Não foi fácil formular a
pergunta, mas a apresentada colheu o visto de ilustres constitucionalistas e é
fiel ao texto penal. Se os deputados tinham
esse óbice poderiam, nos termos dos poderes que lhes estão conferidos, apresentar
iniciativa legislativa com pergunta que lhes parecesse mais conforme à
Constituição. Além de que cabe ao Tribunal Constitucional pronunciar-se sobre a conformidade da pergunta.
Mas, em Setembro próximo, se o processo legislativo ainda não estiver
concluído, qualquer um dos grupos parlamentares pode ainda propor, de novo, um
referendo à eutanásia. Com a pergunta que desejarem. Porque não?
Tal argumento é bacoco e sem credibilidade
política/científica. Areia para olhos incautos.
3Argumentou-se
que “nem a Vida nem os Direitos Humanos são referendáveis”. Ora, tudo o que é legislável (e não vedado pela
Constituição, art.º 115 n.º 4) é referendável. Este não era um referendo
à vida ou à morte. Era o pressuposto para que se pudesse fazer, ou não, uma lei
que permite ao Estado autorizar que se mate um homem ou uma mulher,
pretensamente na plenitude das suas capacidades mentais.
Se
a matéria não fosse referendável, não teria, sequer, sido admitida na sequência
do relatório do deputado António Filipe (PCP) e proferido, subsequentemente,
despacho do Presidente da Assembleia da República.
É, por isso, um argumento bacoco e
sem credibilidade política/científica. Areia para olhos incautos.
4“A
questão é demasiado complexa para ser decidida por sim ou não”. Todas as questões levadas a referendo, no mundo
inteiro, são complexas e a resposta só pode ser um sim ou um não. É por
isso que o poder legislativo é do Parlamento. Mas a questão basilar é
clara. Será o povo menos sabedor do que os
deputados? Aliás, dezenas de entidades, reconhecidas e ouvidas pelo Parlamento,
deram parecer negativo à eutanásia. Serão
menos capacitados que os srs. deputados? Bem sabemos que o referendo seria
apenas para dar, ou não, luz verde ao legislador.
Mais um argumento sem qualquer
fundamento político/científico. Areia para olhos de incautos.
5Invocou-se
o “direito à liberdade de cada indíviduo” em optar entre o “sofrimento indizível” e a
eutanásia. Como se a alternativa só tivesse esses dois polos. Esquece-se
que esse argumento (do século passado) tem hoje um conjunto de alternativas que
não podemos ignorar. Entre o “sofrimento” e o “pedir para ser morto”, há
todo um conjunto de alternativas da Medicina, dos cuidados paliativos, das
unidades de dor, do amor e dos que estão mais próximos, que podem e devem falar
mais alto. E que a lei e a sociedade têm a obrigação de proporcionar a quem se
encontre nessas circunstâncias.
O argumento da pseudo-liberdade
(individualismo) não tem qualquer fundamento político/científico. Areia para
olhos de incautos.
6Será
inútil continuar a esgrimir contra todos os “moinhos de vento”, que
infelizmente se levantaram como objecção ao referendo. Do debate
parlamentar apenas resultou a falta de fundamentos científicos, éticos e
sociais. Mas transbordou a força do poder
e a arrogância de quem, uma vez eleito, esquece o eleitor e os mais
carenciados. Esquece o bem comum e fica cego por uma ideologia que não olha a
meios para impor até a morte dos mais vulneráveis.
7Mas também se viu um poder que não suporta, e por isso
tenta humilhar, ignorar, desdenhar e esmagar os movimentos cívicos que não são
manipulados pelos partidos. A movimentação cívica espontânea e independente é
incomoda e deve ser abafada, ainda que com argumentos sem sentido – areia para
os olhos de alguns….
8A eutanásia ainda tem caminho
a percorrer. Ficou claro que quem se propõe fazer a lei não ouve a ciência (Ordem dos Médicos, Ordem dos Enfermeiros,
Conselhos Superiores das Magistraturas, professores universitários de topo,
associações reconhecidas e dezenas de entidades), não reconhece a ética
(Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida – entidade nomeada por
órgãos estatais e pelo próprio Parlamento) e não quer ouvir o povo. O chumbo do
referendo pode ter arrastado consigo o chumbo da eutanásia.
9Se
esta lei for aprovada deste modo, está aberto caminho para o autoritarismo e o
despotismo. A
democracia está fragilizada e à mercê de quem se quiser apresentar para “limpar
o mundo”. No governo dos povos não basta seguir a forma dos actos, quando essa
“forma” destrói a substância. O edifício está ferido e facilmente cai.
10Oxalá,
ainda haja quem olhe para esta lei que permitiria ao estado licenciar a
morte de pessoas (a pedido destas) e possa fazer valer a democracia, o
Estado de Direito e a Constituição.
O chumbo do referendo pode também
chumbar a eutanásia.
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um alerta sempre que Isilda Pegado publique um novo artigo.
PARLAMENTO POLÍTICA EUTANÁSIA SAÚDE REFERENDO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Paulo Alexandre : Ateu: Foi a Isabelinha que falou em
argumentos sem sentido? Curiosamente, quando esta questão foi colocada pela
primeira vez, há uns anos, a percentagem de portugueses favoráveis à eutanásia
não ia além dos 40%. Entretanto, as sondagens mais recentes dizem que 3/4 dos
portugueses têm uma posição favorável à dita cuja. Parece que os vossos
"argumentos" é que não têm sentido e não convencem os portugueses. Já agora, foi a Isabelinha que
falou em "movimentos cívicos"? Não me faça rir! Desde quando a Igreja
Católica é cívica e passou a ser um "movimento"? Paulo Alexandre :
Ateu: Será o povo menos
sabedor do que os deputados? Sim, é! Não sabe disso? Porque será que o povo elege
deputados, supostamente membros das elites científicas, intelectuais,
artísticas, filosóficas, etc? Porque será que os deputados são obrigados a
estudar as matérias que votam, consultando documentos, ouvindo argumentos e
pesando factos, questões e problemas que a esmagadora maioria do povo não está
minimamente preparada para avaliar? Se acha que o povo é tão sabedor como os
deputados, defenda a transformação do regime numa democracia participativa com
referendos regulares. Que tal governar os destinos de Portugal com referendos
diários online? Seriam lindos os resultados! Paulo Alexandre : Ateu: Se os deputados tinham esse
óbice poderiam, nos termos dos poderes que lhes estão conferidos, apresentar
iniciativa legislativa com pergunta que lhes parecesse mais conforme à
Constituição. Sim, sim, Isabelinha! Por isso mesmo é que, há dois anos, defenderam a
necessidade de realização de um referendo, não foi? Santa hipocrisia! José Crispim O artigo, deplorável na minha perspectiva, continua a invocar
argumentos que se resumem apenas a: 1 - Terá alguém o direito de decidir o que
EU faço com a "minha vida"? 2 - Terá alguém o direito de invocar um
inexistente deus (realço INEXISTENTE) para fundamentar que a vida "só a
ele pertence"? Eu, por exemplo,
nunca aceitaria "viver" sem o uso das minhas faculdades (andar, ver,
ouvir, usufruir da minha inteligência...). Não tenho esse direito? Ok, provavelmente terei posses para ir para a clínica
Veritas e, a meu pedido, que seja terminada a minha vida. Mas quem não tem? Aparecessem as "Isildas
Pegados" que vão levar para as suas casas para "que se cumpram os
desígnios de deus? Estas...
senhoras. apenas "defendem a vida" porque "...a deus
pertence...", mas "palavras" são o que são! Pergunto quantas adopções fizeram? De quantos
tetraplégicos tratam? Quantos doentes terminais tratam? Minha Senhora (Isilda Pego). O facto de a Senhora achar
que a sua vida pertence a deus, tem todo o direito de assim pensar e eu
respeito. Mas o facto de interferir na minha perspectiva - A MINHA VIDA
PERTENCE-ME - denota, pelo menos, uma baixa condição cultural, no mínimo...!!!! bento guerra: Cega, ou só descaramento? Maria Clotilde Osório: Muito obrigada a todos os
cidadãos que se mobilizam para participar na vida da Polis. Não são monstros;
são cidadãos responsáveis que, no pleno uso da sua liberdade, se organizam para
expor as suas opiniões e apresentarem sugestões ou alternativas. Devem ser
ouvidos e respeitados. E o Estado/sociedade devem oferecer ao indivíduo todas
as opções permitidas actualmente pela ciência para que este escolha em
liberdade. Não me parece que actualmente exista no nosso País um sistema de
saúde público ou apoios sociais que o permitam. Antes pelo contrário Paulo Alexandre : Ateu > Maria Clotilde Osório: Que nome se poderá dar a alguém
que sabe que uma pessoa se encontra em grande sofrimento, sofrimento que não
tem cura e não pode ser minorado, sofrimento que se perpetuará durante anos ou
até décadas de constante agonia e, ainda assim, acha que a dita cuja deve
manter-se viva, quando ela implora pela morte? Que nome se poderá dar a alguém
que se comporta dessa forma, a não ser um monstro sádico e cruel, incapaz de
desenvolver a mais mínima empatia porque considera que as suas próprias crenças
devem ser impostas à vida alheia? O que é que vocês, monstros sádicos e cruéis,
fizeram ao conceito de livre-arbítrio, que passam a vida a propagandear? Antes pelo contrário: Esta agitadora desonesta, reclama é o direito a ser
déspota em relação ao sofrimento dos outros, invocando falsamente a democracia
para impedir que cada um decida por si próprio.
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