quinta-feira, 10 de junho de 2021

Não se estranhe


Que as competências nacionais nas tecnologias de informação e comunicação sejam superiores às da U E, a multiplicação desses aparelhos informáticos sendo característica de um povo que prefere o brinquedo ao livro, satisfeita a curiosidade com a manipulação frenética da arte manual tecnológica. E isso desde a mais tenra idade. Um escape para a preguiça mental, pese embora a vivacidade de tal manipulação, com resultados, apesar de tudo, julgo, positivos na ginástica digital, com repercussões em alguma espiritual. Quanto aos oceanos, são demasiado amplos hoje, para nós, exigindo muito das finanças que não são suficientes para a parte sólida do nosso espaço terreno, sempre, de resto, bem gastas aí, também em manipulações de ordem vária e aritmética reduzida. Podíamos, ao menos, nós, portugueses, mostrar que estamos gratos a esse mar, pelo alimento, o sal e o ar que nos faz respirar, não o poluindo, como fazemos, largando os plásticos e o lixo nas praias que as marés limpam, e que tanto maltratam os seres que nele vivem. Mas um povo que atira as máscaras imprestáveis do coronavírus para o chão das ruas e dos passeios, em vez de usar os cestos ou os contentores do lixo colocados nas ruas, é um povo que não respeita regras nem ninguém, nem a si próprio. Nunca o desenvolvimento será sustentável, num povo não educado para respeitar... a não ser por imposição da força. Bem pode Patrícia Carvalho afligir-se, agarrada aos seus dados de pesquisadora política.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A forma como lidamos com o oceano ainda não cumpre os objectivos da ONU.

O Instituto Nacional de Estatística olhou para o modo como o país se tem portado no cumprimento dos 17 objectivos definidos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e concluiu que estamos a progredir bem em quase todos eles, mas não demonstramos ainda saber o que fazer com o oceano.

PATRÍCIA CARVALHO

PÚBLICO, 9 de Junho de 2021

Há falta de informação sobre como gerimos os oceanos, e a que existe não permite dar uma avaliação positiva DANIEL ROCHA

Portugal conseguiu, nos últimos anos, uma evolução favorável em praticamente todos os 17 objectivos definidos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, com a excepção de um. O objectivo 14.º, dedicado a “Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável” é o único em que a evolução dos diferentes indicadores é tão díspar que não permite incluí-lo entre os que tiveram uma evolução favorável ou atingiram a meta de cumprimento de 50% ou mais de indicadores. E quando se olha apenas para o último ano, a situação não melhora.

A Agenda 2030 procura, de forma universal e inclusiva, estabelecer um conjunto de objectivos que todos os países devem atingir, para garantirem um desenvolvimento sustentável. Erradicar a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares surge à cabeça dos 17 objectivos e 169 metas definidas, mas as áreas ali contidas vão de garantir o acesso à saúde e à educação, passando por alcançar a igualdade de género ou garantir o acesso a água potável, a fontes de energia sustentáveis ou ao pleno emprego.

Promover o crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos” é o 8.º objectivo da agenda e, nos últimos meses, o seu cumprimento tem estado bastante difícil em Portugal, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE) num boletim dedicado ao tema e divulgado esta quarta-feira.

O tecido económico e o emprego

Com a pandemia como pano de fundo - e o peso brutal que teve e está a ter no tecido económico e no emprego -, o INE revela que, no último ano, houve uma evolução favorável em 10 dos 17 objectivos, e enquanto outros não sofreram alteração, dois destacaram-se pela negativa: “Nos ODS [Objectivos de Desenvolvimento Sustentável] 8 e 14, o número de indicadores com evolução desfavorável superou ou igualou o de indicadores com evolução favorável”. Ou seja, ao fraco desempenho que temos tido na última década na nossa relação com o oceano, juntou-se, agora, a questão do emprego.

Na questão do emprego, por exemplo, identifica-se um pequeno aumento na taxa de desemprego, de 2020 em relação a 2019 (6,8% no ano passado, contra 6,5% no ano anterior) e também um aumento dos jovens entre os 15 e os 35 anos que não estavam a estudar ou em formação: 11,6%, em 2020, contra 9,5%, em 2019. Olhando para o produto interno bruto (PIB) per capita, os dados mostram que, em 2020, houve um decréscimo de 7,8%, quando o ano anterior tinha havido um crescimento de 2,5% (tendência, aliás, que se mantinha desde 2014). No que diz respeito aos acidentes de trabalho não mortais, apesar de a sua incidência ter vindo a diminui, ela ainda continua a ser “muito superior” à da União Europeia, refere-se no relatório. Os acidentes mortais, com uma incidência de 2,1 por 100 mil pessoas empregadas em 2018, também baixou, mas está acima da média europeia (1,8). 

Já no que se refere aos oceanos, a ausência de informação para grande parte dos indicadores aparece como o factor mais relevante. E com apenas 7% de área marinha protegida - valor que já vem de 2017 - o país não conseguiu alcançar a meta da ONU de ter pelo menos 10% do seu mar protegido até 2020 (embora se tenha comprometido a atingir a proporção de 30% de área marinha protegida até 2030, cumprindo assim as metas estabelecidas pela União Europeia).

Apesar destes pontos negativos no panorama nacional, o boletim do INE realça que “comparando o ano mais recente com o primeiro ano disponível, é possível concluir que a maioria (90) dos indicadores analisados nesta publicação registou uma evolução positiva, 31 apresentaram uma evolução desfavorável e 7 não registaram alterações. Por objectivos, verifica-se que todos os ODS, à excepção do 14, apresentaram evoluções favoráveis ou atingiram a meta em 50% ou mais dos indicadores.”

A erradicação da pobreza

Olhando para os objectivos e os respectivos indicadores analisados pelo INE, verifica-se que aqueles em que não há qualquer indicador com evolução negativa, entre 2010 e o ano com informação mais recente, são os que se referem à erradicação da pobreza (em 2019, 16,2% da população portuguesa estava em risco de pobreza, menos um ponto percentual do que no ano anterior, e menos 3,3 pontos percentuais do que em 2013 e 2014) à igualdade de género, ao acesso à água potável e saneamento, às energias renováveis e acessíveis, à redução das desigualdades e à promoção de uma sociedades pacífica e inclusiva, proporcionando o acesso à justiça para todos e construindo instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis.

Se olharmos apenas para o último ano há algumas alterações. Aparecem como novidade sem indicadores negativos a erradicação da fome, a garantia de uma educação de qualidade (no ano lectivo 2018/2019, 96,2% dos alunos do ensino básico obtiveram aproveitamento), a acção climática e a protecção da vida terrestre, mas há alguns objectivos que têm agora indicadores negativos associados, como o que se refere à paz e ao acesso à justiça e o acesso a água potável, saneamento e às energias renováveis.

Na área da Educação, um dos destaques positivos vai para a evolução das competências tecnológicas por parte dos portugueses. Se na faixa etária alargada dos 16 aos 74 anos as competências digitais ao nível básico ou acima do básico tinha evoluído positivamente (passando de 48% da população em 2015 para 52% em 2019), mas ainda se encontrava abaixo da média da União Europeia (56%), quando se olha apenas para a camada mais jovem, entre os 16 e os 24 anos, a situação é bem diferente.

Os dados do INE, referentes ao Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias realizado em 2019, indicam que 88% têm essas competências, acima da média da UE, que é de 80%.

tp.ocilbup@ohlavrac.aicirtap

TÓPICOS

SOCIEDADE  DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL  ONU  AMBIENTE  POBREZA  OCEANO

Nenhum comentário: