segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Graça Pina de Morais vista por Pedro Mexia


Leio a magnífica análise que na E de 19/8/20, Pedro Mexia faz sobre Graça Pina de Morais e que a wikipédia apresenta – entre outros estudos da Internet, da seguinte forma:

«Graça Pina de Morais»

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

«Maria da Graça Monteiro Pina de Morais (Porto, 17 de Setembro de 19251992) foi uma escritora, médica e psicóloga portuguesa. Venceu em 1969 o Prémio Ricardo Malheiros e o Grande Prémio Nacional da Novelística, com Jerónimo e Eulália.

«Biografia: Nasceu no Porto, filha do escritor e republicano entusiasta João Pina de Morais e irmã de Lisa Pina de Morais. Formou-se em Medicina em 1951. Iniciou-se na escrita em 1955, sob o pseudónimo de Bárbara Gomes.

«Obras: Semi-Deuses (1953); Sala de Aula (1953); O Pobre de Santiago (contos) (1955); A origem (1958); Na luz do fim (1961); Jerónimo e Eulália (1969); O medo e Raquel; A mulher do chapéu de palha (2000, póstumo)»

Da crónica , pois, da revista E - “À  derivade Pedro Mexia -  extraio as seguintes frases:

«Histórias que dispensam o enredo em favor de uma exploração de estados de alma, os contos de Graça Pina de Morais parecem apenas habitar num mundo interior.»

«Mais do que histórias, são situações estáticas e quase sem desenvolvimento, solilóquios ou monólogos interiores, conjecturas e colapsos.»

Não conheço Graça Pina de Morais, não sinto vontade de conhecer, bastando-me os estudos que sobre ela colhi na Internet – aliás, como seria de prever, de favorecimento e encómio, como escritora que foi de denúncia de estados de alma, sobretudo, ao que me pareceu, da condição humana e sobretudo feminina, mais outras misérias e mixórdias que constituem o non plus ultra da nossa capacidade ficcional, desde que apareceram os estudos freudianos reveladores da soma de taras e complexos que orientam o nosso percurso de intelectualidade criativa – (não esquecendo, é claro, as criações neo-realistas concomitantes, de seriedade e inspiração marxista, mais voltadas para os universos de oposição social contrastante, motivo para as explosões do ódio virtuoso). De facto, a nossa novelística debruça-se, por cá, muito, sobre a problemática psicológica comezinha ou forçadamente estapafúrdia, definidora de situações dramáticas e comportamentais mais ou menos baças ou rebuscadas de violências ou infâmias, colhidas no foro íntimo do respectivo narrador. Ao invés de desenvolver conflitos ou enredos que traduzam uma real capacidade inventiva de situações, aliada a uma tal expressividade discursiva e de observação crítica, que prendam decididamente o interesse do leitor, navegamos no discurso da violência ou da comiseração, para além do rebuscamento de linguagem encobridor de uma ausência de criatividade de situações imaginárias, o ego do escritor explodindo bombasticamente no recurso ao brilho do discurso da intelectualidade desvendador de todos os ângulos da psicologia humana, como é o caso da própria Agustina, na impecabilidade discursiva e irónica das suas desmontagens caracterológicas.

Quem, como eu, desde um percurso “literário” a partir das histórias infantis que povoavam, nesses tempos, as livrarias ou as casas das amigas que os emprestavam, seguiu um percurso de leitura novelesca mais ou menos variada que se revê ainda hoje nas prosas chãs mas extremamente ricas de escritores franceses ou outros, caracterizados pelos dons de criatividade, elegância narrativa e conhecimento humano mas sem rodriguinhos, poderá, sim, ler esses nossos escritores da escrita pesada, mas de preferência de dia, altura mais propícia a reflexão. De noite, o estar de bem comigo exige essas leituras leves do meu deslizar beatífico no sono, quer sejam Simone de Beauvoir, quer Júlio Dinis ainda e sempre, quer “Les Trois Mousquetaires” que neste momento releio, no encanto de tanta movimentação criativa, desenfastiante de graça, ironia, progressão episódica. Como o “Dom Quixote”, aliás.

O texto “À deriva”, de Pedro Mexia, mereceria ser todo transcrito pela elegância esclarecida da sua análise crítica. Cito apenas o seu início: Até certo ponto, a ficção de Graça Pina de Morais é “ilustrativa” de uma época, as décadas de 1950-60, com aquelas histórias de angústias burguesas, “malaise” existencial, tédio e incomunicabilidade, Histórias “à Antonioni”, cineasta aliás citado num desses “Contos Completos”. (…)

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