sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Nada de ralações

 

Cantemos, de preferência:

Lisboa Não Sejas Francesa

AmáΙia Rodrigues

Não namores os franceses
Menina Lisboa
Portugal é meigo às vezes
Mas certas coisas não perdoa

Vê-te bem no espelho desse honrado velho
Que o seu belo exemplo atrai, vai
Segue o seu leal conselho
Não dês desgostos ao teu pai

Lisboa, não sejas francesa
Com toda a certeza não vais ser feliz
Lisboa, que ideia daninha
Vaidosa, alfacinha, casar com Paris

Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados, com as almas na voz
Lisboa, não sejas francesa
Tu és portuguesa, tu és só pra nós

Tens amor às lindas fardas
Menina Lisboa
Vê lá bem pra quem te guardas
Donzela sem recato, enjoa

Tens aí tenentes bravos e valentes
Nados e criados cá, vá
Tenha modos mais decentes
Menina caprichosa e má

Lisboa, não sejas francesa
……………………

Fonte: Musixmatch

Compositores: Raul Ferrão / José Galhardo

 

Uma Europa cada vez mais francesa

Os gregos já não confiam que os americanos consigam, ou estejam disponíveis para conter as ambições turcas. E contam que a promessa de empenho francês o possa fazer.

HENRIQUE BURNAY, Consultor em assuntos europeus

OBSERVADOR, 21 out 2021

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No final do mês passado, França e Grécia celebraram um acordo militar que inclui a promessa de assistência mútua em caso de uma das partes ser agredida, além da venda de três navios, que acrescem a 18 aviões também adquiridos aos franceses no último ano. Tudo isto, pouco tempo depois da saída americana do Afeganistão sem dar grandes explicações aos aliados e do episódio dos submarinos que os australianos decidiram comprar aos americanos e britânicos, desistindo do negócio com os franceses, tem vários significados.

Além das compras, o aspecto mais importante do acordo é que prevê assistência militar francesa à Grécia na eventualidade de uma escalada do conflito entre Atenas e Ancara por causa das águas territoriais e os respectivos direitos de exploração no Mediterrâneo. Claro que não diz isto assim e que ambas as partes disseram que não era nada disso que estava em causa, mas a intervenção do primeiro-ministro grego no parlamento é bastante eloquente sobre quem ele considera que é hoje uma ameaça no Mediterrâneo. (Não vá alguém estar distraído, recorde-se que ambos os países – e todos os restantes membros da NATO – já estavam obrigados à defesa mútua em caso de um destes dois países ser atacado por terceiros, precisamente por virtude do Tratado do Atlântico Norte.)

Mesmo sabendo que a tensão com a Turquia não é um exclusivo dos gregos e que os franceses são a “potência” europeia com mais interesses no mediterrâneo oriental, há aqui novidades importantes, portanto.

O que esta compra e venda com acordo de defesa associado significa é que dois Estados membros da União Europeia e da NATO assinaram um acordo a pensar na eventualidade de um conflito com um outro membro da NATO que tem chantageado a Europa com a ameaça de deixar passar hordas de migrantes, tem exibido músculo no Mediterrâneo e à sua volta e parece ter crescentes ambições regionais. Sobre a qualidade das relações entre os europeus e aliados ocidentais e a Turquia, que há pouco tempo foi fazer compras militares à Rússia, estamos falados. Só importa manter a Turquia na NATO porque de fora seria ainda pior.

Mas este acordo quer dizer mais duas coisas. Que os gregos já não confiam que os americanos consigam, ou estejam disponíveis para conter as ambições turcas. E que contam que a promessa de empenho francês o possa fazer.

Num instante, são três alterações fundamentais na política de segurança de países europeus. Cooperação intra-europeia apesar da NATO e mesmo contra um dos seus membros, desconfiança quanto ao compromisso do interesse americano na região, e confiança no valor da principal força militar da União Europeia (que é o que os franceses são, desde a saída do Reino Unido).

Tudo isto acontece numa altura em que os americanos parecem estar a dizer aos europeus que não têm nada contra a ideia de defesa europeia, porque têm de ser os europeus a tomar conta do que se passa na sua região, que diz cada vez menos aos interesses dos Estados Unidos.

Para os entusiastas da defesa europeia, integrada numa ideia de autonomia estratégica, tudo isto são peças que se encaixam na perfeição no seu puzzle geoestratégico.

Para os adeptos da necessidade de manutenção do laço transatlântico, que compreendem que uma defesa europeia focada nos interesses das “potências” continentais e com objectivos concorrentes naquelas que consideramos ser as nossas zonas de influência e de interesse, como seja a África lusófona, em especial a que está junto da África francófona, por exemplo, estas movimentações não têm nada de bom.

O facto de os gregos saberem o que estão a fazer, e de os franceses estarem a ter sucesso não quer dizer que os nossos interesses estão mais bem protegidos. Admitindo, claro, que temos uma ideia sobre quais são os nossos interesses e que eles não se confundem com a ilusão de um suposto interesse europeu comum e único.

CAFÉ EUROPA   UNIÃO EUROPEIA   EUROPA   MUNDO   GRÉCIA   FRANÇA   NATO

COMENTÁRIOS:

PortugueseMan ...Mas este acordo quer dizer mais duas coisas. Que os gregos já não confiam que os americanos consigam, ou estejam disponíveis para conter as ambições turcas... Mas os gregos já não confiavam nos americanos. Afinal a Grécia é o país da NATO que comprou vários equipamentos russos, incluindo o sistema S-300 que fez com que a Turquia reagisse de forma agressiva. Agora os turcos também deixaram de confiar nos americanos e daí estarem a comprar armamento russo incluindo o sistema S-400, não vá o diabo tecê-las. Claro que com os negócios e ligações cada vez maiores entre a Turquia e a Rússia, a Grécia deve estar um pouco preocupada sobre o que farão os americanos e os russos, no caso da Turquia resolver abocanhar algo mais. Portanto sim, faz sentido, virar-se para os franceses e um dia destes também para os alemães. Agora contar com os americanos... há muitos anos que não contam com eles, basta ver o dinheiro que gastaram em armamento russo. E a NATO... a NATO está num lindo estado. Anda muita coisa inquinada por ali.

Cabral Paula: Quem é que pode confiar nos americanos? 

Ahmed Gany: Pelos vistos derrotar os turcos ainda faz parte do conceito imperial de soberania europeia. 

bento guerra: Quem não tem cão, caça com gato. A França é a única potência militar da UE, enquanto não derem liberdade à Alemanha para se armar a sério

 

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