Uma lição de “ordens”
Que leigos, como eu, agradecem, sem que
daí venha qualquer resultado prático ao mundo. Só recordo o caso inverso das “praxes”
académicas, com “proteccionismos” dos “doutores” sobre os caloiros que os
aceitam. Na luta a sério, os “doutores” já não aceitam os novatos concorrentes,
e formam mesmo barreiras…? “Mundo muito
mal feito, Marquês…”, indeed. Agradeço a Helena Garrido e comentadores o
esclarecimento.
O caso das ordens e um obrigada aos frugais /premium
Porque só conseguimos resolver os
problemas difíceis quando ficamos nas mãos de quem nos dá ou empresta dinheiro?
Desta vez temos de agradecer aos frugais europeus a mudança que vai haver nas
ordens.
HELENA GARRIDO
OBSERVADOR, 12 out
2021
Vale
mais tarde do que nunca. O PS apresentou
uma proposta para alterar as regras que regem as ordens profissionais, mais de
duas décadas depois de se ter tornado claro que estas associações estavam a
criar barreiras à entrada na profissão, que já dificilmente se justificavam
pela garantia de qualidade do serviço. Foi
preciso estar em causa o dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência para
que se tivesse a coragem de enfrentar estas corporações, depois de esta reforma
não ter avançado no tempo da Troika.
O sonho egoísta de qualquer profissão ou
empresa é ser monopolista. Conseguir
que mais ninguém preste os seus serviços ou venda os seus produtos é garantia
de ganhos adicionais, pelo poder que dá a quem está do lado da oferta. Há pelo menos duas décadas (lembro-me de ter escrito sobre este tema no início
deste século) que as ordens estavam também a funcionar como uma
barreira à entrada de novos profissionais, o que prejudica especialmente os
mais novos e limita o acesso dos cidadãos aos serviços que prestam. Respeitando a natureza humana e a característica mais
simples do Homo Economicus, quem já estava dentro da profissão (os ‘insiders’) ia criando regras para impedir que os novos
entrassem, protegendo-se da concorrência e garantindo assim uma renda. Os casos
mais graves eram os da Ordem dos Advogados e dos Médicos.
O
diagnóstico foi explicitado e transformado em medida a adoptar no
Programa de Ajustamento Económico e Financeiro, mais conhecido como o plano da troika,
enquadrado nas reformas estruturais dos mercados de produtos e serviços. Acabou por
nunca se concretizar. A interpretação
que António Costa deu à ausência dessa reforma, na era da troika, acabou por se
traduzir numa critica ao PSD e CDS, considerando que o Governo de
Pedro Passos Coelho não teve coragem. Nunca saberemos se o PS faria esta mudança se não
fosse uma das condições para receber o dinheiro do Programa de Recuperação e
Resiliência, condição essa que foi imposta pelos países europeus designados
como frugais.
É
de facto muito inteligente o argumentário do PS, ao assumir como sua a
necessidade de mudar estas regras, na linha aliás do que recomendavam os
tecnocratas da troika: assumir as medidas como sendo medidas do Governo e não
da troika. Mais, o Governo de António Costa não perdeu uma oportunidade
para criticar as ordens, especialmente a dos Médicos, desde pelo menos 2019,
criando o ambiente favorável às mudanças. Foram críticas de restrição ao acesso à
profissão, críticas à iniciativa da Ordem dos Médicos de
fazer uma auditoria ao
que se passou no lar de Reguengos de Monsaraz, críticas do ministro do Ensino
Superior Manuel Heitor sobre os médicos de família e finalmente o processo público de abertura do
curso de Medicina da Universidade Católica a servir também para que a opinião pública percebesse o poder da Ordem
dos Médicos.
Valia
a pena o PSD e o CDS aprenderem com o PS como é que se vai conquistando a
opinião pública para a aprovação de medidas que parecem impossíveis por via do
poder dos interesses instalados. É pena que o PS não se dedique a outras
reformas, nomeadamente à da administração pública e das empresas detidas pelo
Estado, com o mesmo empenho. Há várias explicações possíveis, entre elas ser
muito mais difícil convencer o PCP e o BE e não se querer correr o risco de
desagradar a quase um milhões de funcionários públicos.
Tendo
conquistado a opinião pública para um problema com mais de duas décadas, o
Governo e o PS não venceram obviamente as ordens, que criticam violentamente as alterações propostas socialistas. Claro que é preciso verificar
se as acusações que fazem têm fundamento – designadamente se abrem a porta a
uma ingerência indevida do Governo. Porque
há uma ingerência que é obrigação de qualquer Governo, a de garantir que o
acesso à profissão não tem barreiras desnecessárias que protegem os que já
estão instalados e prejudicam as novas gerações e, mais grave ainda, limitam a
prestação de serviços por reduzirem a quantidade de profissionais.
O problema é que, depois do que fomos
vendo ao longo dos anos, designadamente na medicina e na advocacia, as ordens
actuaram verdadeiramente como uma barreira ao aumento do número de médicos, até
mais do que no caso dos advogados. Os grandes vencedores da mudança que o PS
propõe são não apenas os jovens que querem entrar nessas profissões, mas toda a
sociedade.
Carregamos
de facto alguns vícios que herdámos do Estado Novo, com a suas leis de
condicionamento industrial, que protegiam os instalados. O caso das ordens é bem capaz de ser um dos poucos
exemplos em que este Governo põe em causa interesses instalados. Temos de
agradecer a Bruxelas, às condições impostas para aceder aos cheques do Programa
de Recuperação e Resiliência.
É lamentável que não sejamos capazes
de adoptar as medidas que são necessárias para garantir o desenvolvimento sem
ser à força da falta de dinheiro, como aconteceu na era da troika, ou para ter
acesso a mais dinheiro, como vemos agora. Resta-nos
agradecer aos países europeus, e especialmente, neste caso, aos conhecidos como
frugais (Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia) por terem lutado para impor condições de acesso ao
cheque de dinheiro europeu.
ORDEM DOS MÉDICOS MÉDICOS SAÚDE
COMENTÁRIOS:
Mestre Nhaga: A ordem que mais poder algum dia teve em Portugal, que tudo asfixia, tudo
controla tudo confisca e é a verdadeira razão do nosso atraso e do nosso
empobrecimento progressivo, é a ordem da rataria xuxa. O seu grão-mestre actual
é o famoso habilidoso, cá dentro sempre arrogante e malcriado e lá fora de
espinha dobrada e mão estendida. Gabriel Moreira: Propor a extinção das Ordens
Profissionais. Penso que é um caso a
considerar. advoga diabo: "Porque só conseguimos resolver os problemas
difíceis quando ficamos nas mãos de quem nos dá ou empresta dinheiro?" A resposta a esta pergunta
encontra um bom exemplo na atitude de HG, e dos economistas em geral, que fala
muito e não faz nada, limitando-se a falhar copiosamente o que prevê. Chama-se
inércia! Victor
Sanfins: Convinha era
explicitar como é que se tem feito essa limitação no acesso à profissão Snyder
Cut: Totalmente de
acordo. Apoio a IL pelo fim destas inúteis ordens Miguel Eanes: Chegou a conhecimento público
este projecto de Lei do Iniciativa Liberal: Um projecto de lei da Iniciativa
Liberal propõe a extinção de ordens profissionais, e a limitação de poderes às
restantes. Pobre
Portugal: Esta crónica é
mais um exemplo da “subserviência por parte da comunicação social à lógica do
Governo, à sua propaganda e desinformação, num claro afastamento dos princípios
da independência e da verdade que a devem nortear”. Fernando E: Muito bem bento
guerra: Conversa inútil. Passamos
de uma intervenção exagerada (e cara, no caso dos advogados) das Ordens, para a
conversa fácil, num país de ignorantes. As Ordens são uma mais valia na
garantia de conhecimentos. O que não se pode é excluir a actividade dos
"não ordenados" Mario
Guimaraes: Sou contra um partido que quer controlar
o aparelho do Estado, grupos independentes, meios da comunicação etc. Criamos
um Estado totalitário e depois vêm as queixas. Sócrates tentou fazer isso. É
dever de um cidadão denunciar essas tentativas. Não acredito que qualquer grupo
não pretenda ter jovens ou impeça a sua entrada. É um sinal de vitalidade e
sobrevivência desse grupo. Isso parece uma falsa questão. Luis Ferreira: No Parlamento, o PM gabou-se da
sua coragem de enfrentar as Ordens. Nenhum deputado foi capaz de dizer que foi
condição para receber o dinheiro da bazuca. Talvez não soubessem. Isto diz
muito da oposição, infelizmente... Quinta
Sinfonia: O problema do país sempre foi a
protecção de interesses instalados em detrimento dos interesses do país como um
todo. Basta ler “Porque falham as nações” e está lá tudo: as pequenas elites instaladas no poder nunca estão interessadas em
concorrência, por isso resistem sempre a quaisquer mudanças, querem
evidentemente manter a sua renda através de monopólios ou benefícios especiais
que reivindicam eternos para si próprios.. Só políticos
corajosos, que não pensem em reeleições, podem conflituar com estes interesses
e dar-lhes guerra… No nosso caso, só mesmo com o dinheirinho somos obrigados a
vergarmo-nos. Até aposto que Costa em privado diz que o que está a fazer só se deve à
imposição dos estrangeiros, lamentando-se, em público gaba-se do ir fazer,
enfim, típico de um artista… triste. Américo
Silva: Subscrevo a
crónica da Helena Garrido. S
Belo > Américo
Silva: Não subscrevo a crónica de
Helena Garrido. O governo pugna pela quantidade e a ordem pela qualidade. Martelo de Belem ....: É necessário conhecer a verdade que a coragem política
é coisa que falta em Portugal
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