Mas a economia chinesa tem recursos de
sobra, num povo que sobra, ante um mundo que cede…
"Evergrande pode ser a estocada
final na economia chinesa",
diz analista que vê "maior esquema Ponzi
de sempre" no imobiliário chinês
▲Em
agosto de 2017, Anne Stevenson-Yang
deu uma entrevista onde disse que a China ia "bater contra uma
parede" e que "não há empresa mais ilustrativa da bolha do que a Evergrande
– é o maior esquema piramidal que o
mundo já viu".
O sector imobiliário chinês é
"maior esquema Ponzi que o mundo já viu", criado com a cumplicidade
do regime, que agora está "entalado". Entrevista à analista Anne
Stevenson-Yang, que previu o colapso.
OBSERVADOR, 20 out 2021
O “Dia D”, de default, está prestes a chegar. A 23 de outubro esgotam-se os 30 dias do período de
graça previsto nos primeiros títulos de dívida cujo pagamento a
chinesa Evergrande falhou. O que acontece se esta gigante da promoção
imobiliária continuar sem pagar aos credores? “Um momento Lehman não é o
paradigma mais apropriado, o que pode
estar em causa é a estocada final na economia chinesa”, afirma Anne
Stevenson-Yang, uma
analista financeira que passou boa parte das últimas décadas na China a alertar
para o colapso do “maior esquema Ponzi que o mundo já viu“.
O
Observador entrevistou a co-fundadora da firma J Capital
Research através do Skype, poucas horas após o Banco Popular
da China garantir em comunicado que a
Evergrande era um caso isolado e que os riscos para o sistema financeiro eram
“geríveis”. “Claro que
dizem que não existe um problema relevante… mas isso simplesmente não é
verdade“, afirmou a
analista, a partir do seu escritório caseiro no Connecticut, EUA.
Nem
a Evergrande é um caso isolado – porque já faliram este ano centenas de promotoras
imobiliárias (e muitas outras para lá caminham) – nem se pode dizer com certeza
que os riscos são geríveis, porque este grupo é “tentacular” e é impossível
as autoridades do poder central chinês terem uma noção perfeita das implicações
de uma falência. “Aliás, essa é uma imagem errada que muitas pessoas têm
– que em Pequim existe um poder central que faz uma gestão política pensada,
planificada, coordenada. Simplesmente não é assim: muitas vezes é apenas
um conjunto de pessoas a improvisar, cheias de medo de que haja um crash“, diz a analista.
Anne
Stevenson-Yang, analista da J Capital Research
As
autoridades estão a mexer-se, nos bastidores, e isso poderá ser suficiente para
conter a pressão no curto prazo, acredita a especialista. “Ao mesmo tempo que
garantem que não há problemas, estão a injectar 100 mil milhões
de yuan [equivalente a 13 mil milhões de euros, em setembro] em liquidez no sistema
bancário e estão a dar ordens aos bancos para que aprovem os processos de
financiamento mais rapidamente”, lembra Anne
Stevenson-Yang. Por outro
lado, Pequim está a pedir às empresas públicas que comprem activos da Evergrande, para a
ajudar a garantir encaixes financeiros que permitam reembolsar a dívida no
curto prazo.
“Eles
[as autoridades chinesas] estão a tentar ajudar a situação mas sem o fazer
de forma muito visível“, afirma a
analista. “Eles sabem que as pessoas não vêem com bons olhos que o
cidadão comum esteja a perder dinheiro ao mesmo tempo que alguém como Hui Ka
Yan, o fundador da Evergrande, leva para casa uma fortuna [7 mil milhões de euros] em dividendos”, acrescenta Anne Stevenson-Yang.
Neste
momento, a analista antecipa que este “vai
ser um inverno duro“, em que
os mercados financeiros vão continuar nervosos em relação às ramificações das
falhas de pagamento de uma empresa com o equivalente a 260 mil milhões de euros
em dívida acumulada. Mas não é de antecipar “um ataque cardíaco na
finança chinesa” porque ainda existe a expectativa de que o governo acabará
por colocar a mão por baixo, de alguma forma.
“Em janeiro, quando é feito o novo plano
económico anual, penso que eles vão ter medo e vão abrir as torneiras
– isto é, injetar dinheiro no setor como fazem sempre, continuando a
encher a bolha“, antecipa Anne Stevenson-Yang, que viveu 25 anos na China e
tinha como hobby passear pelas cidades-fantasma e tirar fotografias
às incontáveis fachadas de prédios desocupados e infraestruturas vazias.
Crescimento
económico na China está a desacelerar
Delícias para
os olhos dos pessimistas
A especialidade
desta analista é escrutinar os balanços de empresas que podem esconder (de
forma mais ou menos deliberada) dificuldades que os mercados financeiros ainda
não tenham detectado – casos desses podem representar oportunidades para
apostar na queda das acções dessas empresas, através do chamado short
selling.
Mas o
problema aqui não era micro, era macro: estava em causa uma
“bolha” que rebentaria quando as autoridades deixassem de a manter cheia – ou,
em alternativa, quando as autoridades deixassem de conseguir mantê-la
cheia. Essas fotografias acabaram por ser compiladas num website a
que chamou “As
Cidades-Fantasma da China – Delícias para os Olhos dos Pessimistas“.
“Nunca encontrámos uma zona da China onde
não houvesse empreendimentos-fantasma. Ninguém parece querer acreditar em quão
generalizado este problema é, portanto decidimos expor as nossas fotos e
convidamos todos a enviarem também as suas”, pode ler-se no site onde se
conclui que “as fotos são de várias
zonas, mas a história é sempre a mesma“.
A “história”,
que é “sempre a mesma”, é a história de uma aposta na construção de milhões de
casas para serem vendidas não como habitações mas exclusivamente como activos
especulativos – construção essa que sempre foi financiada por mais e mais
dívida. Em agosto de
2017, Anne Stevenson-Yang deu uma entrevista ao
Finanz und Wirtschaft (FUW) onde disse, claramente, que a China
ia “bater contra uma parede” e que “provavelmente não há empresa mais
ilustrativa da bolha do que a Evergrande – é o maior esquema piramidal que
o mundo já viu“.
Ao Observador diz que continua a pensar que a
Evergrande e o sector da promoção imobiliária chinesa, como um todo, são o
maior esquema piramidal que algum dia existiu – bem maior, portanto, do que os
grandes esquemas Ponzi detectados nas últimas décadas, como o liderado pelo
financeiro norte-americano Bernie Madoff. “O esquema tem continuado porque as autoridades estão
sempre a disponibilizar mais dinheiro ao fundo da pirâmide”, ou seja, novo
crédito.
“Dá-se crédito aos promotores e, quando acontece não
conseguirem vender o que construíram – o que acontece frequentemente –, os
bancos dão mais e mais crédito para que continuem solventes e nunca tenham de
baixar os preços”. Caso os preços baixem são os
bancos que, depois, ficam entalados porque têm de pensar no que
pode acontecer ao valor dos outros ativos comparáveis que também estão no seu
balanço. “Se um promotor precisa de vender a um desconto
superior a 5%, por exemplo, então o banco credor começa a ficar nervoso e
dá-lhe mais dinheiro para que ele possa aguentar mais uns anos, à espera que o
mercado suba. É assim que o Ponzi funciona, basicamente“, explica a
analista.
“Num mundo normal, se não estivesse a haver
continuamente novos refinanciamentos, o que teria de acontecer era que as
empresas teriam de assegurar algum cash-flow através da redução dos
preços”, explica Anne Stevenson-Yang, dando um exemplo concreto: “Imagine
que tem 300 apartamentos para vender e ninguém está a comprar, o que tem de
fazer é começar a baixar o preço até começar a haver compradores. Mas isso não
acontece na China porque toda a gente tem terror das consequências
sociais, para não falar das consequências financeiras, de haver uma quebra nos
preços“.
Prédios
vazios. Mas “um dia estarão ocupados, vai ser como a Europa”
Por definição,
um esquema piramidal finge que cria valor onde ele não existe. A analista
explicou que, se um promotor estivesse a construir uma torre de apartamentos
com 200 unidades embora apenas tivesse comprador para 15, fazia o seguinte:
vendia essas 15 primeiro, por exemplo a 7.000 yuans/metro quadrado, e chamava
àquilo a “Fase 1”. Depois, destacando a forma rápida como foram esgotados os
apartamentos da “Fase 1”, colocava-se mais 15 unidades no mercado a 8.000 yuans
– “ouçam, a Fase 1 já voou, agora o
preço subiu para 8.000 yuans portanto é melhor comprarem já“, dizia-se
aos clientes.
Na China “as pessoas não confiam nos bancos, porque
sabem que os bancos não têm como prioridade os interesses das pessoas mas, sim,
os interesses do governo”, explica a analista, ao Observador. Então, “as pessoas sentem que quando compram uma
propriedade têm um activo real, com quatro paredes” – não é difícil
encontrar um taxista em Pequim que é dono de três ou quatro apartamentos nos
subúrbios. Até podem estar todos
vazios, mas “um dia estarão ocupados,
vai ser como a Europa“, pensam, repetindo aquilo que os promotores
lhe cantaram aos ouvidos, diz a analista.
Quando
o atractivo de serem activos reais não era suficiente, seduzia-se os
investidores com malas Gucci e eletrodomésticos da Dyson – não só investidores
em casas mas, também, na vasta panóplia de “produtos de gestão de património”
que a Evergrande começou a distribuir e que prometiam juros na ordem dos
13%, descreveu
recentemente a agência Reuters.
Entre os investidores nesses produtos
estão, também, funcionários da própria Evergrande que estão nesta altura a
organizar manifestações públicas sobre as quais muito pouco chega ao Ocidente.
“Alguns deixaram de receber ordenado [ou parte dele] e a empresa sugere
pagar-lhes não em dinheiro mas, sim, oferecendo-lhes casas e lugares de
estacionamento“, diz Anne Stevenson-Yang.
A situação em
torno da Evergrande pode tornar-se um problema político para o Presidente Xi
Jinping porque se gerou uma perceção de que, tendo em conta as
particularidades da política económica chinesa, o governo, no final, acaba
sempre por intervir. Foi o que aconteceu em 2018 com o grupo financeiro
Anbang – dono dos hotéis Waldorf Astoria, que chegou a estar interessado no
Novo Banco – e, também, do grupo HNA, que em 2020 também foi alvo de uma
reestruturação patrocinada por Pequim.
Porém, todas estas dificuldades
na Evergrande e em tantas outras promotoras imobiliárias começaram no ano
passado, quando o regime apertou as regras de financiamento a este setor – no
fundo, uma tentativa de esvaziar a bolha devagarinho. “A dúvida é se vão ter capacidade de aguentar a pressão durante muito
tempo ou se acabarão por ceder, voltando a abrir as torneiras” da
liquidez financeira à banca, afirma Anne Stevenson-Yang.
“Posso estar enganada, mas acredito
que eles vão ter medo e vão inundar novamente a economia com dinheiro“, afirma a analista. O problema é
que desta vez o regime pode não conseguir alimentar a bolha, mesmo que queira
fazê-lo. A intervenção, a confirmar-se, “pode agravar os riscos de inflação”
que já estão a fazer-se sentir em várias partes do mundo e “as pessoas podem
começar a ter medo, a economia pode cortar no investimento – já estamos a ver
isso, a nova construção a cair, a procura por cimento a baixar… Isto pode
ser a estocada final na economia chinesa“.
CHINA MUNDO MERCADOS
FINANCEIROS ECONOMIA E NTREVISTA
COMENTÁRIOS:
Paixao: boa análise. Antonio Tavares: esqueceram de informar a qualidade técnica (isolamento
térmico e/ou acústico, segurança contra incêndio, segurança contra sismos, etc)
desses produtos da construção civil (edifícios) e cidades , distribuídos pela
China e também por outros países. manuel Jorge: O problema é que 30% do PIB chinês é baseado na
construção. O PPC vai ter de transferir esse motor de crescimento para outras
áreas: energias renováveis? energia nuclear? Alguidar de Henares > manuel Jorge: Há
sempre a eterna distração mor para o PCC se proteger da fúria do povo enganado:
consiste em começar uma guerra. Xico Nhoca > Alguidar de Henares: Os chineses nunca ganharam uma guerra de forma que é
pouco provável que vão por aí! José Monteiro > Alguidar de Henares:
Ali ao lado, a Formosa. José Santos: Estocada final no PCC? É capaz, se ao menos o regime
chinês pudesse usar uma guerra para salvar a pele. Se ao menos tivessem uma
nação mais pequena para atacar. Se houvesse um pedaço de território
independente que nunca ocuparam na guerra civil. Até podia ser uma ilha, embora
para isso tivessem de ter a maior marinha do mundo. Pois, não vejo como se
safam desta.. Henrique
Mota > José Santos: Não
deve ser por acaso que começou a intensificar-se a pressão sobre a Formosa josé maria > Paulo Machado:
China, expoente do capitalismo. A história recente da
economia chinesa é uma síntese, no tempo e no espaço, da história do
capitalismo. Expresso, 7/1/2015 Bom proveito... Cogito E > josé maria: Claro
que a China já não é comunista! E não é desde que, com Deng Xiaoping, virou à
Direita, virou fascista (ditadura carniceira, sim, - laço comum com o comunismo
- mas com economia de mercado e propriedade privada dos meios de produção)!!!
"Enriquecer é glorioso" - disse Deng! Erros, defeitos, problemas, etc., na Economia? Sim! Não
existem regimes perfeitos. Mas, uns são mais imperfeitos que outros. E foi
exactamente a saída, por Deng, do mais imperfeito dos imperfeitos regimes - o
comunismo - que permitiu à china "tirar" da fome e miséria 800
milhões de chineses! Fome e miséria em que o Comunismo, COMO SEMPRE, os havia
lançado!!! Portanto,
crise no capitalismo da fascista China? Talvez! Mas nunca sequer comparável à
miséria e atraso civilizacional da era comunista (como sempre e só,
miséria e atraso, sub-desenvolvimento! Além de, como no fascismo - primo
directo - tirania assassina carniceira, claro!) Francisco Correia > josé maria: Oh
Zé, mas desde quando é que uma opinião escrita num jornal é um facto?
O verdadeiro capitalismo pressupõe, entre outras coisas,
liberdade de escolha, democracia e tribunais independentes. Nada disto existe na China! Que tal usares a cabeça, antes de postares citações
patéticas só porque estão escritas em jornais conhecidos?
Nuno Salgueiro > josé maria: Mais
um tontinho a chamar a China de capitalista. Olhe lá, José Maria, vá ler o que
é uma ‘economia de mercado socialista’. Pode ser que aprenda como a China
realmente funciona e, pelo caminho, deixar de fazer figuras tristes neste
fórum. Romeu Francisco > josé maria:
Não cogita. Os quotes do expresso, assinados quiçá por
um bloqueiro, valem bola, não são atestado de coisa alguma. Mas ridiculamente
divertido como sempre! Gabriela Grade > josé maria: Zé,
o menino não aprende. Capitalismo e Liberalismo partem do pressuposto de optar,
escolher, priorizar, na China há imposição. Ai, ai. Para que
copia? Miguel Rosa > josé maria: Já
so falta dizer que o PC está no poder na China porque foi eleito
democraticamente.... ahahahahhaahhahahahh Diga
um país em que o comunismo tenha chegado ao poder por sufrágio??? Só um....
Elvis Wayne > Paulo Alexandre: Pois, "uma bolha capitalista" na China
Comunista, onde para começar ninguém é dono de nada, os terrenos e os imóveis
neles localizados são "arrendados" em contratos de 50-99 anos, mas no
fim tudo pertence ao seu querido Estado. Tiago Figueiredo > Elvis Wayne: ...
os terrenos e os imóveis neles localizados são "arrendados" em
contratos de 50-99 anos, mas no fim tudo pertence ao seu querido Estado.
Tal qual o Reino Unido, aliás, com a
diferença que pertencem à Rainha. Paulo Alexandre : AteuPaulo Machado: O
regime é comunista. A Economia, essa, é mais capitalista do que a portuguesa.
Paulo Alexandre : AteuElvis Wayne: Pois
não! Na China ninguém é dono de nada! Nadinha! O querido
Estado não é meu. A Economia, essa, é que tem muito mais de capitalista do que
qualquer outra coisa. Tanto assim é que, ao longo das últimas décadas, serviu
de plataforma de expansão para a adorada globalização do capitalismo. Tiago Figueiredo: Isso é completamente falso.
Nuno Salgueiro > Paulo
Alexandre: Paulo Alexandre: Informe-se acerca da
definição de ‘economia de mercado socialista’. É isso que está em vigor na
China. O facto de haver um mercado não implica automaticamente que seja um
sistema capitalista. Ou então você é um iluminado. Também pode ser… Elvis
Wayne > Tiago
Figueiredo: Na Inglaterra,
ao final de 20 anos a Rainha não têm o direito de se apropriar da sua casa.
Na China sim, porque é comunista.
Tiago FiGueiredo > Nuno
SalgueiroNo Reino Unido,
uma significativa parte das terras são pertença da Rainha, da Crown Estate, da
aristocracia, de empresas e construtoras. A grande maioria de apartamentos é
vendida em 'leasehold', o que significa que apenas se compra a construção, mas
não o terreno sobre a qual esta foi feita, que permanece posse do senhorio. A
alternativa, a compra em 'freehold', onde o proprietário adquire tanto a
construção como o terreno, é substancialmente mais cara e, embora mais comum quando se trata de casas
independentes, em Londres e especialmente quando se trata de apartamentos, é
cada vez mais rara. É o caso de um próximo meu, que adquiriu um apartamento
em Londres em terras da Rainha (daí o meu comentário inicial). Não se trata de
um apartamento ou bairro de classe alta, diga-se. Ao fim de 99 anos, o
'leasehold' tem de ser renovado, o que implica um novo pagamento ao senhorio. "I stand
corrected." Tiago Figueiredo > Elvis Wayne: Na
China sim, porque é comunista. Dizem
que sim, Elvis... Sinceramente, hoje em dia já duvido de (quase) tudo, mas
sobretudo de "comunismos" que sacrificam a liberdade e o bem-estar de
vidas individuais em benefício do "bem comum", que afinal não lhes é
comum... De todo. Um conceito que me ultrapassa completamente...
…………………………………………………..
Nenhum comentário:
Postar um comentário