domingo, 31 de outubro de 2021

Fogo no rabo


Foi a designação sintetizante da minha irmã, a respeito da Eutanásia, como primeira lei a promover pela esquerda ondulante, antes que se finasse o governo e surgisse um seguinte, menos drástico nestas prioridades sobre despachos de choque da opinião pública, impostos pela tal esquerda acompanhante do governo comandante, naturalmente  condescendente, para continuar governante. Foi a primeira proposta de que se tratou, após o chumbo do Orçamento, com reflexo expectante sobre a mudança seguinte. Eu também dera por isso, rangendo os dentes, indignadamente, pelo urgente, embora, para mim, não desconcertante, já que sou razoavelmente previdente. Ou só vidente.

 Entretanto, a proposta de lei esmoreceu, não se falou mais dela, mas está-se à espera do retorno urgente, antes do encerramento da farsa da nossa complacência aviltante.

Uma página de fé


Do P. Gonçalo Portocarrero de Almada, baseada no relato dos Apóstolos e sem artificiosa pregação propagandística, a propósito das sondagens sobre a natureza divina de Jesus de Nazaré, e a justificar como as sondagens são passíveis de enganos, ainda hoje….

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA

OBSERVADOR, 30 out 2021, 00:1921

É discutível saber quem foi o vencedor das últimas eleições autárquicas, mas não há dúvidas sobre quem as perdeu: as sondagens.

Foi sobretudo em Lisboa que as sondagens mais falharam. A uma semana das eleições, publicava-se a seguinte: “Sondagem: Medina sucede a Medina em Lisboa, sem maioria absoluta e com direita reforçada” (Público, 22-9-2021). Não satisfeito com a putativa derrota eleitoral do candidato do PSD, o mesmo jornal insistia na esperada (e, eventualmente, desejada) derrota do actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa: “Carlos Moedas fica aquém do resultado obtido pelo CDS e PSD há quatro anos.Mais um prognóstico porventura querido, mas falhado porque, se assim tivesse sido, não teria ganho a presidência da CML.

Na semana seguinte às eleições autárquicas, o Expresso de 27-9-2021 dava conta de uma evidência: “Nenhuma sondagem pré-eleitoral adivinhou a vitória de Carlos Moedas, nem sequer um empate técnico entre os dois candidatos a presidente da câmara”. Melhor teria sido que os adivinhos em matéria de eleições, em vez de arriscarem palpites sobre os resultados, fizessem sua a prudente atitude do jogador de futebol que, inquirido sobre um desafio a disputar, cautelosamente afirmou: ‘Prognósticos, só no fim do jogo!’

Ainda bem que os eleitores não se deixam levar pelas sondagens que, como agora se viu, não são inocentes, nem fidedignas. Agora?! A bem dizer, as sondagens falham desde quando, há dois mil anos, se fez uma consulta popular em Cesareia de Filipe.

Refere o evangelista São Mateus que, “tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus interrogou os seus discípulos, dizendo: ‘Quem dizem os homens que é o Filho do homem?’” (Mt 16, 13). Portanto, pode-se dizer que Cristo, ao pedir aos seus discípulos que averiguassem o que a multidão pensava dele, foi a primeira personalidade que encomendou uma sondagem à opinião pública!

Os apóstolos estavam, habitualmente, em contacto com as gentes que se encontravam com Cristo. Assim aconteceu quando, surpreendentemente, com apenas cinco pães e dois peixes, cerca de dez mil pessoas esfomeadas se alimentaram até ficarem saciadas (cf Mt 15, 32-38). Foram os discípulos que distribuíram os pães e peixes milagrosamente multiplicados por Jesus e, depois, recolheram doze cestos “cheios dos bocados que sobejaram”. Ao fazê-lo, decerto ouviram os comentários daqueles homens, mulheres e crianças. Embora o Mestre, ao protagonizar algum facto extraordinário, procurasse a máxima discrição, indo por vezes para fora das povoações, estes milagres mais espectaculares não podiam ser ignorados pelas multidões.

Sobre Jesus de Nazaré havia então, como agora, duas posições opostas: a dos que crêem que é Deus e a dos que afirmam que é um demónio. Com efeito, todos os cristãos afirmam, como Simão Pedro, que Jesus “é o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). No extremo oposto, os fariseus de ontem e de hoje, afirmam o contrário, ou seja, que era pelo príncipe dos demónios que Jesus expulsava os demónios (Mt 12, 24; Lc 11, 15-26; etc.). Entre estes dois extremos, situa-se a resposta à sondagem em Cesareia de Filipe: “uns dizem que (Cristo) é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas” (Mt 16, 14).

Na verdade, a posição intermédia, como era a dos que consideram Jesus como um profeta, é equidistante da cristã, que o considera Deus, e da farisaica, que o identifica com o demónio. A afirmação de que Cristo é um profeta, como João Baptista, Elias ou Jeremias, não só era, há dois mil anos, a mais consensual, como parece ser, também agora, a mais razoável. Se hoje se fizesse uma sondagem à opinião pública sobre Jesus de Nazaré, é muito provável que o resultado fosse o obtido, há dois mil anos, em Cesareia de Filipe.

Contudo, a hipótese de Jesus de Nazaré ser um homem justo, um santo ou um profeta, apesar de parecer ser a resposta mais razoável à pergunta sobre a sua identidade, não é racionalmente possível. Com efeito, a alternativa existe apenas em relação às restantes duas hipóteses: Jesus Cristo é Deus ou, então, o demónio.

Porquê?! Por uma razão muito simples e absolutamente decisiva: Jesus de Nazaré disse, inúmeras vezes, que é Deus. Disse-o nas primeiras palavras que dele se conhecem quando, com doze anos apenas, se intitulou filho de Deus. Ora, qualquer filho é da mesma natureza do seu pai: ao dizer-se filho de Deus e não de José, Jesus estava a afirmar a sua natureza divina. Como tal foi entendido pelos seus contemporâneos e, por isso, as autoridades religiosas da altura o condenaram à morte, por blasfémia. Ele disse também, claramente, que era o Messias e igual ao Pai, porque ele e Deus são um só. Permitiu-se promulgar um novo mandamento da Lei de Deus, prerrogativa exclusivamente divina. Deixou-se adorar pelos seus discípulos, momentos antes de ascender aos Céus.

Nenhum profeta, homem justo ou santo, fez alguma vez tais afirmações ou se deixou adorar e, por isso, Jesus de Nazaré, decididamente, não pode ser equiparado a João Baptista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas: a sondagem, em Cesareia de Filipe, falhou redondamente! São Paulo, por exemplo, não deixou que fosse oferecido um sacrifício em sua honra, por entender, com toda a razão, que uma tal homenagem seria um acto idolátrico (cf. At 12, 11-18; 28, 6). Quando São João quis prostrar-se diante do anjo que lhe revelara o que escreveu no Apocalipse, este ser angélico não consentiu, porque também ele é uma criatura e só Deus pode ser adorado (cf. Ap 22, 8-9). Logo, se Cristo permitiu a adoração que lhe foi prestada pelos seus discípulos, ou é verdadeiramente Deus, ou não e, neste caso, seria um falsário e um mentiroso, ou seja, como o demónio, que “é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).

Dois mil anos depois de ter andado pela terra, Jesus de Nazaré só pode ser adorado ou odiado. Enquanto alguns, não obstante a sublimidade da sua vida e ensinamentos, bem como os seus prodigiosos sinais, insistem em fazer coro com a multidão que pediu a sua crucifixão, outros muitos, rendidos ante a evidência da sua divindade, caem prostrados a seus pés, fazendo sua a profissão de fé do apóstolo incrédulo: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).

CRISTIANISMO   RELIGIÃO   SOCIEDADE   SONDAGENS

COMENTÁRIOS:

Theodor Adorno: Uma religião que acredita que um zombie judeu é deus, e um acto canibal é um dos mais importantes exercícios de religiosidade católica! Nada nem ninguém consegue competir com a alucinação dos crentes.         Jesus Cristo laico: Imagine-se como seria a história universal se fosse escrita com tamanha pormenorização como são relatados os actos bíblicos que chegam ao "rigor; do tempo, da hora e da forma falada, dos costumes e do tarifário das mercadorias! Não tarda teremos a Bíblia em vídeo e então poderemos ver e ouvir todos os pormenores, as línguas, as falas, as inflexões, as vestimentas, as condições meteorológicas, os costumes, os vícios, etc., mas só e somente no médio oriente e Egipto porque a corte celestial nunca foi Ao norte da Europa, à Ásia, à África, às Américas, à Antártida e nem à Lua!               Simão  > Jesus Cristo laico: Foi, pois. A Igreja que Cristo fundou já chegou ao mundo todo.          Manuel Ferreira21: É interessante como nos motiva para os mistérios da fé e nos leva a ler tudo e a voltar atrás para uma segunda leitura mais enriquecedora. Obrigado.        Soares Loja: Caro Pe. Portocarrero de Almada, aprecio muito o que escreveu. Um abraço              João Afonso: Quando acusaram Jesus de se sentar com más companhias, Ele respondeu dizendo que um médico deve procurar os doentes. Lembro-me sempre desta passagem bíblica quando leio grande parte dos comentários aos textos do padre Almada. Simão João Afonso: O médico deve procurar os doentes para lhes fazer o diagnóstico correcto e prescrever o tratamento adequado.         David Pinheiro: Quem é que sabe o que realmente Jesus disse? O que sabemos é que os evangelhos canónicos, apesar de baseados numa fonte comum, possuem contradições internas (e externas). Não era de esperar outra coisa de escritos muito posteriores à vida e ministério de Jesus, noutra língua, sabe-se lá quem os escreveu e que pessoas entrevistou (ou entrevistaram, podem ter sido vários autores de um mesmo evangelho). Por isso afirmar que Jesus disse isto ou aquilo é um tiro no escuro.              Liberal Assinante do Local: Como o padre Gonçalo Almada invoca a lógica e a razão, há que aprofundar esse ponto de vista. E o que ele diz tem lógica e é racional desde que o que está escrito no Novo Testamento, "cozinhado" trezentos anos após Jesus e de acordo com as conveniências dos cristãos, seja verdade. Assim sim, o padre tem razão. Mas, hélas, só assim. Alguns dos ateus mais empedernidos acreditam que Jesus nunca existiu, note-se. Pessoalmente pagaria bem caro por um bilhete de ida e volta para a Judeia na Páscoa do ano 33 (?), para poder saber o que realmente se passou! E acrescento, se confirmasse a história bíblica, voltaria como cristão.           Simão Liberal > Assinante do Local: Que Jesus de Nazaré existiu, a opinião académica (mesmo a não cristã) não podia ser mais clara: sim, existiu. Esta concordância avassaladora entre os académicos até pode estar escondida do público em geral devido aos polemistas pop que muito gostam de se promover, mas é uma concordância real e amplamente substantivada. Nos departamentos universitários relevantes, a questão está tão encerrada quanto é possível estar quando o tema é a historiografia do mundo antigo. Sobre a alegação de que o Novo Testamento foi escrito séculos depois dos factos que diz relatar, também é falso. Está hoje bem estabelecido, mesmo entre os académicos não cristãos, que os vários livros do NT foram escritos num período não superior a um século após a morte (e Ressurreição, acrescento eu) de Jesus. Mais debatido é se o NT foi alterado sucessivamente ao longo desse primeiro século, deixando-nos no escuro relativamente ao que terá acontecido, ou se pelo contrário narra fielmente os acontecimentos com base em prova testemunhal directa. O que cada um que se queira dedicar a investigar este assunto em profundidade poderá verificar com os seus próprios olhos é que o que os académicos partidários da primeira solução fazem, invariavelmente e sem exceção, é partir do pressuposto de que os milagres não existem (ou pelo menos de que não podemos confiar num relato de milagre) e que, consequentemente, todos os relatos de milagres do NT têm de ser cortados. E depois aí cada um tenta adivinhar o que lá estaria escrito no princípio, antes de os cristãos começarem a "inventar" os milagres todos. Pena só duas coisas: esta tese não é sustentada pelos documentos históricos; e constitui uma gigantesca falácia de petição de princípio (assumir como premissa a conclusão que se pretende defender). A Fé Cristã sempre apostou as fichas todas num facto histórico: a Ressurreição. Esta sempre foi (logo desde o início) o pilar central da Fé para todos os cristãos, daí que até o próprio São Paulo os tivesse de alertar contra as influências pagãs que negavam que o corpo fosse um constituinte intrínseco da pessoa humana, ideias de resto muito comuns no Império Romano de então, e como tal contrariavam a Ressurreição (1 Cor 15:14). O ponto aqui é que os cristãos sabiam que não tinham nada a ganhar em inventar uma suposta ressurreição, pois isso seria para eles estar a admitir que a Fé era falsa, e portanto assim também nunca se teriam convertido a ela em primeiro lugar (visto que também não teriam nada a ganhar com isso, certamente pelo menos nos primeiros séculos). Leituras aconselhadas: The Case for Jesus, de Brant Pitre (nível introdutório); Jesus and the Eyewitnesses, de Richard Bauckham (nível académico).         josé maria: Sondagens meramente canónicas porque as apócrifas, segundo a Igreja Católica, já não valem, não interessam, nem ao menino Jesus...          Simão > josé maria: As sondagens apócrifas foram logo unanimemente denunciadas na sua época por terem sido encomendadas. Ao contrário das canónicas.       Elvis Dwayne > josé maria: De sondagens (e como manipulá-las) percebe bem o teu Partido.           josé maria > Elvis Dwayne: As sondagens não canónicas foram apenas aquelas que não se encaixavam na narrativa interesseira da Igreja Católica.              João Paulo Reis: O testemunho do Pe. Gonçalo invocando os Evangelhos são como um regar da nossa alma em tempos de grande prevalência de uma contracultura woke que tudo nega e relativiza. É de capital importância que existam e se mantenham na esfera pública vozes como a do articulista. Obrigado!              Ahmed Gany: Somos todos (na condição) "filhos de Deus" e "filhos do Pai" e Jesus não é excepção:  -Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados “Filhos de Deus". - Eu porém vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem para que sejais “filhos do Pai” que está nos Céus”. Mateus 5.            Antes pelo contrário > Ahmed Gany: Em resumo: os "filhos do Pai" devem amar e orar pelos "filhos da Mãe"... Tanta patetice. E já agora, quem venceu mesmo as eleições há 2 mil anos foi Barrabás... e não foi uma sondagem.           Ahmed Gany > Antes pelo contrário: Segue o teu desejo e deixa os "patetas" em paz.             Simão >  Ahmed Gany: Mas Jesus é Filho Unigénito do Pai (isto é, o único que é gerado). Os demais filhos de Deus são filhos adotados; esta adoção está disponível para todos, mas é necessário que cada um a aceite.             Elvis Dwayne > Simão: Na verdade (e segundo o conceito da Santíssima Trindade), Jesus (mais do que filho) é, em conjunto com o Espírito Santo, parte do todo formado pelo Pai. Quanto ao sermos "filhos adotados", não sei se é a melhor expressão. Segundo o Génesis, foi Deus que nos deu vida, que nos criou. O uso da expressão "filhos adotados", sugere (erradamente) que somos originados de algum outro deus, ou que surgimos de forma espontânea e entretanto fomos adotados (ou como disse, foi nos concedida essa opção) o que é um pouco bizarro. Cumprimentos.           Simão >  Elvis Dwayne: Num sentido filosoficamente estrito, Deus é Pai de toda a criação na medida em que toda ela tem origem em Si. Mas há outro sentido dessa palavra. No sentido teológico que é relevante para a Fé Cristã, Deus é Pai só daqueles que querem ser Seus filhos. Sobre a Santíssima Trindade é que considero mesmo necessário ser-se um pouco mais preciso com os termos utilizados, uma vez que Deus é indivisível e Nele não existem partes: Deus é uma Trindade de Pessoas que partilham a mesma substância. Cumprimentos.

sábado, 30 de outubro de 2021

Decisão

 

É certo que ainda há quem cante “O que faz falta é animar a malta, o que faz falta…” E, entre esses que cantam, estão aqueles, que Alberto Gonçalves  descreve como definitivamente ruinosos para o país…

Mas o que faz falta é, definitivamente, ensinar a malta, para que a malta tome, definitivamente, consciência do que lhes/nos falta.

Mas Alberto Gonçalves não crê nisso, ai de nós. A invernia está instalada e tudo não passa de bluff...

Por morrer uma geringonça não acaba o Inverno

Se é compreensível celebrar durante cinco minutos a queda de Costa e seus acólitos, seria tonto ignorar que a queda é simulada, e que essa gente nunca abdicará do poder com civilidade.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 30 out 2021

A certa altura do debate do Orçamento, o ministro da Economia impacientou-se: “Desde 2015 o salário mínimo em Portugal aumentou um terço: 32%. A Alemanha já não aumenta o salário mínimo há anos!A Alemanha apenas tem salário mínimo desde 2015. De então para cá, aumentou-o ligeiramente cinco vezes, para o montante actual de 1.585 €. Claro que a Alemanha é a Alemanha e Portugal, coitados de nós, é Portugal. E a Venezuela, que no mesmo período aumentou o salário mínimo uns 800%, para os 3 euros em vigor (compram um queijo e um litro de leite), é a Venezuela. Não é esse o ponto.

O ponto é o seguinte: no debate de quarta-feira, o PS e o governo, que habitualmente mentem imenso, aproveitaram para mentir com redobrado empenho. Um espectáculo, não necessariamente digno. Pintou-se, com rolo de trolha, o retrato de um país à beirinha do Paraíso. Para atingir o Paraíso bastava meramente corrigir alguns pormenores herdados da Idade das Trevas, leia-se o Tempo do Passos. Por acaso e talento, as correcções chegariam com o novo Orçamento, que ergueria de vez a nação a uma plenitude virtuosa. Por maldade e azar, o Orçamento acabou rejeitado.

O dr. Costa não queria outro desfecho. Lendas à parte, a criatura percebe que reduziu isto a cinzas. O caldo de compadrios e ideologia amanhado pela frente de esquerda pegou num país combalido pela bancarrota anterior (a de Sócrates, lembram-se?) e atirou-lhe uma bigorna à cabeça. É particularmente engraçado que PS e governo tentassem vender o Orçamento como o “mais à esquerda de sempre”, portanto o “melhor de sempre”. Conhecem aquela empresa de revestimentos que publicita com orgulho o reforço da percentagem de amianto? Não conhecem porque não existe. Inacreditavelmente, os socialistas existem.

Ao invés do que se pensava, o “bluff” orçamental não veio de qualquer dos partidos comunistas: veio do PS e do governo, que enquanto fingiam vender o Orçamento rezavam para que ninguém o comprasse. Perante a desgraceira que se instalou e a desgraceira maior que não tarda a instalar-se, a intenção do dr. Costa consistiu em despachar a culpa para os ingratos que, além de não agradecerem devidamente as prodigiosas conquistas anteriores, recusaram as conquistas futuras.

Apesar das dificuldades linguísticas, o homem tem uma ideia do buraco em que nos enfiou, agravado pelas brincadeiras nacionais e internacionais alusivas à Covid. Nos próximos meses, que não serão bonitos, o Orçamento enjeitado justificará tudo. Tudo o que corra mal será responsabilidade dos bandalhos que ignoraram o interesse nacional em prol de – nojo profundo – estratégias partidárias. Ou seja, a única especialidade do dr. Costa. Entretanto, o dr. Costa ou vai à maioria absoluta, para se libertar de dependências e torrar a “bazuca” em paz, ou vai para o cargo “estrangeiro” e de “prestígio” para que se julga habilitado. Ou não vai a lado nenhum e depois logo se vê. Não sendo um plano brilhante, demonstra confiança na, digamos, candura do seu eleitorado potencial. E na fidelidade dos “media” sustentados pelo Estado e engajados pela crendice.

A imprensa amiga não demorou. Na quinta-feira, a manchete do JN berrava, assustadíssima: “Chumbo do Orçamento trava ganhos de mil milhões para as famílias” (chiça, por um triz). No “Público”, o pavor e a manchete não cabiam na página:Portugal forçado a ir a votos” (e assim minar a democracia). De brinde, o interior deste diário enumera as medidas progressistas e estupendas ameaçadas pelo “chumbo” (ó inclemência, ó martírio). Televisão não vejo, mas as “redes sociais” fervilhavam de alegados eleitores do BE e do PCP (principalmente do BE) que juravam conversão ao PS. Eis uma amostra do que está para vir.

Caso eu conseguisse ter pena de fanáticos, teria pena de ambos os partidos comunistas, o original e a seita. Se continuassem a aliança com o PS, continuariam a encolher por redundância. Ao desfazer a aliança, arriscam-se a ser desfeitos pela propaganda de quem possui meios quase ilimitados. Quando o dr. Costa “derrubou o muro”, a extrema-esquerda não passou para o lado de cá: o PS passou para o lado de lá por conveniência e convicção. E ocupou sem hesitações o espaço dos inimigos da democracia. Com uma excepção: a “Europa”, que PCP e BE desprezam e de que o PS necessita por razões, vamos lá ver, financeiras. Foi a “Europa”, e as respectivas imposições, que serviu de pretexto à ruptura. A ruptura, palpita-me, servirá melhor o PS do que os ex-companheiros de estrada.

Não precisávamos do debate do OE para descobrir a desmesurada ausência de escrúpulos do dr. Costa e dos seus acólitos. E se é compreensível celebrar durante cinco minutos a queda dessa gente, seria tonto ignorar que a queda é simulada, e que essa gente, dona de um apetite voraz, nunca abdicará do poder com civilidade. O passo atrás visa dar muitos passos à frente, cada um a esmagar-nos no caminho. Essa gente é boçal, falsa, inapta, prepotente, ignorante e desonesta? Sim, sim, sim, sim, sim. E sim. Infelizmente, sobra-lhes em ganância o que lhes falta no resto.

Também falta ao PS concorrência. Até aqui, não falei na “direita”. Para dizer o quê? Não imagino aquilo que, hoje, a “direita” é ou pretende ser. Há por aí uns suspiros e uns desabafos e umas intrigas. Não há, que se veja, o esboço de um “projecto” (desculpem). A oportunidade caiu-lhe no colo: ou a “direita” arranja rapidamente juízo, e um milagre, ou o abençoado fim da “geringonça” pode tornar-se o início de coisa igual ou pior. Eu sei que pior parece impossível, mas, à semelhança de quatro quintos das palavras, “impossível” não consta do dicionário do dr. Costa. Antes de festejar, convém à “direita” ganhar a guerra. E antes ainda convém entrar na guerra.

CRISE POLÍTICA   POLÍTICA   PS   ORÇAMENTO DO ESTADO   ECONOMIA

 

Somos assim


Nem a Lei de Lavoisier se nos aplica, na parte que se refere à transformação da matéria. Por isso se não perderam os tais seis anos segundo o título da excelente crónica de Rui Ramos e de tantos excelentes comentadores. Não, as transformações que foram feitas tiveram o seu resultado, outras virão, se vierem, que não é certo que venham, a matéria – e a alma – que nos justificam como povo, no contexto das demais nações, fazem que nos deixemos sucumbir nas tentações do mais fácil, e há muito que o seguimos, e o permitimos, desmazelados e comodistas. Mas estive a ouvir os cantores da nossa Amália, e estou-lhes grata, pela beleza criada por todos eles e seus instrumentistas, na gala do primeiro centenário de tão extraordinária figura que nos coube. Foi bonito, como sempre, muitas coisas temos de excelência, incluindo o sol mesmo quando, “em vez de criar, seque”…

Será que vem aí uma nova fase? De um batalhar consistente? De respeito pelos compromissos?

Há muitos comentadores que discordam das justas indignações de Rui Ramos e seus afins… Com inúmeros seguidores, desses tais,  facilitadores...

Seis anos perdidos

A geringonça dividiu e enfraqueceu a sociedade: criou uma economia que não cria riqueza, antes reparte a pobreza; gerou uma cultura que não procura o que é comum e agrega, mas o que separa e tribaliza

RUI RAMOS

OBSERVADOR, 29 OUT 2021

Se alguma coisa aprendemos nos últimos vinte e cinco anos, é que o Partido Socialista nunca sai do governo quando as coisas estão a correr bem. Bem sei: há quem prefira fingir que os únicos problemas da geringonça estão na suposta arrogância de António Costa ou numa suicidária obstinação do Bloco de Esquerda ou do PCP. Querem divertir-se com psicologismos, ou perceber o que realmente se passou? Leiam então a notícia sobre o hospital de Braga. Depois de Setúbal, mais uma demissão em massa num estabelecimento do SNS, por falta de investimento. Não, as coisas não estão bem, e António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa sabem. A conversa sobre o PRR, em que o PS insistiu durante a campanha autárquica, escondeu as más perspectivas. Mas o PRR não vai diminuir o tempo de espera para uma operação no SNS, nem o preço da gasolina, nem as taxas de juro, se a inflação as fizer subir.

Não, não foi por causa das leis do trabalho ou do salário mínimo que a geringonça correspondeu ao desafio do Presidente da República para provocar eleições. Foi porque calculou que, nos próximos anos, este é, apesar de todos os riscos, o melhor momento para ir a votos. Antes que as dificuldades criem mais descontentamentos, e sobretudo antes que se torne ainda mais evidente o que muita gente vai percebendo ao fim de seis anos de “geringonça”: que as esquerdas portuguesas, unidas ou separadas, não têm uma única ideia para o país, para além do estica aqui e do corta ali de uma pobre ginástica orçamental completamente condicionada pela dependência financeira externa a que o endividamento socialista submeteu o país. Segundo contas do semanário Expresso, desde 2016 que ficaram por executar 4 mil milhões de euros de investimentos públicos. A classe média continua a pagar mais IRS do que antes de 2011. Foi assim que se governou: mantendo o aperto fiscal e cortando investimentos, num regime de austeridade escondida. Para quê? Para concentrar os recursos a tentar converter os dependentes do Estado num rebanho eleitoral que os conservasse no poder. Mais nada.

A geringonça dividiu e enfraqueceu a sociedade portuguesa: criou uma economia que não trata de criar riqueza, mas de repartir a pobreza; gerou uma cultura que não procura o que é comum e agrega, mas o que separa e tribaliza. O seu horizonte é de uma triste mediocridade: a mediocridade de uma sociedade em vias de se tornar a mais pobre da UE, sem meios de empregar os mais qualificados; a mediocridade de uma classe política que já não acredita em nada, a não ser em agarrar-se ao Estado; a mediocridade de um país sem qualquer intimação de grandeza histórica, depois da criminalização do seu passado segundo modas ideológicas importadas dos EUA.

Os últimos seis anos foram um tempo perdido. Em 2015, o país tinha reconquistado a confiança dos seus credores. As exportações cresciam. Nos anos seguintes, os grandes bancos centrais conservaram as taxas de juro baixas. Como teria sido, se tivéssemos tido um ambiente favorável ao trabalho e ao investimento, sem o colete-de-forças fiscal e regulatório? Países pobres da Europa mostraram como poderia ter sido. Mas não foi. Há agora uma oportunidade, não apenas para a alternância no governo, mas para a regeneração das instituições, da economia e da sociedade. Isso precisará de tempo. Daí não haver pior maneira de começar do que com umas eleições improvisadas à pressa, em que nenhuma liderança se pudesse afirmar nem desenvolver um projecto alternativo. Seria mais uma oportunidade perdida, a garantir que os próximos anos também seriam perdidos.

CRISE POLÍTICA   POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

Joao Mar: Excelente.          Mario Almeida:  “Concentrar os recursos a tentar converter os dependentes do Estado num rebanho eleitoral que os conservasse no poder.”O PS in a nutshell. A Rui Ramos li a obra, hoje canónica, dos dias do fim do constitucionalismo monárquico (e da bandalheira anárquica promovida pelos antepassados políticos do PS lavadinha mais branco pelos seus descendentes chamada Primeira República) parte da História de Portugal de José Mattoso. Vivemos também hoje dias finais de qualquer coisa que já acabou mas ainda não sabe e Rui Ramos tem tudo para ser o seu cronista.           maldekstre estas kaptilo: Eu corrigiria o título para ‘47 anos perdidos (com pequenos interlúdios de achados’, fazendo apenas pequenos retoques e ligeiras adaptações no texto.         Marco Gomes: " A ineptocracia é o sistema de governo no qual os menos preparados para governar são eleitos pelos menos preparados para produzir, e no qual os menos capazes de se autossustentar são agraciados com bens e serviços pagos com os impostos e confiscos sobre o trabalho e riqueza de um número decrescente de produtores" Jean d ´Ormesson.  Portanto, os que nada sabem e pouco produzem põem no poder os que pouco sabem e nada produzem, para que estes administrem as riquezas, os bens e os serviços confiscados daqueles que algo sabem e algo produzem!          Alfaiate Tuga >Marco Gomes: Parabéns pelo comentário. Em Portugal é mais grave, é que de confisco em confisco já há poucos a quem confiscar, os que pouco sabem e nada produzem para além do confisco já vivem de esmola da UE. O problema é que parece que os que pouco sabem e nada produzem já são tantos que a esmola mais o confisco já não chega para os alimentar a todos. Foi exactamente a perspectiva das tetas não chegarem para alimentar tanta boca (estão a secar), que levaram o PCP a virar a mesa para não ser associado à falta de leite que aí vem. 

Sérgio: Parabéns, como sempre fabuloso.          jorge espinha: Não são 6 anos perdidos. É uma vida. Sejamos honestos. Enquanto nós continuarmos a eleger essa gentalha que nos promete rios de mel e chuva de ouro a seguir a governos de direita que ficam com o ónus de impor medidas duríssimas. Que esperança há para o país. Devíamos ter reforçado o nosso compromisso com a coligação de direita mas demos em vez disso uma maioria à esquerda de seguida reforçamos essa mesma maioria atingindo quase 2/3, à beira de poderem mudar a constituição! O problema somos nós. Talvez as gerações mais jovens tenham mais juízo.        Manuel Rodrigues: Esta degradação cultural, social, económica de facto tem  2 grandes culpados  Costa  e seu protector Marcelo Seis anos de danos terríveis infligidos  ao nosso Povo. Com maior  distanciamento   temporal a História os julgará          Antes pelo contrário: "A geringonça dividiu e enfraqueceu a sociedade: criou uma economia que não cria riqueza, antes reparte a pobreza; gerou uma cultura que não procura o que é comum e agrega, mas o que separa e tribaliza":  Lapidar. Todavia não foram 6 anos. Já vai em 47 anos!!! Pois desde 1974 que este país empobrece "graças" ao socialismo e à esquerdalhada, que mesmo quando não são governo conseguem impedir os outros de governar e de criar riqueza.         josé maria: Segundo recente sondagem da Eurosondagem, o PS subiria de 108 para 109 deputados, o PSD desceria de 79 para 77 e o CDS desceria de 5 para 1. Como é previsível, os maiores perdedores, para além do CDS, seriam o BE e a CDU, mas a esquerda continuaria a ser preponderante, com 126 deputados, contra 104 da direita. Será que, depois do arrufo do OE 2021, ainda vamos ver a Mariana Mortágua como ministra das Finanças de um governo de coligação PS+BE+CDU e eventualmente PAN ? Pelos vistos, segundo essa sondagem, a direita continuaria na mó de baixo e fora do arco da governação. Ou seja, permanece sem constituir qualquer alternativa de governo. Se o PS não obtiver maioria absoluta, provavelmente iremos ter um governo de coligação do PS com os partidos da esquerda radical e o PAN a viabilizar os orçamentos de estado ou também a integrar o Executivo. Quantos mais anos de azedume para ruis ramos e afins ?         antonyo antonyo: É de notar que os problemas no Hospital de Braga começam quando a gestão deixa de ser privada . E de esta administração já ter recebido mais verbas de apoio… Viva o socialismo e a administração pública !            Pontifex Maximus: Há 20 anos que deixei de votar (votava em regra CDS), pois não acredito nada nestes saloios que nos governam. Agora, estou a ponderar se valerá a pena voltar a votar e se o fizer será unicamente e apenas no IL. Dito isto, que fará de melhor uma geringonça de direita? A reforma de estado numa folha de papel do Portas? Prometer rever o sistema autárquico e depois juntar meia dúzia de juntas de freguesias? Prometer vender a RTP, para passar a promessa de venda de um canal dela e depois ainda lhe acrescentaram a RDP? Alienar a soberania aérea do país a um partido comunista (chinês)? Dizer que a Europa obrigava a vender a golden share na EDP (ao mesmo partido comunista) mas ainda hoje a Alemanha mantém a sua na esfera pública (e os franceses, etc.)? Impor um enorme aumento fiscal sobre a classe média e depois fugir para Nova Iorque para enriquecer e não pagar um cêntimo de impostos (lembrem-se do Gaspar, o primeiro Ronaldo das finanças)? Enfim, duvido mesmo que isto se resolva com estes actores e neste ambiente pseudo democrático              Barra D'Aço > Pontifex Maximus: Vender a EDP e a ANA foi o PS do Senhor Sócrates que se comprometeu para receber o dinheiro da Troika (injecção de 78.000.000 euros). Pena que a esmagadora maioria dos Portugueses não se lembra do básico sobre o seu país e depois entrem na conversa da esquerda... Antes pelo contrárioBarra D'Aço: Não foram 78.000.000 euros. O Resgate foram 79.005.000.000 euros!!! Setenta e nove mil e cinco milhões de euros. E o PS já se tinha comprometido a vender isso tudo em 2010, com o PEC III, e foram todas essas medidas que ficaram nos Memorandos!!!        maldekstre estas kaptilo: Não vai servir de nada mudar de Governo, como não serviu termos tido PPC ou Cavaco ou outro qualquer. O país está em ruínas (e não só económica) pelas mãos dos mesmos parasitas, incompetentes e traidores de sempre. Quem vier a seguir terá sempre de tomar medidas que provocarão a "inconstitucionalidade", as "greves" a torto e a direito e por tudo e por nada, a cobertura massiva por parte dos "media" de que agora (mas só agora!) há fome e emigração (os "imigrantes" ou "migrantes" já serão irrelevantes), a "indignação" por parte dos autênticos palhaços-parasitas que são o pessoal da "cultura", e a terminar ("last but not the least") com a vergonha de opiniões emanadas pelos corruptos morais da academia (ISCTE, Coimbra, e por aí fora). Mesmo assim conseguir-se-á (como entre 2011-2015 se conseguiu), e contra esses autênticos TRAIDORES, algumas reformas e alterações importantes para o futuro do país. Só que por isso mesmo logo de seguida o PS ganhará as eleições, com ou sem maioria. E volta tudo ao mesmo, num ciclo vicioso e looping infinito. A única coisa que agarra Portugal à civilização nada tem a ver com o nosso mérito, trabalho, qualidade, esforço, dedicação, criatividade. Foi um bambúrrio de sorte geológica que nos prendeu à Europa geográfica e acima de tudo financeiramente (com os "camelos" dos Alemães e Holandeses a sustentarem-nos mesmo sendo constantemente ofendidos), caso tivesse sido a África seríamos iguais ou pior do que Marrocos. Portugal nunca passará desta cepa torta.     Clarisse Seca: Excelente análise. O Sr. Presidente que deixe de se agarrar aos náufragos por culpa própria,  que só criaram mais pobreza, seguindo os preceitos do seu padrinho Sócrates de quem são discípulos,  e trate de uma vez por todas do futuro do país. Selfies e beijinhos não levam a nada. Dissolva de uma vez o Parlamento e deixe que os partidos se preparem para  escolhermos melhor   destino em  favor de todos os Portugueses. O socialismo já afundou muito o país. O Primeiro-Ministro mentiu tanto ao país, que acabou morrendo pela boca, face aos parceiros antieuropeus comunistas.          João Diogo: Excelente texto.          MANUEL OLIVEIRA: Preciso, conciso e assertivo este artg de opinião de RR. Nem mais nem menos o que tento dizer a quem me rodeia, aos que se sentam à minha mesa, aos que convivem comigo (poucos mas bons). Mas pergunto: que % de portugueses conseguem entender as ideias deste excelente artigo? Quantos se preocupam com o dia de amanhã? Vamos tentar esclarecer os quase 60 % que não votam e atirar pela borda fora os 5 + 7 % de iluminados e progressistas que vivem à custa do OGE (à memória do Prof Medina).         Joaquim Rodrigues: O que é dramático constatar, ao fim de 6 anos de Governo, é que o Costa, não tinha nem tem, qualquer "Visão", qualquer desígnio "Estratégico", qualquer "Projecto" para o País. O "artista" COSTA, depois de ter traído o seu camarada Seguro e de, contra o que era a tradição democrática do PS e da “Governação” em Portugal, se ter aliado à extrema esquerda, BE e PCP, em vez de viabilizar o “Governo” do Partido democrático mais votado, traiu sem qualquer pejo, o eleitorado democrata do PS. O "artista" Costa estava farto de saber, pela boca de Mário Soares, que havia “uma linha vermelha” que separava o BE e o PCP dos partidos democráticos! Como bom oportunista, aquela foi a escapatória que conseguiu arranjar, para tentar salvar a sua carreira política. Na verdade, ao “passar aquela linha vermelha” foi ele que criou as condições objectivas para que aparecesse o “Chega” que depois usou como balão de oxigénio para sobreviver e agora vai usar como “espantalho fascista” para tenter tirar votos ao centro/direita. O “Chega” é um subproduto do Costa. Agora, o artista Costa, depois de ter traído o voto da maioria dos eleitores do PS, ao aliar-se, contranatura e contra qualquer lógica democrática, com os inimigos da liberdade, da democracia, da NATO e da União Europeia, engendrou mais uma artimanha para, aproveitando o momento da aprovação do Orçamento de Estado, tentar uma “saída limpa” do “Gueto” em que se meteu, nem que isso signifique, uma vez mais, um enorme prejuízo para o País. Costa já tinha começado a campanha eleitoral para as Legislativas na campanha das Autárquicas. Costa já há muito que, ardilosamente, tinha decidido “trabalhar” para o chumbo deste Orçamento de Estado. Para isso contou e conta com três trunfos: 1) a acusação aos companheiros de viagem, a quem deu boleia, de empanarem a "geringonça", vitimizando-se e deixando-os apeados; 2) o aproveitamento da desorganização dos partidos do centro/direita, que ele esperava agravar, com os resultados das Autárquicas; 3) o uso e abuso da "Bazuka", como instrumento de chantagem sobre os eleitores, já nas Autárquicas, mas visando acima de tudo as Legislativas. O único percalço neste percurso foram os resultados das Autárquicas, mas não suficientemente forte para fazer o "artista” Costa mudar de rumo. Mas Costa continua sem apresentar uma Visão e um Programa Político para o País. O único Programa que o Costa conseguiu, até hoje, apresentar ao País, foi o Programa das Reversões.           Joaquim Rodrigues > Joaquim Rodrigues: A propósito da “Bazuka” o que é espantoso constatar é a irresponsabilidade, não só dos nossos Governantes como dos Políticos, Analistas, Articulistas, Colunistas, Politólogos e similares que tinham obrigação de denunciar situações como esta. O Sr.Costa, contra o que é a essência do funcionamento de uma “democracia”, anunciou ao País, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que tinha contratado um tal de Costa Silva, após ter visto uma entrevista sua na TV, para a definição de uma “Estratégia” e de um “Plano” para o País. Então o Sr. Costa, que era Primeiro Ministro há 5 anos, em representação de um Partido que nos últimos 25 anos foi governo durante cerca de 18 anos, ele e o seu Partido, não tinham uma “Visão” e uma “Estratégia” para o País, nem tinham capacidade para “Rever e Actualizar” essa “Estratégia” à situação decorrente do Covid? A primeira responsabilidade de qualquer Partido Político é, à luz da respectiva Ideologia e Princípios Fundacionais, apresentar um Plano Estratégico para o País, elaborado para um horizonte de longo prazo (40/50 anos), o qual é revisto e actualizado de 4/5 em 4/5anos (ou quando algum acontecimento excepcional o justifique), no momento em que se define o Plano de Médio Prazo, a “base” do respectivo Programa Eleitoral. Tendo acontecido o caso “Covid”, um acontecimento excepcional, o que seria natural era que o PS e o Sr. Costa tivessem feito a revisão e actualização do Plano Estratégico (de longo prazo) e definido um novo Plano de Médio Prazo, à luz do qual se elaboraria o chamado PRR/Bazuka. Essa seria uma responsabilidade inalienável do Partido Político que estava a Governar o País, socorrendo-se, “por sua conta e risco”, dos “especialistas” que quisesse. É para isso que servem os Partidos Políticos! É essa a “responsabilidade” de qualquer Partido Político perante os “cidadãos”. Não se vai contratar um Costa e Silva qualquer para,” do nada e a partir do nada”, fazer uma “Bazuka”, que ainda ninguém sabe muito bem o que é, mas que já serviu, nas Autárquicas e vai servir nas Legislativas, para chantagear os cidadãos/eleitores. Qual a “Estratégia” que estava ou está a ser prosseguida pelo Sr. Costa na qual a “Bazuka” agora se integra? Nem eles sabem para onde apontar a “Bazuka”. Esta forma de fazer política é a forma de enganar os eleitores e os cidadãos e de perpetuar o atraso do País. Eduardo Fernandesjosé maria: Vinte anos de Governação Socialista desde 1995 (a corrupção compromete o desenvolvimento dos países) : "Tendo a economia portuguesa crescido mais lentamente que as dos nossos parceiros europeus, os portugueses viram o seu nível de vida baixar em termos relativos. Com efeito, o PIB per capita em PPC correspondia em 2017 a 54% da média da UE14, cerca de 10 pontos percentuais abaixo do nível atingido em 2000 e abaixo dos 55% observados em 1988. De entre os “países da convergência” das décadas de 1980 e 1990, só a Grécia apresenta pior desempenho (-13 p.p.), enquanto a Espanha está ligeiramente melhor (+1,8 p.p.) e a Irlanda teve um desempenho espetacular (+46 p.p.), só interrompido entre 2008 e 2011. Dado o fraquíssimo desempenho da economia portuguesa no século XXI, urge encontrar formas de dinamizar o crescimento económico e retomar uma trajetória de razoável convergência de rendimentos com os nossos parceiros da União Europeia (UE)." Universidade do Minho Outubro de 2019!       Filipe Paes de Vasconcellos: Mais uma vez o Presidente da República claudica perante os interesses da esquerda e da extrema dela. A estabilidade que enche a boca do PR seria manter este governo até ao fim da legislatura e aguardar que Costa apresentasse novo orçamento . Costa, Martins e o Sousa (PS+BE+PCP) deveriam  beber todo o seu veneno até à  última gota, e governarem com uma verdadeira oposição. Pena é que o nosso País não aguente mais está gentalha no poder.            L CM: Não é nenhuma surpresa...a governação socialcomunista jeringonçada é o que traz...ataque à "maldita" iniciativa privada, seja empresário individual, micro, média ou grande empresa e subsidiação repartindo o que não temos na ilusão do "tudo gratis" com um empobrecimento gradual dos cidadãos...quem coloca o papelinho na urna é importante que abra bem os olhos...talvez seja esta a ambição do nosso povo...ou não.          Gonçalo Leite: Os Portugueses preferem a mentira, como se fosse mudar alguma coisa do futuro...            Ramiro Santos Silva: Verdades cruas como punhais. Ninguém se queixe…são as escolhas que o povo fez. Esse mesmo povo que vota maioritariamente à esquerda é mesmo o mais prejudicado. É um estranho masoquismo mesmo. Um País que não cria riqueza e que se limita a gerir a pobreza, vai ser cada dia mais pobre. É um ciclo vicioso, onde a pobreza a distribuir será cada vez menor, onde seremos (quase) todos pobres. Siga o masoquismo, em Fevereiro veremos.           Alberto Rei: Excelente crónica R.Ramos. Bem haja. Sem prejuízo da liberdade de opinião, não tarda estão aí os comentadores do costume a dizer que não, e acenam com percentagens e tal, a querer convencer a malta que vivemos num paraíso, O presidente, dá cobertura a este golpe, não tem qualquer interesse pelo país. Bom trabalho, Rui Ramos.         Américo Silva: Bons dias. Hiperativo, verborreico e fanfarrão, Marcelo chegou do Brasil profundamente afetado pelas piadas ordinárias do Bolsonaro, de quem Portugal deve fazer queixa nas instâncias adequadas. Não, não deixem o Rangel ir ao Brasil, principalmente por alturas do carnaval, não regresse de lá o homem afectado. Pois Marcelo chegou, prometeu dissolver a assembleia, e destrambelhado desatou a fazer oposição ao líder da oposição, coisa nunca vista.              Paulo Cardoso: E, uma vez mais, Marcelo o Patético, tem tanta responsabilidade no estado das coisas, como Costa o Habilidoso.

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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Suprindo a pobreza dos noticiários


Ficamos, assim, gratos a Jaime Nogueira Pinto, que deles não precisa, senhor das suas próprias fontes, e dos seus próprios valores, que não se acobardam ante as mariquices demagógicas das poluídas mentes da contemporaneidade recente, numa União Europeia indiferente à natureza e às crianças, que produz e não respeita, na distorção pedante dos valores familiares, naturais, gramaticais (…) e usando da chantagem pecuniária para os impor, segundo os ditames de uma pseudo moral cobardemente justiceira e revanchista. Um formidável escrito acusatório que merece ser lido e repensado pelas sociedades que se dizem de superior virtude actual – afinal, a que lhes dá o poderio económico para a sua chantagem de  lustrosa “garantia” educacional.

A batalha de Varsóvia

A pretensão da Comissão Europeia de obrigar a Polónia a aceitar a Agenda Arco-Íris usando chantagem financeira pode desencadear um conflito que acaba mal para todos.

JAIME NOGUEIRA PINTO, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 out 2021, 00:17

Depois da campanha contra a Hungria de Victor Orbán, acusado de descriminar as pessoas LGBT por proibir propaganda de natureza sexual nos liceus e nas escolas com menores de 18 anos, chegou a vez da Polónia.

A ofensiva já vinha de trás, ou não estivesse o governo polaco do partido nacional-conservador Lei e Justiça, também empenhado em impedir a missionação da ideologia de género nas escolas. De resto, o tema tinha sido decisivo na eleição presidencial de Julho de 2020, que opusera Andrzej Duda a Rafal Trzaskowski, o actual presidente da Câmara de Varsóvia.

Trzaskowski, que então encabeçava a coligação Plataforma Cívica, endossara a causa da protecção e dos direitos especiais das minorias LGBT; Duda, apoiado pelo partido nacional-conservador Lei e Justiça, saíra em defesa da família tradicional e das maiorias. E Duda fora eleito presidente com 51% dos votos. Como?

Como, se Duda era um católico conservador contrário aos “novos direitos humanos” lavrados pela mão da “Ciência e do Progresso” e revelados aos escolhidos nos corredores de Bruxelas? Como, se Trzaskowski, o candidato vencido, era um leal europeísta, um centrista liberal com uma longa carreira na União?

Uma vez no poder na Polónia, o governo do Lei e Justiça encorajou a votação em mais de uma centena de localidades de “zonas livres de LGBT”, em nome da defesa das crianças. E o presidente Duda declarou que a ideologia LGBT era pior que o comunismo, reafirmando a sua oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à adopção por casais homossexuais.

A pressão externa da União Europeia não tardaria a afirmar-se. Em resposta, Bruxelas ameaçou cortar apoios financeiros às intolerantes municipalidades. No princípio deste mês, três comunidades locais – Lubelskie, Małopolskie e Podkarpackie – que tinham, em 2019, aprovado as resoluções a favor da não atribuição de subsídios às entidades LGBT para “proteger os valores da família heterossexual”, revogaram essas resoluções, cedendo à pressão europeia.

Conflito aberto

Há, pois, neste momento, um conflito aberto entre a UE e Varsóvia. Um conflito que conheceu o seu ponto mais alto quando o Tribunal Constitucional da Polónia, a 12 de Outubro passado, consagrou a prioridade do direito nacional polaco sobre o direito comunitário. Nessa decisão, pesou a tentativa externa de uma imposição em matéria de costumes contrária aos valores de uma nação católica, já sobejamente invadida e oprimida no século passado por alemães e soviéticos.

A Polónia é uma nação antiga e foi, entre os finais do século XVIII e o Armistício da Grande Guerra, em 1918, partilhada e ocupada por russos, prussianos e austríacos. Nesse dia 11 de Novembro, o marechal Pilsudski assumiu a liderança e, em 1919-1920, derrotou os bolcheviques que invadiram o país.

Na Segunda Guerra Mundial, a Polónia foi invadida e ocupada pelas tropas de Hitler. No final da guerra, em 1945, foi a vez dos “libertadores” soviéticos imporem o comunismo pela força, ali e em toda a Europa Oriental. Depois, a partir dos anos 80, os polacos, encorajados pelo Papa João Paulo II,  apoiados activamente pelos Estados Unidos de Reagan e guiados pelo Solidariedade, lançaram-se na resistência ao comunismo e foram um elemento determinante na implosão da União Soviética e na libertação do Leste Europeu.

Também a Hungria, com a revolução de Outubro de 1956, que agora fez 65 anos, foi um país resistente. Uma resistência que sempre assentou nas profundas convicções católicas do país e do povo, identidade que Bruxelas quer ignorar com a tentativa de imposição de novos “direitos humanos”.

Foi neste sentido a intervenção do cardeal alemão Muller, Presidente emérito da Comissão Teológica Internacional, que veio qualificar de “farsa trágica” as críticas das instituições europeias à Polónia e à Hungria, e críticas feitas em nome de pretensos “valores europeus”, como “o direito de assassinar uma criança por nascer ou a mudança de sexo”.

O cardeal lembrou que “a Polónia foi dos países que mais sofreram nos últimos duzentos anos, sacrificando uma enorme quantidade de vidas humanas pela liberdade, pelo Estado de Direito e pela democracia”. E lembrou ainda que “a Polónia não é um irmão mais novo que deva ser disciplinado por incompetentes políticos ocidentais. A Polónia salvaguarda a sua cultura, o seu sangue, a sua identidade étnica e a sua fé católica, tudo o que consolida a sua nação e constitui o seu coração”.

A supressão da dissidência

No conflito Varsóvia-Bruxelas está bem clara a linha de divisão essencial que se coloca, em termos políticos, às nações e aos Estados da Europa: é lícito e aceitável que uma Comissão não eleita popularmente, assumindo uma agenda minoritária, queira impô-la a uma nação que conta com um longo passado de opressão e imposição por parte de vizinhos poderosos?

O sentido de independência e resistência dos polacos esteve sempre vivo e teve a sua expressão cultural mais popular na música de Chopin, nas “Mazurkas”, no “Revolutionary Etude” e na famosaPolonaise”. Depois da insurreição popular de 1830-31, Chopin exilou-se em Paris, recusou o passaporte russo e não voltou à terra natal. Os russos proibiram então a sua música e, em 1863, destruíram o piano do seu tempo de menino-prodígio da música. Os nazis também proibiram a música do compositor polaco durante a ocupação e fizeram explodir em Varsóvia o “Monumento a Chopin”. E ainda tentaram germanizar Chopin, manipulando a sua ancestralidade.

A identificação da independência polaca com Chopin é paralela à identificação das óperas de Verdi com a luta pela independência da Itália. Como sublinhou Roger Scruton na Embaixada da Hungria em Londres, em Dezembro de 2019, ao ser condecorado por Orbán com a Cruz da Ordem de Mérito, a diversidade étnica, a identidade histórico-cultural e a divisão criativa das independências nacionais são a grande riqueza da Europa. São as diferenças culturais, muitas vezes baseadas em histórias traumáticas, que tornam a amizade entre as nações da Europa possível e preciosa.

Para Scruton, um pensador-chave da direita contemporânea, a Europa é um continente de Estados nacionais independentes e qualquer assimilação ou apagamento de fronteiras a desvirtua. E numa conversa com George Eaton, no New Statesman, defende a saída da Grã-Bretanha da União Europeia por considerar “as suas tentativas de confiscar a soberania nacional em todas as questões importantes” uma “supressão da política real.”

Esta concepção da Europa como uma aliança de nações politicamente independentes, voluntariamente unidas em matérias económico-financeiras e partilhando uma comum herança romano-cristã, está a ser posta em causa pela tentativa da Comissão Europeia de impor aos Estados membros programas de correcção político-social que violentam a identidade dos povos e dos governos por eles escolhidos.

O preço da chantagem

Perante o insucesso da luta jurídico-constitucional contra Polónia, Bruxelas recorre agora à chantagem dos fundos financeiros pós-Covid para vergar o governo de Varsóvia ao seu Diktat: o Tribunal de Justiça da União Europeia acabou de impor à Polónia uma multa de um milhão de Euros por dia. E o que vale para a Polónia, vale para o resto dos Estados europeus. Sobretudo para os Estados Europeus menos iguais e menos soberanos que os outros.

Neste admirável mundo novo o comunismo internacional de raiz marxista-leninista deu lugar a uma ideologia difusa que quer fazer “tábua rasa” de tudo o que impeça a livre circulação do “progresso”; e fá-lo já não pela imposição física e violenta de modelos socialistas totalitários, mas através de um processo gramsciano de desconstrução de valoresreligiosos, familiares e identitáriosem nome de uma global dissolução de fronteiras nacionais, sociais, pessoais, sexuais.

Os “valores” que a Comissão acabou agora autocraticamente de elevar a “valores europeus”, ignoram a polémica ideológica ou a contestação de rua e insinuam-se desde logo como “direitos naturais”; direitos naturais esses que deverão naturalmente ser aceites como grandes e inequívocas e inquestionáveis conquistas sociais. E quando a persuasão não funciona, vem a retaliação financeira – a arma que outrora, na tradição reivindicativa da Esquerda, era, por excelência, a arma de submissão imperialista ou capitalista contra os povos periféricos ou contra os proletários indefesos. Parece que agora são outros quem a usa.

Na nova batalha de Varsóvia, a defesa do governo da Polónia contra o Diktat arco-íris de Bruxelas a um povo católico que já resistiu a opressões de muitas cores, vai ser muito importante, se não decisiva. Esperamos para ver, mas não nos esqueçamos que, como no poema de John Donne, quando dobrarem os sinos de Varsóvia, será também por nós e por todos os povos da Europa que dobram.

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