153 comentários mereceu o texto de Helena Matos, bem explícito do que se pratica por
cá, que nos espanta e nos “avergonha”, na questão desses dinheiros que nos
chegam de fora. Registe-se um apenas, o último, do nosso aviltamento sem
tréguas, embora o texto de Helena Matos seja lição
bastante.
Quase 48 anos depois do 25 de Abril,
Portugal e quem o governa estão condensados no “Já posso ir ao banco?”
proferido por António Costa. Costa-Marcelo fizeram de Portugal o
pedinte-pândego da UE.
HELENA MATOS, Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 20 jun
2021
“Já posso ir ao banco?” pergunta
António Costa. “Sim”, responde von der Leyen
Alguém há 47 anos esperava que o
regime que então se anunciava democrático, livre e justo acabasse com um
presidente da República a fugir da sua própria sombra e um primeiro-ministro
sorridente (de que rirá este homem?) a perguntar à representante da instituição
que garante ao país o qb para manter as aparências do estado social: “Já posso
ir ao banco?”
As
presentes e muito espalhafatosas indignações em torno da referência aos
resultados positivos conseguidos em sectores como a educação pelo Estado Novo
não são mais do que uma manifestação de fraqueza de quem actualmente governa.
Diaboliza-se quem refere os resultados do Estado Novo (resultados esses
conhecidos e apresentados há anos, sem qualquer problema) porque se teme e
tenta adiar o momento em que se vai confrontar a “democracia obrigatoriamente
socialista” em que nos tornámos com o fosso entre quem faz parte da casta e
quem está fora dela; com a falta de mobilidade social; com a diferença entre o
anunciado e o realizado.
Quem nos governa está onde está pelo
único e exclusivo mérito de ter estado no sítio certo, o PS, para, no momento
certo, ascender aos cargos. Uma vez aí instalados apenas tratam de se manter no
poder. Os socialistas tornaram-se numa espécie de turma que chegou aos cargos
através de uma passagem administrativa e que fazem da ocupação do cargo o fim
em si mesmo. Deixaram de ser responsáveis pelo quer que seja a não ser pela sua
manutenção no poder e nessa matéria são de uma eficácia implacável.
Veja-se o caso da transmissão dos
dados pessoais dos organizadores de manifestações acontecida na CML: os ministros
Augusto Santos Silva e Eduardo Cabrita receberam a queixa dos manifestantes
russos mas não fizeram nada porque, dizem, não era da sua
competência. Fernando Medina, presidente da CML, também se isentou de
responsabilidades. Começou por querer culpabilizar a lei que era antiga. Depois
vieram os rumores sobre um membro do CDS e as alegações sobre o fim dos
governos civis que levava ao célebre “a culpa é do Passos!”. Como cada uma
destas acusações ia caindo – a lei era antiga mas não era parva; o militante do
CDS não tinha qualquer responsabilidade no caso e a extinção dos governos civis
(leia-se Passos Coelho) ainda menos, sobraram as culpas para Luís Feliciano, o
funcionário da CML responsável pela protecção de dados mas que não teria sob o
seu controlo os processos das manifestações. Sem explicações de maior Luís
Feliciano foi demitido o que não deixa de ser estranho porque terá sido ele o
primeiro a dar razão aos manifestantes russos.
(Aguarda-se
pelo desenvolvimento das afirmações feitas pelo colunista
João Gonçalves que descreve assim a exoneração de Luís Feliciano na
sua página de facebook: “Quando [Luís Feliciano] recebeu a queixa dos
manifestantes russos – a quem deu razão –, fez uma informação dirigida ao Presidente
a comunicar que teria de participar a dita à Comissão Nacional de Protecção de
Dados. Essa informação não foi despachada e “desapareceu”. O sinistro Medina
chamou Luís Feliciano antes da conferência de imprensa de ontem e disse-lhe
para apresentar a demissão. L. Feliciano recusou. Todo o seu gabinete foi
então demitido em público, como vimos.”)
Portugal
sofre as consequências de um governo de esquerda que tem como único objectivo
manter o PS no poder, oferecendo consoante as conveniências do momento o
controlo de sectores estatais – contratação colectiva e empresas de transportes
ao PCP – ou a sua destruição como acontece
com os serviços de veterinária para agradar ao PAN.
Mas
não só. Em simultâneo o país viveu e vive a deliquescência da Presidência da
República. O abandalhamento frívolo das instituições é um dos legados de
Marcelo senão o seu principal legado. Marcelo, como todos os narcisos mais a
mais se gostarem de se divertir como é o seu caso, sobrevalorizou a sua
capacidade táctica. Agora acabou isolado e a discutir poderes com o
primeiro-ministro. Pelo meio sopra a quem o quer ouvir que não há alternativa
ao PS. Claro que não existe alternativa mas não existe em boa parte porque foi
isso mesmo que ele Marcelo desejou e para o qual usou toda a sua influência mal
chegou a Belém: a direita pós-2016 seria feita a partir dele, acreditou
Marcelo. Enganou-se. Acabou prisioneiro de si mesmo a pedir para nos focarmos
no essencial – o futebol – e a afirmar que “o Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro.”
A
avaliar pelo que se lê e ouve, Portugal tem à sua frente dois génios da
política: Marcelo é um talento único e Costa está dotado de uma habilidade
transcendente. Infelizmente
tantas capacidades individuais traduziram-se quando conjugadas num dos períodos
mais medíocres que o país conheceu,
Em
1973, o Expresso titulava na primeira edição que pôs na rua: “63 por cento dos portugueses
nunca votaram.” Implícita nas entrelinhas estava a culpa da natureza
ditatorial do regime que entre outras coisas não promovera sequer um
recenseamento obrigatório, logo alargado, da população. Mas agora que nas legislativas de 2019 tivemos uma
abstenção superior a 50 por cento e nas presidenciais de 2021 até superior a 60
por cento, não só não temos respostas prontas como não queremos fazer
perguntas. Não apenas sobre o porquê desta situação mas sobretudo sobre o que
vai acontecer quando a abstenção despertar.
Não
sei se será a mobilização dos abstencionistas a desbloquear esta situação mas
sei que em 2021 fazer de conta que não tem relevância que mais de metade do
eleitorado opte por se abster é tão inconsciente, quanto em 1973, ter
subestimado o facto de mais de 63 por cento dos portugueses nunca terem votado.
PS POLÍTICA FUNDOS COMUNITÁRIOS UNIÃO EUROPEIA EUROPA MUNDO ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIO:
Gustavo Ferreira: O trilho da
política portuguesa está definido há muito tempo no preâmbulo da Constituição!
Temos de rumar da linha do “socialismo” e enquanto o rumo for este a pobreza
triunfará por entre os titulares do poder e os adeptos da cor. O Presidente e o
Primeiro Ministro estão em funções porque o “bom povo” assim decidiu. Mas quem
designou o povo de “bom” esqueceu-se de lhe acrescentar outros atributos no
âmbito da instrução e dos ensinamentos. E caímos nesta situação actual que se
manterá com uma pequena anestesia mensal de meia dúzia de euros (ou nem isso…)
nas pensões e nos vencimentos da função pública, a replicar todos os anos… Com
o nível generalizado de civismo, de responsabilização e de sentido do dever que
é incutido diariamente por todos os lados - e por todas as instituições -
iremos continuar nesta lenta agonia que é também alimentada por uma oposição
que se escapuliu! A muito perspicaz Helena Matos põe sempre o dedo na ferida, mas irá precisar de
muitas luvas para escalpelizar todas as chagas que ainda aparecerão e… para,
cautelosamente, não se infectar!
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