domingo, 10 de outubro de 2021

Ainda bem

 

Que o Dr. Salles vai trazendo para a “arena” do debate público estes temas controversos que a ele, português de raça, não custarão a sublinhar, mas que são tabu para as gerações presentes, mais votadas ao vozear clubístico do desenvolvimento físico, único a possibilitar reconhecimento emotivo sobre o significado de pátria - para além, é certo, do abraçar comovido das causas sociais, desde que tenham como contrapartida o vozear acusatório contra os mordomos do capital, que hoje permanecem acima de tudo, não entre os reais produtores de trabalho, mas entre os do desvio ilícito, fruto, de resto, de empréstimos, que não se lhes dá que sejam ou não ressarcidos, comprometido o futuro, sem honra nem pejo. Honesto e competente, Salazar pagou as dívidas do seu tempo, com a autoridade que soube exigir, imposta com mão menos branda, mas de vocação patriótica, baseada em leituras feitas – hoje substituídas, de preferência, por destrezas físicas, essencialmente efectivadas pelos pés - eventualmente por cabeças em trejeitos físicos oportunos. Mas no tempo de Salazar o desporto também foi prática desenvolvida, em festivais em que as meninas participavam, de vestido branco, não era tudo tão triste assim, como se pinta. E havia escolas nas aldeias, substituídas hoje por autocarros que encaminham os alunos para distâncias maiores, de sociabilização e fuga dos campos

Dentro em pouco, ninguém mais saberá quem foi Salazar, relegado para os escaninhos da indiferença pública, nas prateleiras das bibliotecas, cada vez menos procuradas, a Internet, eventualmente dando uma forcinha para colmatar a carência.

 

À CONVERSA COM LESO

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 09.10.21

 

Mas fiquei a pensar na tal “censura” familiar… Estou mesmo a ver que a “censura” resulta do tom relativamente benigno que o Luís vem usando ao escrever sobre Salazar em contraponto com a oposição que sempre cultivou contra a ditadura. E a família, formatada na tradição, não aceita uma visão mais holística e afastada das refregas do passado. Será? Não tenho uma certeza absoluta mas quase. Tenho visto muita desta tradição formatada a condicionar a exteriorização de novas opiniões sobre factos envelhecidos: «Já o meu avozinho dizia…» e o netinho não sai dessas perspectivas.

Tenho uma amiga burguesíssima que se mantém fiel ao comunismo porque a tradição familiar a isso a prende. E pelo amor aos pais defuntos que a une às saudades e ao romantismo de alguma clandestinidade nas barbas da política antiga, não ouso chamá-la à razão dos tempos modernos, à distância do passado, a uma visão global. Se se perde o sentido cultural inspirado por uma certa tradição, corre-se o perigo da desmagnetização da bússola e o rumo passar à deriva errática. E, bem pior, perder as saudades dos entes queridos. Este, sim, o pior dos males. E eu deixo-a ser comunista… desde que não me incomode com ideias que podem ter tido alguma validade no séc. XIX mas que fedem neste XXI já um tanto mais do que recém-entrado.

Mas nestas visões holísticas que hoje possamos ter, não validaremos os erros que então as partes cometeram nem esqueceremos o bem que todas elas praticaram, apenas deixaremos cair a paixão das circunstâncias passadas.

Ah!, já me esquecia: LESO é a sigla onomástica do meu primo Luís, o Embaixador.

A ver o que ele me dirá telefonicamente quando tratar da saúde ao Alfredo que se esqueceu dos políticos e por isso eles são tão maus.

Outubro de 2021

Henrique Salles da Fonseca

Tags: leso

COMENTÁRIOS:

Maria Eugênia: 09.10.2021: Acho urgente falar do futuro, salvar a Nação, nem volta Salazar nem D Sebastião; e, a bem dizer, não os queria. Quero um governo direito, moderno.

Anónimo, 09.10.2021: A desmagnetização da alma! Abraço. Elias Quadros

Anónimo 10.10.2021: "Censura familiar" ...um conceito redolente de uma era que passou, aconchegante como o crepitar de uma lareira, porém intruso numa sociedade onde o individualismo tomou aposentos. Obrigado, Dr Henrique Salles da Fonseca, pelo prazer de nos permitir participar na conversa com LESO. António Fonseca

 

 

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