Leio a magnífica análise que na E de 19/8/20,
Pedro Mexia faz sobre Graça Pina de Morais e que a wikipédia
apresenta
– entre outros estudos da Internet, da
seguinte forma:
«Graça Pina de Morais»
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
«Maria da Graça
Monteiro Pina de Morais (Porto, 17 de Setembro de 1925 —1992) foi uma escritora,
médica e psicóloga portuguesa. Venceu em 1969
o Prémio Ricardo Malheiros e o Grande Prémio
Nacional da Novelística, com Jerónimo e Eulália.
«Biografia: Nasceu no Porto, filha do escritor e republicano entusiasta João Pina de Morais e irmã de Lisa Pina de Morais. Formou-se em Medicina
em 1951. Iniciou-se na escrita em 1955, sob o pseudónimo de Bárbara Gomes.
«Obras: Semi-Deuses (1953); Sala de Aula (1953); O
Pobre de Santiago (contos) (1955); A origem (1958); Na luz do fim (1961); Jerónimo
e Eulália (1969); O medo e Raquel; A mulher do chapéu de palha (2000, póstumo)»
Da crónica , pois, da revista E - “À deriva” de Pedro Mexia - extraio as seguintes frases:
«Histórias que dispensam o enredo
em favor de uma exploração de estados de alma, os contos de Graça Pina de
Morais parecem apenas habitar num mundo interior.»
«Mais do que histórias, são situações estáticas e quase sem desenvolvimento, solilóquios ou monólogos interiores, conjecturas e colapsos.»
Não conheço Graça Pina de Morais, não sinto vontade de conhecer, bastando-me os estudos
que sobre ela colhi na Internet – aliás, como seria de prever, de favorecimento
e encómio, como escritora que foi de denúncia de estados de alma, sobretudo, ao
que me pareceu, da condição humana e sobretudo feminina, mais outras misérias e
mixórdias que constituem o non plus ultra
da nossa capacidade ficcional, desde que apareceram os estudos freudianos
reveladores da soma de taras e complexos que orientam o nosso percurso de
intelectualidade criativa – (não esquecendo, é claro, as criações neo-realistas
concomitantes, de seriedade e inspiração marxista, mais voltadas para os
universos de oposição social contrastante, motivo para as explosões do ódio
virtuoso). De facto, a nossa novelística debruça-se, por cá, muito, sobre a
problemática psicológica comezinha ou forçadamente estapafúrdia, definidora de situações dramáticas e comportamentais
mais ou menos baças ou rebuscadas de violências ou infâmias, colhidas no foro
íntimo do respectivo narrador. Ao invés de desenvolver conflitos ou enredos que
traduzam uma real capacidade inventiva de situações, aliada a uma tal expressividade
discursiva e de observação crítica, que prendam decididamente o interesse do
leitor, navegamos no discurso da violência ou da comiseração, para além do
rebuscamento de linguagem encobridor de uma ausência de criatividade de
situações imaginárias, o ego do escritor explodindo bombasticamente no recurso
ao brilho do discurso da intelectualidade desvendador de todos os ângulos da
psicologia humana, como é o caso da própria Agustina, na impecabilidade discursiva
e irónica das suas desmontagens caracterológicas.
Quem, como eu, desde um percurso “literário”
a partir das histórias infantis que povoavam, nesses tempos, as livrarias ou as
casas das amigas que os emprestavam, seguiu um percurso de leitura novelesca
mais ou menos variada que se revê ainda hoje nas prosas chãs mas extremamente
ricas de escritores franceses ou outros, caracterizados pelos dons de criatividade,
elegância narrativa e conhecimento humano mas sem rodriguinhos, poderá, sim, ler
esses nossos escritores da escrita pesada, mas de preferência de dia, altura
mais propícia a reflexão. De noite, o estar de bem comigo exige essas leituras
leves do meu deslizar beatífico no sono, quer sejam Simone de Beauvoir, quer Júlio
Dinis ainda e sempre, quer “Les
Trois Mousquetaires” que neste momento releio, no encanto de tanta movimentação
criativa, desenfastiante de graça, ironia, progressão episódica. Como o “Dom Quixote”, aliás.
O texto “À
deriva”, de Pedro Mexia, mereceria ser todo transcrito pela elegância
esclarecida da sua análise crítica. Cito apenas o seu início: “Até
certo ponto, a ficção de Graça Pina de Morais é “ilustrativa” de uma época, as décadas de 1950-60, com aquelas histórias
de angústias burguesas, “malaise” existencial, tédio e incomunicabilidade, Histórias
“à Antonioni”, cineasta aliás citado num desses “Contos Completos”. (…)
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