Teresa de Sousa é um
desses, que nos avisa, com eficiência, embora muitos outros já o tenham feito
igualmente. Os Trovante também o
cantaram e nos encantaram, mandatados por João Gil, mas ficaram-se liricamente pela saudade disso tudo,
por vago que seja. Quem sabe se um dia teremos saudade destes avisos eruditos
de Teresa de Sousa, sobre uma
pandemia, pelo menos, grotesca, em tantos detalhes… É claro que preferimos o
saber indeciso dos Trovante, mesmo na
consciência de todas as fragilidades, quaisquer que elas sejam…
Saudade
Trovante Compositor: João Gil
Há
sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco Há sempre alguém que nos faz falta Ahhh, saudade…
Há
sempre alguém que nos diz: tem cuidado Há
sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade…
Chegou
hoje no correio a notícia
É
preciso avisar por esses povos
Que
turbulências e ventos se aproximam
Ahhh,
cuidado…
Há
sempre alguém que nos diz: tem cuidado Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade…
Há
sempre alguém que nos diz: tem cuidado Há
sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta Ahhh,
saudade…
Foi
chão que deu uvas, alguém disse
Umas
porém colhe-se o trigo, faz-se o pão
E
se ouvimos os contos de um tinto velho
Ahhh,
bebemos a saudade…
Há
sempre alguém que nos diz: tem cuidado Há
sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade…
E
vem o dia em que dobramos os nossos cabos
Da
roca a S. Vicente em boa esperança
E
de poder vaguear com as ondas
Ahhh,
saudades do futuro…
Há
sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta Ahhh,
saudade…
Como sair de uma crise que é pior que todas as outras
Esta não é, no entanto, mais uma crise. É a maior crise
económica e social que a Europa vive desde a II Guerra.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 16 de
Setembro de 2020
1.Há sempre uma crise. Há sempre uma
oportunidade. Há sempre uma Comissão para apontar o caminho. Ontem, foi o dia em que a presidente da Comissão – pela
primeira vez uma mulher – apresentou no Parlamento Europeu o seu
primeiro discurso sobre o Estado da União, desafiando os europeus
a vencerem mais uma. Que não é como as outras. Num ano muito particular. O
ano de uma pandemia, que ninguém antecipou e que alterou radicalmente a nossa
forma de viver. O primeiro ano sem os eurodeputados britânicos presentes,
o que não impediu que Ursula von der Leyen fizesse grande parte do seu discurso
em inglês – e citasse Margaret Thatcher, ao cuidado de Boris Johnson: “O Reino
Unido não viola acordos”. Foi, a vários
títulos, um discurso notável, impecavelmente apresentado. Tudo, na
figura, na voz, na atitude de Von der Leyen, é apelativo. No fundo, o que ela tentou fazer foi apresentar a
parte do caminho que está à nossa frente para ir
construindo a Europa que os europeístas ambicionam. Em vez de uma “viragem”,
prometeu uma “viagem”. Nem todos os
que a ouviram num hemiciclo diferente, com menos lugares ocupados e de máscara,
se identificam com as suas palavras. A sessão plenária dedicada ao discurso do
estado da União foi ainda o retrato da Europa em plena pandemia. Com
as divisões habituais: os que querem andar mais depressa, os que querem andar
mais devagar e os que querem retroceder. Uma cacofonia profundamente
democrática.
2.Esta
não é, no entanto, mais uma crise. É a maior crise económica e social
que a Europa vive desde a II Guerra.
Num mundo que, como Von der Leyen fez questão de sublinhar, se aproxima do
caos; que coloca cada vez mais problemas à Europa, longe ou perto das suas
fronteiras; quando as instituições multilaterais são hoje ignoradas ou feitas
reféns pelas grandes potências. Neste domínio, a presidente da Comissão foi
taxativa. Em relação à Rússia,
avisou os que ainda não querem ver. “Para aqueles que defendem laços mais
estreitos com a Rússia, eu digo que o envenenamento de Alexei Navalny (…) não
foi caso único. Vimos o mesmo comportamento na Geórgia, na Ucrânia, na Síria e
em Salisbury – e na intromissão em eleições em todo o mundo.”
O
que disse a seguir foi talvez o mais inesperado, sendo ela alemã e muito
próxima da chanceler: “O padrão não está a mudar – e nenhum pipeline irá
fazê-lo mudar”. Uma referência
directa ao Nord Stream II. Ontem, o Financial Times noticiava que Berlim
ofereceu a Washington a construção de dois terminais de gás líquido em
território alemão (mil milhões de euros) para receber as exportações americanas
a troco do abandono da sua oposição ao polémico gasoduto que ligaria o
território russo directamente ao alemão. A degradação da situação na
Bielorrússia e o apoio de Putin ao ditador de Minsk completam o quadro.
Alguns eurodeputados quiseram saber por que razão ainda não foram decretadas
sanções. A presidente da Comissão prometeu uma “Lei Magnisky”, idêntica à
que os EUA adoptaram em 2012, para penalizar todos os responsáveis por actos de
violação dos direitos humanos em qualquer parte do mundo.
A China é o verdadeiro bico-de-obra. Von der Leyen repetiu a fórmula a que a Europa se
agarra, enquanto não tem uma estratégia com credibilidade para fazer frente à
ambição cada vez mais agressiva de Pequim, definindo-a como um “concorrente
económico” e um “rival sistémico”. Na segunda-feira, Angela Merkel
presidiu, com ela e Charles Michel, à habitual cimeira UE-China por videoconferência.
Chegou a estar previsto, antes da pandemia, que seria um momento alto da
presidência alemã da União. Não há país europeu com tantos interesses
económicos na China. Os avanços foram muito limitados. Não houve cedências
europeias na questão que mais interessa a Pequim: um acordo sobre investimento.
Hoje, a Europa olha com muito mais cautela para as
suas relações com Pequim. Tenta provar que não é mais maleável que
os EUA aos interesses de Pequim, nem é um “campo de jogos” das grandes
potências. Não tem sido fácil. Mais uma vez, as divisões prevalecem. Von
der Leyen teve o mérito de separar as águas, afastando-se da tentação da
equidistância, ao lembrar que o principal aliado da Europa continua a estar
na outra margem do Atlântico Norte, seja quem for que ocupe a Casa Branca.
Nenhum dos desafios externos que a Europa enfrenta o dispensam.
3. A
Presidente da Comissão não teve medo de estabelecer algumas linhas vermelhas
diante da ampla diversidade política que o Parlamento Europeu reflecte. Deixar
morrer gente no Mediterrâneo “não é uma opção”. O que quer dizer que a Comissão
vá apresentar na próxima semana um pacote legislativo para a imigração e o
asilo – há décadas que a União se debate com
a ausência de uma política comum com um mínimo de justiça e consistência. É uma
questão particularmente sensível. Ouviram-se no plenário as vozes daqueles que
consideram que aceitar imigrantes é aumentar a criminalidade na Europa. Trump
não diria melhor. Mas também se ouviram as vozes dos que consideram que a
União faz muito menos do que devia e que apontam o dedo para as imagens de Moria
como um apelo incontornável. Vai ser um debate difícil, para não dizer
impossível.
Desrespeitar
o Estado de Direito também “não é uma opção.” A presidente da Comissão prometeu
um relatório exaustivo sobre o cumprimento do Artigo 7.º do Tratado da União
Europeia que obriga todos os seus membros ao respeito pelos direitos
humanos, Estado de Direito, democracia e protecção das minorias. Conhecem-se
os destinatários. Viktor Orbán ameaça vetar o plano de recuperação, se ele
incluir uma cláusula da condicionalidade dos fundos ao respeito pelo Estado de
Direito.
O plano, num montante total de 1,8 biliões de euros,
vai ser o maior desafio de Von der Leyen no curto prazo. Como
ela própria lembrou, a sua dimensão e a rapidez com que foi aprovado são a
maior prova do que a Europa é capaz para sair da
“fragilidade” da pandemia para uma nova “viagem histórica”, que lhe restitua a
vitalidade. No fundo, o desafio é provar aos europeus que a Europa lhes serve
de alguma coisa. tp.ocilbup@asuos.ed.aseret
TÓPICOS
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COMENTÁRIOS
albergaselizete
EXPERIENTE: Se não houver disciplina, honra, e eficiência, quer dos políticos
quer do povo, temo que se possa vir a assistir ao pior que a Europa já
produziu, como Teresa Sousa escreveu. Dos políticos da UE, o que espero é que
não haja cedências aos britânicos, caso estes não honrem aquilo a que estão
obrigados.
Magritte
EXPERIENTE: Cada crise é uma oportunidade para a UE crescer, nas costas dos
cidadãos, respondendo aos anseios das elites económicas, e dando migalhas em
troca aos trabalhadores e às pessoas. Impulsionando a economia de uns,
condenando outros à pobreza. O pacote Europeu, segundo Cabral aqui mesmo no Público,
e tendo em conta o percurso económico actual, põe Portugal a produzir riqueza a
níveis de 2019 apenas em 2026. O Parlamento europeu pedia níveis de
investimento que fossem o dobro que o Conselho Europeu aprovou. Ursula fala do
papel da UE no mundo. Eu queria saber do papel da UE na Europa...
17.09.2020
Jonas
Almeida MODERADOR: Excelente comentário! Subscrevo, é isto
mesmo! 17.09.2020
Roberto34
INFLUENTE: "Cada crise é uma oportunidade para a UE crescer": não
vejo nenhum problema em a UE crescer a cada crise. Maior integração Europeia
não é necessariamente algo negativo, se for bem feito e a para o bem dos
cidadãos. 17.09.2020
Leitor
Registado EXPERIENTE: Lembram-se de Mário Soares? "Mário
Soares diz ao PS para rasgar acordo da troika" 17.09.2020
José
Cruz Magalhaes MODERADOR: A Europa, os seus países e a sua EU terão
sucesso na ultrapassagem da crise? Com que custos, para cada país e para os
seus cidadãos? Com que perspectivas para os seus jovens e qualidade de vida
para todos os sobreviventes? No resto ,o discurso de van der Leyden é a
afirmação da posição da UE perante as manobras, seduções e investidas de várias
potências em transição para afirmação mundial, enquanto o caos vai tomando
conta de democracias que não deixaram, nem deixarão tão cedo, de pensar em
termos imperiais. 17.09.2020
ana
cristina MODERADOR: verdadeiramente, a única luz ao fundo do
túnel.
A.
Martins INICIANTE: Senhora Teresa de Sousa, esta crise não é
nada comparada com a da Bancarrota de 2010, que deixou os cofres do Estado
completamente vazios. O ministro Teixeira dos Santos dizia que só tinha
dinheiro para mais um mês, lembra-se?, depois, parava tudo. Esta crise, ao
contrário da outra, vai trazer milhares de milhões para os cofres do Estado,
praticamente a custo zero, e só por muita incompetência do governo e dos seus
boys é que não será resolvida sem grandes desgraças para o nosso povo.
17.09.2020
Ahfan
Neca INICIANTE: Com crise ou sem crise a saída é sempre
pela esquerda-baixa. Em breve seremos o mais atrasado país da UE a 25
juntamente com a Grécia. Pobretes mas elegretes. 17.09.2020
O
dono disto tudo INICIANTE: "Pior crise"? O sucesso do
governo do grande Costa foi tanto que dantes ainda conseguíamos comprar um
apartamento em Rio de Mouro e agora só já conseguimos alugar um quarto na
Malveira. E o que teve o covid a ver com isso? Nada. O problema, cara Teresa é
esse, não teve nada. Então como saímos da crise em que já estávamos? Teia
Socialista INICIANTE: "É a maior crise económica e social
que a Europa vive desde a II Guerra." Este catastrofismo todo chega a ser
demente. Para mim tudo dependerá do tempo que durar o covid. A ver vamos. Bárbara
Oliveira INICIANTE: "O ano de uma pandemia, que ninguém
antecipou...". Felizmente, ninguém antecipou a pandemia, Teresa de Sousa.
Aliás, o ideal teria sido adiá-la ou, ainda melhor, cancelá-la. Agora, que
ninguém tenha antevisto a pandemia, nisso concordo consigo.
José
Diniz.893532 INICIANTE: Bill Gates em 2015 alertou para a
inevitabilidade de pandemias graves. O ponto é que os políticos decisores não
deram importância nem valor aos seus alertas 16.09.2020
Jonas Almeida
MODERADOR: Como
nota José Diniz, vários epidemiólogos e virólogos avisaram que esta pandemia
era uma questão de (pouco) tempo. Bill Gates descreveu-a num TED Talk em 2015
com o detalhe que seria provavelmente um coronavírus. Vários governos prestaram
a devida atenção a esta eminência. Por exemplo Taiwan, uma democracia
desenvolvida com 24M habitantes e apenas 10 (dez!) mortos estava preparadíssimo.
O Ocidente prefere proteger os vícios globalistas de um regime financeiro
caduco a planear o futuro. No caso de Úrsula e da UE não foi só não antecipar a
coisa, foi recusá-la mesmo quando estava bem na frente dos olhos. Recordemos no
Público de 2 de Março a notícia "Risco de contágio na UE sobe para
elevado. Comissão rejeita medidas mais gravosas". Felizmente vários países,
como a Áustria, ignoraram-no. 16.09.2020
DemocrataXXI
EXPERIENTE: Ninguém antecipou a pandemia? Bill Gates fê- lo sem sequer ser
epidemiologista e há muito que era esperada, só não se sabia o dia e hora 16.09.2020
A. Martins
INICIANTE: No caso português, sugiro
que chamem o Pedro Passos Coelho. Recebeu um país na completa Bancarrota
e herdou do governo PS um programa de austeridade da Troika e uma dívida de 75
000 milhões para pagar. Em apenas três anos conseguiu livrar-nos da Troika de
credores, pôr outra vez o país a crescer, o desemprego a diminuir e o défice a
baixar drasticamente dos 11% para 3%. Só um político da inteligência e do
calibre dele, pode colocar de novo o país no rumo certo para ultrapassar a
crise do Covid. Com o PS do Costa e dos boys, reféns das exigências dos partidos
da geringonça, não vamos lá. 16.09.2020
jose.saraiva.961626
INICIANTE: Pois, ele que traga a Lulu dos swaps, o Sérgio vendilhão, o
Paulinho das feiras e toda a cáfila, para fazerem uma excursão ao Schauble. Os
portugueses ainda não estão a pão e água logo estão claramente a viver acima
das suas possibilidades. A.
Martins INICIANTE: Não há dúvida de que a cassete posta a
circular pelo Bloco ou pelo PCP fez o seu caminho. Ainda hoje há pessoas que
propagam essas mentiras. A Maria de Lurdes Albuquerque, devia ser medalhada
pois acabou com a maioria dos swaps feitas pelos secretários de Estado do
Sócrates e que causaram prejuízos ao Estado de mais de 1150 Milhões e se não
fosse ela seriam 3000 Milhões a sair do nosso bolso. É apelidada
depreciativamente, miss swaps por quem quis e continua a querer branquear a
Bancarrota do partido da bancarrota. É muita desonestidade intelectual. Ahfan
Neca INICIANTE: Bom comentário, A. Martins.
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