quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Pensamento recto

De uma pessoa justa: Carlos Carranca. Texto enviado pela Rosinha.

Sendo a Bíblia um manancial de proezas que logo desde o início pretende mostrar-nos uma Humanidade dependente de um Ser Todo-Poderoso, que criou o Céu e a Terra, segundo a tentativa primeira de uma justificação mítica de tudo o que é e como é, muitas das barbaridades que se cometeram a mando do SENHOR Sodoma e Gomorra, o Dilúvio Universal entre essas – nos deixam perplexos, como injustiças inadmissíveis num pensamento menos absolutista. Mas todos esses episódios de mistura de comportamentos, a que não escapa o próprio Jeová, servem para as reflexões dos Homens – a de Camões, mais lírica; a de Carlos Carranca, num ideal mais filosófico de Justiça, numa incompreensão que nos pareceria adequadamente universal, se não vivêssemos iguais injustiças – desde sempre e para todo o sempre, afinal – o texto bíblico revelador da necessidade de obediência a todo o mando, para que sobre nós recaia a bênção do “Crescei e multiplicai-vos”…

De Camões:

«Sobolos rios que vão
Por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião,
E quanto nela passei.
Ali o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

Ali lembranças contentes
N'alma se representaram;
E minhas cousas ausentes
Se fizeram tão presentes,
Como se nunca passaram.
Ali, despois d'acordado,
Co'o rosto banhado em água,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado
Não é gosto, mas é mágoa

E vi que todos os danos
Se causavam das mudanças,
E as mudanças dos anos;
Onde vi quantos enganos
Faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura;
O mal quão depressa vem;
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura.

Vi aquilo que mais vale
Que então se entende melhor,
Quando mais perdido for:
Vi ao bem suceder mal,
E ao mal muito pior.
E vi com muito trabalho
Comprar arrependimento:
Vi nenhum contentamento;
E vejo-me a mi, que espalho
Tristes palavras ao vento.»

……………………….. (Redondilhas Babel e Sião)

 

De Rosa Coutinho Júlio

17 de Outubro às 09:58

«Carlos Carranca - 17.X.2018 - Por mais voltas que dê ao episódio, por mais livros que leia sobre o tema, não consigo chegar à suposta grandeza da fé e do acto, onde um pai, Abraão, sacrifica (ou está disposto a isso) o seu único filho Isaac, como prova de obediência e de amor absoluto a Deus.
Já muito se escreveu sobre isso. Kierkegaard na obra " Temor e Tremor" tenta elucidar-nos sobre essa entrega em que tudo passa a valer nada, comparado com o amor exclusivista, totalitário a que o Senhor obriga os seus. E será por esta via que viremos a compreender o sentido último do homem?
Que actualidade nos reserva este momento? (ilustração do séc. XIII)
Carlos Carranca

 

NOTAS DE APOIO:

(Transcrito da INTERNET):

GÉNESIS, 22: A GRANDE PROVA: SACRIFÍCIO DE ISAAC”

E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.

E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.

Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera.
Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe.

E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós.

E tomou Abraão a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque seu filho; e ele tomou o fogo e o cutelo na sua mão, e foram ambos juntos.

Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?

E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos.
E chegaram ao lugar que Deus lhe dissera, e edificou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha.

E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho;

Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus,
e não me negaste o teu filho, o teu único filho.

Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho.

E chamou Abraão o nome daquele lugar: o Senhor proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do Senhor se proverá.

Então o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus,

E disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta acção, e não me negaste o teu filho, o teu único filho,

Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.

Gênesis 22:1-18

 

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