Que a razão desconhece, disse-o Pascal, e
essa máxima nos define, que nos regemos muito pela sensibilidade. Neste caso,
por quem obtém para nós a possibilidade de uma sobrevivência de esmola sem
tréguas, distribuída esta também sob o mesmo preceito pascaliano. Assim temos
vivido, com as razões assentes não no cérebro, mas no órgão registo da nossa
tendência para a lamúria e a alegria do nosso estar no mundo. Alberto Gonçalves cita dados
suficientes para a rejeição de quem assim nos faz viver na abjecção, mas
seguramente que não consegue desviar-nos desses caminhos da nossa penúria.
Em tempo de democracia, não se limpa o cérebro, o tal centro da razão - pelo menos nos seres dela dotados. Nós, alapámos, comodamente, no bem-estar de empréstimo e de desvergonha.
É disto que o meu povo gosta /premium
O mofo regressou, em versão maçónica, brejeira e
analfabeta. A falta de oposição não explica tudo. Um estudo sugere que dois
terços dos portugueses não desgostam de ditaduras. Parece-me optimista.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR,12 jun
2021
Os incêndios de 2017. Os roubos e as
aparições de Tancos. As golas contra o fumo que sufocavam os utilizadores. O
fulgurante e pornográfico nepotismo nos cargos de decisão. O candidato a
primeiro-ministro que esteve a centímetros de esmurrar um velho. O ucraniano
torturado até à morte por funcionários públicos. A subvenção e a tomada dos
“media”. O “sorteio” e os palpites do juiz Ivo Rosa. O currículo falsificado do
procurador europeu. O “investimento” na TAP. Os “investimentos” na banca. As
dívidas públicas e privadas que não são para pagar mas para gerir. O estado
policial a pretexto da Covid. As falências. Os mortos por incúria do melhor SNS
do mundo. A invasão armada do Zmar e a brutal detenção de imigrantes. O retorno
da censura oficial. O ministro que tenta intimidar um empresário estrangeiro
por questionar as escolhas desse exacto ministro. O riso permanente do dr.
Costa, que nenhuma máscara esconde.
Em
que nação tais peripécias, uma amostra mínima de cinco anos e meio de regabofe,
não fariam cair o governo? Em
muitos, do Burkina Faso à Nicarágua. No Ocidente, que ainda nos acolhe
por lapso e imposição geográfica, a exigência costuma ser um bocadinho maior. Para
felicidade do PS, por cá a exigência é nula. Talvez pelo contrário: por cá
exige-se que o poder seja corrupto, prepotente e incapaz. Quanto pior, melhor
para o PS, que sobe nas sondagens à medida que o país desce em todos os
critérios económicos, sociais e, desconfio, psiquiátricos. Há dias, o PS roçava os 40% nas sondagens. De
propósito, deixei de fora do rol de desgraças acima a semana vigente, que
estabeleceu novos recordes nas modalidades do descaramento, despotismo e
desnorte. A esta hora, é plausível que o PS tenha alcançado a maioria
absoluta.
A semana começou com um programa da
RTP destinado a louvar a referida lei da censura. Uma apresentadora de variedades garantiu aos –
escassos – espectadores que a lei é fantástica porque permite punir e evitar
a “desinformação”. Se a lei fosse levada à letra, os senhores que nos pastoreiam
não voltavam a abrir a boca. Por azar, o objectivo é o oposto: condicionar
opiniões divergentes da propaganda oficial, da qual o programa em questão é
excelente exemplo. Para tirar dúvidas, a apresentadora de variedades
perguntou ao criador da lei, o simpático leninista José Magalhães, se se pode falar em censura. Não se pode, esclareceu
sem contraditório o deputado, que satisfez a apresentadora de variedades a
ponto de ela se deitar no seu colinho. Poucos minutos decorridos, a senhora,
que pelos vistos tem um padrão, já pousava a cabeça no colinho do prof.
Marcelo, após breve entrevista em que ambos aplaudiram o combate às “fake
news”. A piada estava feita. Já espreitei pedaços das televisões
venezuelanas e norte-coreanas: essencialmente, não se distinguem disto.
A
semana prosseguiu com a revelação, no Porto Canal, das comemorações dos 50
anos do 25 de Abril. Ao que consta, são necessários três anos de preparativos e
dois e meio para lavar a louça e aspirar o chão. A liderar a vital
empreitada, arranjou-se o dr. Adão e
Silva (é apenas um sujeito), vulto com
carreira no comentário dependente de ordens superiores. Se a ideia era
enxovalhar o golpe de Estado, missão cumprida. Por falar em missão, haverá uma
“estrutura” adequada à dita, com resmas de assessores e motorista. Graças ao
seu desprendido entusiasmo por “Abril”, o comissário Adão aceitou a encomenda a
troco de simbólicos 300 mil euros. Perante os resmungos de alguns
fascistas, que pagam a folia mediante impostos, democratas sortidos
indignaram-se com razão. Naturalmente, o prof. Marcelo aprova.
A
semana acabou com o “caso” Medina, ou a entrega, pela câmara lisboeta, dos
nomes e moradas de críticos de Putin à embaixada russa. Alguns dos denunciados, cujas vidas entraram em
saldo, têm nacionalidade portuguesa. Uma, em Janeiro, contou o crime a
“jornalistas”, que o ocultaram com zelo. Até que enfim a capital é mencionada
no estrangeiro sem ser pelos “rankings” fajutos dos destinos turísticos. O
indescritível sr. Medina, e os indescritíveis defensores do sr. Medina, que
evidentemente incluem o prof. Marcelo, torcem-se em justificações: o
procedimento é normal; tratou-se de um erro lamentável; não há problema nenhum;
os russos juraram ter apagado os e-mails; a embaixada da Rússia não representa
Moscovo; não se pode fazer “aproveitamento político”; etc. Dizem uns que
não há memória disto acontecer em lugares civilizados, mas é porque sofrem de
amnésia: o envio de informação confidencial ao KGB já fora inaugurado pelo
PCP com os arquivos da PIDE. E considerarmo-nos um lugar civilizado é manifesto
exagero.
Já
não temos o que quer que achávamos que tínhamos. Sem
surpresas nem sobressaltos, voltámos às “Conversas em Família”, a um presidente
decorativo, às celebrações masturbatórias de quem manda, ao culto das
denúncias, à proliferação de prostitutos e prostitutas, à radical impunidade de
uns poucos à custa dos restantes. Ao sufoco sem alívio. O mofo regressou, em
versão maçónica, brejeira e analfabeta. A
falta de oposição, factual, não explica tudo. Um estudo fresquinho sugere que dois terços dos
portugueses não desgostam de ditaduras. Parece-me
um dado optimista. Fora uns excêntricos e umas excitações provisórias, o
português médio prefere rédea curta e cabeça baixa a alternativas “modernas” e
“libertinas”. O salazarismo durou 48 anos. A democracia, pobrezinha, não chegou
a tanto. Houvesse aqui vestígios de dignidade e o PS, mais respectivas
metástases, não estaria no poder. Boa parte estaria na cadeia. Em vez disso,
essa sinistra gente vai organizar em 2024 a festa deles, e o velório do que
havia em redor. Os meus pêsames.
POLÍTICA PS LIBERDADES SOCIEDADE MORTE
COMENTÁRIOS:
Pedro Pereira: Subscrevo, mas não gosto. Abraço A Mas: Crónica magistral, como sempre.
Luís Marques: Triste Portugal! Anibal Augusto Milhais: Mais um pratinho de comidinha
retrasada, que a "Dreta Fassista" tanto gosta de lambusar. Elvis Wayne: Olá a todos, gostava muito que
alguém por favor, me explicasse de que modo é que se pode colocar fotos no
perfil. Obrigado. Maria Augusta > Elvis Wayne: As melhores pessoas para responderem são os avençados
xuxarecos. Têm vasta experiência nessa matéria. António Sennfelt: Um texto de antologia a
rivalizar com as "Farpas" do Eça e do Ramalho e em que, a coberto da
ironia e do sarcasmo, se dizem verdades tão certeiras como punhos! Carminda Damiao. Óptimo artigo. Parabéns. Ariete naUniãoEuropeia: Fabianitos, para confirmarem que o mofo nunca
desapareceu deste outrora país soberano, nem precisam de ciências inexactas e
repletas de charlatões com licenciaturas nulas e que são pagos para proferirem palavras
"mágicas" que visam a persuadir e ocupar o imaginário dos mais
crédulos... Segundo as últimas
presidenciais, 40% dos portugueses, isto é, 40% do eleitorado, são de facto uns
idiotas úteis, são os tais "analfabetos" mencionados pelo Alberto,
esses 40% votam sempre na padronizada partidocracia pró-europeísta,
subsídio-dependente e aniquiladora da cultura e da população portuguesa. Esses 40% que o Alberto considerou (e bem) analfabetos políticos, concederam
nos últimos 47 anos, ininterruptamente, poder a um número reduzido praticantes
de crimes, que, para além da prática e da exibição ao crime como se de um
desporto e vaidade se tratasse, apenas cumprem directivas e tratados de
Bruxelas. Praticantes de crimes, porém,
auto-intitulam-se políticos, parlamentares e governantes, nada mais falso, na
realidade, não passam de candidatos a funcionários da UE, corruptos e
corrompidos pelo vil metal, e nutridos pelos analfabetos políticos do Alberto. Nuno
Santos: Estou totalmente
de acordo. Helder
Machado: Ao longo do tempo
há quem perca a consciência de existir. As causas são muitas e longínquas. A
farsa vai escondendo a realidade. Alberto convida a abrir os olhos, o melhor
ainda está para vir. Hipátia
Alexandrina: Um artigo esplêndido, uma denúncia certeira, um catálogo implacável das razões
- das muitas razões - porque deveríamos ter vergonha. Desde que o sr. Costa, no
Outono de 2015, inaugurou o PREC.2, um PREC cada vez com menos filtro e já sem
nenhuma decência, o estado das coisas é este; e não digo estado de sítio porque
é mais um estado de caverna de Ali Babá revista e aumentada. Em 1898 Zola publicou J'Accuse em
L'Aurore, hoje AG publica este magnífico artigo no Observador. Il accuse, J'acuse, nous accusons.
Quem se abstiver, ou não tem coluna ou é cúmplice. Gastão
Cunha Ferreira: Não me dou bem com ditaduras mas comparando a que cá estava antes sempre
era menos nepotista e corrupta, e não se esperava que o Presidente da República
tivesse opinião. Alberico Lopes. É sempre com grande prazer que
leio os artigos do Alberto! Obrigado! Diz em poucas palavras o que tantos - a
maioria, com certeza - pensa mas cala! Quanto ao indiano e ao das selfies,
melhor nem dizer mais nada! Mario Almeida: Os portugueses não desgostam de
governos autoritários e ele aí está. A máfia corrupta que nos governa já não
precisa de maiorias absolutas. Bastam os votos da corte e da criadagem. António
Costa conseguiu a rir o que Sócrates tentou fazer aos gritos. O Circo de Feras
deu lugar aos palhaços ... a bem do bem estar animal. Aquela ideia de 1986 de que Portugal livre do fascismo e com o comunismo
atirado para o caixote do lixo da história Iria ser um país europeu, livre e
desenvolvido foi claramente sobrevalorizada. Carlos Monteiro: As trapalhadas são tantas e tão frequentes, que as novas,
vão fazendo esquecer as anteriores. AG vai lembrando e mostrando, que
grande parte dos portugueses gosta disso. Sendo assim, as últimas: Nomeação dum
grupo grande para comemorar uma data, mais o caso da Câmara de Lisboa vão
contribuir para que as próximas sondagens dê a maioria absoluta.ao PS. Dario
Ferreira: Os portugueses tanto gostam de ditaduras,
que já se encontram a estagiar para uma e segundo mostram as sondagens não
estão nada descontententes. Manuel
Cesar: Muito assertivo, atendendo à situação
complacente de um povo subserviente. Parabéns, sr. Alberto Gonçalves. Luís Martins: É, voltámos às "Conversas em Família", o PR é
decorativo, a censura actualizou-se às novas tecnologias, a imprensa está
domada e é a lavandaria do peiésse, e até o mofo voltou. Estamos perto do maior
dia do ano, e da noite mais curta, mas isso perdeu qualquer significado; por cá
a noite é sempre longa. Infelizmente só não regressou o crescimento económico
ímpar entre os países ocidentais.
Luis Eduardo Jardim: Tal
e qual. joaquim
silva: Acorda Portugal Carlos Castro: Alberto
Gonçalves ainda tem muita sorte, escreve muito bem e o que lhe apetece. Eu como
treinador de bancada vejo por muito menos o “algoritmo observador” enviar o meu
pensamento e as minhas opiniões para moderação. Já sabemos que o nosso
presidente foi escolhido pelo nosso povo por ser um tipo que gosta de selfies e
de larachas. É um popularucho (poderia dizer-se populista) é muito bem visto no
exterior abaixo da linha do equador onde se situam os mais desgraçados dos
palops (desgraça de acrónimo e desgraçados de palops cuja desgraça resulta da
desgraça do 25A) onde costuma ser recebido em êxtase. Não espanta por isso que
aprove as romarias ao 25A (ele é geneticamente católico, mesmo sendo divorciado
e vivendo em união de facto exibir catolicismo ainda rende votos) e será um dos
romeiros mais felizes. Não só porque falará para as rádios e TVs como fará o
exorcismo das suas origens salazar-marcelistas. Caro Alberto Gonçalves, o
salazar-marcelismo (o fascismo do PS para a esquerda) não acabou no 25A. O
salazar-marcelismo continua por outros meios. Um desses meios chama-se MRS é
adorado pelo seu povo como foi adorado o Marcelo que terá sido seu padrinho de
baptismo católico e como foram adoradas quase todas as figuras mais ou menos
podres desses tempos excepto por um grupo de perigosos (perigosos sim)
comunistas. Costa é um político se sucesso porque segue a máxima de Salazar. Os
portugueses gostam que se lhes minta desde qua a mentira agrade. Por aqui se vê
que o salazar-marcelismo irá cumprir 100 anos e o mais se verá. A sociedade que
resultou do 25ª é a mistura de dois grupos antagónicos. O grupo que ocupava o
poder sem legitimidade que se juntaram no PSD e CDS e o grupo dos que se
legitimam na ilegitimidade dos primeiros. Dessa amálgama há-de sair um dia no
futuro, eventualmente, um país decente. Antes disso é necessário que os
portuguese se tornem num povo decente. O primeiro sinal de decência seria
acabar com festejos de assassinatos, seja de uma família real, seja de todos os
assassinatos, guerras, desgraças, ultrajes, a que fora condenados vários povos
em consequência do 25 A e de que parece proibido falar. Já agora espero que uma
geração decente mude a bandeira para o azul do céu e o branco da pureza,
bandeira de todos os tempos desde a primeira alvorada. Maria Nunes: Muito bem AG. É a deprimente realidade do nosso país. Carlos
Sousa: Um estudo sugere que dois terços dos
portugueses não desgostam de ditaduras. Gostaria de ver a exacta pergunta que
foi feita nesse estudo. O que os 2/3 dos inquiridos disseram, é que o país
precisa de alguém com pulso e força, para : - Acabar (ou diminuir) a Corrupção.
- Colocar a Justiça a funcionar e deixar-se de figuras tristes como a que fez
Ivo Rosas, e não permitir que os maiores criminosos de colarinho branco andem à
solta. - Libertar a Comunicação Social do controlo governamental. - Fazer com
que as Entidades Reguladoras não dependam do Estado. - Responsabilizar
politicamente os ministros (com as respectivas exonerações) quando cometem actos
graves que afectam profundamente os cidadãos e o nome do país.... isto só para
falar de uns poucos aspectos. Para fazer isto, é preciso alguém com poder, com
força, sem tibiezas. Se é isto, então também estou nos 2/3. Foi você que votou
neste governo ?! Censurado
Censurado > Carlos Sousa: Foi só substituir o forte por autoritário na pergunta
“Ter um líder forte que não precisa de se preocupar com o Parlamento e
eleições”. Que até dava para voltar para uma Ditadura sem Parlamento ou
eleições. Não fosse alguém ainda interpretar que no limite o que os inquiridos
expressaram foi a vontade de ter um governo de maioria absoluta no Parlamento.
Como aliás já expressaram outras vezes. Concorde-se ou não com essa vontade
como é o meu caso. Já que 9 em cada 10 inquiridos consideram positivo ter um
sistema político democrático. Que ainda é o mais importante e afasta por
completo o cenário de qualquer Ditadura sem Parlamento ou eleições a que o
colunista alude. Carlos Monteiro > Carlos Sousa: O grave é que enquanto a constituição ao determinar um
PR eleito por sufrágio universal, foi para permitir que a governação fosse
controlada. Nunca pensaram certamente, que poderia haver um PR tão colaborante.
Eu votei. …………..Maria Augusta > Censurado Censurado: Eu imagino que para um radical da extrema-esquerda
populista, um texto desta natureza incomode bastante. Explica-se deste modo o chorrilho de ataques ao autor. Manuel Magalhães: AG sempre bem, pobre país!!! Francisco Tavares de Almeida: Excelente resenha e futuro
nenhum que não seja trágico. Fernando PitéElvis Wayne: Se o País há vinte anos não progride, isto pode
significar que não havendo mais rendimentos a redistribuir, a malta mais nova
tende a procurar no estrangeiro as oportunidades que não encontra por cá, desde
que tenha habilitações que sejam aceites lá fora, e com o fim da Covid as
possibillidades de emigrar para nacionais e estrangeiros tendem a aumentar… Maria
Alva: Implacável. AG a
voltar ao seu melhor após terminar a sua campanha pessoal anti-confinamento
algo ortodoxa.
Henrique Costa: Ovação de pé lulu
lemon: magistral! Elvis OnFire: Na introdução falta honrosa
menção ao acto democrático do querido líder censurar um programa do "6a às
9" ir para o ar mesmo antes de um acto eleitoral e uma deputada ter
falsificado documentos para proveito próprio de recebimento indevido de verbas
no Valor de dezenas ou centenas de milhares de euros e a consequência de ter
sido apanhada multada em.. mil euros. Passa tudo. Maria Pedro: Está coberto de razão. Vejamos: em agosto sobem as pensões, em outubro
há eleições, os pensionistas vendem-se por uma esmola. Dia das eleições 50%
abstêm-se. Isto não muda, e é com isto que o ps conta para continuar a
desgovernar Portugal.
Maria Melo: Tudo verdade, lamentavelmente! E a solução é…?.................
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