domingo, 10 de outubro de 2021

Estado de sítio


De um país em “estado de graça”, pela inércia da maioria, que não permite ver a “desgraça”… Apesar dos muitos comentadores que vêem, na esteira da “visão” de AG, muitos mais se deixam enrolar pelo primarismo astuto dos vendedores da banha da cobra…

As doentes crónicas do dr. Carona /premium

Os artigos do dr. Carona são redacções do ciclo preparatório, assinadas por um aluno com pouco jeito e enorme vontade de agradar ao professor. Tamanha sucessão de banalidades envergonha.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR 09 OUT 2021

O vírus tem costas mais largas que os nadadores olímpicos. Milhares de infelizes morreram ou adoeceram gravemente por falta de consultas, diagnósticos e cirurgias? Culpa-se o vírus. Uma data de gente começou a sofrer de avarias mentais? Culpa-se o vírus. As falências deixaram inúmeros inocentes na miséria? Culpa-se o vírus. O país enfiou-se num buraco fundo de que nem dez “bazucas” o resgatariam? Culpa-se o vírus. O problema é o vírus não ter culpa, que a culpa é daqueles que reduziram toda a realidade a uma única doença, alegadamente para a combater e na prática com resultados no mínimo duvidosos. A pretexto da Covid, deliberadamente ou não, promoveram-se imensas desgraças.

Uma das maiores foi o advento dos “especialistas” na matéria. Os “especialistas”, ficaram os leigos a aprender, são aqueles sujeitos especializados em prever com exactidão o que acabou de acontecer e especializados em falhar as previsões do que ainda não aconteceu. Num ponto os “especialistas” foram unânimes: sobre a evolução do vírus, e as escolhas para a respectiva contenção, as duas ou três semanas seguintes seriam decisivas. Aliás, a convicção a este respeito era tanta que os “especialistas” andaram ano e meio a repetir o aviso. À semelhança dos militares tresmalhados que julgam combater uma guerra terminada há décadas, alguns “especialistas” continuam a alertar para o risco das próximas duas ou três semanas.

Por regra e por felicidade, os “especialistas” costumam actuar nos canais televisivos, produto que não consumo há longos anos e ao qual só acedo por via indirecta. Pelos vistos, o desempenho dos “especialistas” tem oscilado entre apoiar com entusiasmo as decisões das “autoridades” (quando as decisões das “autoridades” consistem em baixar a acção humana para valores residuais, de modo a que possamos dedicar o tempo a contemplar os relatórios da DGS e, claro, a actuação dos “especialistas”), e criticar com moderação as decisões das “autoridades” (quando as decisões das “autoridades” consistem em permitir, com enorme bonomia, um bocadinho de liberdade e assim encolher a relevância dos “especialistas”). Em suma, os “especialistas” seguem aquilo a que chamam “ciência”, afinal os palpites do dr. Costa. Conforme é próprio do espírito científico, defendem a proibição de qualquer ideia nitidamente avessa aos palpites do dr. Costa, perdão, à ciência.

Nos canais nacionais, abrigos de entulho e fanatismo, os “especialistas” não destoam. O que me aborrece é que, praga que são, os “especialistas” se alastrem para os jornais e, dentro destes, para as colunas de opinião. Aqui a história toca-me de perto, e não é o receio da concorrência. Pelo contrário: é o pavor da desvalorização do meu ofício, hoje nas ruas da amargura. Não tarda, desce às avenidas da penitência.

Vasco Pulido Valente havia um. Pedros Marcos Lopes são às resmas. Ou seja, para um colunista que pensava e escrevia deliciosamente, temos cento e cinquenta alminhas que ou sofrem de analfabetismo, ou de limitações cognitivas, ou – ver o citado sr. Lopes – acumulam. É certo que, pelo meio, resta uma dúzia de exemplares decentes, bons e muito bons. Não bastam. Sobretudo não precisam de novos colegas para ajudar a arrastar o colunismo na lama. Os Pedros Marcos Lopes sempre viveram na lama, fosse nos partidos ou nas franjas dos partidos, cadastro que por cá implica ascensão quase automática à crónica regular. Nesses casos inevitáveis, uma pessoa dá o desconto e, salvo por perversão ou tara, não lê. Os “especialistas” que vieram na enxurrada da Covid não são, ou não deveriam ser, inevitáveis, excepto se considerarmos a caldeirada de “cientificismo” e política que a epidemia suscitou.

O pior não é os “especialistas” pensarem com o coração, o órgão propenso à histeria. Grave, grave é escreverem com os pés. Há dias, introduziram-me, salvo seja, na pessoa, ideário e obra jornalística do médico Gustavo Carona, transformado em colunista do “Público”. Espreitei quatro ou cinco textos. Façam o mesmo. Viram? Deus tenha piedade de nós. O conteúdo é o que se esperaria de alguém que, segundo me garantiram, vai aos “telejornais” exigir restrições e censura. A forma é a que se esperaria de alguém que, simplesmente, se vê à nora para alinhavar uma frase sem cometer dois erros gramaticais. É a soma que deprime: os artigos do dr. Carona são redacções do ciclo preparatório, assinadas por um aluno do ciclo preparatório com pouco jeito e enorme vontade de agradar ao professor. Não sendo a coisa mais pobre que li do género (o sr. Lopes não falha), tamanha sucessão de banalidades envergonha. E a hipocrisia esclarece: sob o verniz “ecuménico” jaz o tipo de fervor inquisitorial que define um carácter. O conjunto é daninho. No Facebook, o homem diz-se escritor, médico humanitário e anestesista.

Médico humanitário, seja lá o que isso for, acredito. Escritor o dr. Carona não é, ou é na medida em que a pequena Greta é uma intelectual e o actual “Público” um órgão de informação e não uma folha de propaganda. Ou na medida em que eu sou habilitado a administrar anestesias: o sofrimento do paciente não ultrapassaria o do leitor das crónicas do dr. Carona.

Por falar em crónicas, esta é descaradamente corporativa. Implicando técnica e método, o colunismo é uma profissão, não um alívio promocional que ocupa vinte minutos das quintas-feiras. Como a profissão não deveria estar contaminada por papagaios partidários, também não faz sentido enchê-la de papagaios da DGS ou da sua própria vaidade. Se o dr. Carona quer ir à SIC passear intolerância e enxovalhar a classe médica, os médicos que lhe respondam. Mas enxovalhar a classe dos colunistas é um abuso. E uma redundância: já mencionei os Pedros Marcos Lopes?

SAÚDE PÚBLICA  SAÚDE

COMENTÁRIOS:

Alberico Lopes: Que crónica sublime! Quanto ao tal Marcos Lopes ou Marques Lopes, está mesmo fantástica! Só me pergunto: onde é que foi descoberto este "intelectual", que aparece em todos os cantos e com lugar cativo quer em jornais quer em programas de má língua como desportivos? É obra! Por alguma razão ele, que até andou a gravitar à volta do Passos Coelho, com a ideia de que seria assessor do Governo, foi atirado para fora do esquema e começou a dizer cobras e lagartos do Passos! É isto, o tal Marcos Lopes!

Helder Machado: O Dr. Carona é um agente de uma classe médica submissa. A seu tempo a narrativa se revelará na sua plenitude. Já existem bastantes indícios nesse sentido para quem anda informado. Chegará o momento de prestar contas.

João Afonso: Na verdade o dr Carona é um anestesista, daqueles do séc. xix. Daí o odor a clorofórmio que emana da folha panfletária do Público. Já o Lopes é um enigma, porque tem dois olhos, duas orelhas e, aparentemente algo entre elas que a comunidade científica não consegue identificar o que seja e qual a utilidade!

José maria: O dr. gonçalves gosta é dos vídeos, no you tube, do ex-juiz taekwondo. É aí que ele deve aprender todo o seu manancial de conhecimentos anti-pandemia e anti-vacinas. Sempre que ouve falar de vacinas, puxa imediatamente da pistola e desata aos tiros aos malditos vacinistas.

Hoyo de Monterre > yjosé maria: É tanta a ânsia de dizer mal de quem tem razão que se chama negacionista a quem no artigo diz expressamente que o Covid-19 é uma doença. Sei que é chato, mas se há pessoa que diz coisas com nexo é este colunista. Como consolo lembre-se que quem governa são os que pesam como o Sr José Maria, ou seja, os que afundam o país (não é a minha opinião, é mesmo do Eurostat)

Joaquim Moreira: As doentes crónicas do dr. Carona, são mais uma boa crónica para ser lida por muita mona! Sobretudo por todas aquelas monas, que são incapazes de ver, para além daquilo que lhes querem vender. Na verdade, obriga essas monas a pensar, com crónicas de qualidade. Até admito que haja monas lisas que possam discordar, mas não lhes é fácil contra-argumentar. Até porque não se limita a dar, e bem, na mona do dr. Carona. Vai mais além e dá na do sr. Lopes, também. E muito bem! Até porque se trata dum exemplar, verdadeiramente fácil de criticar. Que tudo o que diz é para a agradar. A tudo que no momento esteja a dar. E, mesmo até quando parece querer discordar, rapidamente volta á primeira forma, volta a concordar. Mas há, nesta crónica um aspecto, para mim, fundamental. Alberto Gonçalves não se coíbe de criticar a CS, em geral. Sem receio de pôr em risco a sua vida profissional. Que, não sendo "inteligente", como dirá qualquer simples mortal, é a prova provada da sua excelente qualidade profissional!

Andrade QB: Finalmente um artigo sem se autodiminuir em bagatelas. O entorse na escolha de fontes desqualificadas nos assuntos sobre que se apresentam especialistas limita gravemente a liberdade dos cidadãos raciocinarem pela sua cabeça. As mentiras, assim, como a propaganda, repetidas mil vezes...

André Ondine: Não estou a par das crónicas do Dr. Carona, mas isso não me fez apreciar menos o texto de AG. Há muito que falo por aqui do "comentarismo" Marques Lopes, um vírus extremamente perigoso, talvez letal, para a nossa democracia. Hoje em dia, a probabilidade de ligar a televisão, o rádio ou abrir um jornal e não nos depararmos com Pedro Marques Lopes, Pedro Adão e Silva ou um sucedâneo é muito reduzida. Eles estão em todo o lado. Falam de política, futebol, música, surf, golfe. O dito Marques Lopes, por vezes, até dança. E obriga-nos a ver. Estão em todo o lado. Sabem de tudo. Falam sobre tudo. E sempre de cima de uma ética inabalável. O que fazer em relação a isto? Vender a televisão e subscrever um serviço à prova de Marques Lopes? Duvido que haja. Felizmente, este jornal tem-se mostrado resistente ao "comentarismo" trendy, cozinhado no LUX à medida dos interesses que interessa promover. E o que promovem? Em primeiro lugar, promovem-se a si próprios. O Adão e Silva ganhou o tacho das comemoração do 25 de Abril, passeia-se de motorista e anda de programa em programa, com vários part-times para encher a carteira. E sabe de tudo, claro. O Marques Lopes não convenceu ninguém a dar-lhe um tacho institucional, mas lá arranjou mais uma página na Visão, para poluir mais um meio de comunicação. Nas redes sociais, onde a sempre presente e também guru Fernanda Câncio tem papel preponderante, partilham os disparates uns dos outros. Vão espalhando a palavra da sabedoria de cada um. Alimentam o monstro. Em segundo lugar, promovem quem lhes interessa promover. Quem é permeável à influência desta gente. Agora andam a promover o Adolfo Mesquita Nunes, cuja opção sexual não é uma coisa natural e banal, mas sim um trunfo divino para se tornar num símbolo do novo politicamente correcto. Promovem outros. Já promoveram Sócrates. Já promoveram o Habilidoso. Adoram o CDS de Francisco Mendes da Silva e do Adolfo. Promovem Marcelo, que os bajula a eles. Em terceiro lugar, promovem o ódio aos seus ódios de estimação. Cavaco, Passos (de quem Marques Lopes era grande amigo até ver que dali não vinha nada para ele), o Chicão....todos estes são alvos a abater. E eles abatem-nos, sem apelo nem agravo.

O AG (com quem nem sempre concordo, nomeadamente em relação à questão da pandemia) é um espírito livre. E isso é algo que o "comentarismo" Marques Lopes detesta. Não conhece. Não controla. Obrigado por isso.

Em relação ao SNS, o Secretário Brilhante é que tem razão. A pandemia foi boa para Portugal. Pelo menos permitiu-lhe esconder durante quase dois anos a delapidação cativadora que destruiu o SNS desde que o Habilidoso começou a tragédia do seu mandato. Mas agora, começam-se de novo a destapar as verdades. E a realidade não é bonita.

Ar: Isto é tão bom, tão bom, mas tão bom que não dou por mal empregue a assinatura, que me permite ler pérolas como esta, pq sobre o próprio jornal, e as notícias que dá, ainda não consegui diferenciar das dadas pelos prolongamentos do governo". Bem-haja, Alberto Gonçalves!!!

José Dias: As incongruências sem fim a que assistimos e continuamos a assistir, os "especialistas" que dizendo e desdizendo prevêem um fim do mundo para o final de cada semana (em que as próximas duas ou três vão sempre ser as cruciais...), as "autoridades" que afirmam tudo e o seu contrário sem o menor incómodo ou vergonha, as "medidas" que evitam o que nunca é possível de verificar se efectivamente existiria de forma distinta e que, por outro lado, ignoram o que todos verificam estarem a causar, as vacinas que imunizam quem precisa de protecção em relação aos não protegidos, a "necessidade" de vacinar os mais jovens que não sofrem risco significativo para supostamente proteger os mais velhos a quem a tal vacina aparentemente não protege ... e a lista podia continuar muito mais. Só mesmo quem quer - ou é pago para tal - é que insiste em fazer de conta que não vê!

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