sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Histórias da Távola Redonda


É sempre um prazer ler, e lembrar, no encanto do retorno a sítios, fonte de tanta e tão forte produção escrita, e tão significativo domínio dos mundos… Um cálice de vinho do Porto para festejar.

I – EDITORIAL:        Boris perdeu a graça

Keir Starmer, o novo líder do Labour, tem sido um eficaz líder da oposição, e nas perguntas semanais ao primeiro-ministro (sim, porque aquilo não é o Parlamento português, onde o primeiro-ministro foi desobrigado de aparecer de 15 em 15 dias) tem revelado uma enorme capacidade de incomodar Boris.

ANA SÁ LOPES         PÚBLICO, 3 de Setembro de 2020

Percebe-se que o primeiro-ministro britânico está totalmente “descompensado” quando, na Câmara dos Comuns, acusa o líder dos trabalhistas, Keir Starmer, de ser cúmplice do IRA – isto sem apontar quaisquer provas, o que seria difícil, porque não existem. As férias na Escócia não acalmaram o homem que governa o Reino Unido, sede europeia do maior número de mortes por covid-19. A sua errância a lidar com a pandemia é provavelmente a maior responsável pela queda nas sondagens.

Boris começou por defender uma aproximação igual à da Suécia (que se recusou a impor um lockdown semelhante ao dos outros países europeus e tem uma taxa elevada de mortalidade, mas não tão elevada como a do Reino Unido) para depois fazer uma mudança de 180 graus e impor um confinamento restrito que não travou a tragédia que viveram as ilhas. Pessoalmente, também foi vítima da tragédia, passando alguns dias nos cuidados intensivos por ter contraído por covid-19, apesar de inicialmente ter desvalorizado a doença. Lembram-se de quando se gabava de continuar a .apertar as mãos a toda a gente quando já quase ninguém o fazia?

Em Dezembro, obteve uma maioria absoluta com uma mensagem simples: cumprir o “Brexit” (“Get the Brexit done”). Mas o “Brexit”, que foi central no debate político no Reino Unido e na Europa desde 2016, foi atropelado pela covid-19. Não na cabeça de Boris: correu com a figura principal do “civil service” por desconfianças sobre o “Brexit”, encheu a Câmara dos Lordes de fiéis brexiters, incluindo o seu irmão, de duvidosa competência, e protegeu o seu assessor Dominic Cummings, que, de uma forma bastante clara, não cumpriu a lei do confinamento.

Keir Starmer, o novo líder do Labour, tem sido um eficaz líder da oposição, e nas perguntas semanais ao primeiro-ministro (sim, porque aquilo não é o Parlamento português, onde o primeiro-ministro foi desobrigado de aparecer de 15 em 15 dias) tem revelado uma enorme capacidade de incomodar Boris. A última sondagem, que alarmou os tories, vê o partido de Johnson a cair 26 pontos, para um empate com o Labour. A verdade é que depois da gestão desastrosa da pandemia e de uma taxa de mortalidade assustadora, Boris Johnson ainda tem 40% do eleitorado. É muito menos do que teve, e Starmer é hoje consistentemente visto como um possível e competente primeiro-ministro. Mas não há eleições tão cedo no Reino Unido e, como este ano nos ensinou, a capacidade de as coisas mudarem radicalmente é imensa.

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II REINO UNIDO:  Boris Johnson nomeia bilionário russo para a Câmara dos Lordes

Escolha de Evgenii Lebedev para integrar a câmara alta do Parlamento britânico acontece numa altura de muito escrutínio da influência dos endinheirados russos emigrados no Reino Unido.

      PÚBLICO, 1 de Agosto de 2020

O Governo britânico nomeou um bilionário russo, filho de um ex-agente do KGB, para a Câmara dos Lordes. A decisão surge numa altura em que a preocupação com a influência dos oligarcas russos na economia e na política do Reino Unido é elevada.

A escolha de Evgenii Lebedev, um bilionário de 40 anos nascido na Rússia e proprietário dos jornais Evening Standard e Independent, para ocupar um lugar na câmara alta do Parlamento britânico foi vista pela imprensa britânica como a maior surpresa entre as 36 nomeações de novos lordes.

Lebedev foi para o Reino Unido com oito anos quando o pai, Alexander Lebedev, foi destacado para Londres, onde trabalhou para o KGB, e adquiriu a nacionalidade britânica em 2010.

O empresário alimentou ao longo dos anos relações próximas com políticos do Partido Conservador, incluindo o actual primeiro-ministro, Boris Johnson, de quem disse ser amigo durante um depoimento à comissão Leveson, em 2012, que investigava os abusos éticos da imprensa tablóide britânica na sequência do escândalo com o grupo News of the World, de Rupert Murdoch.

Johnson chegou a ser convidado para uma festa no castelo italiano de Lebedev em 2018, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros, onde conheceu o pai do empresário, segundo o Times. Lebedev também é próximo do ex-ministro conservador George Osborne, que contratou em 2017 como director do Evening Standard.

A decisão de Johnson, de incluir Lebedev entre os novos membros da Câmara dos Lordes, é polémica, especialmente numa altura em que a influência dos oligarcas russos no Reino Unido está sob intenso escrutínio. Recentemente foi divulgado um relatório pelo Parlamento britânico que descreve a praça financeira de Londres como uma “lavandaria” perfeita para bilionários russos poderem esconder as fortunas obtidas ilicitamente. Os investimentos dos empresários são feitos sobretudo no mercado imobiliário de luxo, mas também em clubes de futebol e escolas privadas.

O relatório dá conta de uma autêntica “indústria de facilitadores” que surgiu com a procura por estes milionários de um local para onde pudessem canalizar os seus fundos com tranquilidade e impunidade. A Transparência Internacional calcula que mil milhões de libras (1,1 mil milhões de euros) tenham sido investidas apenas no sector imobiliário.

O interesse dos bilionários russos pelo mercado imobiliário londrino cresceu com a introdução dos vistos dourados em 2008 pelo Governo trabalhista, em que a cidadania britânica passou a ser concedida a troco de investimentos avultados. Nos últimos anos, o poderio económico começou a passar para a arena política, de acordo com o mesmo relatório, que refere doações feitas a partidos políticos e cita directamente a Câmara dos Lordes, onde foram identificados “vários membros que têm interesses comerciais vinculados à Rússia e trabalham directamente para grandes empresas ligadas ao Estado russo”, embora os seus nomes não tenham sido revelados.

A influência russa na política britânica tornou-se um assunto mais preocupante depois da campanha do “Brexit”, que o mesmo relatório concluiu ter sido um terreno de intervenção do Kremlin sem que as autoridades britânicas tivessem tomado providências.

“Escárnio total” Para além de Lebedev, foram nomeados 36 novos lordes, incluindo o irmão do primeiro-ministro, Jo Johnson, e várias personalidades destacadas do Partido Conservador. As escolhas foram criticadas tanto pelo seu número como pela proximidade a Boris Johnson.

O próprio presidente da Câmara dos Lordes, Norman Fowler, disse que a quantidade de novos nomeados representa “uma oportunidade perdida para reduzir o número” de elementos. Na sua nova configuração, a câmara alta – cuja principal competência é rever diplomas legislativos provenientes da Câmara dos Comuns, embora sem os poder vetar – irá superar a marca de 800 parlamentares.

O director-executivo da Sociedade para a Reforma Eleitoral, Darren Hughes, calcula que os novos elementos da Câmara dos Lordes custarão cerca um milhão de libras por ano aos cofres públicos. “Ao nomear vários ex-deputados, fiéis do partido e o próprio irmão, o primeiro-ministro convida ao escárnio total”, afirmou, citado pelo Guardian.

tp.ocilbup@aleur.oaoj

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COMENTÁRIOS:

João EXPERIENTE: Parece que os filiados no Chega vieram aqui comentar em peso. O homem é inglês (como a Joacine é portuguesa), o homem tem dois passaportes (como a Joacine), o homem vive e estudou na Inglaterra desde os cerca de 8 anos (como a Joacine o fez em Portugal), o homem está na Câmara ou Assembleia a defender os interesses dos ingleses como a Joacine também está a defender os interesses dos portugueses, etc etc. E agora querem mandar o homem "vai para a tua terra" como fizeram á Joacine? Tenham decoro, e deixem-se desses comentários e ditos que no mínimo dos mínimos indiciam posições xenófobas e racistas.

AM.242743 EXPERIENTE: Comparar uma Joacine, eleita por 4 anos por sufrágio universal, com um Lebedev "nomeado" vitaliciamente por uma decisão político-administrativa faz todo o sentido... ou um bom exemplo da lavandaria russo-britânica em acção e com estremados defensores dentro deste rectângulo à beira-mar plantado. Que haja notícia, Joacine obteve a nacionalidade portuguesa por força de uma lei que é de aplicação genérica e universal e não como sub-produto, acessível só a alguns com gordas contas bancárias, de uma negociata com os vistos gold, "quid pro quo" em que Reino Unido e Rússia se tornaram unha e carne. Em Portugal também se tentou um arremedo do negócio sem, contudo, chegar ao desaforo de incluir a nomeação como deputado no pacote das benesses - é este o cerne da questão. "Chega" de demagogia... 03.08.2020

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