De uma pessoa justa: Carlos Carranca. Texto enviado pela Rosinha.
Sendo a Bíblia um manancial de proezas
que logo desde o início pretende mostrar-nos uma Humanidade dependente de um Ser
Todo-Poderoso, que criou o Céu e a Terra, segundo a tentativa primeira de uma
justificação mítica de tudo o que é e como é, muitas das barbaridades que se
cometeram a mando do SENHOR – Sodoma e Gomorra, o Dilúvio Universal entre
essas – nos deixam perplexos, como injustiças inadmissíveis num pensamento
menos absolutista. Mas todos esses episódios de mistura de comportamentos, a
que não escapa o próprio Jeová, servem para as reflexões dos Homens – a de Camões, mais lírica; a de Carlos Carranca, num ideal mais filosófico de Justiça,
numa incompreensão que nos pareceria adequadamente universal, se não vivêssemos
iguais injustiças – desde sempre e para todo o sempre, afinal – o texto bíblico
revelador da necessidade de obediência a todo o mando, para que sobre nós
recaia a bênção do “Crescei e multiplicai-vos”…
De Camões:
«Sobolos rios que vão
Por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião,
E quanto nela passei.
Ali o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
Ali lembranças contentes
N'alma se representaram;
E minhas cousas ausentes
Se fizeram tão presentes,
Como se nunca passaram.
Ali, despois d'acordado,
Co'o rosto banhado em água,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado
Não é gosto, mas é mágoa
E vi que todos os danos
Se causavam das mudanças,
E as mudanças dos anos;
Onde vi quantos enganos
Faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura;
O mal quão depressa vem;
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura.
Vi aquilo que mais vale
Que então se entende melhor,
Quando mais perdido for:
Vi ao bem suceder mal,
E ao mal muito pior.
E vi com muito trabalho
Comprar arrependimento:
Vi nenhum contentamento;
E vejo-me a mi, que espalho
Tristes palavras ao vento.»
……………………….. (Redondilhas Babel e Sião)
«Carlos Carranca - 17.X.2018 -
Por mais voltas que dê ao episódio, por mais livros que leia sobre o tema, não
consigo chegar à suposta grandeza da fé e do acto, onde um pai, Abraão,
sacrifica (ou está disposto a isso) o seu único filho Isaac, como prova de
obediência e de amor absoluto a Deus.
Já muito se escreveu sobre isso. Kierkegaard na obra " Temor e
Tremor" tenta elucidar-nos sobre essa entrega em que tudo passa a valer
nada, comparado com o amor exclusivista, totalitário a que o Senhor obriga os
seus. E será por esta via que viremos a compreender o sentido último do homem?
Que actualidade nos reserva este momento? (ilustração do séc. XIII) Carlos
Carranca
NOTAS DE APOIO:
(Transcrito da INTERNET):
GÉNESIS, 22: A GRANDE PROVA: SACRIFÍCIO DE ISAAC”
E
aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão!
E ele disse: Eis-me aqui.
E
disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te
à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu
te direi.
Então
se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo
dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e
levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera.
Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe.
E
disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos
até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós.
E
tomou Abraão a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque seu filho; e ele tomou
o fogo e o cutelo na sua mão, e foram ambos juntos.
Então
falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu
filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o
holocausto?
E
disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho.
Assim caminharam ambos juntos.
E chegaram ao lugar que Deus lhe
dissera, e edificou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque
seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha.
E
estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho;
Mas
o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele
disse: Eis-me aqui.
Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada;
porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho.
Então
levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado
pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em
holocausto, em lugar de seu filho.
E
chamou Abraão o nome daquele lugar: o Senhor proverá; donde se diz até ao dia
de hoje: No monte do Senhor se proverá.
Então
o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus,
E
disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta acção, e não
me negaste o teu filho, o teu único filho,
Que
deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como
as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua
descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto
obedeceste à minha voz.
Gênesis 22:1-18
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