João Miguel Tavares vai destapando
o véu a respeito das manigâncias governativas que por nós têm passado e
continuam - o que se torna, naturalmente, esclarecedor para os leigos. E
vibrante de uma juvenilidade corajosa, de quem quer para o país dos seus filhos
uma alma mater de sanidade espiritual imprescindível, mesmo num pequeno
rectângulo não culpado, como este nosso, que amamos.
OPINIÃO: Só faltava pôr Arons na RTP. Agora já não
falta
Foi assim com Guterres, foi assim com
Sócrates e continua a ser assim com Costa. Eis uma bonita recompensa por uma
vida inteira dedicada ao PS e ao lambe-botismo. Roma não paga a traidores, mas
o PS, tal como a Casa de Lannister, paga todos os seus favores.
JOÃO MIGUEL TAVARES PÚBLICO,12 de Setembro de 2020
Há
três semanas, escrevi três textos sobre o problema
das estruturas
de corrupção
instaladas em Portugal, procurando explicar que elas não passavam
necessariamente pela promoção de actos puníveis à luz do Código Penal, mas pelo
domínio de redes de influência nos sectores político, económico, mediático e
até judicial, onde imperavam – e imperam – práticas de favorecimento dos
“fiéis”, que a tudo se predispõem. Se para se ser corrupto é
imprescindível corromper ou deixar-se corromper, para integrar as estruturas de
corrupção basta fazer-se de parvo, atender os telefonemas do chefe, dar uma
palavrinha ou fechar os olhos na hora certa.
Logo
no primeiro desses textos, escrevi isto:
“Há cada vez mais sinais que indicam o regresso em força do velho PS
clientelar, pela mão de António Costa.
Antecipando os duríssimos tempos que se aproximam, é como se o
primeiro-ministro estivesse já a mover as suas peças para alcançar o máximo
controlo sobre a política, a economia, a justiça e os media, com uma série de
decisões extremamente preocupantes.” Depois dava vários exemplos, como a não recondução de Joana Marques Vidal,
o papel do fogoso Homem Hidrogénio João Galamba, a escolha de Vítor Escária para
liderar o seu gabinete ou as ligações do amigo Lacerda Machado ao cada vez mais super-empresário Mário Ferreira, agora
dono da super-fragmentada TVI. E acrescentava, no
final dessa lista: “Só falta mesmo Arons
de Carvalho ir parar à RTP.” Nesta
quinta-feira, soubemos que já nem isso falta: Arons de Carvalho foi mesmo parar à RTP. O Governo
nomeou-o para integrar o Conselho Geral Independente (CGI), e ser um dos seis membros que têm a incumbência de
escolher a administração da RTP e o seu presidente, bem como definir a
orientação estratégica da empresa. No final de 2017, o Governo já tinha
nomeado para o CGI o inevitável embaixador Seixas da Costa. Agora, chegou a vez
do inefável Arons de Carvalho,
devido ao seu “percurso ímpar na história da comunicação social
portuguesa”.
Recordemos, então, esse percurso ímpar.
Ainda
recentemente, o ímpar Arons tomou posição sobre a polémica que envolveu Sandra
Felgueiras e o Sexta às 9, defendendo que um programa do género “não deveria existir num serviço público de televisão”.
O ímpar Arons – que talvez assim tenha comprado o bilhete de entrada na
Marechal Gomes da Costa – argumentou que “deve haver jornalismo de
investigação”, mas que “a obrigação de todas as semanas ter de haver uma
bronca qualquer para denunciar leva a que sejam queimadas etapas absolutamente
necessárias no jornalismo”. Ah, a velha tese das etapas queimadas. O
jornalismo de investigação do ímpar Arons quer-se tântrico, como o sexo. Lento,
demorado e, de preferência, atrasado quando se trata de incomodar governos
socialistas.
Foi assim com Guterres, foi assim com
Sócrates e continua a ser assim com Costa. O ímpar Arons, o homem que afirmou não achar “reprovável uma pessoa
viver com dinheiro emprestado”; o homem que foi apanhado nas escutas da Operação Marquês a
ser pressionado pelo velho amigo para pressionar os restantes membros da ERC a
deliberarem contra o Correio da Manhã (o que veio a acontecer); esse homem
volta agora a ser premiado, aos 71 anos, com mais um lugar onde pode impor a
sua magnífica visão do jornalismo português. Eis uma bonita recompensa por uma
vida inteira dedicada ao PS e ao lambe-botismo. Roma não paga a traidores, mas
o PS, tal como a Casa de Lannister, paga todos os seus favores. Jornalista
TÓPICOS: GOVERNO PS ANTÓNIO COSTA RTP MEDIA TELEVISÃO CONSELHO
GERAL INDEPENDENTE
COMENTÁRIO:
timóteo_p INICIANTE: Correctíssimo. Dificilmente se poderia identificar
alguém mais emblemático da absoluta nojeira e impunidade a que estes sujeitos
conseguiram conduzir o regime. E depois ainda têm o topete de vir a público
gritar contra as consequências inevitáveis da sua miserável conduta e protestar
supostas superioridades morais. O cheiro é agora nauseabundo.
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