quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Bolha antiga…

 

Um texto precioso, que mereceu comentários de vária natureza, mas a maioria apoiou, pela sua clarividência. Vivemos com medo, é certo, e o medo condiciona. Sabemos que aqueles dos governantes que pretenderam seguir as vias normais, se saíram mal nas suas opções. Mas as medidas, nas escolas, não deixam de ser ridículas e talvez inúteis e de convite a uma inércia perigosa. Como bem salienta Helena Matos. Mas haverá sempre bons e muito bons no mundo, trabalhemos nisso, confiemos. De resto, sempre vivemos um pouco em neblina… ou “nevoeiro”, disse-o Pessoa.

Os meninos da bolha /premium

O recreio foi proibido em várias escolas. Depois dos políticos que vivem numa bolha, temos os meninos da bolha. Os políticos da bolha abominam a realidade. Os meninos da bolha temem o ar livre.

HELENA MATOS Colunista do Observador         OBSERVADOR, 27 set 2020

Os alunos de várias escolas portuguesas não podem ir ao recreio “por medo da covid-19”. A opção é mantê-los dentro das salas de aula. Dizem os responsáveis que é mais seguro. A sério que as crianças ne adolescentes ficam mais seguros dentro da sala? Ou perguntemos ao contrário: não será mais seguro o ar livre do recreio do que o ambiente confinado da sala?

Não entro nem quero entrar na discussão sobre se para enfrentar o Covid-19 foi ou é mais eficaz o confinamento generalizado ou se pelo contrário devemos centrar as medidas nos grupos mais vulneráveis, como são os idosos institucionalizados. Tenho contudo a certeza de que confinar crianças dentro de uma sala de aula, impedindo-as de correr num recreio, é uma estupidez. Mais e muito pior, estamos a criar uma geração de meninos da bolha que, ao contrário do que aconteceu com o verdadeiro menino da bolha, David Vetter, que nasceu com uma doença imunológica rara, não nasceram doentes mas vão ficar cada vez mais frágeis física e psicologicamente. Qual é o risco de contrair Covid-19 por se frequentar o recreio? Quem o avaliou? Sim, já sei que para se chegar ao recreio os alunos têm de atravessar corredores e que no recreio as crianças acabam a tocar umas nas outras mas no que ao Covid-19 respeita são esses riscos superiores aos de ficar numa sala? E sobretudo quais são os riscos de uma infância em que não se saltou, não se empurrou, não se jogouem que não se teve tempo nem espaço que não fossem didacticamente assepticizados pelos adultos?

O combate ao Covid-19 veio acentuar a paranóia securitária que há longos anos se apoderou das escolas portuguesas e que levou a sanear dos pátios de muitas delas as árvores, a terra e tudo aquilo que não está devidamente homologado. Mas há que dizer que a escola apenas reflecte a tendência da sociedade: as crianças portuguesas do século XXI não podem molhar-se porque se constipam; não podem limpar as mesas porque, coitadinhas, isso não é da sua competência e, quem sabe, ficam com as falanges afectadas; não podem andar a pé porque se cansam; não podem comer doces porque ficam agitados; não podem beber leite porque são alérgicos; não podem ser chamados à atenção porque ficam traumatizados; não podem comer pão porque são intolerantes; não podem apanhar vento porque ficam com dores de ouvidos e agora não podem ir ao recreio por causa do coronavírus!

Somos cada vez mais um país de filhos únicos de pais a que outrora chamaríamos velhos. A complexificação da maternidade e da infância fizeram de cada criança um caderno de encargos de momentos que têm de ser perfeitos.

Como é óbvio, à medida que a sua vida se torna mais protegida os meninos-bolha tornam-se menos capazes de enfrentar as agressões do mundo, sejam essas agressões os vírus, a violência dos outros ou os mais prosaicos problemas da vida. E quanto mais artificial for essa vida maior a disponibilidade destas gerações para aderirem a discursos patetas e patéticos sobre a natureza. O que aí se diz e escreve sobre “salvar o planeta”, movimentos zero, ser amigo do ambiente, emergências climáticas, mais slogan, menos manifestação, vão todos dar à crença de que temos de expiar o pecado mortal de sermos humanos (dentro dos humanos há ainda uns mais culpados que outros, como rapidamente os meninos-bolha repetem).

Querem um símbolo do nosso tempo? A bolha. Temos uma geração de políticos que da sua bolha se preserva do que impõe aos outros: exaltam o SNS mas apenas recorrem aos hospitais privados; defendem a escola pública mas os seus filhos e netos não a frequentam; adoram os transportes públicos mas nunca os utilizam (tal como acontece com a bicicleta só os utilizam nos dias da propaganda); dizem que gostavam de viver no Bairro Amarelo onde apenas reparam na paisagem ao longe porque as suas dioptrias ideológicas não lhes permitem ver os prédios degradados, as rendas por pagar, o tráfico de droga, a lei do mais forte…

À bolha da política junta-se agora a bolha da vida com estas gerações de meninos cujo modelo de educação é a bolha. A bolha dos políticos ainda temos a esperança de a rebentar numas eleições. Quanto à geração dos meninos da bolha, a tal que nasceu intolerante a tudo e agora já nem pode ir ao recreio, tenho uma certeza: ou esta geração perde o medo do mundo ou o mundo tem fortes razões para vir a ter medo dela.

PS1. Não se aguenta mais a peça “Orçamento: agarrem-me senão eu aprovo-o” levada à cena por Catarina Martins desde que a partir de 2015 assumiu o papel de muleta do PS. Nunca tive o gosto ou o desgosto de ver Catarina Martins na sua vida pretérita de palhaça-actriz mas é francamente cansativa esta peça que, devidamente patrocinada por todos nós, mantém nos palcos de Portugal vai para cinco anos.

PS2. Diz o jornal Sol que está periclitante a reeleição do engenheiro Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU e que, caso tal não aconteça, a pátria, ou mais propriamente a Fundação Gulbenkian, o esperam. Desculpem, mas não pode ser pois ninguém está preparado para viver no país em que Marcelo está em Belém e Guterres na avenida de Berna. Não há povo que resista a tanto comentário! Com a particular agravante de que Guterres, ao contrário de Marcelo, é monocórdico nas suas fixações: há umas décadas tudo o que dizia desembocava na paixão pela educação. Depois entrou-lhe o frenesi dos refugiados: fosse qual fosse o assunto em discussão ele havia de chegar ao tema dos refugiados. Seguiu-se-lhe a fixação nas alterações climáticas. Pobreza, riqueza, guerras, paz… tudo, mas tudo sem excepção, ia dar ao clima e respectivas alterações. Agora o engenheiro Guterres anda ocupado com o género. A quem o quer ouvir (ou não quer mas a tal é obrigado) garante o engenheiro Guterres que o Covid veio expor as desigualdades de género… Dentro de algum tempo outra temática se seguirá com igual empenho e desacerto nas preocupações do nosso antigo primeiro-ministro. Em resumo, o engenheiro Guterres é um caso particular de síndroma de Tourette: não diz um único palavrão mas também não diz nada que se aproveite.

SOCIEDADE  EDUCAÇÃO  CORONAVÍRUS  SAÚDE PÚBLICA  SAÚDE

COMENTÁRIOS:

A. A. R. Alves: Entramos numa vertigem que só parará com violência.      Zé DO TELHADO: " De pequenino é que se torce o pepino"? O tempo não volta para trás, por isso, "o que la vai, la vai".     Isabel Mª S. Marques 100% de acordo! pedro dragone: Eu também estava (e continuo a estar) convencido que o risco de contágio é maior dentro da sala de aula que no recreio. Mas dando de barato que é no recreio, é por um ano (no máximo) de privação de recreio que as crianças irão ser afectadas?! Não me parece, Helena Matos, não me parece. Afinal eles, os putos, têm é de apanhar "choques" para aprenderem a dureza da vida e não andarem sempre metidos em "bolhas de nornalidade" não é HM ??? Ou nisto já não é ??!! LOL Mas compreendo: a coisa dá jeito à dramatização "que se impõe"! Olha eles e elas, por aí abaixo, em delírio ha ha há Dá-lhe palha Helena Matos, dá-lhes palha que o pessoal adora LOL       M M > pedro dragone: Concordo consigo. Os 15 (ou 10 ou o que seja) anos que um garoto passou agarrado ao smart phone, ao tablet ou à play station não são um problema. Não ter recreio agora é o fim do mundo. A sério?       Liberal Assinante do Local > pedro dragone: Não há volta a dar ao texto, Napoleão é que sabia: «O tolo tem uma grande vantagem sobre o homem de espírito: ele está sempre contente consigo próprio.»   M M > Liberal Assinante do Local: Os argumentos que utilizou para demonstrar que o pedro estava errado demonstram a sua inteligência, sem dúvida, Liberal.    Liberal Assinante do LocalM M: Dar trela a um tolo é já um passo para nos juntarmos a ele. O mesmo digo em relação a si, que está a "bascular" para se juntar a ele. Tinha melhor opinião dos seus comentários por aqui, mas a vida por vezes desilude-nos...        Carolina Matos: Alerta muito lúcido e pertinente. "Os meninos da bolha" já estavam a ser afincadamente preparados na era pré-covid. Esta nova distopia só veio providenciar a capa perfeita para aprofundar o processo produtivo. Trata-se, somente, de produzir o pasto acéfalo ideal para assegurar a sedimentação do presente totalitarismo progressista e, simultaneamente, neutralizar qualquer espécie de resistência, por exemplo, ao roubo da história, identidade e cultura dos "meninos da bolha", que, em todas as ocasiões, se querem exclusivamente cooperantes com a cleptocracia corporativa globalista e os neo-revolucionários totalitários, que têm, entre mais, por fundamental roubar-lhes o seu próprio ser e nação e entregá-los a bárbaras hordas invasoras, perspectivadas como eleitores-escravos-consumidores.     Anarquista Inconformado > Carolina Matos: A sério? Que grande filme, vai ganhar um Oscar de certeza. Será da água que andam a beber? Anarquista Inconformado: Mas que grande bolha. Hilariante e ao mesmo tempo preocupante, o ocaso. Liberal Assinante do Local > Anarquista Inconformado: O teu dá mostras disso... Maria AugustaAnarquista Inconformado: Grande "bolha" e prestes a rebentar e o que tu camarada tens em cima dos ombros. Aguenta!   M M: Já viram o vídeo em que um pai ameaça matar professores e funcionários porque há um caso positivo na escola do filho? O pai esclarece que os vai matar a todos e que lhes vai dar porrada e, enfim, tudo isto porque há um caso positivo na escola. Não porque o filho apanhou Covid na escola mas porque há um caso positivo. Os professores, na mesma turma, têm miúdos com pais que acham tudo e o seu contrário mas a verdade é que quem decide as medidas a tomar é o Ministério da Educação, não as escolas.     Maria Emília Santos Santos > M M: Isso deveria acontecer se o Ministério da Educação o fosse de verdade, mas não é! Um ministério de educação que quer impor prostituição nas escolas, é tudo menos de educação! Pobres dos pais que não entenderem esta tragédia enorme!    M M > Maria Emília Santos Santos: Prostituição nas escolas? Anda com muitas fantasias nos seus sonhos, Emília...  Maria Pinto: A Covid serve de desculpa para tudo, ajustes directos de milhões e milhões , gente aterrorizada que deixou de pensar, alunos que não têm ensino normal, gente que morre de tudo, sem conseguir uma consulta, sem tratamento, sem exames, serviços publicos que não tratam de nada,  expropriações arbitrárias , enfim....tudo ao jeito desta comunada que nos governa para transformar Portugal numa Venezuela!!!     Maria Narciso: Alguns comentários vão claramente para a vertente política, fazendo crer que as crianças na escola pública são obrigadas a ficarem fechadas e que no ensino privado isso não acontece, esquecendo por completo que antes da Covid 19 existir, esses pais colocam por livre e espontânea vontade os seus filhos em colégios internos, muitos deles militares, onde as crianças ficam sujeitas a uma severa disciplina.    Liberal Assinante do Local > Maria Narciso: Muitos deles militares? Oh Maria Maria, que bicho lhe mordeu? Acorde!    Maria Narciso > Liberal Assinante do Local: Não se pode escamotear a verdade .   Romeu Francisco: Quando os meninos da bolha chegarem à adolescência, serão meninos revolucionários. Como os tempos são de retrocessos de esquerda, parece-me que os putos serão vanguardistas de direita :)     Maria Narciso : Analisando na vertente política , nomeadamente no aproveitamento político da situação : - As escolhas têm de ser feitas e por muito que se faça, nunca irá agradar a todos, mas é preciso perceber que não foi uma situação criada, nem imposta pelo Governo, que as decisões nunca são tomadas de ânimo leve e são sempre pensadas de forma global , estamos perante uma situação complexa e completamente adversa à nossa forma de interagir. Todos temos que ter consciência disso, adaptarmo-nos da melhor maneira à situação , porque isto só lá vai com bom senso e a cooperação de todos .   Liberal Assinante do Local > Maria Narciso: Considera "bom senso" impedir as crianças de ter recreio ao ar livre por causa de uma eventual constipação para elas inofensiva e até imperceptível?    Lúcio Cornélio: Como sempre, mais um esplêndido artigo de Helena Matos. Este talvez ainda mais esplêndido do que o habitual porque vai ao fundo e destaca um fenómeno social que tem vindo a transformar todas as crianças, as novas gerações, em mutantes ultra-protegidos, sem imunidades a nada e catequisados na "nova normalidade" de passarem a ser peixes de aquário com ração a horas certas e a achar que isso é normal. Não. Não é normal.    Liberal Assinante do Local > Lúcio Cornélio: Mas não culpe as crianças e o jovens, kamarada Sparta, até por que aquilo que lhes está a ser feito desde Março é para lhes impor os interesses dos adultos (de alguns), e os supostos interesses dos idosos.     Abelardo Moro > Liberal Assinante do Local: Tem toda a razão. As crianças e jovens não têm nenhuma culpa neste cartório. Nem podemos exigir que se revoltem, quando os pais e os professores, inexplicavelmente timoratos, estimulam e agravam este clima de terror...  Lúcio Cornélio > Liberal Assinante do Local: Não culpo não, Kamarada. Os miúdos e os jovens, incluindo a jovem Greta provavelmente, são fruto do ambiente em que vivem e dos hábitos e ensinamentos que os adultos lhes inculcam e que, por sua vez, irão inculcar mais tarde aos seus filhos. Por isso eu acho esta espécie de "revolução cultural" em curso - e que já dura há uns bons anos - tão perniciosa.

Carlos Almeida: Sou um fanático admirador seu cara HM. Os seus textos espelham tudo aquilo que o povo enganado sente. Obrigado pelos momentos de leitura prazeirosa que me proporciona. Viva a liberdade! Joaquim Moreira: Depois da "geração rasca", temos "os meninos da bolha", que são os filhos de pais que agora andam à rasca! Não sei se a Helena Matos, vai conseguir ou não, que os "meninos da bolha" fiquem como marca desta geração. Mas de uma coisa tenho a certeza, são produto de uma geração que é uma tristeza. Não por culpa própria, mas por terem vivido numa época em que a protecção, apareceu como resultado da confusão, que se gerou na cabeça da minha geração. Que tendo feito, participado ou fugido da Guerra Colonial, fez, participou ou acabou por aceitar a Revolução do 25 de Abril em Portugal. Como se pode imaginar, desta confusão alguma coisa devia resultar. O que se passa com a gestão da pandemia, de que Helena Matos nem quer falar, também só esta confusão podia gerar. Quando pais e professores, preferiam em casa continuar, quando obrigados a ir para a escola, só podiam dentro das salas ficar. Não vá o vírus andar lá fora a passear! Mas convém também dizer, que o que na escola pública está a acontecer, não acontece na escola privada, como é fácil de saber! Liberal Assinante do Local > Joaquim Moreira: A escola pública não é bitola para ninguém, pode é ser o mau exemplo.         Joaquim Moreira > Liberal Assinante do Local: Infelizmente, não só é "bitola", como é um "exemplo" do que é a escola! Sobretudo para o respectivo ministro, e para quem apoia este "governo", que tem um "primeiro-ministro" sinistro!       J SNisia Silva: Há muitos “miúdos“ bons que hoje têm menos de trinta anos que fazem coisas muito boas, são educados, trabalham, e são críticos, filhos de homens normais. Hoje este “miúdos” já  homens têm também responsabilidades, e que também viveram em recreios de terra, andaram à chuva, mexeram na lama...E sim há muita anormalidade também, mas nem tudo é mau.

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“Um cheirinho a alecrim”


No seu empenhamento de viageiro empenhado - que nos parece admirável de espírito antigo - em divulgar influências culturais, consequentes da acção descobridora portuguesa no mundo, com proposta para que a cultura Indo-Portuguesa seja elevada a “Património da Humanidade”, recordo a chegada e a partida das naus lusas desses espaços, conhecidos de Salles da Fonseca, evocados por esse outro poeta que os cantou com exaltamento – Luís de Camões:

LUS., VI, 92
Já a manhã clara dava nos outeiros
Por onde o Ganges murmurando soa,
Quando da celsa gávea os marinheiros
Enxergaram terra alta, pela proa.
Já fora de tormenta e dos primeiros
Mares, o temor vão do peito voa.
Disse alegre o piloto Melindano:
– «Terra é de Calecu, se não me engano.

93
«Esta é, por certo, a terra que buscais
Da verdadeira Índia, que aparece;
E se do mundo mais não desejais,
Vosso trabalho longo aqui fenece.»…

 

LUS. IX, 17
O prazer de chegar à pátria cara,
A seus penates caros e parentes,
Pera contar a peregrina e rara
Navegação, os vários céus e gentes;
Vir a lograr o prémio que ganhara,
Por tão longos trabalhos e acidentes:
Cada um tem por gosto tão perfeito,
Que o coração para ele é vaso estreito.

 

CULTURA INDO-PORTUGUESA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 28.09.20

RESUMO

Tipologia de conceitos

Estéticos - arquitectura, mobiliário, música, pintura, …;

Religiosos - cristianismo e hinduísmo;

Linguísticos - concanim românico (Goa) e português;

Culinários

* * *

Como relevante potência mundial que já é, e como grande potência que será num prazo não muito distante, a Índia tem na diversidade cultural um dos seus mais importantes Valores, riqueza plural que a beneficia e enriquece.

Com altos e baixos, foram quase 500 anos de intercâmbio e miscigenação entre a Índia e Portugal - eis a Cultura Indo-Portuguesa.

Nas expressões compostas, o elemento determinante é o primeiro. Portanto, neste caso, trata-se de uma Cultura indiana com influência portuguesa. Se o contrário existisse (e não o creio), seria a Cultura Luso-Indiana significando uma Cultura portuguesa com influência indiana.

Concomitantemente, tratando-se de uma Cultura indiana, a sua sede é na Índia. Uma sede excêntrica, dispersa por tantos centros quantos aqueles em que o intercâmbio cultural se fez com mais ou menos intensidade ao longo da História.

Bangalore foi a cidade onde mais inesperadamente encontrei falantes de português. Trata-se, logicamente, de uma língua de base portuguesa mas os seus praticantes eram (são?) afirmativos na convicção de que aquele português é tão autêntico como o que se fala noutras paragens por esse mundo além... E eu próprio tomei a iniciativa de lhes confirmar essa autenticidade.

Para além desta localização, para mim inesperada, mais outras que, essas, sim, já conhecia, desde Diu a Cochim passando por Baçaim, Silvassa, Corlai,… Mas, dentre todas as formas linguísticas que legitimamente integram a Cultura Indo-Portuguesa, o concanim românico assume uma relevância especial não só por ser correntemente usado por cerca de meio milhão de pessoas mas porque, sendo escrito em caracteres latinos, possui só por esse facto uma capacidade de internacionalização muito superior a todas as demais línguas indianas. Urge torná-lo acessível ao resto do mundo incluindo-o, por exemplo, no «Google Translator»[i]. Esta, a minha primeira sugestão para a afirmação da Cultura Indo-Portuguesa à escala global[ii].

Esta miscigenação cultural é muito vasta não apenas na perspectiva geográfica mas sobretudo em múltiplas temáticas. Assim, para além da arquitectura religiosa e profana, assumem especial relevo a música (mandó, p. ex.) e a culinária.

Em Portugal, por exemplo, em paralelo com restaurantes tipicamente indianos, abundam os restaurantes goeses[iii] numa acção de divulgação e afirmação cultural da maior relevância.

Um texto como este – por mais breve que pretenda ser - não pode omitir uma referência ao contributo da Igreja Indiana para a exegese católica ao longo dos já longos anos que o Catolicismo conquistou fiéis no sub-continente indiano. Hindus e católicos foram ensinados a conviver pela sabedoria adquirida pelo pragmatismo da vida e da proximidade diária. E é monumento da tolerância que faz jus à maior democracia do mundo, a União Indiana, nas suas próprias afirmações nos «fora» internacionais. Mas não basta dizer, há que o provar. E a preservação-protecção da Cultura Indo-Portuguesa será uma prova real.

Será por certo um trabalho ciclópico mas convido quem me lê a pensar comigo na nobreza do que será organizar um processo que eleve a Cultura Indo-Portuguesa a Património da Humanidade. E se a minha ideia tomar forma, que o seja sob a égide conjunta dos Governos da Índia e de Portugal.

Ficam as sugestões.

Setembro de 2020

Henrique Salles da Fonseca

[i] - O canarim já está disponível no Tradutor da Google mas essa língua não pertence à Cultura Indo-Portuguesa

[ii] No mundo actual, só existe quem está na Internet.

[iii] - Lastimavelmente, na região de Lisboa não sei da existência de restaurantes tipicamente diuenses nem damanenses

Tags: "lusitânia armilar"

 

COMENTÁRIO:

Anónimo 28.09.2020: Chamou-me a atenção 3 coisas: a cultura indo-portuguesa; ausência da referência ao islamismo e a língua concani. Suponho que houve uma influência mútua, embora em pequena escala na cultura portuguesa. Na arquitectura Portugal importou motivos exóticos e orientais, zoomórficos e vegetativos, por exemplo no Mosteiro dos Jerónimos, na culinária algumas especiarias também vieram da Índia. Na língua também foram introduzidas algumas palavras indianas, exemplo casta, de que eu me recordo neste momento, deve haver outras mais. Quanto à sua internacionalização de hoje em dia, oficialmente o concani em Goa é ensinado através do alfabeto devanagari, enquanto o alfabeto romano ou português, sendo de uso livre, é utilizado sobretudo pelos católicos. Pois falta saber em qual destes alfabetos se deve internacionalizar o concani no google. O islamismo, também deixou alguma influência na arquitectura, para já, em Portugal, antes da expansão portuguesa e depois de conquista de Goa por Afonso de Albuquerque através dos muçulmanos que tenham sobrevivido à perseguição. Quanto à influência no sentido inverso é demais conhecida e sobretudo no vestuário, além de arquitectura, urbanização das cidades e vilas e o espírito de tolerância e harmonia e nas línguas locais e ainda na língua hindi.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Ao menos n’OS MAIAS as chagas eram apontadas de careca à mostra


E as figuras apareciam vivas, no seu recorte de requinte ou de pequenez, afinal simbólicas, nos seus papéis de futilidade, altivez, seriedade, graça, leviandade, dedicação, irreverência, grosseria, baixeza, valor e timidez e modéstia … Um conjunto de figuras sociais cujos caracteres vêm subitamente à tona, a revitalizar toda uma sociedade inerme ou desocupada, definitivamente mandriona, e cuja elegância sobressai, a par da tacanhez e da pelintrice. Um homem requintado as descreveu e nos faz rir. E os nomes próprios são-lhes colados, a esses Maias, como outros nomes de outros livros, irresistivelmente e irrepreensivelmente, quer se trate de um conde Gouvarinho pedante, um Ega irreverente, um vetusto e nobre Afonso, um lírico e exaltado Alenquer, um tímido maestro Cruges, figuras imperecíveis, tal como o Conselheiro Acácio de outra obra queirosiana...

Não assim, hoje. A ideologia política impera, a acusação surge voraz, e são os governos os principais responsáveis pela sordidez reinante. Não, as figuras, que nos habituámos a ver na televisão, têm nome, mas ninguém as descreve, timoratos que somos, ante a supremacia do dinheiro que implicam ter, por fraudulento que seja, ou ante a arrogância desavergonhada dos que a obtiveram fraudulentamente. O tom surge acusatório, é certo, mas as figuras passam, indiferentes ao vexame de aparecerem, focados pelo enxame de câmaras ou dos jornalistas no seu provocatório mas ineficaz papel investigador.

Os retratos acusatórios de João Miguel Tavares são bem-feitos, receoso do futuro dos nossos vindoiros, numa sociedade de atropelo crescente. As suas chagas sociais são apenas três, neste seu texto, todas dirigidas à corrupção e condenatórias do governo que as facilita hipocritamente, com vilania. Porque o governo que as favorece sabe que a maioria o aceita assim - sabedora que é (ou mesmo ignorante) de igual cartilha. Para o caso, tanto faz. O governo está seguro, compinchas e mandriões que somos. Ou brincalhões, digo.

 

OPINIÃO

As três chagas da democracia portuguesa

Se a corrupção atinge em simultâneo a cúpula da política, da banca e da justiça é porque o sistema permite e incentiva a corrupção. Se não fossem estes, seriam outros. E, muito provavelmente, já estão a ser outros, neste preciso momento.

JOÃO MIGUEL TAVARES

PÚBLICO, 24 de Setembro de 2020

A acusação ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, no âmbito da Operação Marquês, em Outubro de 2017; a acusação ao ex-banqueiro Ricardo Salgado, no âmbito do caso BES, em Julho de 2020; e a acusação ao ex-juiz Rui Rangel (e outros juízes do Tribunal da Relação de Lisboa), no âmbito da Operação Lex, em Setembro de 2020, compõem o triunvirato de acusações mais importantes da história da democracia portuguesa, e são, à sua maneira, o culminar da falência moral e política do regime.

Três acusações desta magnitude no intervalo de três anos significam que o problema da corrupção chegou ao topo das três pirâmides que sustentam qualquer Estado: o poder político, o poder económico e o poder judicial. Não fica nada de fora. Não é possível subir mais alto com práticas mais baixas. O cancro da corrupção não se limitou a metastizar-se – ele atingiu os órgãos vitais do sistema.

E se falo numa falência moral e política do regime, não o faço pelo gosto do tremendismo ou porque tenha uma especial paixão por hipérboles. Faço-o porque não vejo à minha volta qualquer reacção significativa a estes processos. Quer dizer: é evidente que as pessoas se indignam; que os colunistas chamam a atenção para o que se está a passar; que as televisões abrem telejornais com estas notícias. Mas da parte de quem detém o poder, e que é atingido por suspeitas nunca antes vistas, não se nota um estremecimento, um desejo de arrepiar caminho, uma vontade genuína de mudar leis e práticas para que tais factos não se voltem a repetir e para que os responsáveis sejam punidos em tempo útil.

A nova estratégia de combate à corrupção é uma aspirina na mão de um decepado. O mantra do “à justiça o que é da justiça, à política o que é da política” é apenas uma forma habilidosa de não assumir responsabilidades. As infinitas conversas sobre o “Estado de Direito” parecem preocupar-se com tudo, menos com o funcionamento eficaz da justiça. Damos como perdido aquilo que é essencial em qualquer país civilizado: que se acuse e se condene quem prevaricou com rapidez. Em dois anos, no máximo – não em dez anos, no mínimo.

Claro que nós adoramos fulanizar, e eu não escapo a essa tentação. Sócrates é isto, Salgado é aquilo, Rangel é aqueloutro. Mas se a corrupção atinge em simultâneo a cúpula da política, da banca e da justiça, não pode ser por causa de uma coincidência cósmica que colocou três alegados trafulhas em simultâneo nas pirâmides do poder em Portugal – é porque o sistema permite e incentiva a corrupção. Se não fossem estes, seriam outros. E, muito provavelmente, já estão a ser outros, neste preciso momento.

Esse sistema é composto por leis, práticas, escolhas, nomeações, que são políticas e que só podem ser mudadas por quem detém o poder. Ora, não vislumbro qualquer interesse em que isso aconteça. Dir-se-á: mas se há acusações é porque a justiça funciona. Lamento – não chega. Porque a própria velocidade a que a justiça é aplicada – Sócrates foi detido há quase seis anos e ainda não foi a julgamento; Salgado será nonagenário se algum dia entrar numa prisão; Rangel levará para a cova os segredos das centenas de acórdãos que pode ter manipulado – funciona como um sedativo (“já não há pachorra para o Sócrates!”) e um simulacro de Estado de Direito. E isto enquanto a corrupção continua protegida pela complexidade da prova e por leis amigas. Aquilo que conduz ao apodrecimento do regime não são as más práticas – é mesmo esta falta de vontade de se regenerar.

Jornalista

TÓPICOS

OPINIÃO  CORRUPÇÃO  JUSTIÇA  RUI RANGEL  OPERAÇÃO LEX  JOSÉ SÓCRATES

COMENTÁRIOS

Leclerc EXPERIENTE: O exemplo máximo da corrupção e da apropriação dos dinheiros públicos? Bastava ver a expressão de alguns políticos e alguns “comentadeiros” quando se discutia os fundos da UE. Vinham menos uns milhões? Não interessava, desde que viessem alguns. O Orban ameaçava bloquear os fundos? Que se lixem as pulsões totalitárias do Orban, até tiramos fotografias de família com ele. Qual foi o projecto do ps desde 2016? A manutenção do poder a todo o custo. Não irá haver nenhuma crise nos próximos anos, pelo menos enquanto chover o dinheiro da UE. Quando acabarem os dinheiros da UE, o último a sair que apague a luz. 27.09.2020

orion EXPERIENTE Claro, tudo isto é lamentável e duma baixeza sem nome, atendendo a que Portugal é um país que tem vindo a perder lugares no ranking europeu para os países de Leste recém-chegados à UE. Sim, a pecha da periferia de Portugal e a centralidade geográfica do Leste (o centro como sinónimo de menor distância aos mercados) justificam em parte a falta de convergência. Mas a corrupção crescente pode significar o caminho mais curto para ganhar dinheiro. Até me lembro da reflexão do cineasta Manoel de Oliveira que dizia que a vida está sobretudo virada para a maior dificuldade: sobreviver e ganhar dinheiro. Isto num país que julgou que o maná da União Europeia era infindo e sem contrapartidas duras. Enfim, a corrupção como solução encontrada por muita gente. E aquilo, o que se percepciona, é o que vai aparecendo. É o famoso indicador da percepção da corrupção. Não sabemos se a que está escondida é muita ou nem por isso. Em 2019, Portugal tem 62 pontos em 100 possíveis. Perante estes casos, a percepção aumentou e Portugal verá provavelmente a sua posição relativa piorar. 25.09.      Eng. Jorge Simões INFLUENTE: Quando removeram, não reconduzindo, Joana Marques Vidal e deram grandes aumentos de vencimento aos principais agentes da justiça, foi para isto. E com a cumplicidade de Marcelo, amigo de peito de Salgado. Mas o povo, transformado em doce rebanho, continua a votar nisto. É natural que o Chega cresça muito...   Raquel Sousa INICIANTE: Esta tese está enviesada pois para haver falência moral política teria que existir moral na politica/sistema judicial e banca antes. E que eu saiba nunca existiu. O beneficio da dívida vai pra o primeiro estágio da democracia com o copcom até ao Eanes! Embora o Marocas tivesse dado cabo disto e já o fosse, ainda havia PR honesto, mas os juízes já náo o eram nem os banqueiros, que nunca o foram...Ou seja, não existe democracia, existe u sistema corrupto que se autodenomina democracia apoiado por uma lei circular (ONT) que permite que lá permaneçam sempre na dança das cadeiras do bloco central na europa inteira ou EUA etc mesmo com mais de 50% de abstenções como é o caso. E não se deveria instaurar o comunismo... mas sim uma verdadeira democracia, rompendo com estes vigaristas 25.09.2020    Enfim Libera lINICIANTE: É engraçado que as ex-colónias são o que são hoje. Afinal, fomos capazes de transmitir e marcar as gentes por esse mundo fora: corrupção. 25.09.2020    José Luís Sousa INICIANTE: Porquê inventar a roda? Vão à Nova Zelândia Dinamarca e outros países com baixa corrupção e apliquem o seu sistema. Na totalidade, só em pequenas partes ou a célebre frase- adaptado a nossa realidade- não serve. Desde penas, processos, e meios de investigação, penas, tipos de prova etc... 24.09.2020     Aónio Eliphis EXPERIENTE: JMT anda cada vez mais populista. Lá por haver 3 fulanos corruptos nas altas cúpulas do poder, não significa a falência moral do regime. Quer dizer que todos os primeiros-ministros são corruptos, todos os empresários, todos os juízes? Eu vejo o copo meio cheio: a Justiça está finalmente a funcionar.  ana cristina MODERADOR: criticar a corrupção é populismo? 24.09.2020    Raquel Sousa INICIANTE: a sério? há algum tacho ou panela? JMT é populista por criticar a corrupção, porque toda o povo sabe que há e também a pratica para se safar da talega que o partido dito socialista ainda aumenta mais... 25.09.2020   Aónio Eliphis EXPERIENTE: O populismo advém da conversa anti-sistema, quando refere a falência moral do regime. 25.09.2020    ana cristina  MODERADOR Criticar as falhas de um sistema ajuda a reforçá-lo. Não é uma atitude anti-sistema. A corrupção é anti-sistema: contribui para a sua falência. 25.09.2020    Joao Garrett INICIANTE: É isto mesmo: "Aquilo que conduz ao apodrecimento do regime não são as más práticas – é mesmo esta falta de vontade de se regenerar." E depois queixem-se do Ventura e dos populismos! 24.09.2020   Duarte Cabral EXPERIENTE: Em matéria de leis mal feitas (para nós), vem-me à memoria a frase de Sacha Guitry, "Les avocats portent des robes pour mentir aussi que les femmes". Cabe acrescentar: é também para proteger criminosos; e para a nossa infelicidade a assembleia da república está cheia deles. Evidentemente como para todas as regras há excepções. 24.09.2020   albergaselizete EXPERIENTE: Muitas das leis elaboradas nos últimos 44 anos têm em comum terem-nos ficado extremamente caras, já que foram feitas fora da Assembleia da República e de quem devia ter essa responsabilidade; são leis que se caracterizam por dificultar a aplicação da verdadeira justiça, tendo sido criados atalhos para aqueles que contam, ou seja, quem pode "desviar" muitos milhões de euros ou vende Portugal a retalho; as leis foram beneficiando os criminosos e prejudicando os cidadãos portugueses, em especial, os que trabalham e tudo pagam. Da corrupção ao narcotráfico, passando pelo crime avulso, os "artistas" agradecem encarecidamente, muitas das leis estrategicamente produzidas. Jorge Sm MODERADOR: O Público vai tendo o seu andré ventura, repetindo até à exaustão a ideia da “falência do regime”, que é a lenga-lenga daqueles que querem desacreditar o sistema democrático. E muita graça tem a lamentação pela demora do processo Sócrates, pelo cronista que não se cansou de tecer rasgados elogios ao Ministério Público e ao seu juiz-herói. Criou-se um processo de tamanho verdadeiramente monstruoso (em vez de se separar em vários) e só os muito distraídos podem agora ficar surpreendidos por um monstro destes demorar muitos anos a ser julgado. 24.09.2020    ana cristina MODERADOR: este medo de que a crítica à corrupção se torne crítica ao regime e chamusque a democracia é coisa da pré-história. somos crescidinhos e capazes de separar as águas. a democracia, ao contrário do totalitarismo, não tem medo de pôr em causa disfuncionamentos.   24.09.2020      Jorge Sm MODERADOR: Criticar a corrupção é coisa muito diferente de decretar a "falência do regime" democrático, que é o que faz repetidamente o cronista. 24.09.2020 jorge morais INICIANTE: Só com a cabeça metida na areia é que se pode pensar que isto não está mais que falido. Infelizmente dizem as pessoas sensatas. 24.09.2020    Aónio Eliphis EXPERIENTE: Concordo inteiramente com o Jorge Sm. JMT está cada vez mais populista nos seus textos. Mario Coimbra EXPERIENTE: Realmente o pior cego... primeiro critica JMT, comparando-o a Ventura. Ou seja só os do Chega é que acham que a corrupção mina o estado democrático e que a nossa situação é critica. Um disparate pegado. Qualquer pessoa do centro deve achar a situação preocupante. Depois pega em Sócrates claro. Poder político para criticar o juiz, sendo ele a razão da lentidão do processo. Não deixa de ser curioso pegar em Socrates. Mais uma vez quem se mete com o PS leva. Ouça, o problema é geral, tem n casos ligados ao PSD. Não interessa a cor. Interessa acabar com o compadrio e corrupção. E isto não é tarefa do Chega, percebe?. Tem que ser tarefa do PS e PSD como os grandes partidos do regime. Deixe lá a clubite por uma vez... 25.09.2020

Jose EXPERIENTE: A democracia, delegação do poder individual de muitos no poder legislativo, executivo, judicial e presidencial de muito poucos, é um muito antigo método de gerir a Polis. Aristóteles excluía das suas democracias, da Grécia, os trabalhadores por terem nascido para escravos, explicava. Não excluía, antes identificava corruptos como factor de erosão das suas democracias. Ele dedicou muito trabalho a inventar e implementar métodos de combate aos corruptos. Não teve êxito apesar da sua genialidade. Êxito teve a democracia que persiste e alargou a sua base cidadã aos cidadãos trabalhadores. É certo que a corrupção parasita a democracia desde o princípio. Foi muito pior nos regimes monárquicos, feudais, imperiais. Não é a democracia a causa da corrupção, mas os corruptos, o carácter bárbaro, egoísta, 24.09.2020  Macuti EXPERIENTE: Esqueceu referir a corrupção nos regimes ditatoriais.24.09.2020    Jose EXPERIENTE: Caro Macuti Cá em Portugal alguns opinadores põem no banco dos réus a democracia acusando-a de todos os males. É o caso das Bandeiras Populistas da corrupção, do nepotismo, do politicamente correcto, etc. É verdade que os mesmos opinadores acusam o que decidirem chamar de ditadura, ou simplesmente ditador, de serem a origem dos mesmos males. O populismo e os seus propagandistas não têm ética, nem coerência, nem fundamentação em evidências. Tudo lhes serve para o objectivo único: alcançar poder no Estado. É essa propaganda que faz aqui JMT ou Fátima Bonifácio ou...   24.09.20

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Sabatina aterradora


Da Economia, tal qual está hoje, por cá. Superiormente explicada por Helena Garrido, com o aval dos comentadores. O governo de Passos Coelho tinha previsto, diabolizando o governo que, fraudulentamente, lhe seguiu. Parece que acertou, informam os vários escritos que seguem. O diabo chegou mesmo, e não foi só a Covid-19 a responsável, segundo o que segue:

 

O risco de uma economia zombie/premium

Boa parte das economias da UE ainda estavam ligadas à máquina do BCE. Com a nova crise, nova máquina de respiração artificial vem dos governos. Não será fácil colocar as economias a respirarem por si.

HELENA GARRIDO

OBSERVADOR,  28 set 2020

Portugal, embora não seja o único, já tem uma tendência estrutural de manter empresas zombies. Vários factores contribuem para isso, nomeadamente um regime de insolvência lento e complicado, que acaba por proteger a empresa devedora, e um sistema bancário que usou e abusou de esquemas de prolongamento de empréstimos a empresas manifestamente inviáveis, para evitar contabilizar perdas nas suas contas. Está por estudar a dimensão total da “economia zombie” em Portugal, embora um trabalho de economistas da OCDE tenha uma estimativa de 12,5% para empresas do sector da construção e serviços, numa investigação que vai até 2015.

O crescimento de empresas “mortas-vivas” voltou à actualidade na sequência dos apoios que praticamente todos os governos estão a prolongar às suas empresas.

Na Alemanha, além dos apoios que também temos em Portugal e que são mais generosos, o Governo congelou a legislação sobre insolvências que deveria regressar este mês, mas resolveu prolongar essa interrupção. Uma iniciativa que não foi consensual dentro do governo, por se recear estar a alimentar empresas que nunca vão recuperar, impedindo assim que a economia se reestruture, gerando novos negócios mais produtivos – ver aqui no FT, para assinantes.

Uma empresa zombie, na classificação dos economistas, é aquela que não gera lucros para pagar o seu serviço de dívida durante três anos consecutivos. Os estudos sobre o tema têm revelado um aumento significativo dessas empresas “mortas-vivas”. Um trabalho do Banco Internacional de Pagamentos (BIS) mostra que o peso das empresas zombie aumentou de 4% em finais da década de 80 para 15% em 2017 (o trabalho usa dados de empresas não financeiras cotadas em 14 economias).  Concluem ainda, em linha com outros trabalhos, que as empresas zombie são menos produtivas, mais endividadas e investem menos em capital físico e intangível.

Em termos gerais, uma economia de morto-vivos tende a ser menos produtiva e inovadora, condicionando obviamente o potencial de crescimento da economia. E, no quadro actual, corremos um sério risco de aumentar ainda mais o número de empresas zombies.

A crise que a pandemia está a provocar apanhou as economias europeias ainda ligadas à máquina, neste caso, o BCE. O elevado endividamento de países como a Itália, Espanha, Grécia e Portugal a par, ou na sequência disso, de taxas de crescimento económico relativamente baixas, manteve os juros praticamente em zero ou negativos.

A pandemia obriga a ligar a economia à outra máquina disponível, o Estado. Um pouco por toda a Europa e tal como em Portugal, criaram-se mecanismos especiais de apoio ao lay off, adiaram-se pagamentos de impostos e de empréstimos e concedeu-se novo crédito bonificado. Algumas dessas medidas estão a ser prorrogadas também em Portugal, como foi o caso da decisão do Governo de permitir que se interrompa o pagamento de empréstimos e juros até Setembro do próximo ano.

A gravidade da crise económica gerada pela pandemia é tal que o Estado tem obviamente que suportar o funcionamento de algumas empresas. O cenário alternativo seria uma destruição brutal da capacidade produtiva, num processo quase equivalente ao de uma guerra, o que levaria a uma recuperação muitíssimo mais lenta do que a já muito lenta retoma que se perspectiva, com efeitos sociais inimagináveis.

O Governo tem tido, em alguns aspectos, cuidado para não manter indefinidamente as empresas ligadas à máquina, tentando criar incentivos para o regresso à actividade. As medidas associadas ao lay off são um exemplo. Designado como “apoio à retoma progressiva”, já é um apoio à redução do horário de trabalho. Os outros apoios deveriam seguir a mesma lógica, de suporte à recuperação e não à sobrevivência. É o caso das moratórias de crédito e mesmo dos novos empréstimos. Devem e têm de ser concedidos numa lógica de recuperação e reduzidos ao mínimo, olhando igualmente para a viabilidade da empresa.

Corre-se o risco de matar as empresas não pela doença provocada pela pandemia, mas pela cura excessivamente baseada no endividamento. Além disso, não se consegue perceber se os apoios estão mesmo a chegar às empresas. Há demasiadas queixas de atrasos nos pagamentos ou de uma burocracia excessiva que, a corresponderem à realidade, acabarão por destruir as boas e as más empresas. E aí o risco de zombificação diminui, mas destroem-se igualmente empresas viáveis. (No hipotético caso de se estar a apoiar quem tem mais contactos, o que não é uma hipótese descabida conhecendo nós o país, as empresas que sobreviverem não serão as melhores mas as que têm a melhor rede de influência.)

Há vários riscos nestas medidas de apoio. Um é manter artificialmente vivas empresas inviáveis, com os consequentes efeitos na redução da produtividade. Um segundo risco é aumentar ainda mais o número de empresas inviáveis por se ter baseado os apoios excessivamente no aumento das suas dívidas, o que provocará igualmente uma retoma mais lenta. Finalmente, pode estar a agravar-se ainda mais o risco para a banca que mais cedo ou mais tarde terá de registar perdas no seu balançohá empresas que obviamente não vão sobreviver.

A The Economist, por exemplo, defende que o apoio às empresas do sector do turismo, que nunca vão recuperar a facturação que perderam, deveria assumir a forma de subsídios se os governos acreditam mesmo que o turismo vai recuperar. Em Portugal seria impensável, já que o Estado não tem capacidade financeira para isso. Uma outra medida, já mais controversa, diz respeito aos apoios à actividade, que a revista considera que deveriam ir para as pessoas e não para os empregos. E é controverso já que o apoio ao emprego mantém a pessoa em actividade, reduzindo os efeitos sociais negativos do desemprego e minimizando também as perdas de qualificações. Ainda que, e em contrapartida, impeça as pessoas de procurarem outras alternativas que, de qualquer forma, neste momento não existem.

Neste momento temos as economias em respiração artificial e com transfusões de sangue. A crise financeira ligou as economias ao BCE, a pandemia ao Estado. Como vimos, ainda antes da pandemia, estava a ser muito difícil desligar a máquina do BCE, sem afundar a economia. Imagine-se como vai ser difícil agora retirar da economia não só o BCE como o Estado. As medidas têm de ser desenhadas para uma aterragem suave, sem impedir que as empresas inviáveis morram para dar lugar a outras. Um desafio enorme para um país como Portugal tão dependente do turismo e a querer virar-se para a indústria. Corremos um sério risco de ter um crescimento ainda mais medíocre se não existir a coragem de ir tirando os apoios e substituí-los por medidas de recuperação.

EMPRESAS   ECONOMIA

 

COMENTÁRIOS:

Gens Ramos: Tal como uma grande parte das empresas, assim também o Estado está ligado à máquina da UE/BCE. O país dificilmente respira, tal é o peso da sua dívida. Esta é a realidade. Como se sai disto? Não sou economista para me pronunciar de forma apoiada no conhecimento, contudo, consigo dizer que o caminho que estamos a percorrer não me parece bem. Temos uma Educação deficiente, prestes a integrar uma espécie de “ensino especial”; assim, com a “espinha dorsal” a passar por um período incerto e s/ rumo definido, será muito difícil prever uma melhoria a curto prazo e, convenhamos, para um espaço/tempo mais longo com muitas dúvidas/incertezas. Desculpem, mas não conseguimos garantir nada para a(s) próxima(s) geração(ões).

Manuel Oliveira: Com socialismo é sempre a cavar... A Hortense e demais já se demitiram? Nem após mortes de Pedrógão alguém se demitiu! A maminha é boa demais! Maria Augusta > Manuel Oliveira: 100% Razão! Uma verdadeira corja.   Manuel Magalhães: O pior é que temos um governo ainda mais zombie, isto é, completamente incompetente, vejamos só, um governo formado por 70 pessoas, penso que não há memória de tal coisa, e ainda por cima vão buscar mais uma pessoa de fora para os ajudar (ensinar) a pensar, isto se não fosse trágico era de gargalhada...     Luís Martins: Em Portugal não é só a economia que é zombie. O país como um todo, é zombie! O aumento da economia zombie é directamente proporcional ao aumento da influência neo-marxista no mundo ocidental. A ironia da história é a de que os países que se libertaram do marxismo, são hoje economias vibrantes, e os países "capitalistas" com democracias liberais do ocidente, estão profundamente caracterizadas pelo marxismo, primeiro nos regimes políticos, depois nas universidades, na cultura e média, e finalmente na sociedade.      Maria Maravilhas > Luís Martins: Toda a razão!     Ataíde Fontes: A maioria dos Jornais e TV's em Portugal também são zombies, por isso é que se disponibilizaram a serem "comprados" pelo desgoverno do Costa.    bento guerra: Governos zombies, alimentados pela impressora da barbie do BCE. Um teatro de sombras ,com guião chinês      Antes pelo contrário: O País é que é "zombie". A Dívida Pública já ultrapassou os 260 mil milhões e não pára de crescer, o endividamento geral do País ronda os 744 mil milhões, dos quais metade, pelo menos, é financiada pela UE e pelos bancos nacionais e estrangeiros - sendo que os nacionais, vivem dos ganhos facilitados pelas injecções do BCE, que também financia o Governo - as dívidas das PME são o dobro das das grandes empresas, a Balança Comercial continua com um défice crónico, apenas contrabalançado de forma pontual pela exportação de serviços, desde 2013, mas com valores baixíssimos e instáveis, continuamos a ter (e em cada vez maior número) largos sectores e empresas dependentes do Estado, e um número cada vez maior de pessoas que em nada contribuem para a sociedade, isentas de taxas e impostos, e com direito a cada vez maiores gratuitidades. Num País com 10,5 milhões de habitantes... onde só 2,8 milhões pagam IRS?... (e onde este apenas rende ao Estado 20 mil milhões, um pouco mais que os 18 mil milhões do IVA, quando só as despesas correntes são de 54 mil milhões (fora as despesas extraordinárias e o serviço da dívida), e as despesas totais do Orçamento 2020 são de 174 mil milhões??? Qualquer dia não somos "zombie", mas simplesmente cadáver. João Pimentel Ferreira > Antes pelo contrário: O IRS não rende 20 mil milhões, mas 11. De resto, bom texto.   psssttt psssttt > Antes pelo contrário: já somos cadáver há muito. apenas ainda não foi decretado o óbito. está a ver aquelas famílias que conservavam o cadáver do familiar defunto para continuar a receber a reforma? portugal está assim. Só não vê quem não quer. E a agravar tudo ainda temos aí a transição robótica. vai-se a um ikea, decathlon, hipermercado, e já não se vêem operadores de caixa.....vai ser bonito de se ver...cada palmo de terra irá ser disputado para conseguir cultivar umas couves galegas.

Antes pelo contrário > João Pimentel Ferreira: Segundo a PORDATA, a receita do IRS foram exactamente 13.171,2 milhões em 2019, e o OE2020 prevê este ano 20.529 milhões de receitas dos impostos directos, dos quais 13.585 de IRS. De facto não me lembrei que os 20 mil e tal milhões eram as receitas totais dos impostos directos, mas isso só vem dar ainda mais peso ao que eu disse.         João Pimentel Ferreira: Congratulo vivamente o governo por atribuir mais de 1000 milhões dos fundos europeus, para providenciar habitação condigna a famílias carenciadas, tal é um cancro social que importa sanear. Convém todavia que à entrada que cada um desses novos bairros esteja uma bandeira da UE, para que depois os moradores não alimentem eleitoralmente partidos de esquerda eurofóbicos. De resto, o plano é mais do mesmo, mais milhões para alimentar a máquina estado, desta feita dos contribuintes europeus. Não falta muito e seremos ultrapassados pela Bulgária, o último da lista.

Adelino Lopes: Vamos colocar o tema “zombie” em termos populares. Para os economistas, uma empresa torna-se “zombie” quando as receitas não são suficientes para pagar as despesas, i.e. não existem lucros. Pergunto eu: quando a nossa geringonça declara o “ódio final” aos lucros, as empresas podem ter lucros? Só mesmo quem não conseguir ter prejuízos. Vejam a hipocrisia: ter lucros de 20% é pornográfico. Mas ter taxas de impostos (IRS, IRC e IVA – qualquer um) superiores a 20% é de louvar. Mais: para os prejuízos das empresas muito contribuem as políticas dos estados não é? Por exemplo: existe alguma razão para que países não democráticos estejam na mesma organização mundial de comércio dos países democráticos? Por acaso até existe; os interesses dos grandes produtores da globalização. E qual é o interesse das pessoas que vivem em países democratas? Pois, os Trumps desta vida são muito maus, mas (não é a+a; é mesmo existe) falta de melhor, (e portanto) temos de votar neles.