quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Prazer pela partilha


De um assunto que não comento, disciplinadamente seguidora do conceito estatuído por cá mais recentemente que por lá – fora – mas que toda a vida, afinal, segui – a do respeito pela liberdade alheia nas questões ideológicas, com permissão, todavia, para delas discordar. Não direi o mesmo dos comportamentos que, de resto, são passíveis de crítica, quando se afastam da racionalidade e do bom senso, mas isso é problema pessoal, que esta história da covid veio acentuar, murchos que andamos. Não é caso genérico, todavia, que esta história dos trans – gressores tem que se lhe diga, nos seus extremismos desvairados, de exibicionismo perverso, chamariz de atenção.

Afinal não me contenho, decididamente avessa ao tema, mas grata pelo ensinamento.

SOCIEDADE / TRANSGÉNERO

Margaret Atwood, de “The Handmaid's Tale”, debaixo de fogo depois de partilhar texto que critica neutralidade de género.

O artigo argumenta que a linguagem neutra no universo da gravidez significa um “apagamento das mulheres”. Atwood é comparada a J.K. Rowling e apelidada de TERF (Feminista Radical Trans-Excludente).

FRANCISCA DIAS REAL: Texto

20 out 2021

Margaret Atwood foi criticada no Twitter onde fez a partilha do texto de opinião

FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

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A romancista canadiana Margaret Atwood, autora do conhecido romance “The Handmaid’s Tale” que deu origem a uma série, está debaixo de fogo depois de ter partilhado no Twitter um texto de opinião que critica a neutralidade de género na linguagem quando se discute a gravidez. Apesar de o texto não ser da sua autoria, a partilha do mesmo provocou uma onda de polémica nas redes sociais entre fãs de Atwood e outras pessoas que acusam a autora de não entender a necessidade de inclusão de pessoas transgénero e não binárias na equação.

“Porque é que já não podemos dizer ‘mulher’?” é o título do artigo assinado por Rosie DiManno do Toronto Star, que Margaret Atwood partilhou no Twitter e que já levou a que muitas pessoas acusassem a autora de ser como a escritora J.K. Rowling, que foi acusada de ser TERF (Feminista Radical Trans-Excludente), um termo usado para designer feministas que não acham possível transportar a totalidade da experiência da mulher cisgénero para mulheres trans.

“Fazes-me sentir como uma pessoa com uma vagina” ou “Sinto-me como uma pessoa que menstrua” são apenas alguns exemplos de expressões que a autora do texto usa para arrancar o artigo de opinião, atirando logo de seguida: “pedimos desculpa a Aretha Franklin, Shania Twain e Roy Orbison, mas parece ser para aqui que nos dirigimos se os radicais da língua conseguirem fazer o seu caminho”.

O mesmo artigo argumenta que a adopção de uma linguagem neutra no universo do mundo gestacional significa um “apagamento das mulheres” e que a palavra “mulher” corre o risco de se “tornar uma palavra suja” e, eventualmente, “erradicada do vocabulário médico e expulsa dos termos de uma conversa”, pode ler-se. “Isto não deve deixar as pessoas bem intencionadas amarradas à língua, para não serem atacadas como transfóbicas ou insensíveis às construções cada vez mais complexas do género.”

A partilha tem já centenas de comentários, onde a grande maioria é explicativo e alerta a autora de que o teor do artigo não é verdadeiro, inclua os trans e as pessoas não binárias.

 Podemos dizer mulher. Mas TAMBÉM está OK DIZER PESSOA. Vais ficar bem, Jesus Cristo, Maggie”, comentou uma utilizadora à qual Atwood respondeu “Talvez devesses ler o artigo de Rosie?”. Num outro comentário negativo, a romancista canadiana reafirma: “Leiam o texto. Ela não é uma TERF”.

A autora do texto esclarece que “isto não é um argumento contra a auto-identificação do género”, e que isso já foi ultrapassado, diz ser antes uma “evolução infeliz da linguagem” e “um fenómeno resultante do activismo trans descontrolado.”

Rosie DiManno faz ainda referência à decisão da Associação Médica Britânica que, em 2016, decidiu recomendar ao pessoal que utilizasse a expressão “pessoas grávidas” em vez de mulheres grávidas, ou quando a congressista Alexandria Ocasio-Cortez falou de “pessoas menstruadas”. A autora acabou por defender J.K. Rowling quando a escritora da saga Harry Potter ironicamente abordou a questão das “pessoas que menstruam” num tweet e começou a ser apelidada de TE RF.

A autora continuou: “estes exemplos vão muito além da insistência em pronomes neutros, numa órbita externa da linguística onde tanto as mulheres, como género, como ‘mulher’ como substantivo estão a ser apagados”, escreveu.

As críticas a Atwood, que se manteve afincadamente ligada à opinião da autora do artigo, são claras, e uma das primeiras foi dirigida por Amanda Jetté Knox, pessoa não binária. “Estou triste por ter partilhado isto, porque é factualmente falso. Ainda podemos dizer ‘mulher’ e também podemos dizer ‘pessoas’ quando faz sentido usar uma linguagem mais inclusiva. Sou uma pessoa não binário. Também menstruei e dei à luz três filhos. Dizer ‘pessoas com período’ inclui as mulheres e inclui-me a mim”, escreveu.

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COMENTÁRIOS:

I G: Pobres pessoas confusas.

Pietista: Esta senhora é uma criminosa, não sabe que fruto de uma relação sexual entre um homem e uma mulher, a mulher pode engravidar o homem... Estas feministas conservadoras têm muito que aprender.

José Paulo C Castro: TERF, feminista radical trans-excludente. Ou seja, uma feminista sensata. Os não-binários têm de deixar de utilizar substantivos binários e inventar uns para eles em vez de deturparem o sentido dos originais.

Carlos Santos: E os detractores da senhora serão por sua vez cancelados no futuro por se oporem por exemplo a que um homem que se identifica com um cão seja realmente um cão. E assim por diante...

bento guerra: Nada como folhas como esta, para difundir a parvoíce

José Santos: O que está a acontecer com Margaret Atwood é simbólico do que poderá bem ser a tragédia do séc XXI. Na ficção criada pela escritora, era a direita religiosa que iria impor uma tirania. Por alguma razão, pessoas "bem pensantes" viram sempre na direita o perigo, ignorando que a maioria das tiranias mais homicidas do Séc XX vieram da esquerda. Mesmo perante a evidência do que hoje ocorre no mundo Anglo Saxónico, e chega a uma velocidade estonteante à Europa continental, continuamos a teimar que o perigo da ideologia woke é poder despertar a fúria da direita, que não é um perigo em si mesma. Esta ideologia, que controla praticamente todas as universidades, silicone valley, wall street, e a maioria dos meios de comunicação nos EUA e RU, tem de facto os piores vícios das ideologias mais homicidas do século passado. As pessoas são divididas em grupo de opressores e grupos de oprimidos, deixam de contar como indivíduos, a sua raça, etnia, orientação sexual, etc, definem os seus direitos. Os woke aceitam e pregam o mesmo tipo de ódio racial e anti semitismo dos nazis, sendo os grupos que têm "privilégio", os visados (caucasianos, judeus, alguns asiáticos), e possuem o mesmo frenesim de destruição cultural dos guardas vermelhos de Mao, a mesma fúria puritana de destruir os que "pensam da forma errada". Não sei o que mais será necessário acontecer para se perceber que esta ideologia tem de ser travada. Só na França e um pouco nos tories do RU vejo responsáveis políticos reconhecerem que há aqui um problema grave, mas ambos parecem subscrever a opinião que o problema desta ideologia é alimentar a extrema-direita. Quantas pessoas terão desta vez de morrer noutra experiência utópica devastadora para aprendermos a reconhecer o totalitarismo quando está à frente dos nossos narizes.

João Floriano > José Santos Excelente comentário com o qual concordo inteiramente. Não conhecia o termo: trans-excludente e para ser sincero não percebo muito bem o significado. Parece que o wokismo pretende meter todos os conceitos «em caixinhas», tudo tem de ser cuidadosamente etiquetado. Esta gente faz-me lembrar os puritanos de golas brancas e vestimenta severa do início das colónias americanas no século XVII como apresentados em obras como “Scarlet Letter” de Hawthorne.

jose Afonso > José Santos: e você vai na cantiga woke de que o perigo é a extrema-direita. Amigo, a extrema-direita já é o último reduto da defesa.

 

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