Neste inferno de obscuridades, com muitos “papers” a
tentar aclarar.
Andamos todos aos papéis /premium
Quer saber a que velocidade seguia o
carro do ministro Cabrita? Não pergunte mais ou acaba negacionista. Tem ADSE e
já não pode ir ao seu médico? Ora, um paper por dia nem sabe o bem que lhe
fazia!
HELENA MATOS,
Colunista do OBSERVADOR OBSERVADOR, 10 out 2021
Vá lá, vamos correr atrás dos ricos e dos poderosos.
Veio aí mais um paper.
(Ai, é verdade, tinha ADSE e agora já não pode ir ao seu médico de
sempre? Azar o seu que escolheu um médico que não obedece cegamente
ao Estado. Agora nem no regime livre – aquele em que o utente paga para
depois ser reembolsado – pode ir ao seu médico ou fazer os tratamentos que
começou. Mas quem se vai preocupar com estas questões quando tem tanto
paper para analisar? Corra atrás dos ricos que isso faz muito bem à saúde!)
Os últimos papers chamam-se Pandora. Bonito nome, não é? Sempre ficam mais apessoados com
nome de mulher, para mais na versão mitológica, porque isto de ligar os papers
a países pode lembrar-nos a nós, portugueses, que estamos à espera desde
2016, dos nomes dos políticos e jornalistas que recebiam pagamentos do saco
azul do GES. Esses nomes constavam nos Panama Papers mas
continuamos sem os conhecer. Afinal, isto
dos papers também tem os seus limites e as suas deontologias: divulgam-se nomes
a trouxe-mouxe mas só de alguns.
Seja
como for, agora, em 2021, já não temos tempo a perder com essas
minudências. Vêm aí os
Pandora Papers!!! E mais uma
vez lá vamos em corrida atrás dos ricos e poderosos. Correr atrás dos ricos
é aliás o desporto mais praticado pelos povos que empobrecem. De Cuba à
Venezuela, correr atrás
dos ricos foi uma
actividade de tal forma bem sucedida que no fim só sobraram pobres e, claro, um grupo muito restrito de ricos, a saber
os líderes da corrida contra os ricos. Pôr o povo a correr contra os ricos é
uma actividade de alta rentabilidade. Política e não só.
(A
propósito de corridas, a que velocidade seguia o carro em que viajava o
ministro Eduardo Cabrita quando a 18 de Junho atropelou mortalmente o
operário Nuno Santos? Não haverá um paper que fale disto?)
A
cada um destes papers tenho crescentes dúvidas sobre os bastidores deste tipo
de jornalismo que vive de fugas de informação e experimento uma irritação crescente contra a
amálgama populista entre quem enriqueceu com a sua actividade e quem roubou: basta ter
dinheiro e procurar pagar menos impostos para se entrar na categoria de
mediaticamente suspeito. Ora
colocar no mesmo plano pessoas que sabemos como enriqueceram, como acontece com
Julio Iglesias,
que vendeu mais de 300 milhões de discos, ou Guardiola, que
é treinador de futebol, com o de alguém que enriqueceu de forma ilícita
não é aceitável. Ou só o será se o objectivo final de tudo isto for a criminalização
da riqueza e da procura de pagar menos impostos, mesmo que dentro do que se
entendeu ser legal. Como bem assinala Henrique Pereira dos Santos “Se eu for um assassino, a lei e a sociedade reconhecem-me o direito de
não me incriminar, ninguém me pode obrigar a confessar o meu crime ou a dizer o
que quer que seja que possa ser usado contra mim, o direito a estar calado é reconhecido de forma
absoluta. Quando chegamos aos impostos, este direito
a não me incriminar não é reconhecido, pelo contrário, a lei estabelece, de forma imoral, que eu tenho a obrigação legal de me
denunciar ao fisco.“
Como
sabe qualquer português com rendimentos médios, boa parte da legislação e dos
fantásticos procedimentos anunciados para controlar os muitos ricos e as
fraudes acabam sim a complicar ainda mais a vida aos não ricos, quando não aos
pobres: a fotografia
de Joe Berardo devia estar afixada naquelas resmas de papéis que os
bancos nos exigem para conseguirmos um empréstimo para uma empresa, pois se a Joe Berardo tivessem sido aplicados pelos
bancos os critérios usados para os demais mortais não só não teria obtido
crédito algum como duvido até que tivesse conseguido abrir uma simples conta
bancária.
(Esta
fixação nas offshore – a da
Madeira também conta? – sucede à indignação com os lucros milionários
das empresas. Jerónimo de Sousa alertava-nos com fervor contra esse flagelo.
Valeu-nos o estado anémico das empresas
portuguesas para que essa chaga dos lucros milionários tenha sido
devidamente debelada).
Ao
primeiro sinal de fraude, burla, crime… em Portugal não se procura perceber o
que aconteceu ou como aconteceu. De imediato
se decide que há que mudar a lei. Ora muito
frequentemente a lei ou o procedimento adequado já existiam, simplesmente não
foram aplicados. Veja-se o caso de João Rendeiro que usufruiu de um termo de identidade e residência
em condições absolutamente insólitas, para não dizer mais. Não
duvido de que se se mexer na lei, os cidadãos comuns que forem sujeitos a
termo de identidade e residência terão a sua vida ainda mais complicada.
Obviamente a severa legislação e os rigorosos procedimentos continuarão a não
ser aplicados àqueles por causa de quem se mudou a legislação. (Uma dúvida
profunda atormenta-me há dias: dado o unanimismo das redacções portuguesas na
hora de apelidar Rui Fonseca e Castro como “juiz negacionista” vão passar a
tratar como juiz ou juiza “xoné” quem aceitou que João Rendeiro desse a morada
da embaixada portuguesa em Londres como local para ser contactado após viajar
para Inglaterra?)
A voracidade fiscal de um poder político
que esconde a compra de clientelas e de corporações através de um discurso de
diabolização da riqueza levou à constituição de uma ditadura fiscal. O Estado português sabe o que compramos no
supermercado, os restaurantes a que vamos e a que horas, os combustíveis que
escolhemos. Nunca nenhuma polícia política teve tanta informação sobre os cidadãos
– todos eles, note-se – quanto aquela que neste momento acumula a Autoridade
Tributária. Pior, como
aqui alertou António Gaspar Schwalbach, o “NIF
substituiu, pura e simplesmente, os nossos nomes e quaisquer outros números de
identificação” funcionando
já como um número nacional único, apesar de a Constituição o proibir expressamente.
Como é óbvio tudo isto tem tornado os
ricos muito mais cautelosos e reforçado a ditadura fiscal sobre as pessoas
comuns. Mas se
pudéssemos responder livremente o que diríamos quando confrontados com a
seguinte pergunta: o que acha que devem fazer as pessoas que a partir do
próximo OE podem ser sujeitas a uma taxa efectiva de imposto na ordem dos 50,5%
a 53%? Note-se que os megamilionários
que em Portugal incorrem nessa taxa são pessoas que ganham mais de 80 mil euros
por ano e consequentemente vão ser objecto de englobamento obrigatório (o tal que
era para não existir mas afinal vai acontecer) dos seus rendimentos
classificados como “especulativos”.
Tenho
três certezas: os
verdadeiramente ricos devem rir com o nosso conceito de riqueza; o englobamento obrigatório vai ser alargado nos
próximos orçamentos a outros escalões menos abonados, pois nunca haverá
dinheiro qb para pagar o preço de o PS ser governo; “Portugal
papers ou a história de como empobrecemos” é um belo título para aquilo que nos
está a acontecer. Mas para tal
não é necessário nenhuma fuga de informação nem nenhum consórcio internacional
de jornalistas, basta olhar para Portugal.
OFFSHORES ECONOMIA GOVERNO MAIORIA DE
ESQUERDA
COMENTÁRIOS:
Mario Almeida: Os paraísos fiscais são como o
aquecimento global. Acabam quando as elites quiserem… mas como não querem, de
vez em quando lá vem a pobre criança ou o consórcio internacional de
jornalistas do BE fazerem de bobos da corte. Joaquim
Moreira: Esta crónica de Helena Matos alerta-nos para uma
realidade que escapa a um qualquer mortal. E que é o facto de nos obrigar a
pensar, sobre a razão por que "andamos todos aos papéis" e não temos
tempo para meditar. Primeiro este tipo de sociedades, foram criadas pelas
diferentes autoridades! E não por muitos dos beneficiários dessas mesmas sociedades.
Mesmo sabendo que muitas dessas autoridades, são interessados nessas
realidades. Mas para muitas pessoas e empresas bem-intencionadas, são usadas
para não serem de forma abusiva taxadas. Agravado, por muito desse dinheiro
taxado, ser muito mal aplicado. Quando não é mesmo roubado! Por isso, e como
defensor de um Estado bem organizado e com capacidade para evitar as injustiças
que existem por todo o lado, não posso deixar de perceber muitos dos que
utilizam estas sociedades para evitar que o Estado fique com o seu dinheiro
para ser depois muito mal aplicado. Para não dizer mesmo, gasto sem critério,
mas com um propósito bem pensado. Para manter no poder muitos dos que nunca o
deveriam ter!
Maria Madeira: De acordo com este artigo. José Ramos: "[In] tranquila e
infalível como Bruce Lee", Helena Matos. Que todos os deuses a abençoem e
o meu obrigado.
Luís Marques: Muito bem. Eis como estamos, à espera que a próxima
bancarrota nos venha salvar dos socialistas. É triste. Jorge
Martins: Completamente de
acordo. Assinava o Expresso quando foram revelados os "Panamá papers".
Cancelei a assinatura e não consumo informação do Grupo até que revelem a
lista. Também acho que não é uma investigação .... É uma fuga de informação,
cuja divulgação é uma arma política. Agnelo Furtado:
Helena Matos! Um texto que
deveria ser lido e debatido na televisão paga por todos Nós. Obrigado. José
Dias: O jose maria
aparenta ignorar as classificações dadas pela mesma Moody's aos bancos de
investimento que caíram em 2008 ... ou aos "papéis" que os levaram ao
chão. Só interessa quando a notícia encaixa na narrativa ... hipocrisia em bom. josé
maria > José Dias: Três anos depois, Moody’s sobe rating de Portugal. A
agência de notação financeira elevou a classificação da dívida soberana de
Portugal, que fica agora igual à que é atribuída pela Fitch e pela S&P. "A economia portuguesa está a
registar uma robusta recuperação da recessão pandémica, apesar dos
desafios que se colocam no sector do turismo. Os níveis de emprego
normalizaram, o que ajuda o consumo privado, e as fortes
retomas em mercados chave de exportação estão a sustentar a recuperação
na exportação de bens", destaca. Jornal
de Negócios, 17/9/2021 A. Carnide:
Do melhor! Simões
de Matos: Srª Helena Matos:
É louvável a sua persistência e de tantos outros comentadores na divulgação das
misérias que germinam neste país que passei a ver de fora. Louvável porque como
constatamos, apenas contribuem para o crescente aumento da nossa impotente
indignação. Os políticos e mais tarde os banqueiros portugueses de forma
transversal e desde a implantação da república, como reza a história, sempre
cometeram e permitiram que se cometessem todos os desvarios acrescidos de doses
substanciais de incompetência, arrogância e desprezo pelos mais elementares
direitos do cidadão comum. Resumindo, o estado desgraçado deste pobre país que
se repercute no estado de pobreza dos seus cidadãos já é aceite como uma sina
ou se quisermos, o nosso desgraçado destino. Veja-se a alegria que transparece
nos olhos do Primeiro Ministro quando fala (e fala muitas vezes) do dinheiro
que os países chamados ricos, também conhecidos por nossos parceiros
comunitários, colocaram à nossa disposição. Comparo-o ao mendigo que acaba de
receber uma esmola de um senhor rico e que o deixa feliz enquanto a esmola
durar. Depois, volta à rua à espera que o senhor rico volte a ter piedade e
repita o gesto. Pregar aos peixes sempre será mais reconfortante. Da
Costa: Mais uma vez
surpreendido pela positiva, pela clareza de análise deste país concorrente a
liga bolivariana 🥺 Maria Tubucci: Certíssimo. Para mim os Pandora
papers são uma false flag. São utilizados pelos serviçais do governo na CS, para
o governo lucrar, ou seja, para intensificar e justificar as acções do fisco sobre a classe média.
Aos ricos o fisco
só tira se eles quiserem, aos pobres não há onde tirar, logo a classe média,
como sempre, será a árvore das patacas do governo. Anarquista Inconformado
> Maria Tubucci: Pois é, a Classe média são os principais clientes dos
papers e da fuga ao fisco, pois é a classe que em Portugal mais ajudas a fundo
perdido recebe do governo e da UE. Lírico
este discurso. Miguel Eanes:
Só um povo bovinizado se
preocupa em saber a que velocidade conduzia o motorista de um ministro ou se o
seguro dos funcionários públicos (pago unicamente por eles), tem acordos ou não
com este ou aquele médico. Querer saber por
que razão as petrolíferas continuam a aumentar todas as semanas os preços dos
combustíveis, antes de impostos, num ano aumentaram mais de 300 euros por
tonelada; Qual a razão de as empresas produtoras de energia eléctrica estarem a
vender cada vez mais cara a electricidade às empresas distribuidoras. Isso não interessa. Martelo de Belem
....: :Nunca é demais
alertar para a ditadura que se está a implantar em Portugal. Costa vai ceder ao
PCP e BE e isso quer dizer mais controlo, mais pobreza e menos liberdade. Nuno
W: Excelente artigo,
a todos níveis, e mais um alerta para o nosso empobrecimento e para a mediocridade
da nossa governação. É bom recordar aquela promessa do Expresso/SIC feita em
2016 de revelar o nome dos políticos e jornalistas que recebiam pagamentos do
saco azul do GES. Esses nomes constavam nos Panama Papers. Cipião Numantino: A nossa estimada HM praticando tiro ao alvo. E
apontando os vários vícios e malefícios do regime. De permeio aponta a
iniquidade de certas coisas e a inveja larvar que as suporta. Dando a minha modesta contribuição ao conceito,
acrescentaria que um governo (todos os governos) se regem por uma lógica
criminosa. Afinal onde reside a diferença entre a lógica predadora fiscal de um
governo ou a contribuição exigida, por exemplo, pela N´Drangheta ou pela
Camorra Napolitana? Estes últimos enviam-te uns capangas para, à força, te
obrigarem à contribuição exigida e, o primeiro, manda-te uns indivíduos
fardados que te sacam até ao último tostão e ainda te metem rapidamente na
prisão (rima e é verdade). Mais, tenho
para mim, que com as organizações criminosas ainda se pode dialogar ou até
procrastinar um pouco. Bem conversadinha a coisa, ainda são bem capazes de te
ajudar numa aflição momentânea. Já, no que concede ao governo, não existe
desculpa que te valha nem vicissitude que os detenha. Pagas e não bufas. E, no
caso específico português, primeiro pagas e só depois terás direito a
reclamar!!! Ou seja, a lógica criminosa, no limite, terá até um substrato
mais ético do que a lógica governamental. Alguns dos que me lêem, contraporão que é assim a
lógica das coisas e que sem governo as sociedades não avançam. Seja assim ou
não, o que eu pretendo explicitar é a questão dos excessos e não aquilo que se
balizará dentro de um exemplo normal. Ouço
por vezes pessoas que afirmam convictamente que o problema se situará que quem
foge aos impostos vai implicar que outros paguem por eles. Ou seja se um
não paga, todos os outros terão que pagar por ele. Tal presunção está
absolutamente errada. E diz-nos a prática das coisas e a afirmação de
vários estudiosos que um governo, seja ele qual for, rapina tudo o que lhe é
possível rapinar. No limite, porque todos os governos tendem para o socialismo
e têm a permanente punção de roubar a uns para dar a outros. A lógica é a do síndrome
do Robin dos Bosques e o pagamento é a colecta e a compra de votos com que se
animam. Para se aquilatar correctamente o conceito é
relembrar as palavras da Mariana Mortágua que afirmou "que se deveria ir
buscar dinheiro onde o há" que, sem escandalizar, foi submergida por
infinitos aplausos numa plateia composta por socialistas. Pessoal, esta história dos Pandora papers, traz
água no bico. De vez em
quando soltam-se os cães para amedrontar o maralhal e para justificar os
aumentos de impostos que por aí vêm (a obscenidade dos impostos sobre os
combustíveis deveria servir de alerta). Por sua vez, sonegam-nos informações vitais como bem
diz HM sobre os serventuários do saco azul do GES ou o financiamento de
políticos e jornalistas. A propósito, junto a minha a outras vozes: a que
velocidade vinha o carro do ministro Cabrita que vitimou um chefe de família e
pai de duas filhas menores? Afloro,
finalmente, o desaparecimento da comunada no parlamento checo. Essa gente
sentiu na pele a perversidade desta gente. Lá, como cá, deveriam ter concluído
que, por definição e ética, um comunista é um inimigo da sociedade. Vai, daí,
mandaram dar-lhes corda aos sapatos e é isso que acabará por acontecer por aqui
mais cedo ou mais tarde. É
isto. Temos um país a saque sustentadamente tendo ainda menos liberdade do
que antes da abrilada. Nunca gostei
muito de Cavaco, mas ele sabe da poda. E deveríamos ouvir e interiorizar tudo
aquilo que nos vai dizendo. No limite, comparar Cavaco com o actual inquilino
de Belém é como tentar comparar um violino com uma pandeireta. Ambos fazem
barulho, mas um toca música enquanto o outro domina tão só o estardalhaço.
Temos um estado quase falhado. Onde o cangalheiro xuxa
procede às últimas exéquias e o papagaio-mor do reino vai recitando as
competentes ladainhas. O
excelso Marquês de Pombal, avisado pelo embaixador de Espanha que poderíamos
ter guerra, respondeu: "venham, venham, que mesmo para retirar um
português morto de sua casa, são precisos quatro"! Onde reside mais esta coragem tipicamente
portuguesa?... João
Floriano > Cipião
Numantino: O Cipião hoje
rebentou a escala. Uma verdadeira obra de arte do comentário. E mais não há
para dizer. Vitor
Batista > Cipião Numantino: É um prazer ler os seus comentários, e há anos que eu
andava arredado do observador, voltei porque não posso deixar de ler o Alberto
Gonçalves e a Helena Matos, e os seus comentários também, que são crónicas
dentro de outras crónicas, mas não partilho do seu optimismo em relação aos
comunistas. Se na república Checa eles desapareceram, em Portugal vão ajudar a aprovar o
orçamento com pompa e circunstância, lutar pelos direitos dos trabalhadores e
contra o grande capital………………
Nenhum comentário:
Postar um comentário