Se é para fazer passar a ideia de uma
tecnologia que obtenha água dessalinizada para irrigar as zonas desérticas,
penso que foi mal escolhido o termo “Geringonça”. Lagarto, lagarto! – pese embora o volume de água com que a tal
nossa geringonça tem irrigado a sua governação
– embora, é certo, de bom sucesso partidário. Talvez por isso, talvez o
projecto do Dr. Salles consiga o êxito que o seu amor pátrio e terrenal pretende…
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A
BEM DA NAÇÃO,05.09.20
Quando,
há dias, escrevi o texto anterior intitulado «Nasser», considerei que estava a
ser utópico, voluntarioso em excesso, quase infantil. Publiquei-o, claro está
(até porque não escrevo para arquivo) mas hesitei na respectiva divulgação. E
qual não foi o meu espanto com a receptividade que foi demonstrada por
comentários positivos que me fazem admitir não ter sido tão infantil quanto
temera nem tão excessivamente voluntarioso ou utópico. Sinto-me, pois,
encorajado e prossigo…
*
* *
A ideia de irrigar o Saará é antiga e
a barragem de Assuão é o exemplo mais «faraónico»; a ideia de dessalinizar a
água do mar é antiga; a ideia de irrigar intensa e extensamente o Saará com
água dessalinizada pode não ser moderna; as tecnologias da energia solar (e
eólica), sim, é que são relativamente novas viabilizando economicamente o
processo de evaporação-condensação. Esta relativa modernidade não obsta,
contudo, a que esteja disponível na Internet muitíssima informação, esquemas de
funcionamento, inclusive.
Fora
eu bricoleur e avançava já na construção de um protótipo de geringonça que
bombeasse água do mar, a fizesse evaporar à força de energia solar e, numa
serpentina de refrigeração, a fizesse condensar, já sem sal, num recipiente ali ao lado. O princípio é tão «moderno» quanto o alambique; a
diferença está na energia utilizada.
E, já que estamos com a mão na «massa», admitamos outros materiais que não o
velhinho cobre dos alambiques do medronho algarvio. Se eu conseguir que um
engenheiro se interesse pela ideia, tenho a certeza de que todas as minhas
dúvidas desaparecem num instante e que o «boneco» da geringonça aparece feito
com todas as especificações necessárias. E quando
o engenheiro começar as especificações, logo surgirão oportunidades para puxar
pelas cabeças. Então,
assente o «boneco», vai ser necessário orçamentar a construção desse protótipo,
reunir os fundos necessários e adjudicar o fabrico a uma oficina de serralheiro
que ofereça garantias de qualidade na execução da obra.
E
assim por diante…
A alternativa a este projecto privado
é conseguir-se o apoio público, nomeadamente do Ministério da Economia e
respectivas instituições de investigação.
Privado ou público, o projecto pode
perfeitamente ser nosso, português, sem necessidade de recurso a estrangeiros.
O que a abundante informação técnica disponível não disser, a capacidade de
raciocínio local há-de suprir.
Entretanto,
o Instituto para a Cooperação (MNE) que vá preparando a agenda das reuniões
bilaterais com os Governos do Norte de África.
E
se os Governos do Magreb e do Makresh não estiverem interessados em
sedentarizar os nómadas, ficamos com uma geringonça que em anos de seca nos
livrará do sufoco espanhol às águas transfronteiriças.
Para já, talvez
seja prudente ficarmo-nos por um protoprojecto.
Setembro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
Tags:: "economia portuguesa"
COMENTÁRIOS:
Anónimo 05.09.2020:
Piano, piano... vá lontano. A ideia é óptima.
Fosse eu com menos 65 anos ia dedicar-me a isso. Brilhante
Anónimo 05.09.2020; Que eu saiba,
o único senão de tão boa ideia é que a tecnologia mais eficaz de dessalinização
é de osmose, por membrana. Mas fica a intenção. E nada me qualifica para
opinar, salvo o facto de, em tempos, ter sugerido a Cabo Verde a dessalinização
da água do mar para - isso mesmo - transformar as ilhas em terra de primores
tropicais. Ah! E a energia eléctrica? Vai ser de geradores a fuel oil como hoje
em dia? Nada disso. O petróleo de Cabo Verde é o vento, muito e a toda a hora,
com os índices solares a ajudar. Até havia quem, estrangeiro, estivesse
interessado em levar por diante um projecto-piloto. Não passou das boas
intenções
Adriano Lima 07.09.2020: É
possível que num futuro próximo a solução seja a que o Dr. Salles da Fonseca
aqui preconiza, neste e no post anterior, que eu li com muito interesse. No
entanto, penso que a solução que o comentador (anónimo) aponta para Cabo Verde
talvez seja bem mais viável nessas ilhas do que em regiões esmagadoramente
desérticas como o Saará. Em ilhas como Cabo Verde ou Canárias temos terrenos de
acentuada aridez e secura mas não o predomínio de areais sem fim em camadas de
muita altura sobre a superfície do solo. Além disso, o deserto do Saará
constitui em si mesmo um ambiente tremendamente hostil em que se teria de em
primeiro lugar contrariar a força avassaladora dos elementos climatéricos
predominantes, como as tempestades de areia com a sua dinâmica motriz imparável
ou difícil de contrariar. Para onde iriam os milhões e milhões de toneladas de
areia? Creio que a solução poderá ter viabilidade em espaços delimitados e
selectivos, mas imaginá-la aplicável a escalas elevadas é algo que nos desafia
e não deixa de seduzir.
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