segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Fantasiar é preciso


Julgo que toda a gente já leu ou viu “A Terra do Nunca”, ao menos pela televisão – o meu caso. A Internet facilita a leitura, fico grata por isso, num mundo de cerração, hoje, onde máscaras infames nos reduzem a figuras tão inverosímeis – pelo menos mais ridículas e trágicas, por serem verdadeiras – como as que povoam a Terra do Nunca, que são de fantasia. E neste mundo real, sucedem os casos reais que os estudiosos das políticas e do jornalismo contam, como esse de Boris Johnson, qual Peter Pan na sua “Terra do Sempre”, por ele actualmente manipulada, história esclarecedora, contada pela economista Inês Domingos.

Fantasiemos, primeiro, com gratidão pela fuga:

«Terra do Nunca»

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

(Ilustração de Peter Pan com a Neverland ao fundo, por F. D. Bedford, para a obra Peter and Wendy publicada em 1911.) – Imagem não transposta.

A Terra do Nunca (País de Nunca Jamais na versão/tradução mais antigas) é uma ilha fictícia do livro Peter Pan, do escritor escocês J. M. Barrie. É a morada de Peter Pan, Sininho, e os Garotos Perdidos entre outros. Seu mais conhecido residente recusou-se a crescer, sendo a Terra do Nunca muitas vezes usada como uma metáfora para o comportamento eternamente infantil, a imortalidade e o escapismo. Foi introduzido pela primeira vez como o "Never Never Land" em peça de teatro Peter Pan, or The Boy Who Wouldn't Grow Up, encenada pela primeira vez em 1904.

Na romantização de 1911 Peter and Wendy, Barrie refere-se a "Neverland", e as suas muitas variações "The Neverlands".

1História  2Personagens  3Lugares  4Referências

História

Nos primeiros rascunhos de Barrie, a ilha foi chamada A Ilha do Nunca, Nunca, Nunca de Peter Pan”, por causa de um distrito da Austrália. Quando o filme foi feito, a ilha foi descrita como “Terra do Nunca, Nunca”. Na publicação, entretanto, foi abreviada para “Terra do Nunca”, apenas. Michael Jackson inspirou-se nisso para denominar seu rancho de Terra do Nunca, o Neverland.

Peter Pan guiou Wendy e seus irmãos para a Terra do Nunca ao voar “a segunda estrela à direita e então directo, até amanhecer”. O romance deixa explícito que ele criou essas direcções na hora, por uma viagem intuitiva.

Personagens: Alguns personagens da Terra do Nunca são: Peter Pan, os Meninos Perdidos, sininho, uma tribo de índios, sereias, Capitão Gancho e sua tripulação de piratas e o crocodilo que comeu a mão do capitão. Peter Pan é o personagem mais importante da Terra do Nunca, e a actividade do reino depende da sua presença ou ausência.

Lugares: Árvore do Nunca: A casa de Peter Pan e os meninos Perdidos, com sete árvores ocas.

Lagoa das Sereias: O lugar onde lindas sereias passam o tempo se bronzeando ao sol, penteando seus cabelos longos e nadando.

Ilha da Caveira: Uma ilha em formato de caveira no meio do mar que é uma caverna de pedras, onde a maré sobe muito depressa.

Aldeia Piccanniny: É um acampamento onde mora Piccanniny, uma tribo de índios pele-vermelhas.

Navio do Capitão Gancho: Um navio ancorado perto da Terra da Nunca e controlado por Capitão Gancho que teve uma de suas mãos comida e seus piratas.

Referências

Barrie, James Matthew (1911). Peter and Wendy. [S.l.]: Hodder & Stoughton

Portal da arte»

Entremos no real agora. Com convicção. Mas com máscara, para esconder a ralação:

Boris Johnson na Terra do Nunca /premium

O Reino Unido está disponível para chegar ao fim do ano sem qualquer acordo comercial com a UE, nem sequer o mais básico, que seria a eliminação das tarifas. Se for o caso, é um gigantesco tiro no pé.

INÊS DOMINGOS, Colunista do Observador, economista

OBSERVADOR, 12 set 2020

Depois de meses longe dos holofotes por causa dos efeitos e da resposta ao coronavírus, o Brexit está de volta. E pelas piores razões. Na quarta-feira o ministro Brandon Lewis, Secretário de Estado para a Irlanda do Norte, admitiu finalmente no Parlamento, após dias de especulação e uma demissão no gabinete do primeiro-ministro, que o Reino Unido poderá vir a incumprir alguns aspectos “específicos” e “limitados” do acordo de saída que foi assinado com a União Europeia. Mas talvez mais surpreendente é que no mesmo dia, com Michel Barnier em Londres para tentar negociar os últimos pontos que faltam para chegar a um acordo comercial, nomeadamente os subsídios do Estado, o Reino Unido declarou que seguirá a partir de janeiro de 2021 as regras da OMC, muito mais permissivas do que as regras da UE, relativamente a auxílios de Estado.

A primeira decisão é, apesar de arriscada, compreensível até certo ponto. O Governo britânico pretende eliminar a burocracia recém-criada para o comércio entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido e decidir unilateralmente sobre os bens do Reino Unido que seriam sujeitos a tarifas da UE na Irlanda do Norte, ao arrepio do Tratado que assinou no final do ano passado. A situação especial da Irlanda do Norte sempre foi um ponto de contenda. Por um lado, uma mudança significativa na liberdade de movimento de bens e de pessoas na fronteira com a Irlanda arrisca a comprometer o acordo de Sexta-feira Santa que pôs fim a décadas de violência. Por outro, o Reino Unido sempre argumentou que não permitiria intromissões na sua integridade territorial e com esta medida visa afirmar na prática esse princípio ainda que arrisque um maior descontentamento social e até, no limite, violência na Irlanda do Norte.

Já o anúncio sobre os auxílios de Estado é mais difícil de compreender. Com esta decisão, o Governo parece estar a renegar a tradição de liberalismo económico dos últimos quarenta anos. Mas sobretudo é questionável que as limitações às ajudas de Estado sejam importantes para o Governo britânico quando os dados da Comissão Europeia mostram que, entre 2000 e 2018, no Reino Unido foram apenas de 0,2% do PIB, a segunda taxa mais baixa da UE, representando um terço da taxa em França e menos de um quarto da taxa na Alemanha.

O recuo do Governo britânico num tratado internacional e a pressa aparente em torpedear as actuais negociações podem indiciar uma táctica negocial, devido ao sucesso na negociação do acordo comercial entre o Reino Unido e o Japão, anunciado na sexta-feira.

Mas é também um sinal de que está de facto disponível (e talvez até desejoso) de chegar ao final do ano sem qualquer acordo comercial com a UE, nem sequer o mais básico, que seria a eliminação das tarifas. Se for o caso, é um gigantesco tiro no pé. Desde logo porque o recuo num tratado internacional sobre as Irlandas pode comprometer futuros acordos comerciais, sobretudo em regiões onde a comunidade de ascendência irlandesa é influente. Veja-se o caso paradigmático dos Estados Unidos, onde a Presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, veio apressadamente anunciar que os Estados Unidos não assinarão um acordo se a questão irlandesa não ficar resolvida. De qualquer forma, um acordo entre os Estados Unidos e o Reino Unido estará sempre condicionado pelo crescente afastamento dos EUA dos assuntos internacionais, tendência que se manteria até com uma Presidência Biden. Para além do mais, parece estapafúrdio negociar acordos com regiões distantes, o que representa custos comerciais necessariamente mais elevados, deixando para trás um dos maiores mercados mundiais onde o Reino Unido já tem uma quota de mercado considerável.

Mas a posição do Reino Unido é também curiosa porque contraria uma longa tradição de maior liberdade na política de comércio internacional do Reino Unido, especialmente do Partido Conservador. A própria história da construção europeia foi marcada de forma determinante pela intervenção de Margaret Thatcher, quando em 1988 no Colégio da Europa, em Bruges, defendeu uma melhor aplicação das regras do Tratado de Roma que permitissem concluir o mercado único até 1992.

Nas últimas eleições, com o slogan “Get Brexit Done”, o actual primeiro-ministro britânico interpretou bem o desejo da maioria de avançar finalmente para uma normalização das relações com a UE após anos de negociações infrutíferas. Mas os sacrifícios na reputação internacional, o custo de uma eventual saída sem acordo, e a aparente machadada na tradição conservadora poderão resultar numa factura demasiado pesada para Boris Johnson e para o Partido Conservador nos próximos anos.

BREXIT  REINO UNIDO  EUROPA  MUNDO

COMENTÁRIOS

Fernando Regio: Realmente quem fica a perder é o Reino Unido, parece-me que deveria fazer melhor as contas, quem ganha com a separação em quase todos os sentidos é mesmo o Reino Unido. Portugal pode ter perdido um momento chave em termos de política internacional para se posicionar, até atendendo à inequívoca dependência do investimento Britânico por cá.

Basilio Magno: Os políticos do Reino Unido duma cor ou de outra estão a fazer uma negociata para a qual não foram mandatados. Se foi o Brexit que foi votado, por que razão querem um acordo com boas condições para eles? Quem se apresentou para sair á mesa das negociações? Quem tomou decisões unilaterais e irreversíveis? É claro que não faz sentido a UE arcar com quaisquer consequências de decisões exclusivas de cada estado membro. O Brexit só pode prejudicar o Reino Unido. O resto é a típica manhosice britânica.

António Sennfelt: O sr. Boris Johnson, à semelhança do seu amigo Trump, não parece ter grande pejo em violar um acordo internacional! A questão que se coloca é saber quem confiará doravante no Reino Unido.

miguel cardoso: Exma. Senhora:

Tendo um especial interesse na política do Reino Unido que, ao longo da sua História, tem mostrado sempre uma defesa intransigente dos seus interesses com uma flexibilidade e capacidade de jogo (ou bluff se quiserem) notável, não consigo compreender a falta de independência da quase totalidade dos comentadores e a ignorância deliberada do que o regime político-jurídico do RU comporta.

Parte-se sempre do princípio que a separação é má, independentemente de se admitir que ela resulta de uma deriva federalista da "Europa" que não foi sancionada por ninguém que não fossem as "vanguardas bruxelenses"

Um País, por si, opor-se a esta filosofia passa a ser tabu.

Analisando o regime político do RU, com todas as contradições e tradicionalismos que que lhe possam imputar com verdade ou má-fé, a realidade é que ele representa no seu Parlamento a mais genuína representação das suas variadas circunscrições no Mundo.

O seu regime jurídico, por natureza completamente diferente do "continental" e, na minha opinião pessoal e pelo que observo, menos sujeito à crítica pública no RU sendo as suas decisões aceites sem o alarido de outras Nações, não poderá aceitar nunca, com a consequência da sua destruição, a jurisdição de tribunais superiores aos do "Kingdom".

Para mais não sei se o RU, apesar de um constante esforço dos media em geral de ridicularização dos seus dirigentes, não estará a ver mais longe, de forma mais pragmática e global (mundial), do que a política europeia, dividida e de rumos indefinidos.

 

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