É sempre um prazer ler, e lembrar, no encanto do retorno a sítios, fonte de tanta e tão forte produção escrita, e tão significativo domínio dos mundos… Um cálice de vinho do Porto para festejar.
I – EDITORIAL: Boris perdeu a graça
Keir Starmer, o novo líder do Labour, tem sido um eficaz líder da
oposição, e nas perguntas semanais ao primeiro-ministro (sim, porque aquilo não
é o Parlamento português, onde o primeiro-ministro foi desobrigado de aparecer
de 15 em 15 dias) tem revelado uma enorme
capacidade de incomodar Boris.
ANA SÁ LOPES PÚBLICO, 3 de Setembro de 2020
Percebe-se
que o primeiro-ministro britânico está totalmente “descompensado” quando, na
Câmara dos Comuns, acusa o líder dos trabalhistas, Keir
Starmer, de ser cúmplice do IRA – isto
sem apontar quaisquer provas, o que seria difícil, porque não existem. As férias
na Escócia não
acalmaram o homem que governa o Reino Unido, sede europeia do maior número de
mortes por covid-19. A sua errância a lidar com a pandemia é provavelmente
a maior responsável pela queda nas sondagens.
Boris começou por defender uma aproximação igual à da
Suécia (que se recusou a impor um lockdown semelhante ao dos outros
países europeus e tem uma taxa elevada de mortalidade, mas não tão elevada como
a do Reino Unido) para depois
fazer uma mudança de 180 graus e impor um confinamento restrito que não travou
a tragédia que viveram as ilhas. Pessoalmente,
também foi vítima da tragédia, passando alguns dias nos cuidados intensivos por
ter contraído por covid-19, apesar de inicialmente ter desvalorizado
a doença. Lembram-se de quando se gabava de continuar a .apertar as mãos a toda
a gente quando já quase ninguém o fazia?
Em Dezembro, obteve uma maioria
absoluta com uma mensagem simples: cumprir o “Brexit”
(“Get the Brexit done”). Mas o “Brexit”, que foi central no
debate político no Reino Unido e na Europa desde 2016, foi atropelado pela
covid-19. Não na
cabeça de Boris: correu com a figura principal do “civil service” por
desconfianças sobre o “Brexit”, encheu a Câmara dos Lordes de fiéis brexiters,
incluindo o seu irmão, de duvidosa competência, e protegeu o seu assessor Dominic
Cummings, que, de uma forma bastante clara, não cumpriu a lei do confinamento.
Keir Starmer, o novo
líder do Labour, tem sido um
eficaz líder da oposição, e nas perguntas semanais ao primeiro-ministro (sim,
porque aquilo não é o Parlamento português, onde o primeiro-ministro foi
desobrigado de aparecer de 15 em 15 dias) tem
revelado uma enorme capacidade de incomodar Boris. A última sondagem, que alarmou os tories, vê o partido
de Johnson a cair 26 pontos, para um empate com o Labour. A verdade é que depois da gestão desastrosa da
pandemia e de uma taxa de mortalidade assustadora, Boris Johnson ainda tem 40% do eleitorado. É muito menos do que
teve, e Starmer é hoje consistentemente visto como um possível e competente
primeiro-ministro. Mas não há eleições tão cedo no Reino Unido e, como este
ano nos ensinou, a capacidade de as coisas mudarem radicalmente é imensa.
TÓPICOS:
OPINIÃO
REINO UNIDO BORIS JOHNSON BREXIT KEIR STARMER COVID-19 EDITORIAL
II REINO
UNIDO: Boris Johnson nomeia bilionário russo para a
Câmara dos Lordes
Escolha de Evgenii Lebedev para
integrar a câmara alta do Parlamento britânico acontece numa altura de muito
escrutínio da influência dos endinheirados russos emigrados no Reino Unido.
O Governo britânico nomeou um
bilionário russo, filho de um ex-agente do KGB, para a Câmara dos Lordes. A decisão surge numa altura em que a
preocupação com a influência dos oligarcas russos na economia e na política do
Reino Unido é elevada.
A
escolha de Evgenii Lebedev, um
bilionário de 40 anos nascido na Rússia e proprietário dos jornais Evening Standard e
Independent, para ocupar um lugar na câmara alta do Parlamento
britânico foi vista pela imprensa britânica como a maior surpresa entre as 36
nomeações de novos lordes.
Lebedev foi para o
Reino Unido com oito anos quando o pai, Alexander Lebedev, foi destacado para
Londres, onde trabalhou para o KGB, e adquiriu a nacionalidade britânica em
2010.
O
empresário alimentou ao longo dos anos relações próximas com políticos do
Partido Conservador, incluindo o actual primeiro-ministro, Boris Johnson, de
quem disse ser amigo durante um depoimento à comissão Leveson, em 2012, que
investigava os abusos éticos da imprensa tablóide britânica na sequência do
escândalo com o grupo News of the World, de Rupert Murdoch.
Johnson chegou a
ser convidado para uma festa no castelo italiano de Lebedev em 2018, quando
era ministro dos Negócios Estrangeiros, onde conheceu o pai do empresário,
segundo o Times. Lebedev também é próximo do ex-ministro conservador George
Osborne, que contratou em 2017 como director
do Evening Standard.
A decisão de Johnson, de incluir
Lebedev entre os novos membros da Câmara dos Lordes, é polémica, especialmente
numa altura em que a influência dos oligarcas russos no Reino Unido está sob
intenso escrutínio. Recentemente foi divulgado um relatório pelo Parlamento
britânico que descreve a praça financeira de Londres como uma “lavandaria”
perfeita para bilionários russos poderem esconder as fortunas obtidas
ilicitamente. Os investimentos dos empresários são feitos sobretudo no mercado
imobiliário de luxo, mas também em clubes de futebol e escolas privadas.
O
relatório dá conta de uma autêntica “indústria de facilitadores” que surgiu com
a procura por estes milionários de um local para onde pudessem canalizar os
seus fundos com tranquilidade e impunidade. A Transparência Internacional
calcula que mil milhões de libras (1,1 mil milhões de euros) tenham sido
investidas apenas no sector imobiliário.
O interesse dos bilionários russos
pelo mercado imobiliário londrino cresceu com a introdução dos vistos dourados
em 2008 pelo Governo trabalhista, em que a cidadania britânica passou a ser
concedida a troco de investimentos avultados. Nos últimos anos, o poderio
económico começou a passar para a arena política, de acordo com o mesmo
relatório, que refere doações feitas a partidos políticos e cita directamente a
Câmara dos Lordes, onde foram identificados “vários membros que têm interesses
comerciais vinculados à Rússia e trabalham directamente para grandes empresas
ligadas ao Estado russo”, embora os seus nomes não tenham sido revelados.
A
influência russa na política britânica tornou-se um assunto mais preocupante
depois da campanha do “Brexit”, que o mesmo relatório concluiu ter sido um terreno de intervenção
do Kremlin sem que as autoridades britânicas tivessem tomado providências.
“Escárnio total” Para além de Lebedev, foram nomeados 36 novos lordes, incluindo o irmão do
primeiro-ministro, Jo Johnson, e várias personalidades destacadas do Partido
Conservador. As escolhas foram criticadas tanto pelo seu número como pela
proximidade a Boris Johnson.
O
próprio presidente da Câmara dos Lordes, Norman Fowler, disse que a quantidade de novos nomeados representa
“uma oportunidade perdida para reduzir o número” de elementos. Na sua nova configuração, a câmara alta – cuja
principal competência é rever diplomas legislativos provenientes da Câmara dos
Comuns, embora sem os poder vetar – irá
superar a marca de 800 parlamentares.
O
director-executivo da Sociedade para a Reforma Eleitoral, Darren Hughes,
calcula que os novos elementos da Câmara dos Lordes custarão cerca um milhão de
libras por ano aos cofres públicos. “Ao nomear vários ex-deputados, fiéis do
partido e o próprio irmão, o primeiro-ministro convida ao escárnio total”,
afirmou, citado pelo Guardian.
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COMENTÁRIOS:
João EXPERIENTE: Parece que os filiados no Chega vieram aqui comentar em peso. O homem é inglês (como a Joacine é portuguesa), o homem tem dois passaportes (como a Joacine), o homem vive e estudou na Inglaterra desde os cerca de 8 anos (como a Joacine o fez em Portugal), o homem está na Câmara ou Assembleia a defender os interesses dos ingleses como a Joacine também está a defender os interesses dos portugueses, etc etc. E agora querem mandar o homem "vai para a tua terra" como fizeram á Joacine? Tenham decoro, e deixem-se desses comentários e ditos que no mínimo dos mínimos indiciam posições xenófobas e racistas.
AM.242743 EXPERIENTE: Comparar uma Joacine, eleita por 4 anos por sufrágio universal, com um Lebedev "nomeado" vitaliciamente por uma decisão político-administrativa faz todo o sentido... ou um bom exemplo da lavandaria russo-britânica em acção e com estremados defensores dentro deste rectângulo à beira-mar plantado. Que haja notícia, Joacine obteve a nacionalidade portuguesa por força de uma lei que é de aplicação genérica e universal e não como sub-produto, acessível só a alguns com gordas contas bancárias, de uma negociata com os vistos gold, "quid pro quo" em que Reino Unido e Rússia se tornaram unha e carne. Em Portugal também se tentou um arremedo do negócio sem, contudo, chegar ao desaforo de incluir a nomeação como deputado no pacote das benesses - é este o cerne da questão. "Chega" de demagogia... 03.08.2020
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