Há quem se limite a um ideal, como fez
António Feijó, que Villaret recitou. Há os que esperam um Godot rebelde a
aparecer, um Sebastião, quer venha ou não, vivemos sempre à espera, voltados
para um futuro de anseios que se traduzam em realização presente. Por vezes esse
cobiçado presente chega, não absurdo mas real, como por obra de varinha mágica.
E são mesmo os humanos que proporcionam desses milagres. Nós, portugueses,
preferimos esperar, no nosso ninho, os biquinhos abertos, para o cibo da mãe. Mas
não sairemos do ninho para retribuir…
À espera do dinheiro europeu (outra vez) /premium
Que esta seja a última vez em que
precisamos do dinheiro europeu para resolver os nossos problemas. Eis um desejo
quando estão a chegar os milhares de milhões de subsídios.
HELENA GARRIDO
OBSERVADOR, 21
jun 2021, 00:1078
Elisa Ferreira, comissária europeia para a Coesão e Reformas,
sintetizou em entrevista ao Negócios e à Antena 1 aquele que deveria ser o
nosso maior desejo: “Portugal deveria aproveitar esta
oportunidade para se preparar para não pedir mais dinheiro”. Está a referir-se fundamentalmente ao Fundo de
Coesão, mas podia ter ido mais longe e desejar que dependêssemos apenas dos
recursos que também chegam aos países mais ricos. Elisa Ferreira diz aliás que
“é penoso ver que Portugal, com estes anos todos de apoio, ainda está entre
os países atrasados”.
É
mesmo penoso, desesperante até, verificar que somos muito pouco autónomos para
satisfazer as nossas necessidades quando a crise nos bate à porta, ou até sem
crise. Obviamente que a comparação é abusiva, até porque nesta crise todos
os países da União Europeia vão ser apoiados, mas o Fundo de Recuperação e
Resiliência corresponde a mais uma ajuda externa que nos chega em menos de uma
década. Vamos ter aliás, e tal como acontecia no plano da troika, objectivos
para cumprir.
Os
sinais não são promissores, mas esperemos que desta vez, com o Plano de Recuperação
e Resiliência e com mais uma vaga de fundos estruturais, o país consiga sair da
estagnação económica e degradação dos serviços públicos que marcaram as
primeiras duas décadas do século XXI. E não são encorajadores os sinais pelo
que na última semana se leu e ouviu sobre o PRR. Festejaram-se os milhares de
milhões que vão chegar já entre Julho e Agosto – dependendo das versões -, mas
nenhuma atenção mereceu a pergunta: onde vamos aplicar esses
primeiros recursos?
Estamos
viciados em dinheiro europeu, como a União Europeia está viciada em
relatórios e documentos variados. Os sites da Comissão Europeia são hoje um
labirinto como uma babilónia são as mil uma políticas que anuncia nos mais
diversos relatórios.
Os documentos que analisam o PRR português tal como os dos outros
países (e que se pode ver aqui)
são um exemplo do palavreado em que se transformaram os relatórios da Comissão
Europeia. Assim criam uma barreira entre essa
enorme burocracia e os cidadãos, não havendo comunicação que os salve. Aliás,
quando precisam de comunicar directamemente, por exemplo, com os jovens, descobre-se
que não conseguem despir-se do “tecnocracês”. Por muito optimistas que
queiramos ser em relação ao futuro da União Europeia, o que tem vindo a
acontecer coloca as maiores dúvidas sobre a capacidade de o projecto aguentar
no longo prazo. Mas esse é um outro tema.
Vamos ao PRR português. Aos poucos, aqueles que ainda não tinham percebido,
vão compreendendo que não há almoços grátis. Os
milhares de milhões a fundo perdido vão ser bastante mais escrutinados que os
fundos estruturais. Ainda este
fim-de-semana, em entrevista ao jornal Público, o ministro do Planeamento
Nelson de Sousa avisava que “vamos a exame todos
os semestres”. Palavras do
ministro: “Para cada desembolso – e está previsto serem feitos dois por ano
– há um conjunto de indicadores e metas a atingir”.
Em
termos gerais, embora mais condicionado às metas que a União Europeia quer
cumprir do que às nossas necessidades, o PRR português acaba por responder às
necessidades mais urgentes do País. É verdade que muitos empresários e alguns
partidos políticos se queixaram da falta de recursos para o sector privado, mas
olhando para o País, para aquelas que são as necessidades mais urgentes, o
que está planeado é o dinheiro ir para o que é mais urgente fazer.
A
questão é que os nossos problemas não se resolvem fundamentalmente com
dinheiro. Ajuda, é necessário, mas ter dinheiro não é suficiente. É preciso
haver vontade de fazer mudanças, haver coragem para desagradar por vezes a
classes de população que fazem perder eleições. E se não formos obrigados nada
disso vai acontecer.
O problema central é a baixa produtividade que parece ter um
bloqueio. Diz a Comissão Europeia no
documento que analisa o PRR português que o baixo crescimento da
produtividade se explica pelos baixos níveis de capital por trabalhador, baixos
níveis de investimento especialmente em intangíveis, capacidade moderada de
inovação e baixos níveis de qualificação. Outros factores citados são o elevado
peso de empresas micro e sub-capitalizadas, um mercado de capitais
subdesenvolvido, ineficiências no sistema de justiça e restrições à
concorrência nas profissões reguladas.
Este
parágrafo da avaliação sintetiza bem o que é preciso fazer e como não é fácil
concretizá-lo. Por exemplo, o baixo rácio de capital por trabalhador. Como
convencer os empresários que não é possível produzir mais se os equipamentos
não respondem? Quantos de nós não enfrentou já esse problema nomeadamente com
computadores que há muito “morreram” e continuam a ser usados na empresa,
bloqueando a cada instante e obrigando a interromper o trabalho? Como se
convence os empresários a investir, mesmo levando em conta que alguns não têm
na falta de dinheiro a razão para isso?
Mas
face a esse retrato, há muita coisa que o Estado pode fazer. Melhorar as
qualificações, desenvolver o mercado de capitais, tornar a justiça mais célere
nomeadamente a tributária ou acabar com o excesso de poder das ordens são temas
de políticas públicas. A formação profissional tem de melhorar e vale a pena
perder menos tempo a falar de indicadores de educação ou curriculum e focar a
atenção no que os alunos aprendem. Há, por exemplo, um défice na nossa
capacidade de organização que podia ser combatido com a educação e formação. Há
também empresários que deviam ter cursos de gestão nas suas mais diversas
vertentes, da financeira aos recursos humanos.
Não podemos continuar a depender dos apoios europeus sem que isso
nos faça crescer. Por muito
que dizer que se cresceu acima da média europeia possa servir para a propaganda
política, o certo é que temos sido ultrapassados por outros países da ex-Europa
de Leste e não conseguimos chegar aos 3% de crescimento. Repare-se que passado o efeito da pandemia, voltamos
a ter previsões de crescimento pouco acima dos 2% em 2023, como ainda a semana
passada perspectivou o Banco de Portugal. Um crescimento demasiado
baixo e apesar dos subsídios europeus. É de facto penoso que depois de tantos
apoios ainda sejamos dos mais pobres da Europa.
FUNDOS
COMUNITÁRIOS UNIÃO
EUROPEIA EUROPA MUNDO DINHEIRO
COMENTÁRIOS:
Paulo Silva:. (Num comentário anterior –
rejeitado -) parodiava a famosa canção “Mãe Querida” do Tony Carreira, com a
querida mão estendida a que o bom do povinho português anda mais do que
habituado... E rematava em post
scriptum falando sobre a sonsice da sra. Elisa. Ela sabe
perfeitamente que os direitos sociais, como saúde e educação, (dos que mais
custam ao erário), foram consagrados e decretados na origem do regime sem
qualquer base de sustentabilidade económica. A solução dos (des)governos
foi vender anéis, (reprivatizações), e o crónico recurso ao crédito que nos
trouxe uma das maiores dívidas do mundo. Vem agora pedir aos portugueses
que larguem o vício que os governos socialistas e seus compagnons de route lhes incutiram com as promessas ilusórias de
desenvolvimento?!… Rebate de consciência, talvez… Mas o desmame não se faz com
falinhas mansas. Passos tentou fazer uma desintoxicação, mas os dealers do estado social(ista) não
deixaram... Amando
Marques: Problema não é o PS ou o governo, o verdadeiro
problema é a mentalidade dos portugueses que acham que a UE funciona como um sorvedouro
de dinheiro. Paulo
Silva > Amando Marques: Sucede
que essa mentalidade foi construída e consolidada pelo ideário socialista
implantado durante o PREC... Os abrileiros deram-nos as famigeradas conquistas,
mas esqueceram-se de decretar a riqueza… Só que a riqueza também não se cria
por decreto, nem as escolas e os hospitais são suficientes… Aliás, esses são
fruto da criação prévia de riqueza. Mas aqui os carros vão sempre à frente dos
bois, (conduzidos por boys e girls). Enquanto assim for... José Costa: "De seis em
seis meses, controlo europeu"... Outra vez com a soberania amordaçada?
Vota ps... Francisco
Miguel > ColaçoJosé Costa: Quem paga,
controla. Quem recebe, finta. Joaquim Moreira: O problema de
Portugal está na recusa em fazer as tais Reformas Estruturais! Por isso, tudo o
que se disser, que não passe por mudar esta desgovernação que nos está a
"governar", nada vai mudar! Não são palavras bonitas e bem
estruturadas de pessoas, que até podem ser bem-intencionadas - como é o caso do
António Costa Silva - mas cujas ideias vão (não vão) ser por outros executadas!
Enquanto a maioria do povo português não perceber que tem um
"governo" para inglês ver, nada vai acontecer! E por uma muito
singela razão: Este não é um "governo" para governar. Esta é uma
solução para manter o PS no poder! Ao mesmo tempo que o seu líder, depois do
“poucochinho” a eleição ter perdido, encontrou na Geringonça, a solução para
não se ter demitido! Portanto, e mais uma vez, está à espera do dinheiro
europeu (outra vez), porque até agora, nada fez! O que me preocupa muito
profundamente, é ainda haver quem confie tanto nesta gente! Joaquim Rodrigues: Não!
Nem pensar! Os Fundos não vão
acabar! Lá chegará o dia em que até os
Búlgaros para cá os vão mandar. Suspeitamos até que a "Oligarquia
Estatista e Centralista" mantêm as Regiões Norte, Centro e Alentejo, na
pobreza necessária e suficiente, que permita que Portugal continue a ter acesso
a Fundos Comunitários Estruturais, que depois, por” Programações e
Reprogramações” espúrias acabam por ser gastos ou na “Capital do Império ” ou
em negócios ao serviço dos “Oligarcas” da Capital do Império. Veja-se o caso das SCUTs. As
ex-SCUTS nem 20% têm, nem nunca terão, do tráfego mínimo necessário que justificaria
o perfil de auto-estrada. Os cidadãos portugueses, nos corredores onde estão as
SCUTs, tinham direito, por razões de serviço público, como previa o Plano
Rodoviário Nacional, a ter rodovias gratuitas, de qualidade, com “Perfil Tipo”
de Itinerário Principal, cujo custo de construção por Km teria sido cerca de 10
vezes inferior ao das auto-estradas, teriam custos ambientais, sociais e de
manutenção infinitamente inferiores e podiam ter sido financiadas a 85% com
fundos comunitários, ao contrário das ex-SCUTS que, à luz das regras da EU, não
puderam ter financiamento comunitário acima dos vinte e tal por cento. As
ex-SCUTS, para além de pagas pelos contribuintes (vamos pagar com os nossos
impostos cerca de mil milhões de euros anuais durante 40 anos) passaram depois
a ter portagens pelo que passaram também a ser pagas pelos utilizadores, a
maioria, habitantes do interior do País. Esta foi a verdadeira razão por que se
construiu tanta auto-estrada desnecessária (em vez de vias perfil IP) em Portugal:
para garantir rendas de muitos milhões, durante 40 anos, a alguns oligarcas
(Grandes Construtoras e Consórcios Bancários), à custa dos contribuintes e dos
habitantes e empresas do Interior do País, ao mesmo tempo que propagandeavam
estar a fazer um enorme “esforço de investimento" para desenvolver o
interior “esquecido”. Portanto, enquanto se mantiver o "Regime Estatista e
Centralista" vigente, vamos continuar a ter "Fundos
Comunitários" por muitos e bons anos. Luís Martins: Que
seja a última vez em que precisamos do dinheiro alheio para resolver os nossos
problemas?!!! Como, se Portugal é um país
completamente dependente da ajuda europeia? É o equivalente a um drogado que
depende de drogas duras desde há 30 anos. A
economia do país deteriorou-se e descaracterizou-se como consequência dessa
dependência. O dinheiro europeu nunca serviu para resolver os nossos problemas,
antes para os disfarçar, para os esconder e para adiar a sua resolução. Agora
serve para governar à esquerda! Porque acham que as
tão famosas reformas, que todos os especialistas concordam ser essenciais,
nunca são feitas?
João Regras: dr elisa ferreira o que???
ela que foi ministra por duas vezes pelo
PS(planeamento e agricultura), deputada pelo PS, eurodeputada pelo PS,
candidata á camara do porto pelo PS e que sempre disse que o PS geriu sempre mt
bem os fundos comunitários vem agora dizer que somos/estamos atrasados.....mas
quem geriu os fundos durante os 20 e tal anos de governação socialista??? e que
as infra-estruturas precisam de ser desenvolvidas!!!!!.....mas de que infra-estruturas
ela fala???.......ela não tem consciência que foi por causa das infra-estruturas
que o PS levou Portugal á bancarrota em 2011 e que o resgaste da troika teve de
ser implementado pelo Passos Coelho??? elisa ferreira faz parte do circulo do
PS que colocou e continua a colocar Portugal como a potência europeia dos
pedintes malcriados....elisa ferreira é uma das culpadas a 100% da má gestão
dos fundos europeus
Joaquim Rodrigues: Um
dos Grandes Problemas dos Fundos Comunitários reside na incapacidade do
Governo Central em exercer com competência aquelas que deveriam ser as suas
verdadeiras funções: Planear, Avaliar, Programar e Executar Políticas
Sectoriais e Infra estruturas de âmbito Nacional, designadamente, as Infra-estruturas
Nacionais de Transportes. Com os
conhecimentos e metodologias hoje disponíveis é possível, com grande rigor,
definir Planos de Longo, Médio e Curto Prazos para os vários Sectores e para as
Redes de infra-estruturas Nacionais e Avaliar e Priorizar a sua execução com
base em Avaliações Rigorosas Custo/Benefício. O
Governo Central ainda não tem, porque não lhe convém ter, Metodologias
Específicas de Avaliação, para poder “avaliar” Políticas e Projectos como muito
bem lhe apetece e dá jeito. Em Portugal, as
decisões quanto à execução de Infra-estruturas Públicas Nacionais são tomadas
por “Impulso do Governante que lá está”, por “intuição”, "achismo",
ou por um qualquer “interesse” de ocasião, sendo depois a “avaliação
custo-benefício” feita “à medida do que se queira”. Ou então, por votação
"braço no ar", como recentemente aconteceu num forum de
representantes de "interesses" a que bastardamente chamam
"Conselho Superior". Só isso explica que
tenham sido gastos milhares de milhões de euros em auto estradas que, em 80% da
sua extensão, não têm, nem nunca terão, nem 20% do tráfego que justificaria o
perfil de auto estrada; que já tenha sido praticamente iniciada a construção de
um mega-aeroporto nacional desnecessário em três locais distintos e ainda hoje
o assunto continue em discussão; que se tenha inaugurado um aeroporto há uma década
o qual, até à data, nem um avião comercial recebeu; que se continue a esbanjar
dinheiro na ferrovia sem que haja qualquer Visão, Estratégia e Plano para a
Rede Ferroviária em Portugal. Mas o maior problema dos Fundos
Comunitários reside na falta de uma estrutura com “Capacidade Técnica e Poder”
para “Pensar, Planear, Gerir e Administrar” o Desenvolvimento dos Territórios
Regionais, como prevê a Constituição que sejam as “Regiões”. Deveriam ser as
Regiões, com base em Planos de Ordenamento, Valorização e Desenvolvimento
Regional, elaborados por gente qualificada da Região e conhecedora da Região,
as Gestoras dos Fundos Comunitários de base Regional, sendo a sua aplicação
fiscalizada pelo Governo Central e supervisionada pela Assembleia da República.
No caso dos Fundos
Estruturais eles só existem porque as Regiões Norte, Centro e Alentejo têm um
PIB/capita que é inferior a 75% do da média comunitária e são destinados pela
UE a essas Regiões. (A Região de Lisboa e Vale do Tejo já não tem direito a
esses fundos porque já tem um Pib/capita muito acima da média comunitária.) Mas,
o que se passa é que esses fundos são programados, geridos, executados,
fiscalizados e auditados por entidades do Governo Central, sem “Conhecimento
Concreto dos Territórios, sem qualquer “Visão” de futuro para o Desenvolvimento
dos Territórios dessas Regiões e sem a necessária independência para
Supervisionar e Fiscalizar a sua Aplicação. Ou seja: o Governo Central não
cumpre com competência aquelas que são as Funções Nacionais que são da sua
única e exclusiva Responsabilidade e anda a exercer funções Regionais para as
quais não tem, nem nunca terá, nem legitimidade, nem competência, nem
capacidade técnica, nem meios, nem vocação onde os serviços do Governo Central
se Fiscalizam a si mesmos.
VICTORIA ARRENEGA: Bela maneira de começar a
crónica: «Que seja a última vez....». Será a última vez se Bruxelas fechar as
torneiras. Caso contrário continuaremos de mão estendida e a perguntar se já
podemos ir ao banco. A crónica de Helena garrido e de Luis Rosa são
convergentes. Helena Garrido fala-nos de estagnação económica e degradação dos
serviços públicos, que nos consomem tantos recursos sem grandes resultados. Os
milhões que por aí vêm terão um escrutínio bianual, o que significa uma maior
criatividade nos relatórios trapaceados. E também não se sabe muito bem o que
esperar do poder regulador de Bruxelas. a julgar pelos recentes e rasgados
elogios de Ursula ao PM e ao seu governo, ou goza o pagode ou vive noutro
planeta. O que verdadeiramente interessa é que podem chover milhões sobre
Portugal que nada mudará porque politicamente o modelo de esquerda não
funciona. Aliás já muito pouco funciona.
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