quarta-feira, 30 de junho de 2021

Um cara divertido


Que com a sua cara impávida e serena fingindo não estar a par de nada, numa de atrasado mental para despertar o veredicto da impunidade que merecem todos os atrasados mentais, serviu convenientemente a Sócrates – e a tantos mais de idêntico calibre usurpador - para se esconderem por trás dele, fazendo passar mais despercebidas as suas próprias falcatruas. O certo é que, contra a imbecilidade não há resistência, e o aspecto de Berardo, de parolo risonho e finório, que nada sabe e tudo nega e de todos assim troça, mereceu sempre uma comiseração que fez arrastar o seu processo, o qual volta hoje à tona, talvez para novamente cair no silêncio da indiferença e do esquecimento, até se esgotarem os dinheiros externos, que nos possibilitam tal passividade lorpa, de quem cai em todas as esparrelas, na indiferença astuta da nossa falta de princípios e manha ancestrais, com que nos vamos desculpabilizando dos nossos próprios artifícios de “rabos cortados que somos, para aquém dos lagartos, remexidamente”, apenas, como dizia o outro…

Felizmente que muitos ainda, e entre esses, Maria João Marques, que o descreve com saber e consciência, a isso reagem. Mas os focos de incêndio são tantos e as águas para os apagar tão cada vez mais escassas, que não nos trazem quaisquer laivos de esperança de outro modus vivendi e essendi

OPINIÃO: Então e quem decidiu emprestar dinheiro a Berardo?

Se de um financeiro espertalhão não espanta que não pague o que deve, já a incompetência de quem administra um banco público é mais grave.

MARIA JOÃO MARQUES              PÚBLICO, 29 de Junho de 2021

Qualquer pessoa que assistiu à prestação de Joe Berardo na Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD em 2019 sentiu o coração aquecendo ligeiramente quando leu ou ouviu a notícia que dava Joe Berardo detido por suspeitas de fraude fiscal, burla agravada e branqueamento de capitais. O gozo e o desrespeito ostensivos de Berardo para com os deputados da comissão de inquérito – e, donde, o gozo e o desrespeito para com os eleitores que os deputados representam – foi um dos momentos mais subterrâneos acontecidos na Assembleia da República nos últimos anos. Tendo em conta que a CGD recebeu de 2007 a 2019 mais de seis mil milhões de euros de dinheiro dos contribuintes – incluindo daqueles que passam horas nos transportes públicos para ir diariamente trabalhar e ao fim do mês recebem umas centenas de euros –, e que as relações de Berardo com a CGD deram um simpático contributo para tal cogumelo atómico, o desprezo evidenciado sem pejo no Parlamento pelos danos causados aos seus concidadãos foi insuportável de ver.

Mas este caso de Joe Berardo tem outro lado, mais pestilento ainda. A saber: quem e por que razão decidiu que a CGD deveria emprestar milhões de euros sem fim a Joe Berardo. Se de um financeiro espertalhão e sem sentido ético desenvolvido não espanta que se se envolva em todos os esquemas para não pagar o que deve, já a displicência, a incompetência e as motivações políticas de quem administra ou tutela um banco público são mais graves, porque vindas de quem tem obrigação de zelar pelo bem comum.

Os empréstimos da CGD a Joe Berardo têm razão conhecida: a vontade do governo de José Sócrates controlar o BCP. Há uns anos, Jardim Gonçalves disse a este jornal, sobre os sobressaltos do BCP naqueles anos, “O que sei é que o primeiro-ministro [José Sócrates] e o ministro das Finanças [Fernando Teixeira dos Santos] precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública. Mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública e o BCP era independente”. (Dívida pública – aquela realidade que cresceu tanto durante os governos Sócrates que os juros se tornaram incomportáveis, às tantas era considerada lixo e obrigou a um resgate financeiro internacional em 2011.)

Vai daí, a CGD emprestou dinheiro a vários empresários conhecidos, entre eles Joe Berardo, para que comprassem acções do BCP e forçassem uma administração amigável ao governo. Armando Vara (eterno presente em esquemas estranhos) e Carlos Santos Pereira estavam na administração da CGD quando os empréstimos foram aprovados. E terminaram ambos – grande coincidência – como administrador e presidente do BCP. As escolhas para os lugares cimeiros de ambas as instituições não terão sido por mérito, certamente, uma vez que a dupla está ligada aos piores momentos dos dois bancos.

Claro que nos tempos socráticos esta rebaldaria entre negócios privados e públicos era negócio como de costume. Ninguém investigou, poucos criticaram. Os esquemas passaram-se em 2006 e 2007. Em 2017 (dez anos depois; perfeitamente a tempo, portanto), a esquerda parlamentar encerrou a correr uma comissão parlamentar de inquérito à CGD para impedir que o banco público tivesse de enviar aos deputados a lista dos grandes devedores.

Segundo a Polícia Judiciária, desde 2016 (há cinco anos, dez anos após os eventos suspeitos – que ser apressado causa burnout) investigam-se estes empréstimos, obtidos, suspeita-se, por Joe Berardo através de “relações privilegiadas” com o governo Sócrates. A PJ “identificou procedimentos internos em processos de concessão, reestruturação, acompanhamento e recuperação de crédito, contrários às boas práticas bancárias e que podem configurar a prática de crime”. Estamos em 2021, investigando se há quinze anos os governantes e os administradores de um banco público cometeram crimes na concessão de um empréstimo. Mais um prazo perfeitamente normal para uma investigação, claro.

A Polícia Judiciária aparentemente também investiga a ligação entre a cedência das obras do Museu Berardo expostas no CCB e estes empréstimos da CGD a Joe Berardo. O acordo para a colecção de arte, cedendo o Estado em todas as exigências de Berardo, foi duramente criticado pelo então Presidente da República, Cavaco Silva, por desproteger os interesses públicos, e inicialmente recusado com veemência pela então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima. Porém, por artes mágicas, contra a vontade do PR e da ministra, o governo Sócrates assinou o acordo vantajoso (e repleto de ambiguidades) para Berardo.

Na CGD, os empréstimos foram concedidos com a incompetência que a mistura ilegítima entre interesses públicos e privados exigia. Um aval pessoal de trinta e oito milhões de euros de Berardo à CGD nunca foi localizado. Ninguém se lembra de ter proposto os empréstimos (a memória seletiva é sempre conveniente). Quando Berardo fez a manigância de diluir os poderes dos bancos na Associação Coleção Berardo, a CGD não deu pela perda de parte das garantias.

No meio disto tudo, é impossível não nos repugnarmos com a impunidade de toda a gente envolvida e garantida por – outra vez – toda a gente. Perante a decisão da instrução da Operação Marquês, e tendo em conta prazos de prescrição, só podemos sorrir com as investigações da PJ ao que se passou há quinze anos. Servem para quê?

A CGD foi descaradamente usada para servir os interesses de Sócrates e Berardo (e outros), mas que fazer? Se tudo se passou à frente de toda a gente e ninguém quis saber, por que nos incomodaríamos quinze anos depois?

Politicamente, também não haverá consequências. As comissões parlamentares de inquérito aos bancos estão transformadas em reality shows de gosto duvidoso em que os deputados – e alguns têm excelentes prestações, como Cecília Meireles ou Mariana Mortágua – são gozados por empresários e gestores desmemoriados e sem qualquer espírito cívico. O PS, não querendo reclamar a herança socrática, finge afincadamente que o partido não teve nada que ver com Sócrates, essa personagem duvidosa que hipnotizou e tirou a capacidade crítica a toda a gente que com ele esteve no governo e no partido.

Economicamente não há crise, que os contribuintes são mansos e agora estão compreensivelmente mais ocupados com as consequências económicas da pandemia. A CGD foi descaradamente usada para servir os interesses de Sócrates e Berardo (e outros), mas que fazer? Se tudo – empréstimos a Berardo, ofensiva sobre o BCP, acordo para a colecção – se passou à frente de toda a gente e ninguém quis saber, por que nos incomodaríamos quinze anos depois?

Avancemos, não há nada para ver aqui.

Economista

TÓPICOS

JUSTIÇA  JOE BERARDO  JOSÉ SÓCRATES  ARMANDO VARA  BANCA  CGD  POLÍCIA JUDICIÁRIA

COMENTÁRIOS:

DemocrataXXI INFLUENTE: O polvo, é imenso          Zé Goes EXPERIENTE: Muito bem professora. Essa é, de facto, a pergunta que se impõe. Temo que vá ficar sem resposta.           SE EXPERIENTE: Ofuscados pela estrela fandanga, esquecemos os buracos negros que lideraram o banco público entre 2005 e 2008. É bom serem lembrados aqui pela Maria João Marques, mesmo que a Justiça os atire para o nevoeiro da prescrição. Ao menos que da vergonha não se livrem, presumindo que tenham alguma.           Liberal Duro de Desactivar Regressou a INICIANTE: Não querias mais nada!          M Cabral EXPERIENTE: Muito interessante resumo e perspectiva.         fernando jose silva INFLUENTE: Quinze anos depois não são muito tempo. Se houvesse arraia miúda metida nisto o processo tinha avançado. O problema é que na Caixa há grandes gorduras implicadas no caso. Quem autorizou os empréstimos com garantias de perspectivas bolsistas? Quem os despachou assinando? Como correu todo este processo? Não esquecer que a Caixa deu sempre lucros ao Estado e só a partir de Sócrates e do seu testa de ferro Vara, passou a dar prejuízos. e surgiram as imparidades impossíveis.. Há uma fraude gigantesca em tudo isto, possível de esclarecer se houver vontade política e seriedade na justiça.. A CGD não foi enganada por acaso nem pela mão dos funcionários. O logro veio do alto, do poder. Acusa-se muito Salazar, mas Salazar nunca faria tamanha trapaça. A conjuntura foi construída.    HNeves EXPERIENTE: Indo lá mais atrás, situando a teia de amizades, não esquecer aquele seu inicial amigo do peito, de nome “Pik” Botha, ministro do Apartheid, que tinha com Cavaco Silva relações de grande cordialidade, lembram-se? Tudo malta muito ligada, alimentando o sistema que nos asfixia. Sim, "é impossível não nos repugnarmos com a impunidade de toda a gente envolvida", mas não tenhamos memória selectiva: o regabofe com as empresas públicas e os dinheiros públicos vem de longe e teve sempre no seu famoso "arco do poder" o seu principal protagonista. A história é longa e é de arrepiar! Não nos queiram distrair com os "casos" destas tenebrosas personagens, nem com as cartilhas ideológicas que nos massacram todos os dias que somos um país atrasado porque vivemos acima das nossas possibilidades.

 

Amigos, amigos…


Não, não é verdadeiro o provérbio, neste caso. As negociatas não são à parte. Fica tudo em família, como se comprova por estes retratos – da Helena Garrido e dos seus comentadores, todos de largo saber.

Empregos para amigos /premium

A lei não se cumpre e assim se consegue viciar os concursos da administração pública. E qual é a solução do Governo para uma lei que é ele que não cumpre? Mudar a lei.

HELENA GARRIDO                OBSERVADOR, 28 jun 2021

Transitámos directamente de “no jobs for the boys” para “all jobs for de boys”? Se não é assim, é assim que parece. O Expresso fez (acesso limitado a assinantes), há uma semana, um trabalho de investigação sobre as nomeações e concluiu que em 69,1% dos concursos foram nomeadas as pessoas que tinham sido escolhidas pelo Governo em regime de substituição e, dessas, 83% estiveram lá mais de um ano, partindo assim para o concurso em clara vantagem. Os Ministérios em que essa prática está mais generalizada são os da Educação e o da Segurança Social.

O procedimento para colocar quem se quer no lugar parece simples. O responsável governamental nomeia um dirigente da sua confiança para substituir o anterior. O substituto deveria lá ficar 90 dias – prazo máximo da substituição -, enquanto era aberto um concurso. O Governo não abre o concurso, o substituto eterniza-se e quando o Executivo lança o concurso, depois conduzido pela Cresap, quem lá estava tem óbvias vantagens sobre todos os outros concorrentes. Acaba por ficar nos grupos dos três primeiros, a lista é submetida ao Governo que, obviamente o escolhe. Tudo legal e a aproveitar uma lacuna na lei que aparentemente não estabelece um limite temporal para o regime de substituição. A que se junta o facto de o Governo não cumprir a lei e não abrir os concursos dentro do prazo dos 90 dias. E assim se consegue, legalmente, “all jobs for the boys”.

A ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública Alexandra Leitão anuncia agora que quer mudar a lei dando à Cresap o poder de lançar “oficiosamente” os concursos, não se percebendo bem o que isto quer dizer, e por limitar o tempo da substituição – limite que já existe, implicitamente por via do tempo para abrir o concurso, e não é cumprido. Mas logo a seguir vem a “não solução” para o problema dos concursos viciados: “Depois, naturalmente, o tempo que durar o concurso já não está na mão de um membro do Governo”.

Mais do que mudar a lei, o importante era que o Governo a cumprisse, porque de facto as regras que existem não são más. Custará muito abrir um concurso assim que o lugar fica vago em vez de andar a dar formação no lugar ao substituto que se quer para o lugar?

Além disso, levando em conta a prática e, mais do que isso, aquilo que mostram que pensam alguns elementos deste Governo e alguns socialistas sobre a necessidade de garantir a independência dos dirigentes da administração pública, temos todas as razões para olhar para propostas de mudança desta lei como uma via de tornar indiscutível os “jobs for the boys”.

Num Governo em que há governantes que põem em causa o modelo de independência em relação ao poder político de reguladores e dirigentes, que considera que tudo tem de ser alinhado pelo que pensa o Governo, que frequentemente parece seguir a máxima “se não és por mim, és contra mim”, mudanças nas leis de recrutamento para administração pública apenas servirão para definir regras que espelhem as suas convicções.

Ainda nesta última semana assistimos à nomeação de Ana Paula Vitorino, ex-governante e destacada militante socialista, para aliderança do regulador dos transportes, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT). A Cresap não encontrou nenhum problema nesta escolha e os argumentos usados pelo ministro das Infra-Estruturas Pedro Nuno Santos revelam bem como se mistura tudo. Não está em causa o conhecimento que Ana Paula Vitorino possa ter do sector – que até já tutelou, pelo menos em parte. Estão em causa as condições que tem para exercer o cargo com independência do poder político, de um Governo do PS, partido a que pertence sem que seja uma militante anónima.

A independência dos reguladores, na tradição britânica e adoptada pela União Europeia, tem como objectivo proteger os sectores de mudanças de regras ou de decisões políticas construídas mais para conquistar votos do que para desenvolver o país. Os países que adoptaram estes modelos garantem decisões que produzem melhores resultados a médio e longo prazo, protegendo os cidadãos de impulsos eleitoralistas que têm custos a prazo. Um dos exemplos mais estudado é o dos bancos centrais que, com a sua independência, conseguiram controlar a inflação.

A partidarização da administração pública que tem como consequência a escolha de dirigentes pelo cartão do partido e não pela sua competência é uma tentação para comprar votos, sem dúvida. Mas, neste tempo de pandemia, devíamos ter pensado se não teríamos estado mais bem servidos se tivéssemos tido os melhores técnicos na liderança da administração pública, nomeadamente na Saúde, mas também na Segurança Social e até na Educação.

Uma das queixas dos governos é que correm o risco de serem boicotados se não escolherem pessoas da sua confiança política para os cargos. Pois esse é já um problema criado pela partidarização, que tem de ser resolvido, e que não devia passar por mais partidarização. Pode sempre substituir-se quem se considera que está ao serviço do seu partido e não dos cidadãos que a administração pública deve servir. Não se pode nem deve é substituir apenas para arranjar empregos a amigos que por sua vez vão garantir votos, sem pensar nos custos que isso tem para o desenvolvimento do país.

GOVERNO   POLÍTICA   MAIORIA DE ESQUERD  APS

COMENTÁRIOS:

A. Carnide: O artigo fez-me lembrar o saudoso e assertivo Medina Carreira 👌            Manuel Martins: Os dirigentes da administração pública seguem quase todos o mesmo padrão: se o cargo tem poder, é apetecível, tem impacto político e não muito técnico, então é para alguém militante do partido ou obediente ao ministro. Se for muito técnico, têm de pôr o militante a aprender (subdirector, assessor, etc). Nos restantes, normalmente vigora o mérito ou a cunha, mas quase sempre com pouca independência ou capacidade de afrontar a tutela política.             Ashley Albuquerque: Esquemas com as substituições, critérios definidos "a la carte"... Andarmos nisto várias décadas depois da entrada na UE, dá que pensar. É triste e desmoraliza as pessoas. Tanta oportunidade perdida. A cunha, o amiguismo são cancros. O princípio é: se não aproveitas tu, há quem aproveite.... Somos mesmo uma nação de gente desonesta.             Antes pelo contrário: Portugal finalmente encontrou a "via original para o socialismo", de que falava o Mário Soares. ... é a "demiocracia"... É só metade! A outra metade, pertence-lhes porque a roubaram.          josé maria: Empregos para amigos é sempre altamente deplorável, mas a Helena Garrido só agora é que descobriu. No tempo dos amigos do governo de Passos Coelho, esteve calada. Como é fácil e ligeira a hipocrisia na direita portuguesa...          Joaquim Moreira: Esta crónica é de uma clareza tal, que tenho muita dificuldade em perceber quem não a consegue entender. Como é o caso de Paulo Trigo Pereira que escreveu ainda ontem mais uma crónica para esquecer. Na verdade, tem que ser dito com toda a clareza, o partido socialista faz tudo para reunir, os seus, à mesma mesa. Que é exactamente a mesa do Estado, que, por essa razão, está cada vez mais degradado! E se é verdade que o PSD, numa primeira fase, tentou fazer tudo para mudar a situação, a verdade é que, as críticas, e a maior acusação, têm sido para o líder da oposição. Que dizem, não fazer ou não saber fazer oposição! Esquecendo que toda esta situação, tem desde a primeira hora o grande apoio do mais Alto Magistrado da Nação! Ou seja, as críticas têm sido desviadas noutra direcção. Apesar desta declaração do próprio líder da oposição: “É o PS a primeira razão de nós não reformarmos. No fundo, o PS na sua cultura, independentemente do Governo PS que lá possa estar, normalmente só quer manter o poder para poder alimentar a clientela socialista”. E que Helena Garrido põe aqui bem à vista!         Jal Morgado: No México os socialistas estão no Governo há mais de 70 anos seguidos. Em Portugal os socialistas-comunistas-bloquistas comunistas: estão a prepara as "fundações" para tomar conta governança portuguesa por anos sem fim! Eles comem tudo e não deixam nada...       Graciete Madeira: Artigo muito oportuno. De acordo.            Caça Fantasmas: A solução é muito simples: Os dirigentes são nomeados por quem tem essa competência. Ao aceitar os cargos, sabem à partida que mudando quem tem a competência pode mudar também o dirigente nomeado, sem direito a qualquer indemnização. Quem muda o dirigente responsabiliza-se pela mudança. Assim, nunca haverá gato escondido com rabo de fora! E só aceitam aqueles que verdadeiramente estão na disposição de servir os cidadãos. Claro está, com limitação de apenas uma renovação da Comissão de Serviço (6 anos no max).         James Tong > Caça Fantasmas: O Sr. é um lírico. Existem vários cargos na Administração Pública que exigem várias décadas de experiência e preparação. Não estamos a falar de "caixas de supermercado" (pelos quais eu nutro e exijo o maior respeito, tal como por TODOS os Profissionais dignos desse nome em qualquer ofício)                Caça Fantasmas > James Tong: O meu amigo está apegado ao seu cargozinho... está bem de ver! O cemitério está cheio de insubstituíveis! Décadas para aprender a exercer um cargo?!!! É por isso que o país não avança!   James Tong > Caça Fantasmas: Claro que não há insubstituíveis. Nem sequer falo de mim que sou apenas um "zero à esquerda". Dou-lhe um exemplo: não está à espera que seja um recém-licenciado a elaborar (e verificar) os cálculos duma ponte, pois não ? Primeiro, acompanha outros com anos de experiência. É apenas um exemplo entre muitos...               Carlitos Sousa: Qualquer alteração ao modo como a Cresap funciona, serve somente para incrementar o controlo socialista nessa entidade. A nomeação de Ana Vitorino foi a amostra providencial de como a Cresap fomenta o nepotismo e a oligarquia socialista. Ainda vai votar PS ?!?   Português indignado: Cheia de razão. Mas deste governo horroroso do PS só esperamos mesmo o pior e baixo nível . A partidarização da Administração Pública é péssima. Só em Portugal os administradores hospitalares por exemplo pelos dirigentes políticos...é um cargo de confiança política dizem eles...e eu a pensar que são cargos que exigem elevada competência técnica e mérito! Nojo deste polvo socialista....       advoga diabo: A reportagem do Expresso é capciosa e persecutória, o que não é novo e por isso não admira dadas as suas simpatias. A comprová-lo basta perceber o reflexo quase nulo no resto da CS.            Nuno W: È vergonhoso que o maior e mais oneroso Governo de sempre da República não consiga conter os impulsos do Partido , na colocação de militantes , familiares , tudo sem princípios, sem ética e sem justiça. Sem qualquer decoro, trata os Colaboradores da Administração Pública como ratinhos amestrados, como cidadãos sem vontade própria e renega à meritocracia, à justiça e ao trabalho. Pobre contribuinte vítima desta choldra que são as nomeações para cargos do Estado.               Antes pelo contrário: Portugal está a afundar não apenas por causa da má gestão e da corrupção socialista, mas por causa de um modelo adoptado em 1975 que é contrário ao desenvolvimento e ao crescimento de qualquer país!!! A ignorância das pessoas é simultaneamente uma maldição, e um crime - pois não se informam, não pensam, e aceitam de forma bovina ser manipuladas. Portugal cresceu graças às PPP... que começaram com os Descobrimentos!!! Todas as empresas criadas pelo Marquês de Pombal eram PPPs. Todas as empresas criadas por Salazar - e antes dele a CP, a Carris, que até foi inicialmente fundada no Rio de Janeiro, eram PPPs ou concessões - outro modelo que também veio da época dos Descobrimentos. O Metro de Lisboa, foi a maior PPP do Estado Novo, com 75 empresas mais o Estado. A TAP, era uma PPP com o Estado, a CML, a "Aero-Portuguesa", que era a 1ª companhia de aviação portuguesa, fundada pelo representante da marca de carros inglesa "Morris" em Portugal, Medeiros e Almeida, e salvo erro uma empresa alemã pertencente à Junckers, etc. O que sempre foi rentável para o País e para o Estado são ou as PPPs, ou as concessões - ou seja, privados em colaboração com o Estado, e sujeitos a condições delineadas pelo Estado: nisso, é que Salazar e os seus colaboradores eram exímios. Foi também este o modelo de desenvolvimento das Colónias. A TAP - e é preciso não esquecer que o Secretariado da Aeronáutica Civil dependia directamente da Presidência do Conselho, ou seja, directamente de Salazar e não de um Ministério - ou a Siderurgia, onde se a memória não me falha o Estado nem sequer meteu um centavo, mas estipulou todas as condições - são bons exemplos disso. Com empresas nacionalizadas ou detidas pelo Estado a 100% não vamos a lado nenhum!!! Primeiro, porque não há capacidade de investimento nem de inovação dentro do Estado. Depois, porque tudo fica num círculo fechado que não envolve a sociedade civil, mas apenas familiares, amigos, ou conhecidos. Por isso há derrapagens, pois não há quem defenda a racionalidade financeira nem o lucro!!! É por isso que não apenas é tudo "fraquinho", como ainda por cima as empresas públicas, incluídas ou não nas administrações públicas, já tinham acumulado dívidas de 34.247 mil milhões em Dezembro do ano passado - além da Dívida Pública!!! E é por isso que não há controlo, pois tudo fica nas mãos dos "ministros" e dos seus protegidos, como neste caso!!! As empresas não existem para "manter postos de trabalho", como julga o PCP, mas sim para darem lucro. E também não existem para dar "emprego a amigos", como faz o PS!!! Depois admiram-se de haver perdas, derrapagens, e acumulação de dívidas!!!            Carlos Quartel: A denúncia torna-se repetitiva e monótona, mas é necessário fazê-la. Isto é um golpe de estado, sem tiros nem coronéis., mas um golpe de estado, mais eficaz e permanente do que pôr tanques na rua. Ao invadir a administração pública com pessoal da seita, o PS garante o efectivo controle da máquina, e, mais importante, o controle dos fundos, do adorado pote. A reacção a isto é o silêncio da oposição, dos sindicatos e da população em geral. E, neste caso, não podemos culpar jornais e jornalistas. Foi notícia de primeira página do Expresso !! Os contrapoderes não funcionam, o PR vai ver a bola para o café (não terá TV em casa ??) Rio anda embrulhado com as câmaras e os outros foram a banhos. A conclusão só pode ser uma: O rebanho desliza para a obediência total ....              Antes pelo contrário: Esta Helena Garrido continua a "chover no molhado". Só escreve sobre o que já se sabe, e raramente apresenta qualquer ponto de vista original que justifique a leitura dos seus artigos. Pior - como os "comentadores" que por aí proliferam, limita-se a dizer aquilo que julga que as pessoas querem ouvir. Populista e irrelevante.     Manuel Magalhães > Antes pelo contrário: Pois parece que repetir o que já se sabe é exactamente o que se deve fazer até que os portugueses abram os olhos e comecem a perceber no atoleiro em que estamos metidos, nunca será demais repetir até que isto mude e se torne um lugar decente, coisa que neste momento não é!!!         Antes pelo contrário > Manuel Magalhães: Isso chama-se andar em círculos. É o que temos feito desde 1975...          Paul C. Rosado: A mentira dos concursos para acesso a lugares no estado é o ponto de maior corrupção neste país. Deste o topo até ao  fundo. Não são os melhores que ficam com os lugares. São os amigos. E isso prejudica, em muito, o funcionamento da República. Gente que em vez de querer e saber fazer, tenta ao máximo ganhar o ordenado fazendo o menos possível. A avaliação é uma anedota. E as progressões automáticas uma aberração. E o tal item "entrevista" nos concursos? Só serve para aumentar as notas aos amigos e baixar a dos outros candidatos. Qualquer governante sério já devia ter acabado com esta palhaçada há muito tempo.            Rosa Cruz > Paul C. Rosado Há muito, muito tempo, ainda era 1.º Ministro o Sr que agora "manda" na ONU, fui a uma série de entrevistas, ainda para estágio, no ICN. Em duas, apercebi-me (eu e uma colega que também tinha concorrido, e estava comigo) que o lugar já estava ocupado (inclusivamente num caso o "candidato" estava a chegar do terreno... numa viatura do parque... e a resmungar que estava a perder tempo). Na última não fui. O parque do ICN em questão já tinha publicado uma classificação provisória, e, mesmo que tivesse nota máxima na entrevista, só se a candidata "melhor" (tinha uma pontuação de quase o dobro da média dos restantes candidatos) desistisse é que alguém teria qualquer hipótese. A minha colega foi na mesma, mas depois confirmou o que eu já desconfiava...         Antonio Tavares: os eventos de nepotismo nos serviços do estado somam e seguem para não fugir á rotina.       Domingas Coutinho: Um completo descaramento mas ninguém com poderes para tal faz nada. Diz para esperarmos pelas urnas. Mas até lá muitas asneiras irreparáveis serão feitas e além disso por este caminho a abstenção vai aumentar porque o desânimo é grande. Não há à vista ninguém que preste.              JB Dias: O "tuga" típico apenas fica incomodado se lhe começar a parecer que nem ele nem ninguém da "tribo" poderá tirar partido da marosca ... isso da Ética e da Transparência é para tansos é o pensamento dominante na "sociedade" portuguesa (à falta de melhor termo)!

 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Ovelha ronhosa?


Quem sabe se não é antes uma posição de sensatez, essa que segue Orban, de defesa de valores de mais seriedade e equilíbrio para o seu país, que não corroam tanto as estruturas sociais como vai acontecendo por toda a parte, no desprezo desses valores tradicionais?
Mas estes textos da preocupada Teresa de Sousa são sempre uma lufada de ar fresco na nossa ânsia de esclarecimento sobre o que se passa lá fora, e bem gratos lhe ficamos por isso.

  1. OPINIÃO

Não subestimemos Viktor Orbán

A paisagem política europeia fragmenta-se. E embora Orbán seja um caso extremo, multiplicam-se os seus imitadores.

TERESA DE SOUSA

PÚBLICO; 27 de Junho de 2021

1. Foi um Conselho Europeu tenso e fora do habitual, o último da presidência portuguesa da União. Dois temas dominaram os trabalhos, obrigando a longas horas de debate intenso sobre duas questões fundamentais da vida da União Europeia. A integração europeia tem na sua génese um conjunto de valores democráticos e liberais que constituem o seu mais sólido fundamento. Por isso, é muito mais do que uma simples associação de países que visam prosseguir interesses económicos comuns. Quando esses valores estão em causa é preciso defendê-los. Foi o que a esmagadora maioria dos seus líderes fez na quinta-feira passada, em Bruxelas, diante de mais uma violação descarada desses valores. Não chega a ser uma surpresa. A Hungria iniciou há uma década uma deriva iliberal e autoritária que a tem afastado dos valores que todos os Estados-membros se comprometem a respeitar quando aderem à União Europeia. Desta vez, foi a aprovação de uma lei que discrimina os direitos das comunidades LGBTQ, ao proibir qualquer referência à questão nas escolas até aos 18 anos de idade. O argumento é deixar aos pais a liberdade para escolher os valores com que educam os filhos. A lei, que até pode parecer sensata, é discriminatória porque, bem lida, induz a ideia de que a homossexualidade se transmite por contágio, com uma muito pouco subtil ligação à pedofilia. Os direitos e as liberdades dos indivíduos estão na base das democracias liberais que não permitem, por isso, qualquer espécie de discriminação política, religiosa, étnica, de género ou outra qualquer.

2. Orbán nem sequer esconde o que pensa das democracias europeias, quando defende abertamente uma “democracia iliberal”, arvorando-se em defensor dos “verdadeiros valores europeus” que define como cristãos. Acusa as democracias liberais e, em particular, as correntes de centro-direita que têm a sua origem na democracia-cristã, de traição aos seus valores fundamentais. Não é um mero oportunista ou um simples troglodita. Tem um pensamento e sabe que, em muitos países europeus, os partidos populistas comungam das mesmas ideias. “Os tempos mudaram e se, há 30 anos, nós acreditámos que a Europa era o nosso futuro, hoje compreendemos que somos nós o futuro da Europa”, disse o primeiro-ministro húngaro há meia dúzia de dias, nas comemorações do Dia da Independência.

A defesa da democracia liberal contra aqueles que abertamente a condenam tornou-se, portanto, uma prioridade absoluta da União Europeia. Talvez por isso, o que pode parecer algo perturbador é não termos visto a mesma indignação e a mesma firmeza dos seus pares europeus quando Orbán fechou jornais ou universidades, apenas porque eram críticos dos seus governos ou porque defendiam os valores do liberalismo. A universidade fundada por George Soros em Budapeste foi encerrada, ao mesmo tempo que Orbán acolhia com entusiasmo a Universidade Fudan. É a primeira vez que uma universidade chinesa se instala num país europeu.

Esta deriva iliberal tem, naturalmente, consequências nas preferências internacionais de Budapeste. Orbán mantém relações próximas com Moscovo e Pequim. A China fez da Hungria a plataforma regional da Huawei e dos seus esforços para expandir a tecnologia 5G, e de Budapeste o destino a nova “estrada dos Balcãs” que liga o Porto do Pireu (comprado por uma empresa estatal chinesa) até ao centro da Europa.

Falta ainda saber quais serão as consequências desta indignação. É verdade que, pela primeira vez, alguns líderes europeus disseram ao primeiro-ministro húngaro que o lugar do seu país pode não ser na União Europeia. Mark Rutte e António Costa colocaram a questão nestes termos, permitindo ao primeiro-ministro português apagar a péssima imagem dada pela presidência portuguesa, quando se declarou “neutral” em relação à lei húngara contra os homossexuais. A neutralidade exigida a uma presidência diz respeito às políticas e não aos valores fundamentais.

3. A Rússia foi a outra grande questão que dividiu profundamente os líderes europeus, levando a (mais) uma derrota política da chanceler alemã. Tudo começou com uma proposta franco-alemã, saída do nada na véspera do Conselho Europeu, para a realização de uma cimeira entre a União Europeia e a Rússia, depois de sete anos de interrupção na sequência da invasão da Ucrânia, em 2014. Merkel e Macron justificaram a sua proposta com o exemplo de Joe Biden, que se reuniu com o líder russo em Genebra há 10 dias. “O Presidente dos Estados Unidos encontrou-se com Putin e não fiquei com a impressão de que isso fosse uma recompensa para o Presidente russo”, disse a chanceler. “Uma Europa soberana também deve ser capaz de representar os seus interesses num encontro similar.” Macron acrescentou que restabelecer o diálogo com a Rússia “é necessário para a estabilidade do continente europeu”. O Presidente francês anda a tentar cativar Putin desde 2019, até agora sem o menor sucesso. A proposta da dupla franco-alemã surgiu na sequência do relatório de Josep Borrell, apresentado na semana passada, que transmite um tom bastante mais pessimista sobre as relações com a Rússia.

O problema da iniciativa franco-alemã estará menos no conteúdo e mais na forma como ambos a apresentaram. Houve líderes europeus que tomaram conhecimento dela pelos jornais. Outros, com quem Merkel terá falado, criticaram a proposta por não ter sido precedida de negociações entre os Estados-membros e com a administração americana. A oposição frontal não veio apenas dos “suspeitos do costume”, ou seja, dos países da Europa Central, como a Polónia ou os Bálticos, que vêem na Rússia uma ameaça directa à sua segurança, mas também de alguns países nórdicos, como a Holanda, Suécia ou Finlândia. A frase cáustica de Mark Rutte resume o mal-estar generalizado: “A União Europeia pode reunir-se com Putin quando quiser, desde que não conte comigo”. Rutte não pode esquecer o avião da Malaysia Airlines com 300 passageiros a bordo, na sua maioria holandeses, abatido em Julho de 2014 quando sobrevoava a Ucrânia Oriental, comprovadamente por um míssil russo.

4. O problema é que Merkel perdeu a confiança de algumas capitais europeias, que a acusam de colocar os interesses económicos do seu país à frente dos interesses do conjunto dos países europeus. Já ninguém espera que a chanceler esteja disponível para utilizar o Nord Stream 2 como arma de pressão sobre Putin. As conclusões da cimeira são muito duras em relação à Rússia, lembrando que ainda falta a Putin respeitar o acordo sobre a Ucrânia (Minsk 2), negociado com a União e nunca cumprido.

Merkel ainda deverá estar à frente do Governo de Berlim no Conselho Europeu previsto para Outubro, mesmo que seja apenas à espera que os vencedores das eleições de 26 de Setembro se entendam para formar governo – o primeiro desde 2005 em que já não será a chanceler. Mas, para a maioria dos analistas, a sua partida iminente pairou sobre a última cimeira da presidência portuguesa, dificultando consensos que a chanceler, com a sua autoridade política, muitas vezes conseguiu obter. Vários diplomatas europeus disseram que explicação para a sua precipitação em relação à Rússia terá já a ver com o seu desejo de deixar um legado duradouro na Europa. Não conseguiu. Como não conseguiu impor, em Dezembro do ano passado, um acordo de investimento com a China que o Parlamento Europeu se encarregou de congelar.

Quem estará em condições de substituí-la? Macron, o candidato mais óbvio, enfrenta eleições presidenciais em Maio do próximo ano, cujo resultado incerto consegue provocar pesadelos na maioria das capitais europeias. Escrevia o site Politico, citando uma fonte diplomática, que, durante a cimeira da semana passada, “Rutte e Costa [dois veteranos] mostraram estar aos comandos”. O site europeu acrescenta que “o desempenho do primeiro-ministro português se deve, em parte, à sua posição como líder da presidência do Conselho da União”. Draghi é admirado, mas é olhado como “um general sem tropas” – com todas as suas virtudes, não tem um partido atrás dele. O problema de cada vez mais governos europeus é serem o resultado de coligações, por vezes envolvendo vários partidos. A paisagem política europeia fragmenta-se. E convém ter em mente que, embora Orbán seja um caso extremo, na Polónia, na Eslovénia e noutros países da Europa de Leste, se multiplicam os seus imitadores.

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COMENTÁRIOS:

Figueira da Foz INFLUENTE: Quem o subestime deve ler sobre Joseph Goebbels, o idiota, o incapaz, o inculto e ... o violento nazi em que se transformou!              Félix Carlos EXPERIENTE: Ascensão ou queda. As democracias iliberais devem deixar a união face à firmeza desta na defesa do conjunto de valores democráticos e liberais que devem ser respeitados como já sabiam muito bem aquando das negociações para a adesão como candidatos a estados-membros. Lembra-me sempre a formação para acolher os novos estados em 2004. Dizia-se que quase todos não se reviam quando ouviam falar de comissários, secretariado-geral da comissão e partilha de soberania. Os iliberais têm de corrigir-se e acatar a boa norma. Russos, chineses e já agora turcos e outros também, são adversos. É claro, que há muito trabalho pela frente e não se deve parar em tão entusiasmante caminho.            Figueira da Foz INFLUENTE: Inteiramente de acordo.          francisco cruz EXPERIENTE: Orbán, o grande tartufo. Sob o manto da religião cristã, camufla a sua incomensurável hipocrisia.

Daniel A. Seabra INICIANTE: É por textos como este que leio sempre Teresa de Sousa!           AARR EXPERIENTE: Se isso o faz feliz, bom para si!!              francisco cruz EXPERIENTE > AARR. Comentário obtuso. Despropositado... e com 2 pontos de exclamação para enfatizar. É obra!! Será fruto da Covid?? Fun.eduardoferreira.883473 INFLUENTE: É natural que a Teresa de Sousa enerve muita gente. Pela sua clareza, factualidade, pesquisa… tudo o que hoje em dia as “happy meals” dos “junk thinkers” abominam. Estou consigo Daniel e partilho do prazer de ler Teresa Sousa, mesmo quando dela possa discordar   Roberto34 MODERADOR: Concordo também com o Daniel e Fun. Apesar do texto não ser nada de novo, gosto sempre de ler os seus textos.            AARR EXPERIENTE: Esclareço ...a minha reticência com os textos de TdS é que são sempre iguais e numa perspectiva que eu chamaria de "guerreira atlantista", anglo-saxónica e defensora do excepcionalismo americano. É claro que tem todo o direito a pensar e escrever assim. Mas há mais mundo para além disso! Gostaria de artigos mais neutros ou melhor, mais diferenciados num jornal como o Público. A maior parte das vezes escreve como um benfiquista ferrenho a louvar o Benfica (ou como um portista a louvar o FCP). É apenas isso. Caricaturando, é sempre a mesma história ... existem os bons (que são sempre os mesmos) e depois há os outros que geralmente fazem sempre tudo mal, porque são os maus. A história e a política não são assim tão simples.... mas reconheço que o meu comentário inicial era desnecessário ...           francisco cruz EXPERIENTE: AARR. Afinal, você não é o que pareceu ser. Belo gesto... Tem o meu apreço, se é que isso serve para alguma coisa.           HNeves EXPERIENTE: A Teresa de Sousa acha que agora também Merkel e Macron começam a descarrilar; para ela o problema está sempre nas personagens; nunca por nunca admite discutir os credos europeístas e suas principais resultantes: cada vez mais muita gente a empobrecer e pouca gente a enriquecer.          Joao MODERADOR: Afinal não são só "os russos procuram sempre um icon a quem rezar" pois por cá andam sempre a ajoelhar e a personificar na Merkel, no Biden, no Macron, no Ruth,...

 

Acção portuguesa na Ásia…


Só mesmo o Dr. Salles para nos trazer referências – vibrantes - a um passado português de acção civilizadora nessa Ásia por nós apenas conhecida de raspão, limitada que foi antes a uma acção económica mais eficiente para a glória nacional. Também Salles da Fonseca merecerá um pouco o epíteto de “português marinheiro dos sete mares andarilho” que a Amália Rodrigues cantou na sua “Gaivota” (sua e de Alexandre O’neill e de Oulman Alain Robert, ainda segundo transcrição da Internet. Um obrigada pelo momento de leitura inesperada, que as suas andanças pelo mundo, talvez em transatlântico de férias, propiciaram.

 

GOA, JESUÍTAS E IMPÉRIO

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 28.06.21

Após as lutas necessárias, suficientes e convenientes à mudança do paradigma de Goa relativamente ao Islão, foi possível criar as condições para que a região assumisse claramente o epíteto de «Goa doirada». E esse brilhantismo nunca teria sido possível sem a participação essencial dos naturais da terra, os goenkares; teria sido impossível fazê-la doirada só pela arte dos reinóis. Dessa participação activa resultou a criação duma elite que não se limitou a expandir a Fé e o Império pelas demais partes orientais do mundo como também se distinguiu na própria Metrópole onde ocupou/ocupa as mais altas hierarquias. E tudo, não por condescendência ou compadrio mas, isso sim, por mérito próprio.

Goa foi doirada porque foi plataforma de Império e porque contou com uma elite local que fez jus à sua terra. Perdida a perspectiva imperial, ficou o principal, a qualidade das gentes.

Contudo, para além das características naturais e do ambiente social propícios ao elitismo, este teve que ser enquadrado numa Civilização diferente dos cenários que antecederam o século XVI. E o novo enquadramento fez-se no Catolicismo recorrendo a «formadores» tanto reinóis como goeses.

* * *

Reinol [1] mas ordenado em Goa, refiro o

PADRE ANTÓNIO DE ANDRADE, SJ

Português, reinol de Oleiros (1580), foi por amor a Deus e à humanidade que acabou por morrer prematuramente em Goa, corria em 19 de Março o ano de 1634.

Ainda criança, ingressou no «Colégio das Onze Mil Virgens», em Coimbra, instituição para que o fundador jesuíta redigira a «Ratio Studiorum», norma pedagógica que dali vogou para todas as demais instituições de ensino jesuítas espalhadas pelo mundo.

E porque a Fé jesuíta é católica também na acepção literal do termo, aos membros da Companhia de Jesus compete espalhar a Boa Nova entre as gentes de toda a parte e assim foi que ao jovem António cumpriu em Abril de 1600 rumar a Goa para completar a sua formação e, a partir daí, desenvolver as missões que lhe fossem entretanto  determinadas.

Ordenado, cumpriu-lhe rumar a Agra para fundar a «Missão do Mogol». Foi ali que aprendeu com muçulmanos oriundos da Caxemira várias das línguas faladas no norte da Índia e foi ali também que ouviu referências a certos enigmas, nomeadamente sobre uma religião cristã na Ásia Central.

Despertada a curiosidade, foi em 1624 que rumou a Delhi e, daí, acompanhou uma peregrinação hindu às origens do Ganges. Deixados os peregrinos para trás, prosseguiu viagem até um aglomerado de casas de que lhe tinham falado os peregrinos. Chegado a Tsaparang, «reino» perdido nas alturas himalaias, foi recebido pelo «rei» local com grande simpatia a quem explicou o Cristianismo, a quem converteu e de quem recebeu o pedido de cristianização do seu «reino». Só com a garantia do regresso é que foi autorizado a regressar a Agra com o objectivo de recrutar ajudantes para essa sua nova Missão, a primeira (e última) no Tibete. Ao todo, há o registo de seis escaladas que o Padre Andrade fez dos Himalaias mas, contudo, não foi como montanhista que ficou conhecido. Outrossim, a sua fama ficou a dever-se às cartas endereçadas ao seu Superior Geral, P. Muzio Vitelezi, em Roma, descrevendo o Budismo Tibetano até então desconhecido dos europeus daquela primeira metade do séc. XVII. Famosas, as duas primeiras cartas que foram traduzidas em 14 línguas e constituíram um verdadeiro «best seller». Se existem mais cartas, nada se sabe do respectivo conteúdo na certeza, porém, de que à hierarquia jesuíta pareceu bem atribuir nova missão ao Padre António de Andrade deixando assim «cair» a Missão do Tibete.

Mandado regressar a Goa, foi o nosso Reverendo «montanhista» nomeado Provincial do Oriente da Companhia de Jesus com jurisdição desde o Cabo da Boa Esperança a Nagasaki numa dimensão imperial que a maior parte dos goeses ainda hoje esquece.

Sim, era a partir do «Colégio de São Paulo», em Goa, que a Companhia de Jesus governava aquele «seu meio mundo», era ali que formava parte da elite genuinamente goesa, o seu Clero, era dali que irradiava a sua exegese do Deus infinitamente bom e do perdão. Por contraste, o Deus castigador dos dominicanos em Manila cuja influência chegava a Goa através da Inquisição.

Durante os dois primeiros Priorados Gerais da Companhia de Jesus, foram acolhidos muitos cristãos novos no seu seio mas o anti-semitismo sempre foi latente até que em 1593 vingou o «Estatuto da Pureza de Sangue». Assim se suspendeu o humanismo inaciano, a teologia da bondade infinita se viu de algum modo contrariada e os seus adeptos quase passaram à clandestinidade.

Não terá sido fácil ao novo Provincial jesuíta do Oriente encontrar quem se dispusesse a «dar a cara» no trabalho que secretamente havia que levar à prática de neutralização da Inquisição em Goa. Nessa tão perigosa missão se empenhou pessoalmente o Padre Andrade oferecendo-se como membro das Mesas dos julgamentos do Santo Ofício.

Pode ter sido coincidência mas a verdade é que dos autos dos três julgamentos a cujas Mesas pertenceu, não consta nenhuma sentença determinante de morte. Estava em curso a neutralização da acção perniciosa da Inquisição.

Regressando à sua residência jesuíta no Colégio de São Paulo depois de assistir ao auto-de-fé do terceiro julgamento em cuja Mesa participara, eram horas de jantar; o Padre Andrade dirigiu-se ao refeitório presidindo à refeição, fez a oração da praxe, sentou-se, bebeu um trago do copo à sua frente e instantaneamente levou as mãos à garganta. Morreu três dias depois de grande sofrimento. Era o dia 19 de Março de 1634, tinha 54 anos.

Envenenado, claramente.

Porquê? A suposição mais fácil aponta no sentido de uma punição devida à sua participação nas Mesas da Inquisição. Por ter quebrado o humanismo inaciano? Por ter promovido a brandura das sentenças? Por, sendo português, estar no cargo do mando de meio mundo que alguém espanhol ambicionava? Por causa de alguma carta referindo o que ainda hoje ignoramos?

Tudo conjecturas, apenas especulação. A única certeza é a de que, naquelas épocas, Goa comandava meio mundo, tinha dimensão imperial. E tudo, claro está, em português, a língua franca naquela metade do mundo.

Junho de 2021

Henrique Salles da Fonseca

[1] REINOLnatural do Reino de Portugal

Publicado em 27 de Junho de 2021 no jornal diário «O Heraldo» de Pangim, Goa

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"lusitânia armilar"

história

COMENTÁRIOS:

Anónimo 28.06.2021: Acabo de ler na minha cópia dominical do Heraldo o interessante artigo do doutor Salles Fonseca. Obrigada, Henrique, por realçar aqui a obra do jesuita António Andrade por quem tive sempre uma grande admiração, como representante do idealismo dos jesuítas e dos seus esforços em aprender as línguas e culturas asiáticas. Minhas sinceras felicitações. Lilia Maria

Anónimo 28.06.2021: Jesuitas e a Inquisition ultrapassa tudo o que eu li no passado Meus sinceros parabéns e esperamos mais artigos da sua autoria para nos enriquecer Celina Almeida (Goa)

Anónimo 29.06.2021: Amigo Henrique, só agora pude ler o seu erudito escrito sobre um dos heróis da célebre Inquisição. Como era de esperar, foi um trabalho vem fundamentado que, entre outras coisas, deu-nos a conhecer um ínclito membro da Companhia de Jesus. Bem haja! Pe. Joaquim Loiola Pereira Goa

Anónimo 29.06.2021 Minhas desculpas Henrique, a minha apreciação deve ser a ultima deste dia. Agradeço este artigo minuciosamente estudado e tão rico em informação. Muitos de nós nesta plataforma estudamos nas escolas de diferentes ordens religiosas, mas só nos foi facultado o lado bom da religião. Agora adultos e capazes e termos a nossa opinião, vemos numa análise retrospectiva que no próprio seio da Santa Igreja, os homens eram da mesma substância dos leigos. e, exemplos não faltam. O Padre Andrade era um sacerdote muito á frente do seu tempo e nalguns trechos do seu artigo, um bandeirante. As suas qualidades humanas deviam ser de tal ordem de grandeza que a sombra delas ofuscava quem o via. Foi triste o seu fim, depois da obra meritória que vinha desenvolvendo. O seu artigo é um contributo para a história da Companhia de Jesus em Goa. Só posso felicitá-lo. Os outros nesta plataforma já disseram tudo. Abraço. Alice Gouveia Porto

Henrique Salles da Fonseca 29.06.2021: É erudito o seu artigo. Recortei- o para a minha documentação. Pe. Mousinho de ataide (Professor de Direito Canónico no Seminário do Patriarcado de Goa

NOTAS DA INTERNET:

António de Andrade   (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre):

António de Andrade (Oleiros, 1580Goa, 19 de março de 1634) foi um padre e explorador português que, juntamente com o seu companheiro de viagem, o irmão Manuel Marques, foi o primeiro europeu a visitar o Tibete, em 1624.

Viagens

Ainda noviço, Andrade partiu para a Índia, a 22 de abril de 1600, acompanhado de dezoito padres e irmãos da Companhia de Jesus, no mesmo navio onde viajou o vice-rei Aires de Saldanha e que chegou a Cochim a 22 de outubro do mesmo ano.

Após ter completado os estudos dos padres no Colégio de São Paulo em Goa, recebeu as ordens sagradas e foi enviado depois para a missão do Mogol em Agra, onde se julga que aprendeu a língua persa com os muçulmanos caxemires como era, aliás, costume.

A 30 de Março de 1624, já como Superior da Missão do Mogol, deixa Agra acompanhado por Jahangir, o imperador mogol que viajava para Lahore. Quando chegou a Deli, encontrou um grande número de peregrinos hindus que rumavam para um fabuloso templo, dado pelo nome de Badré (Badrinath) e situado a quarenta dias de viagem da Deli, na região montanhosa do norte da Índia, no estado actual de Uttarakhand. Esperando atingir o Tibete após alcançar este templo, António de Andrade, conjuntamente com o irmão Manuel Marques, começaram a sua via, conduzidos pelos "gentios".

A viagem que empreendeu levá-lo-ia de Agra a Chaparangue, no Tibete Ocidental, passando por Deli, Srinagar, Badrinath, Mana e o passo de Mana. Para segurança levara um astrolábio e um compasso de sol que lhe permitiu mais tarde vir a referir que Chaparangue se situava a 31º29' norte.

Durante esta viagem — que durou cerca de três meses — encontrou, contudo, muitíssimas dificuldades; permaneceu depois perto de um mês no Tibete, mais precisamente 23 dias, e regressou tendo gasto sete meses até chegar, de novo, a Agra.

As dificuldades que teve para ultrapassar nesta expedição deveram-se não somente às passagens estreitas, mas também à agressividade do clima (a neve e as baixas temperaturas), à falta de alimentos e às dificuldades impostas pelo rajá de Srinagar, por não serem mercadores. Quando alcançou Chaparangue, a principal cidade de Coqué (Guge), um dos reinos do Tibete, ele contactou directamente com o seu rei, Tri Tashi Dakpa (Khri bKra shis Grags pa lde), o último rei de Gugue.

A recepção preparada pelo rei foi descrita como bastante boa, uma vez que ele teria pensado tratar-se de mercadores. Porém, quando compreendeu que eles não traziam quaisquer mercadorias, recebeu-os, de início, com alguma indiferença. Contudo, depois, prestou-lhes mais atenção e arranjou um tradutor, um muçulmano de Caxemira que, aliás, causou alguns problemas a António de Andrade. O rei parece ter mostrado mesmo interesse para com a religião cristã e acabou por autorizar não somente o retorno dos padres, como lhes prometeu permitir o estabelecimento de uma missão em Chaparangue, no ano seguinte.

A missão teve algum sucesso; foi construída uma pequena igreja e produziram-se algumas conversões. No entanto, a política do rei favorecendo a religião estrangeira era muito impopular e ele foi derrubado por um exército do reino inimigo de Ladakh em 1630. A missão foi destruída e os cristãos expulsos do país. Andrade deixou o Tibete em 1629 e foi nomeado o Provincial de Goa em 1630; actuou até 1633 e em seguida retomou o seu antigo cargo de Reitor do Colégio de S. Paulo em Goa. Ele trabalhou também como Deputado da Inquisição de Goa. Em 3 de março de 1634 o padre Andrade foi envenenado na reitoria do colégio e morreu em 19 de março. Uma investigação (Devassa) realizada pouco tempo depois pela Inquisição revelou que os assassinos eram companheiros jesuítas insatisfeitos com sua rigorosa aplicação das regras da Companhia. Os relatos de Andrade do Tibete eram muito populares em toda a Europa e influenciaram fortemente as concepçōes ocidentais do país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…”: (também na Internet):

EX: Esteves-Pereira, Francisco. 1924. O descobrimento do Tibete pelo P. António de Andrade. Coimbra: Impresa da Universidade          Didier, Hugues. 1999. Os Portugueses no Tibete. Os primeiros relatos dos jesuítas (1624-1635). Lisboa: Comissão Nacional para as comemorações dos descobrimentos portugueses.              Tavares, Célia Cristina da Silva. 2006. Jesuítas e Inquisidores em Goa.