É o que me parece que faz Pacheco
Pereira, com este seu texto destrambelhado de acusações venenosas, com razão ou
sem ela, num posicionamento de arrecuas, decisivo sobre as suas teorias políticas,
apesar da filiação actual num PSD nitidamente de empréstimo, que não pensa
pagar, ou seguir, fixado sobre as primitivas teorias maoístas e C.ia, que nunca
abandonou, afinal, cego surdo e mudo em termos de bom-senso, explodindo num
texto de absoluta falta de decoro. Alguns comentadores o definem, a maioria
é-lhe subserviente, é assim que estamos. Infantilismo, é o que se me afigura
concluir a respeito deste texto insensato e malcriado, quando até, por vezes,
concordamos com o seu pensamento de maior rectidão. Como é possível tanta
mistificação? Nem sequer dá para lhe aplicar a frase do corajoso Afonso
de Albuquerque: “Mal com os homens por
amor d’el-rei e mal com el-rei por amor dos homens”. Quando muito usaríamos
um “mal com os homens por amor das ideias,
bem com os homens por amor do tacho”. Mas, nitidamente, porque até o
estimo, aplicar-lhe-ia antes, ao nosso PP, os versos de Alberto Caeiro do poema “Quem me dera que eu fosse o pó da estrada”, dado o seu apego ao
passado:
«… Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...»
É claro que são outros os motivos de Caeiro.
OPINIÃO
A indústria de falsificações do Estado Novo
Eu, aos do MEL, do Observador, dos
novos think tanks e da galáxia comunicacional cada vez mais vasta, percebo-os
bem de mais.
PÚBLICO; 5 de
Junho de 2021
Numa
altura em que a direita radical tenta recuperar o conjunto da sua história no
século XX, ou seja, os 48 anos em que governou Portugal em ditadura, porque
precisa de reforçar a sua legitimidade limpando-se do seu passado, para
demonizar à vontade o dos “outros”, vale a pena olhar para o que foi esse
período negro da nossa vida colectiva. Ou pensam que foi a esquerda que
governou de 1926 a 1974? Como se diz em português plebeu, lata para dizerem
isso têm.
Uma
das técnicas é dizer que o regime da ditadura – a que não chamam assim, como é
óbvio – foi “indefensável”. De passagem, como se come um peão no xadrez,
brevemente e sem consequências na economia do discurso, para depois não dizerem
uma linha, uma palavra, um “mas”, mesmo de circunstância, sem mencionar a
ditadura, as prisões e a repressão, a censura, e os milhares de mortos da
guerra colonial durante a módica quantia de 48 anos. Terra de leite e MEL, com
um pequeno problema, que é “indefensável no plano político”, mas nem sequer se
diz porquê, porque estragava o resto, o que é “defensável”. O que está
implícito é que em muitas outras matérias é “defensável”. Foi isto que fez
um académico numa intervenção estritamente política e com muito pouco de
académico, Nuno Palma, no MEL. No sentido weberiano percebe-se bem de mais o
mecanismo da empatia com aquilo que é eufemisticamente classificado apenas como
o Estado Novo. E desafio o Polígrafo a desmentir-me.
O
problema do contexto é iludido e, neste caso, o contexto é tudo. Não faltam
exemplos do contexto que, esse sim, falta aqui. Só a Censura tinha uma história
longa e exemplar para contar, mas não havia só Censura, havia falsificações, fake
news, com a publicação pela Legião Portuguesa e pela PIDE de documentos falsos,
disfarçados de verdadeiros. Era uma prática muito comum, que abrangia panfletos
com assinaturas falsas, exemplares falsos de jornais clandestinos e cartazes
com imagens manipuladas, de que os que aqui reproduzo são meros exemplos. Desde
Salazar, mentindo publicamente sobre o assassinato de Delgado, ao legionário da
esquina, a falsidade era o corrente. A falsidade, a calúnia e a difamação como
instrumento de ataque aos opositores.
FOTO: Números
falsos do Avante!, de O Jovem, da FPLN, e um comunicado com falsas biografias
de candidatos da oposição ARQUIVO EPHEMERA
Dos
exemplares que reproduzo acima um é particularmente repulsivo, a
“biografia” de Mário
Sottomayor Cardia. Cardia é acusado de roubar dinheiro nos
vestiários da Cidade Universitária para ir cear ao restaurante Mónaco, de onde
saía embriagado, e de ter sido protegido pela PIDE por ter participado num
atentado à bomba. Tenho a certeza, mas tenho mesmo a certeza, que haverá quem
leia isto hoje e pense: “Se calhar era mesmo verdade.” Hoje, em 2021, porque
quando este papel imundo foi feito quem o lia percebia que a PIDE ou a Legião
estava a fazer o seu trabalho sujo. Do modo como as coisas estão, era mais
inócuo lê-lo em 1969 do que hoje.
A
coisa repugna-me em particular, porque Sottomayor Cardia foi nesta altura preso
e espancado pela PIDE, provocando-lhe um descolamento de retina. Cardia era um
homem tão franzino, como corajoso, e a violência contra ele é por si só uma
“marca de água” da brutalidade da ditadura “indefensável”. Aliás, a mesma
propensão dos valentes polícias e pides para baterem em homens de constituição
frágil provou-a Urbano Tavares Rodrigues. E, em bom rigor, muitas e muitas
centenas de comunistas, anarquistas, oposicionistas, ou inocentes apanhados por
engano, como os primeiros acusados do atentado a Salazar que, como é óbvio,
“confessaram”.
Eu,
aos do MEL, do Observador, dos novos think tanks e da galáxia comunicacional
cada vez mais vasta, percebo-os bem de mais. Esmagados pela ditadura férrea do
PS, do PCP e do BE, e pela inoperância da “direita fofinha”, ou seja, o PSD, o que
os irrita é não poderem assumir uma inocência que a sombra dos 48 anos de
governo da direita em ditadura lhes tira.
Mas em conclave estão cada vez mais à vontade para louvar essa direita não
fofinha que nos protegeu do comunismo durante quase todo o século XX.
Eles
pensam que são muito corajosos combatentes contra o ditador António Costa, mas
são apenas lampeiros. Grandes
palavras tem o português. E ouçam-se as palmas – aliás, o padrão das palmas no
MEL é idêntico em todos os oradores, de Ventura a Sérgio Sousa Pinto –, que são
o retrato da audiência na sala, do que quer e do que lhe interessa. E esse
padrão é muito mais sinistro do que tudo o resto. Não se ponham a pau…
Historiador
TÓPICOS: HISTÓRIA ESTADO NOVO DITADURA DIREITA ANTÓNIO COSTA PORTUGAL PSD
COMENTÁRIOS
Eng. Jorge Simões INFLUENTE: Já ouvi duas
vezes a intervenção completa de Nuno Palma e nela só vi competência científica
e rigor de análise. Duvido que JPP a tenha ouvido por completo. Ou então
decidiu engrossar as hostes dos politiqueiros acéfalos que muito contribuem
para o nosso atraso. Lamentável. 08.06.2021 DR FRANCISCO ANDRADE INICIANTE: Estive a ler o
artigo do economista (de esquerda) Pedro Lains, publicado em 2003, que confirma
cabalmente as afirmações de Nuno Palma. Caro Pacheco Pewreira: é preciso estudar!
Só assim poderá vencer os preconceitos que compreensivelmente limitam a sua
visão do mundo. O artigo chama-se: Catching up to the European core: Portuguese
economic growth, 1910-1990. Logo na primeira página poderá encontrar a seguinte
conclusão: "Portugal had a particularly good performance in the twentieth
century and caught-up to the levels of income per capita of the European core,
although there was a substantial reduction in the rate of convergence after
1973." E tudo à distância de um clique! rui ccb INICIANTE: É pena JPP não
seguir o seu próprio conselho quando fala da sua fase maoísta. Segundo o
próprio foi uma fase intelectual da sua vida. Enfim, um homem com um pingo de
integridade quando fala desse período primeiro cora de vergonha a pensar no que
em tempos defendeu. Depois faz o devido acto de contrição e refere que é uma
ideologia indesculpável. E por fim fala das razões que o levaram a tomar um
caminho tão extremista. Depois, talvez tenha alguma moral para criticar
contradições e ocultações em discursos alheios. Tristão Bretão EXPERIENTE: Se há coisas que
a direita nacional nunca vai perdoar a JPP, a escrita e publicação deste texto
está no topo da lista. O tom de muitos comentários abaixo não deixa disso a
mais pequena dúvida (e até mais o tom do que o teor). Do género «trânsfuga da
extrema-esquerda para o PSD», o único modelo que essa direita admira é Durão
Barroso. Dele não reclama nada, apesar da total ausência pública na discussão
ideológica neste momento que, para a direita, é crítico. Miguel Leitão 77 EXPERIENTE: O que pretende
JPP com esta crónica? Contrariar argumentos não é, contestar evidências também
não, afirmar que Salazar foi um ditador com um regime opressivo, também não é o
anunciar de uma novidade... Então o que é? Ficou amuado por não ser convidado
para o MEL? Ah, deve ser isso! jo mar EXPERIENTE: Que estranho
texto. Não percebi o argumento. Mas pareceu um julgar não do que se disse, mas
do que Pacheco Pereira acha que quem disse teria pensado. Um processo de
intenções. Manuela Vasconcelos INICIANTE: A desonestidade
intelectual atinge um novo patamar. Joao Boavida INICIANTE: Pacheco Pereira
(que foi quadro do PSD) pode ser tudo á esquerda política do PSD, mas nada do
outro lado, vem tentar "educar-nos" com as falsificações do Estado
Novo.... Naturalmente, ao escrever biografias de gente que se deu mal com
Salazar, saberá de todas (vá lá, de muitas) as atrocidades cometidas pelo seu
regime. Agora, neste mundo nada é só negro ou apenas branco, mas isso é
demasiado insuportável de aceitar e menos reconhecer por PP! mesmo quando os
factos são o que são! Toda a rede escolar mais antiga do nosso país, com as
bem construídas escolas, liceus e faculdades está á vista de todos de Viana a
V.R. de Santo António.... Os castelos, mosteiros, igrejas, palácios e muito
outro património, que outrora seriam pouco mais que amontoados de escombros,
foram reerguidos nesse período. Tristão Bretão EXPERIENTE: As escolas que
tantos portugueses abandonaram com 10 ou 12 anos de idade, para irem trabalhar,
é a essas que se refere?
vvgaspar
EXPERIENTE: Bem
construídas é uma opinião sua para adornar o regime. A Alemanha nazi também
tinha excelentes estradas. O meu pai e a minha família, como tantas outras,
também se deu mal com tanta fome que passou. Outros morreram por não terem
dinheiro para o médico ou de doenças facilmente curáveis. A bata escondia a
pobreza e mostrava os alunos todos iguais, outra mentira. Mas Portugal tinha os
cofres cheios de ouro enquanto os portugueses morriam a defender patrimónios e
impérios da Ásia até à Europa. Mas os monumentos de pedra foram reconstruídos
com salários de morrer de fome e miséria mas com espancamento e prisão
garantida em caso de protesto. Pedro Oliveira INICIANTE: Assertivo e
arguto, como é seu apanágio! Excelente! Grato pela lição de civismo
democrático. Bem haja José Pacheco Pereira! Luís Manuel Braga INICIANTE: Como sempre.
Brilhante. fredericofonsecasantos.938261 INICIANTE:
Chamar ditador a
um 1º Ministro que não tem maioria no Parlamento é uma notável extensão de
conceito... Pelo que foi escrito pelo Sr. Pacheco Pereira todos os governos que
tenham maioria parlamentar são ditaduras! Rodrigo Rufino INICIANTE: Era ironia.
SC RIBEIRO EXPERIENTE: Oh valha-me Deus
homem. Entende o que é ironia num contexto escrito? hribeiro INICIANTE: O que eu gostava
era de saber como é possível acumular um salário de investigador no ICS, pago
pela FCT, com o de docente na U. Manchester. Talvez o caríssimo Nuno Palma me
possa ajudar a entender pintosa INICIANTE: Nuno Palma recebe
salário de investigador no ICS? Tem provas disso? Há muitos investigadores
voluntários e gratuitos nos nossos Institutos parauniversitários. Nem todos
fazem investigação paga por que não encontram mais emprego nenhum Sara Aragão INICIANTE: O Pacheco escreve
mal que se farta. Mas pior do que isso é o conteúdo. Não tem nada de relevante
do ponto de vista argumentativo. É um quase vácuo intelectual. JPP, como é que
se transformou nisto? francisco cruz EXPERIENTE: " O Pacheco
escreve mal que se farta"... Grande lata, a sua arrogância é notória. Má
educação, inveja, ou abraça o ideário da direita reaccionária. Afinal você
parece sofrer do mesmo "vácuo intelectual" que contesta em José
Pacheco Pereira. É seguramente uma manifestação de transtorno de personalidade
histriónica. É habitual, pessoas mal-amadas sofrem deste transtorno
psicológico. Tristão Bretão EXPERIENTE: No dia em que o
general Ramalho Eanes é nomeado para presidir às comemorações do 50º
aniversário do 25 de abril de 1974, um texto de Pacheco Pereira mostra à
saciedade que a direita radicalizada portuguesa não tem em Eanes, ou em
qualquer dos seus líderes dos quase 50 anos de democracia, um símbolo de
referência. O símbolo estável continua ou volta a ser a ditadura salazarista. O
2º parágrafo do texto de JPP indica suficientemente como é que funciona este
processo de limpeza retroactiva. O tema económico (ou financeiro) foi sempre o
mais fácil de manipular, mas o MEL deixou claro que para alguns não será
difícil branquear outras facetas - nem seria de estranhar, como as coisas
estão, se Bolsonaro deixasse de ficar isolado no elogio de torturadores. Já
estivemos mais longe. Colete AmareloINFLUENTE: A nossa direita
exerce o seu direito à liberdade valorizando aspectos da ditadura; e não vê
nisto nenhuma contradição. Dr Jose Carlos Palha INICIANTE: Parabéns Pacheco
Pereira - nunca li texto tão bem feito sobre o que se passa em Portugal - e não
só - ao nível dos comentadores e políticos da nossa direita. Eu conheço-te o
suficiente - já lá vão muitos anos - para reconhecer a tua honestidade intelectual
e a tua independência de pensamento. Farás sempre falta à nossa democracia
porque gente tão culta e séria como tu há pouca e cada vez precisam mais delas.
Grande abraço aqui do Porto. francisco cruz EXPERIENTE: Brilhante, José
Pacheco Pereira a repor "juste ce qu'il faut". Com este texto, JPP
desempenha a missão que cabe à direita democrata: desmascarar e repudiar a
actividade embrionária da direita reaccionária e seus pretensos ideólogos.
Lembro que no Jornal Público existe pelo menos um promissor candidato a
ideólogo do Chega e afins. Lamentável, que o senhor Rio, líder?? do PSD, como
representante maior da direita democrática jamais tenha feito o trabalho de
casa, ou seja, jamais assumiu uma posição de "travão" ou bloqueio ao
avanço da extrema direita. Obrigado José Pacheco Pereira por este exercício de
cidadania democrática. Jorge Sm MODERADOR: Certeiro, José
Pacheco Pereira. Rui Ribeiro EXPERIENTE: Brilhante texto.
Emidio Xavier INICIANTE: Há duas espécies
de merdas, a merda mole e a dita...dura. Seja em nome do que for,Hitler, Estaline,
Pinochet, Mao, e até Salazar foram criminosos enquanto ditadores. Lavar a
imagem de uns citando os outros é não perceber que nenhum tem perdão. JPR_Kapa INFLUENTE: Agradeço a JPP a
coragem para chamar os bois pelos nomes: é essa "alma" da direita,
que nas redes sociais e em muitos comentários recupera paulatinamente os
métodos, por enquanto no domínio retórico, que me faz aparecer por aqui.
Comecei a apercebê-lo com a formação da geringonça e com o sucesso razoável da
sua governação - isso acicatou os ânimos dos mais desesperados, ao ponto de
começarem a revelar-se através daquilo que JPP bem caracteriza. Não visam qq
discussão mas apenas tentar criar um ambiente de maior frenesim insultuoso e
redenção do passado salazarista. A postura "civilizada" era
emprestada e cedo estalou o "verniz". Mostram cada vez mais como são
perigosos para o ambiente democrático e o estado de direito. Feio, torto e ignorante INICIANTE: Nisso tem razão.
(Podia ir mais longe e mostrar que o que se vai dizendo de "positivo"
sobre os 48 anos também é informação muito manipulada, porque o
"crescimento económico" circunscrito a monopólios não é crescimento
real) Mas, Sr. P. Pereira, use esse sentimento democrático para as suas funções
de facto como membro do Conselho de Administração da Fundação de Serralves. Ou
aí já está certo usar a mentira, a perseguição, o bullying e os atropelos à
lei? Como dizia o outro, não basta querer parecer democrata, é preciso sê-lo de
facto. Quando mostrar que o é onde é preciso que o seja, talvez as suas
palavras valham alguma coisa...
Jose Leite INICIANTE: Caro "feio
torto e ignorante". Não sei o que se passa em Serralves mas, que tem a ver
o cu com as calças? Ou lá em Serralves torturam e matam artistas ou outros??
Quem não tem argumentos usa-os todos!! Cada vez admiro mais Pacheco Pereira e
deve estar a fazer só bem em Serralves. manuel.m2 EXPERIENTE: No link para Nuno
Palma este é apresentado como "professor" de Economia na U. de
Manchester, quando é na realidade "associate professor". Quem sabe
conhece a diferença. Francisco José Assis Miranda INICIANTE:
É indecoroso
estabelecer qualquer equivalência moral entre a extrema-direita e a
extrema-esquerda; em Moscovo e em Pequim, a perseguição, a prisão, a tortura e
o assassinato em grande escala, faziam-se em nome da grande causa da construção
do Homem Novo. O pobre do Estaline e o grande humanista chinês não podem ser
responsabilizados pela irritante teimosia do Homem Velho e Mau. Olhem como essa
canalha contra-revolucionária ainda dá sinais de vida em Hong-Kong. vvgaspar EXPERIENTE: Vejo grandes
equivalências morais com a Guatemala, o Chile, a Nicarágua e quase toda a
América do Sul e Central. Ditadores treinados nas academias militares, e da
espionagem norte-americanas que mataram torturaram e massacraram milhares e
milhares de pessoas. Tudo isto para que não tivessem ilusões. Leia as Veias
Abertas da América do Eduardo Galeano. Para começar talvez lhe abra os olhos
para aquilo que não quer ver.
HNeves EXPERIENTE: O MEL preocupado
em adocicar o topo da pirâmide e vem este cronista destapar-lhes a careca. JPP
é um desmancha prazeres!
Ahfan Neca INICIANTE: Uma tristeza.
Decrepitude total. Há uns cinco anos, o autor teria vergonha de assinar esta
peça. Hoje não, não se enxerga e anda todo lampeiro a enterrar-se. O que terá o
caso do Sotomaior Cardia a ver com a apresentação de um trabalho de
cientificidade incontestável apresentado em Lisboa por um professor da
Universidade de Manchester? Era só isto que eu gostava que o colunista me
explicasse. Em vez disso, fala da Pide e do Cardia. AARR EXPERIENTE: Caríssimo
Comentador Ahfan. O professor da universidade de Manchester veio a Lisboa
apresentar um trabalho científico? A uma conferência/congresso político-partidário?
A sério? Ou veio subrepticiamente branquear a ditadura do Estado Novo? Olhe, eu
concordo (e concordei) com Salazar numa coisa - na proibição da Coca-Cola em
Portugal. Mas sei bem o que a ditadura foi. Ceratioidei MODERADOR: Muito obrigada.
Bem haja, JPP. fmart8 EXPERIENTE: Obrigado, Pacheco
Pereira. GMA EXPERIENTE: Para o ramalhete
de falsificadores e historiadores de aviário ficar completo, só faltou um tal
Gomes Ferreira, essa figura menor que utiliza descaradamente o poleiro tailor
made que o amigo Ricardo Costa lhe costurou. Ou, provavelmente, o Pacheco
Pereira considerou, e bem, que tal figurinha, digna de uma peça cómica de
marionetas, nem merece ser colocada ao nível do Ventura, do Sousa Pinto, do
Nuno ou da Bonifácio. Que ramalhete, regado e podado pelo seráfico José Manuel
Fernandes! FPS MODERADOR: Às vezes, esquecemos esses tempos de
sombras, de medos, de pânico. Uns tempos de brutalidades, de cobardias, de
máscaras e de homens corajosos. Uns tempos que, lembrados, casam náuseas...
náuseas substantivas. Grande texto de José Pacheco Pereira, que me suscitou
particular náusea o seu últimos §, que associei às minhas memórias dos
discursos que ouvia, lia ou via, por norma monocórdios, gongóricos, balofos e
iguais como uma prateleira de cigarros numa tabacaria. Mario Coimbra INFLUENTE: Excelente artigo.
É pena é ter-se esquecido que o Professor Nuno Palma estava a falar de
conceitos económicos e factos económicos. Eles são o que são. O crescimento de
6% vale pouco comparado com a ditadura e o que causou Mas o crescimento
aconteceu. Nada disso tira o contexto que refere e que parece mais e mais
evidente. Uma direita saudosista. Daqui a 100 anos espero que estejamos todos a
olhar para a China e falar na ditadura e crimes chineses. E ao mesmo tempo
explicar o crescimento chinês. Ele aconteceu e calou meio mundo. Até o seu. Leite70 EXPERIENTE: Esse crescimento
circunscreveu-se aos 12 ou 13 anos posteriores à adesão â EFTA. Nunca poderá
caracterizar um regime que se prolongou por quase meio século, no meio de um
marasmo económico generalizado. Mario Coimbra INFLUENTE: ???? Como o
crescimento de 2000 a 2021????? Marasmo dizia??? Seja como for, existem dezenas
de razões para este crescimento. A EFTA, a base ser muito insipiente, o início
dos grupos económicos. O fim da Guerra, o Plano Marshal do qual beneficiamos
indirectamente, etc etc. Planos quinquenais, etc etc. Nada disto explica ou
justifica a ditadura nem os danos causados. Mas também não se pode negar o
crescimento. Como PP diz e bem o contexto conta e tem que se falar dos dois
lados. Sem dramas nem medos nem nada. Leite70 EXPERIENTE: Repito:
crescimento a sério só existiu a partir de 1960, o que exclui a maior parte das
causas por si apresentadas (já onde iam a guerra e o Plano Marshall, por essa
altura). Já sabemos que os últimos 20 anos foram decepcionantes em relação a
esse indicador (mas não outros, nomeadamente sociais), facto irrelevante para o
que estamos aqui a discutir, que são os resultados do Estado Novo. De qualquer
modo, mesmo que tivesse existido crescimento prolongado e relevante ao longo
dos 48 anos, concordo que nada justifica uma ditadura, seja ela qual for. Isso
é óbvio. JLourenço EXPERIENTE: É importante
continuar o trabalho de reavivar a memória desses tempos sinistros. Precisam-se
de mais textos como este. Na escola pouco ou nada se fala do Estado Novo e as
redes sociais estão enxameadas de saudosistas e revisionistas a tecerem loas a
Salazar e ao seu regime, branqueando crimes, abusos, violências de todo o tipo,
varrendo despudoradamente para debaixo do tapete a miséria material e moral e
todos esses anos PdellaF.468453 EXPERIENTE: JPP, ou não ouviu
Nuno Palma directamente e apoiou-se em relatos indirectos (tal como os li
também, obviamente truncados como, pelos vistos, a PIDE fazia). NP referiu
factos que a narrativa corrente omite ou mente dolosamente. É um facto
(PORDATA) que nas décadas de 1950 e 60, Portugal conheceu taxas muito altas de
crescimento económico e não foram de estagnação (leia-se os manuais escolares).
Também se omitia até há pouco a adesão à EFTA (como justificar o isolacionismo
económico?), entre outras omissões e mentiras. Tal como NP, não se ignora, nem
se omite nunca o carácter ditatorial do regime, com tudo o que isso implica.
Quando se faz História, não há os "bons" e os "maus", há a
verdade, que é sempre complexa. JPP não contesta NP nos seus argumentos,
agita uns fantasmas a despropósito. Colete Amarelo INFLUENTE: Não nego a
existência de riqueza durante o antigo regime, mas o que nos deve interessar é
o uso dessa riqueza. Serviu os Portugueses em quê? Para brincar aos
imperialistas em Africa? Por que emigraram em duas décadas (50 e 60) 2 milhões
de portugueses ? pintosa INICIANTE: Nas duas décadas
deste século, entretanto, emigraram 1,6 milhões (vd. tabelas da publicação de
Pena Pires et al, "A emigração portuguesa no século XXI", Sociologia,
problemas e práticas, nº 94, 2020... JPR_Kapa INFLUENTE: JPP denuncia
precisamente os que tentam desculpar o NP como se estivesse num congresso
científico. Não, tal como o esse crescimento tem contexto político e não existe
isoladamente, também referi-lo num evento político, visa sobretudo tentar
mostrar supostos aspectos "positivos" e reabilitar a ditadura e os
métodos que se usavam para conseguir esse dito crescimento. A direita a tentar
fazer-se de sonsa, mas JPP ajuda a ver-lhe a careca. Tristão Bretão EXPERIENTE: O Pintosa está a querer
comparar o estado geral do país em 1974 com o estado geral de desenvolvimento
de Portugal em 2021? Só pode estar a brincar. Os dados sobre analfabetismo e
fornecimento de electricidade são suficientes e nem me vou dar ao trabalho de os
citar. O ponto do artigo de JPP, entretanto, nunca é abalado por essa
observação ou pelas cautelas todas (é só pinças!) do @Pdella: a direita
portuguesa precisa de elogiar a ditadura para se reencontrar na sua própria
identidade. O que fez o Nuno Palma é um gesto 'estritamente político' e é
enquanto tal que tem significado. O resto são máscaras e tretas para branquear
o ranço ideológico da direita portuguesa cada vez mais passadista. PdellaF.468453 EXPERIENTE: A verdade é complexa e os que responderam acima ao que
escrevi têm a tal visão maniqueísta que impede um debate esclarecedor da
complexidade que foi o Estado Novo. Remetem para teorias da conspiração todo o
esforço de interpretação de factos para continuarem a debitar mentiras
históricas, à maneira orwelliana. Factos: Salazar construiu a 1.ª rede de
escolas primárias a nível nacional, porém restringiu o acesso ao ensino
"secundário" e superior; fez a adesão à EFTA, porém não liberalizou a
economia em certos sectores; a economia cresceu em década e meia como nunca,
porém houve fortíssima emigração e pouca distribuição da riqueza, etc, etc. No
pós-25 de Abril progrediu-se imenso, em todos os âmbitos, disso não há dúvida.
O problema esteve na 1.ª metade do sec XX: foi do que Nuno Palma falou.
Tristão Bretão EXPERIENTE: Pela minha parte, agradeço-lhe a comparação a George
Orwell, um dos grandes prosadores do século XX e, decerto, não admirador de
nenhuma das ditaduras peninsulares. Leite70 EXPERIENTE @pintosa. A maior parte da emigração que Pena Pires refere é
temporária, com duração inferior a um ano, sendo que nesses 1,6 milhões estão
as mesmas pessoas contabilizadas várias vezes (ou seja, todos os anos que saem
e regressam, nem que seja para ir apanhar morangos a França por uma semana). Se
isso fosse comparável aos 1,6 milhões de miseráveis que saíram entre 1960 e
1973 na sua maioria para não voltar, Portugal teria uma população muito
inferior à que tem actualmente.
PG EXPERIENTE: Se há algo com que Pacheco Pereira é
intolerante (e bem!) é com as tentativas de reescrever a história e branquear a
ditadura. Excelente exemplo que outros no PSD e até no PS deveriam seguir. E
não me venham com o discurso estafado da suposta "equivalência" entre
a extrema-esquerda e a extrema-direita, que prevejo vir a ser novamente
debitada nesta caixa de comentários; como diz Pacheco Pereira, não foi a
esquerda que governou Portugal em ditadura durante 48 anos.
AARR EXPERIENTE: Bravo.
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