sábado, 5 de junho de 2021

Uma lição de economia

 

Chegou-me via e mail, do Facebook de LUIS SOARES DE OLIVEIRA, acompanhado de comentários. Gostei da lição, que não nos faria mal seguir, segundo a norma inicial do seu autor: «Em vez de "jobs for the boys" (essência do socialismo português), o PC chinês cuida de formar "boys for the jobs".» Mas a nossa rodagem a esse respeito –“jobs for the boys” parece estar bastante vivificada, por via da manutenção de pedra e cal do governo, e os boys não têm que se preocupar com os jobs, basta-lhes a sua fixação neles. Preparar a juventude para os “jobs” tem outro alcance - mas outra dureza também, naturalmente. Comentadores capazes desenvolvem. Eu limito-me a lembrar a aventura de Tiananmen, que passou por nós, à distância, e que continua rumorejando, embora mais cuidadosamente. Na Internet relembramos.

De LUÍS SOARES DE OLIVEIRA:

2 de junho às 10:41

O TRUQUE CHINÊS.

Em vez de "jobs for the boys" (essência do socialismo português), o PC chinês cuida de formar "boys for the jobs". Isto acontece desde o episódio de Tiananmen, há 32 anos, quando o PC local compreendeu que tinha que captar para os seus quadros o que havia de melhor nas universidades e na sociedade local em vez de fomentar o carreirismo interno. Formou assim uma tecnocracia que apostou no cientismo-capitalismo e meteu a democracia temporariamente na gaveta. Os resultados estão à vista. A economia chinesa recupera mais rapidamente da crise pandémica do que as ocidentais e os estudantes chineses nunca mais precisaram voltar a Tiananmen. 

COMENTÁRIOS

Maria João Correia: Os estudantes podem não precisar já, os trabalhadores fabris certamente o desejariam...

Luis Soares de Oliveira: O problema dos operários fabris confrontados com a robotização requer redução do horário de trabalho e aumento do prazo das férias. Uma economia de alta rentabilidade pode adoptar tais medidas; uma de baixa rentabilidade como a nossa socialista não pode. Os competentes chineses encontrarão o meio de o fazer.

Antonio Paulo Godinho: já não se pode dizer o mesmo da "solução" para Hong-Kong

Luis Soares de Oliveira: Antonio Paulo Godinho: Curioso. Eu faço a leitura contrária. Hong Kong passa por (sofre) um processo de centralização lento, mas irreversível. Desta feita, o liberalismo foi ali também metido na gaveta. Não vejo diferenciação, mas homogeneização.

Antonio Paulo Godinho: obrigado pela resposta; mas concorda com a tese de um certo "conflito de gerações" devido ao problema de terem imposto a obrigação de "um filho por casal", que parece ser agora um "calcanhar de Aquiles" na sociedade chinesa?

Fernando Figueiredo: Pragmatismo.

Antonio Coutinho: O PC chinês sabe que a corrupção é a evolução natural do modelo e, por isso, tratam-na de forma muito violenta. Também sabem que a consanguinidade leva à mediocridade e por isso trataram de ter um processo tão meritocrático quando o que resulta de um processo de mercado. Com estes dois factores, têm vindo a conseguir ultrapassar as limitações do sistema. Será sustentável? Líderes eternos não ajuda, mas também acredito que a viragem ambiental também resulta de saberem que isso poderia ser o Downfall do regime.

Luis Soares de Oliveira: A esta pergunta posso já responder que tudo se transforma, incluindo a própria realidade. Os líderes chineses encontraram a solução para o caso presente da China. Isso não significa a eternidade. Quando sabemos as respostas o destino muda as perguntas.

Ribeiro Valente: Qual dos interlocutores tem experiência de negócios na China?

Henrique Borges: Os chineses aplicaram com frieza a máxima "dê-se a um homem corda suficiente e ele tratará de se enforcar a si próprio" (máxima que, segundo parece, Lenine terá usado a propósito do capitalismo). Ao contrário dos ocidentais, não esqueceram que, no plano internacional, o capitalismo não se teria conseguido impor sem a convergência de esforços entre os antigos poderes imperiais e a burguesia mercantilista ascendente. E, por isso mesmo, perceberam que, capturando essa burguesia mercantilista para o seu lado (por via de uma mão de obra disciplinada pelo partido comunista), debilitariam esses poderes, privando-os do seu amparo. Chama-se a isto pragmatismo maquiavélico.… 

Teresa Teixeira da Motta: Muito bem analisado. Que solução irão eles inventar para Hong Kong?

Aida Franco Nogueira: Não é por acaso que a China é a primeira economia mundial...

 

NOTAS DA INTERNET

China diante dos riscos de um outro Tiananmen em Hong Kong

12/08/2019 - 12h01min

AFP

O governo chinês avalia os riscos de uma sangrenta repressão no moldes de Tiananmen contra os protestos em Hong Kong, mas os analistas consideram que as catastróficas consequências econômicas e políticas que isso pode ter dissuadem Pequim de qualquer intervenção militar.

À medida que os confrontos entre os manifestantes pró-democracia e a polícia na ex-colônia britânica se tornam mais violentos, as condenações de Pequim vão-se tornando mais ameaçadoras, com advertências de que quem brinca com fogo "acabará queimado".

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Ao mesmo tempo, a guarnição militar do Exército Popular de Libertação (EPL) em Hong Kong publicou um vídeo de um treino militar. Nele, os soldados portam rifles de assalto, e jatos d'água são usados para dispersar multidões de manifestantes. As imagens e o aumento do tom deflagraram o temor de que Pequim entre à força no território semiautônomo, um medo que a China estaria usando de forma deliberada, afirmam alguns analistas. "Pequim quer usar a ameaça de enviar o EPL, ou outra intervenção direta para tentar assustar os manifestantes", considera Ben Bland, pesquisador do Lowy Institute, de Sydney.

"Mas, dado o alto nível de risco das operações, além dos perigos para a reputação e a economia da China, enviar o EPL seria uma decisão arriscada", explica.

A brutal repressão da China aos protestos pró-democracia na praça Tiananmen de Pequim, em 1989, levou à paralisia da economia nacional por praticamente dois anos, já que o país se tornou um pária internacional.

Os efeitos colaterais de uma intervenção similar em Hong Kong seriam muito mais duros.

A estabilidade de longo prazo de Hong Kong, um centro financeiro internacional, é fundamental para o bem-estar da economia chinesa. E as imagens de tropas, ou de policiais chineses do Batalhão de Choque nas ruas da região, seriam divulgadas ao vivo no mundo todo. Também teria um grande impacto na ambição de Pequim de reunificar a ilha de Taiwan, com um governo democrático, com o restante do território continental chinês. Por enquanto, Pequim se limitou a apoiar a Polícia de Hong Kong.

- Lição aprendida -

A legislação em Hong Kong estabelece que as tropas do EPL estacionadas em seu território não podem interferir nos assuntos locais. Sua mobilização é permitida, porém, se for solicitada pelo governo de Hong Kong para "manter a ordem pública". Especialistas em segurança apontam que, nos 30 anos que se passaram desde Tiananmen, a China desenvolveu um sofisticado aparato de controle de segurança. Com isso, tem à disposição um leque mais amplo de opções para reprimir os distúrbios, para além do envio de tanques às ruas.

Segundo o analista Wu Qiang, ex-professor de Política na Universidade Tsinghua de Pequim, a China aprendeu a lição da repressão de 1989 por meio de várias "trocas" com forças policiais da Europa e dos Estados Unidos.

"Grande parte dessas trocas versaram sobre como lidar com as revoltas políticas e com os protestos pacíficos", afirma Wu.

No vídeo sobre os exercícios militares, é possível identificar esses métodos, assim como em uma gravação distribuída na semana passada. Nela, milhares de policiais chineses do Batalhão de Choque faziam um treino similar em Shenzhen, na fronteira com Hong Kong.

Em ambos os vídeos, as forças de segurança empregam escudos e gás lacrimogêneo para dispersar os "manifestantes". "O regime chinês não tem experiência, porém, em reprimir distúrbios em uma sociedade livre", observa Wu. Mesmo que fosse capaz de realizar uma intervenção não letal, a própria imagem das forças chinesas nas ruas de Hong Kong provocaria indignação e preocupação em quase todo mundo.

Para o analista político Willy Lam, da Universidade China, de Hong Kong, Pequim pode considerar um método menos evidente do que o de enviar seus próprios soldados, ou policiais.

"Usariam o uniforme da polícia de Hong Kong, mas não seria um envio formal", disse Lam.

Já há rumores de que esse treinamento está acontecendo, o que motivou a polícia de Hong Kong a publicar um comunicado, na semana passada, rejeitando as "acusações" de reforços procedentes do território continental entre suas fileiras. Wu'er Kaixi, um dos líderes dos protestos de Tiananmen de 1989, considera que as lideranças chinesas têm muitos interesses em jogo para considerar uma intervenção armada. "Acho que aprenderam a lição de que o preço a pagar por usar o Exército é muito alto", disse ele, de Taiwan, onde vive hoje.

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