Chegou-me via e mail, do Facebook de LUIS SOARES DE OLIVEIRA, acompanhado de comentários. Gostei da lição, que não nos faria mal seguir, segundo a norma inicial do seu autor: «Em vez de "jobs for the boys" (essência do socialismo português), o PC chinês cuida de formar "boys for the jobs".» Mas a nossa rodagem a esse respeito –“jobs for the boys” parece estar bastante vivificada, por via da manutenção de pedra e cal do governo, e os boys não têm que se preocupar com os jobs, basta-lhes a sua fixação neles. Preparar a juventude para os “jobs” tem outro alcance - mas outra dureza também, naturalmente. Comentadores capazes desenvolvem. Eu limito-me a lembrar a aventura de Tiananmen, que passou por nós, à distância, e que continua rumorejando, embora mais cuidadosamente. Na Internet relembramos.
De
LUÍS SOARES DE OLIVEIRA:
O
TRUQUE CHINÊS.
Em vez de "jobs for the
boys" (essência do socialismo português), o PC chinês cuida de formar "boys
for the jobs". Isto acontece desde o episódio
de Tiananmen, há 32 anos, quando o PC local compreendeu que tinha que captar
para os seus quadros o que havia de melhor nas universidades e na sociedade
local em vez de fomentar o carreirismo interno. Formou assim uma tecnocracia que apostou no
cientismo-capitalismo e meteu a democracia temporariamente na gaveta. Os
resultados estão à vista. A economia chinesa recupera mais rapidamente da crise
pandémica do que as ocidentais e os estudantes chineses nunca mais precisaram
voltar a Tiananmen.
COMENTÁRIOS
Maria João
Correia: Os estudantes podem não precisar já, os trabalhadores
fabris certamente o desejariam...
Luis Soares
de Oliveira: O problema dos operários fabris confrontados com a
robotização requer redução do horário de trabalho e aumento do prazo das
férias. Uma economia de alta rentabilidade pode adoptar tais medidas; uma de
baixa rentabilidade como a nossa socialista não pode. Os competentes chineses encontrarão o meio
de o fazer.
Antonio
Paulo Godinho: já não se
pode dizer o mesmo da "solução" para Hong-Kong
Luis Soares
de Oliveira: Antonio Paulo Godinho: Curioso. Eu faço a leitura contrária. Hong Kong passa por (sofre) um
processo de centralização lento, mas irreversível. Desta feita, o liberalismo
foi ali também metido na gaveta. Não vejo diferenciação, mas homogeneização.
Antonio
Paulo Godinho: obrigado
pela resposta; mas concorda com a tese de um certo "conflito de
gerações" devido ao problema de terem imposto a obrigação de "um
filho por casal", que parece ser agora um "calcanhar de Aquiles"
na sociedade chinesa?
Fernando
Figueiredo: Pragmatismo.
Antonio
Coutinho: O PC chinês sabe que a corrupção é a evolução natural
do modelo e, por isso, tratam-na de forma muito violenta. Também sabem que a consanguinidade leva à
mediocridade e por isso trataram de ter um processo tão meritocrático quando o
que resulta de um processo de mercado. Com estes dois factores, têm
vindo a conseguir ultrapassar as limitações do sistema. Será sustentável?
Líderes eternos não ajuda, mas também acredito que a viragem ambiental também
resulta de saberem que isso poderia ser o Downfall do regime.
Luis Soares
de Oliveira: A esta pergunta posso já responder que tudo se
transforma, incluindo a própria realidade. Os líderes chineses encontraram a
solução para o caso presente da China. Isso não significa a eternidade. Quando
sabemos as respostas o destino muda as perguntas.
Ribeiro
Valente: Qual dos interlocutores tem experiência de negócios na
China?
Henrique
Borges: Os
chineses aplicaram com frieza a máxima "dê-se a um homem corda suficiente
e ele tratará de se enforcar a si próprio" (máxima que, segundo parece,
Lenine terá usado a propósito do capitalismo). Ao contrário dos ocidentais, não esqueceram que, no plano
internacional, o capitalismo não se teria conseguido impor sem a convergência
de esforços entre os antigos poderes imperiais e a burguesia mercantilista
ascendente. E, por isso mesmo, perceberam que, capturando essa burguesia
mercantilista para o seu lado (por via de uma mão de obra disciplinada pelo
partido comunista), debilitariam esses poderes, privando-os do seu amparo.
Chama-se a isto pragmatismo maquiavélico.…
Teresa
Teixeira da Motta: Muito bem analisado. Que solução irão eles inventar
para Hong Kong?
Aida Franco
Nogueira: Não é por acaso que a China é a primeira economia
mundial...
NOTAS DA INTERNET
China diante dos riscos de um outro Tiananmen em Hong
Kong
12/08/2019 -
12h01min
AFP
O
governo chinês avalia os riscos de uma sangrenta repressão no moldes de
Tiananmen contra os protestos em Hong Kong, mas os analistas consideram que as
catastróficas consequências econômicas e políticas que isso pode ter dissuadem
Pequim de qualquer intervenção militar.
À medida que os confrontos entre os
manifestantes pró-democracia e a polícia na ex-colônia britânica se tornam mais
violentos, as condenações de Pequim vão-se tornando mais ameaçadoras, com
advertências de que quem brinca com fogo "acabará queimado".
Thank
you for watching
Ao
mesmo tempo, a guarnição militar do Exército Popular de Libertação (EPL) em
Hong Kong publicou um vídeo de um treino militar. Nele, os soldados portam rifles
de assalto, e jatos d'água são usados para dispersar multidões de
manifestantes. As imagens e o aumento do tom deflagraram o temor de que Pequim
entre à força no território semiautônomo, um medo que a China estaria usando de
forma deliberada, afirmam alguns analistas. "Pequim quer usar a ameaça de
enviar o EPL, ou outra intervenção direta para tentar assustar os
manifestantes", considera Ben Bland, pesquisador do Lowy Institute, de
Sydney.
"Mas,
dado o alto nível de risco das operações, além dos perigos para a reputação e a
economia da China, enviar o EPL seria uma decisão arriscada", explica.
A
brutal repressão da China aos protestos pró-democracia na praça Tiananmen de
Pequim, em 1989, levou à paralisia da economia nacional por praticamente dois
anos, já que o país se tornou um pária internacional.
Os efeitos colaterais de uma
intervenção similar em Hong Kong seriam muito mais duros.
A estabilidade de longo prazo de Hong
Kong, um centro financeiro internacional, é fundamental para o bem-estar da economia
chinesa. E as imagens de tropas, ou de policiais chineses do Batalhão de Choque
nas ruas da região, seriam divulgadas ao vivo no mundo todo. Também teria um
grande impacto na ambição de Pequim de reunificar a ilha de Taiwan, com um
governo democrático, com o restante do território continental chinês. Por
enquanto, Pequim se limitou a apoiar a Polícia de Hong Kong.
- Lição aprendida -
A
legislação em Hong Kong estabelece que as tropas do EPL estacionadas em seu
território não podem interferir nos assuntos locais. Sua mobilização é
permitida, porém, se for solicitada pelo governo de Hong Kong para "manter
a ordem pública". Especialistas em segurança apontam que, nos 30 anos que
se passaram desde Tiananmen, a China desenvolveu um sofisticado aparato de
controle de segurança. Com isso, tem à disposição um leque mais amplo de opções
para reprimir os distúrbios, para além do envio de tanques às ruas.
Segundo
o analista Wu Qiang, ex-professor de Política na Universidade Tsinghua de
Pequim, a China aprendeu a lição da repressão de 1989 por meio de várias
"trocas" com forças policiais da Europa e dos Estados Unidos.
"Grande
parte dessas trocas versaram sobre como lidar com as revoltas políticas e com
os protestos pacíficos", afirma Wu.
No
vídeo sobre os exercícios militares, é possível identificar esses métodos,
assim como em uma gravação distribuída na semana passada. Nela, milhares de
policiais chineses do Batalhão de Choque faziam um treino similar em Shenzhen,
na fronteira com Hong Kong.
Em
ambos os vídeos, as forças de segurança empregam escudos e gás lacrimogêneo
para dispersar os "manifestantes". "O regime chinês não tem
experiência, porém, em reprimir distúrbios em uma sociedade livre",
observa Wu. Mesmo que fosse capaz de realizar uma intervenção não letal, a
própria imagem das forças chinesas nas ruas de Hong Kong provocaria indignação
e preocupação em quase todo mundo.
Para
o analista político Willy Lam, da Universidade China, de Hong Kong, Pequim pode
considerar um método menos evidente do que o de enviar seus próprios soldados,
ou policiais.
"Usariam
o uniforme da polícia de Hong Kong, mas não seria um envio formal", disse
Lam.
Já
há rumores de que esse treinamento está acontecendo, o que motivou a polícia de
Hong Kong a publicar um comunicado, na semana passada, rejeitando as
"acusações" de reforços procedentes do território continental entre
suas fileiras. Wu'er Kaixi, um dos líderes dos protestos de Tiananmen de
1989, considera que as lideranças chinesas têm muitos interesses em jogo para
considerar uma intervenção armada. "Acho que aprenderam a lição de
que o preço a pagar por usar o Exército é muito alto", disse ele, de
Taiwan, onde vive hoje.
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