domingo, 17 de outubro de 2021

Os três DDD

 

Os três DDD

Depressão, Deprimente, Deprimidos… ou quatro, com Depressivo… Dantes éramos só Os três FFF.

O caminho da servidão, tradução em português /premium

Um povo tão isolado que, à revelia de 99% da humanidade, ainda usa farrapo na cara é capaz de se convencer de que, na economia, vive no paraíso.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 16 out 2021

Isto está a cair aos bocados, não está? Depende da perspectiva. O preço dos combustíveis, por exemplo, não cai. Os preços da electricidade, da água, dos alimentos e das matérias-primas em geral não caem, assim como a quantidade de empresas insolventes. Os impostos e as taxas não caem. O custo das casas não cai, apesar do comovente desassossego de tantos políticos com a habitação. O desemprego real não cai. A dívida pública não cai. O poder de compra e a produtividade continuam a marchar rumo aos píncaros da tabela dos países europeus com menor poder de compra e produtividade. A debandada de profissionais do glorioso Serviço Nacional de Saúde está em crescimento constante, o que bate certo com o aumento de doentes sem atendimento ou depositados em garagens. O contingente de professores em falta nas escolas mostra igualmente sinais de subida, à semelhança dos substitutos sem qualificações. E da percentagem de portugueses a emigrar ou desejosos de o fazer nem se fala.

O ideal, aliás, é não se falar de coisa nenhuma. O prof. Marcelo já decretou três ou quatro centenas de vezes que, do futebol de salão aos caretos de Podence, somos “os melhores dos melhores do mundo”, pelo que não há motivos para descrença. Para nós, ser os melhores do mundo é facílimo: basta desconhecer, ou fingir que se desconhece, o que o mundo é. E nesta particular modalidade há bastantes compatriotas que são – repitam comigo – os melhores dos melhores. Um povo tão isolado que, à revelia de 99% da humanidade, ainda usa farrapo na cara é capaz de se convencer de que, na economia, vive no paraíso.

O fisco caseiro dá uma cabazada à carga tributária da Suíça, da América e da Irlanda? Sim, mas aí precisas de um hospital e largam-te a morrer na rua, respondem, informados pela SIC e pelo “Público”, os melhores dos melhores. O salário médio local está abaixo do grego e é um quinto do suíço? Talvez, interpõem os melhores dos melhores, mas em Zurique um cimbalino custa setenta euros ou francos ou lá o que é – e não presta. O PIB per capita indígena é metade do belga e um terço do dinamarquês? Muito bem, impacientam-se os melhores dos melhores, mas lá queres apanhar um bronze e chapéu. Os melhores dos melhores não se deixam enganar. Os melhores dos melhores querem mesmo ser enganados.

No máximo, enquanto sorvem café à beira-mar, a aguardar pela consulta de dermatologia que marcaram há somente dois anos, os melhores dos melhores conseguem admitir a existência de alguns contratempos de relevância discutível, sempre atribuíveis à “crise pandémica”. O pormenor de a crise ser endémica e chamar-se socialismo não vem a propósito em conversas sofisticadas. Não sejamos “negacionistas”. Não nos vamos pôr a dizer que a Covid veio a calhar para o PS concluir o seu projecto de conquista do Estado e de estatização da sociedade, por um lado porque desviou as atenções das habilidades em curso, por outro porque criou um bode expiatório da destruição entretanto produzida.

A verdade é que qualquer pretexto serve a barafunda, e qualquer barafunda serve para disfarçar o facto de, imagine-se, termos descido a um buraco sem luz nem saída. Agora que a Covid não parece chegar para manter os níveis de histeria nos valores desejáveis pelo PS, inventou-se à pressa o drama do Orçamento e um punhado de dramalhões associados. Ao menos do prof. Marcelo, nunca vêm surpresas: está tipicamente apavorado face à pífia possibilidade de agitação política e de complicações na própria popularidade. Sobre as restantes personagens, o comentariado divide-se.

Consoante os pensadores, ou o dr. Costa quer eleições para ganhar a maioria ou o dr. Costa não quer eleições para não arriscar perder o controlo da “bazuca”. Ou os partidos comunistas querem eleições para suster eleitorado ou os partidos comunistas não querem eleições para não acabarem dizimados. Ou o dr. Rio quer eleições para tentar alcançar o poder ou o dr. Rio não quer eleições para manter o lugarzinho de aspirante por algum tempo. E depois temos o dr. Rangel, o formidável vulto que ressuscitará, ou não, o “espaço” da “direita” que não é exactamente de direita. Nem o “Sleep” do Andy Warhol possuía enredo tão fascinante.

Brincadeiras à parte, o que é que eu acho? Acho que o OE vai passar. E que, se espantosamente o OE não passar, o PS vencerá as “legislativas” com pequena folga. E que, se o PS não vencer de todo, não serão os drs. Rio ou Rangel a liderar a mudança de que a “direita” e sobretudo Portugal precisam. E que, se por absurdo os drs. Rio ou Rangel se revelarem aquilo que jamais foram, os danos causados pela frente de esquerda não são reversíveis no curto ou médio prazo. O país não começou a esfarelar-se hoje.

Hoje, assente a poeira da pandemia, a devastação apenas se vê com mais nitidez. Hoje, salvo milagre, aproximamo-nos de um ponto sem retorno. De hoje em diante, o pouco que sobra desabará à nossa frente, sem estrondo, com suspiros e, dado o Inverno, alguma tosse. Acredito que, à medida que os destroços as atinjam na cabeça, um número maior de pessoas questionará a lengalenga dos “melhores dos melhores”. Mas um banho de realidade não nos impede de permanecer sujos. Em suma, acho que quase tudo é preferível ao desgraçado caminho que escolhemos, e que quase nada nos desviará dele.

ECONOMIA  POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

mais um: Texto magistral....infelizmente             José Dias: As declarações de Cavaco com 13 anos e de PPC com 8 em relação a combustíveis não eram de certeza sobre os actuais preços e sobre a actual fiscalidade ... Cucurucucu!          Manuel Dias: Excelente artigo.           josé maria: O preço dos combustíveis e da electricidade não caem, mas o dr. Gonçalves deve estar todo contente: faz parte da estratégia de mercado livre, e não regulado, que a sua IL tanto defende e o colunista subscreve.             josé fernandes > josé maria: Considera mercado livre o petróleo, quando o seu partido alarvemente nos obriga a pagar 60% de impostos à boca das bombas? Tenha juízo e deixe de dizer asneiras.              Mestre Nhaga > josé maria: Com as rendas garantidas atribuídas pelos governos xuxas ás empresas de energia, confisco do ISP e o IVA a 23/%, o mercado livre é uma miragem.    Elvis Wayne > josé maria: Claro zé, o mercado dos combustíveis em Portugal é livre... e a Coreia do Norte é uma "democracia", eheheh.           josé maria > josé fernandes: Passos: Impostos sobre combustíveis não podem cair agora e no futuro também não Jornal de Negócios, 9/10/2013 Cucurucucu...          Liberal Assinante do Local > josé maria: Os impostos não caírem não é o mesmo do que aumentarem o tempo todo. Bastaria que os impostos se tivessem mantido estáveis em valor absoluto, baixando em percentagem, para que os portugueses estivessem a sentir bem pouco a subida dos produtos petrolíferos nos mercados internacionais. Note-se que quando a gasolina estava quase a ser dada, na Primavera do ano passado, houve apenas uma acalmia dos preços nas bombas em Portugal, tendo então os impostos sido a parte de feroz leão do preço. Não só o Estado se enche à tripa-forra com os combustíveis, como ainda amplifica as variações de preços, mas apenas quando há subida. josé maria > Liberal Assinante do Local: Os combustíveis estão caros”. E deverão assim continuar nos próximos tempos. Não é possível baixar impostos. E, mesmo que fosse, também não desceriam muito, afirmou o primeiro-ministro. “Não podemos pensar em ter combustíveis mais baratos porque iria sair caro em termos ambientais”, defendeu Pedro Passos Coelho, em resposta a uma pergunta de um taxista sobre os preços dos combustíveis em Portugal, feita na entrevista protagonizada por cidadãos na noite desta quarta-feira na RTP1.“O preço dos combustíveis é um regulador que evita que os hidrocarbonetos tenham impacto na degradação da qualidade ambiental”, referiu. Descer os impostos sobre os combustíveis seria dar “o sinal errado”, o sinal de que se poderia “usar mais o carro” Cucurucucu...         Alguidar de Henares > josé maria: É preciso ser muito aldrabão e mentiroso para vir atribuir o enorme custo dos combustíveis ao “mercado” e não aos impostos impostos pelos teus camaradas.             josé maria > Alguidar de Henares: Cavaco diz que subida dos combustíveis tem «dose de especulação». Cavaco Silva admite que há uma boa dose de especulação nos preços dos combustíveis         Joaquim Moreira: Concordo muito com este “caminho da servidão”, menos no que diz respeito ao líder da oposição. Que não sendo assim por muitos considerado, é dos poucos “políticos” com sentido de Estado. E disse “políticos”, porque, na realidade, Rui Rio é um estadista de verdade. Já que é o líder que, mesmo na oposição, assenta como uma luva nesta definição: o político está apenas preocupado com as próximas, enquanto o estadista está sempre preocupado com o futuro das próximas gerações. Dada esta explicação, devo ainda dizer que, acho fundamental que chegue a PM de Portugal. Já que não tendo conseguido fazer as grandes reformas estruturais, com a iniciativa de “aproximação”, sabe que pode fazer muito mais se for líder do Governo da nação! Mesmo que o Alberto Gonçalves, não concorde com a sua posição. Porque, mesmo dizendo que não é de direita, a sua política económica não pode deixar essa direita muito satisfeita. Até porque se baseia num princípio fundamental, não se pode distribuir sem primeiro criar riqueza em Portugal. O problema é que a CS e muita da elite nacional, tudo fez e continua a fazer para evitar que chegue ao poder. Sobretudo agora que já está a perceber que pode faltar muito pouco para tal acontecer!         Abel Alves: Sejamos realistas: - SNS+SRS da Madeira e dos Açores - TAP + Sata - CP - Novo Banco - Custos combustíveis, gás e electricidade e o seu impacto na economia - Carga fiscal directa e indirecta asfixiante. - População envelhecida. Demasiados contras num país já de si pouco competitivo.         Otávio Supertramp: Mas qual é a embirração deste mané com as máscaras? No caso dele até o favorecem!        klaus mullerOtávio Supertramp: AG é um homem com estilo. Vendo bem, não é preciso dizer mais nada. Mas também me confunde um pouco a embirração que tem com as máscaras, embora não venha daí nenhum mal ao mundo quando ele toca no assunto.           Manuel Martins: Tem razão, mas apenas em parte. Creio que a comunicação social, coordenada com o governo, não tem sabido retratar o país. O estado está podre, as instituições públicas funcionam geralmente mal, desmotivadas pela pandemia, pelo controlo absoluto do PS em tudo o que são decisões importantes . Nota-se um cheiro a corrupção e peculato, um absentismo crónico mina a já reduzida produtividade da administração pública e torna os recursos humanos um poço sem fundo, onde todos se queixam de falta de pessoal, apesar de não parar de crescer o número de funcionários públicos. Mas não nos deixemos enganar pelo retrato público do país: o estado está na penúria, mas há muito dinheiro na sociedade, nunca se construiu tanto e com valores exorbitantes, venda de viaturas de luxo, os restaurantes cheios , os hotéis cheios de portugueses apesar dos preços elevados, etc. Liberal Assinante do Local > Manuel Martins: Compre uns óculos que invertam a imagem, e logo ficará a ver bem, o Estado e suas emanações na opulência do dinheiro sacado e emprestado e o povo cada vez mais afundado e aspirando à bóia de salvação, a emigração.          Mamador Chulo dos Tugas: Dos melhores textos que vi do retrato do rectângulo.           J. Saraiva: Penso que o que o Marcelo Rebelo de Sousa, quis dizer com sermos os Melhores dos Melhores, é: 1. Sermos simpáticos 2. Termos bom clima (não é qualquer país da UE, que consegue ir à praia, 4 a 5 meses do ano) 3. Termos uma óptima gastronomia. Quando o dinheiro acabar e os Portugueses tiverem que se conter no supermercado, ainda temos o 1 e o 2 e continuamos a ser os melhores. O MRS tem uma certa razão no seu raciocínio. Já agora... não votei nele, no segundo mandato.        Pedra Nussapato: Adoro ver a malta aqui a lutar pelo culpado-mor do estado da nação. Será Paços? Será Sócrates? Será o 25 de Abril? Não perca os próóóóximos episódios!!!          Liberal Assinante do Local > Pedra Nussapato: Há vários culpados, mas dos que ainda andam "por aí" nenhum pode bater aquele que agora está, felizmente para nós, bem longe de Portugal, na ONU. O próprio Pinto de Sousa que refere é apenas uma continuação corrupta até à medula do papi Guti.           Maria araujo: O esquerdismo é uma cartilha de ódios, camuflados com a retórica de praticar o bem em nome da justiça, mas essas "ideologias" são fruto de frustrados alucinados que se julgam merecedores da gratidão do mundo… O inimigo do comunismo é a liberdade/democracia e para a minarem tomam de assalto lugares em que possam manipular as populações, escolas, faculdades, sindicatos, jornalismo....           Maria Eduarda Vaz Serra > Maria araujo: Muito bem dito                J Ferreira > Maria araujo: Sem dúvida. Alberico Lopes: Como sempre, brilhante! Alfredo Vieira: Espectacular! Uma crónica deliciosa (ainda que o tema seja próprio de uma tragédia bem real), obrigado!          klaus muller: Não deixa de ser curioso que dentro do PS ainda ninguém se tenha apercebido que o Hábil está longe de ser aquilo que a CS paga pelo governo apregoa: que ele é popularíssimo, que é uma figura simpatiquíssima. Na realidade e apesar das "sondagens" o apontarem sempre com quarenta e tal por cento das intensões de voto, após a contagem desses votos só raramente consegue chegar aos 39%. O tipo não é credível nem consegue gerar qualquer empatia na maior parte da população. Mas eles lá sabem ...          João Alves > klaus muller: 39% dos votos expressos por cerca de metade dos eleitores e não a 39% dos eleitores. klaus muller > João Alves: Exacto.           João Afonso: De facto o desconhecimento do mundo e da realidade poderá ser a explicação exclusiva do atavismo pandémico português. E esta realidade tem uma autoria política tida no esplendor da frente de esquerda. A grande verdade é esta: os danos causados por este frentismo social-comunista não terão remédio no médio prazo. Desconfio até que não tenha remédio, de todo      Francisco Figueiredo: Triste realidade, a nossa!          Português indignado: E o pior é que AG está cheio de razão 1ResManuel Ferreira21: Brilhante artigo. O "optimismo" do AG é igual ao meu. Já não acredito em regenerações do regime. Não sei como vai acabar, mas não será bonito de ver. No século XIX e XX havia uns militares para fazerem uns golpes de estado, agora nem isso, caminhamos para a emulação dos países africanos que sobrevivem com as ajudas da FAO, que geralmente são desviadas para nomenclatura corrupta! A dupla Marcelo& Costa podem abrigar-se no mesmo guarda-chuva, pois vai chover muita m...da.         Miguel Vaz Pinto: Não me espanta nossa aparentemente grande subserviência e alheamento. Só votamos metade, não será pelos fantoches terem falta de carisma? Não concordo no entanto com o catastrofismo de AG. Alguém disse que o inevitável nunca acontece, é sempre o inesperado. A austeridade está a acontecer: se for reconhecida pelos actuais pantomimeiros, será sempre como inesperado....          eduardo oliveira: O trágico e patético retrato dum país sem emenda nem conserto. Seguimos resignadamente, mas aos queixumes rumo ao abismo, sempre consolados por sermos os melhores dos melhores. Deprimente e irreparável país este, governado por chulos, grosseiros ordinários mal-educados e chico-espertos cuja única preocupação é amanharem-se o melhor possível e o último que feche a porta ...

 

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