quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Nem sempre são graças de salão


Paradoxos, não de insegurança, mas do artifício que nos vai nas malhas da nossa alma, sempre que nos convém arranjar desculpas para os incumprimentos dos nossos apetites, ou os cumprimentos das nossas graças anedóticas, com trocadilhos do nosso gozo. Com esses jogos de humor, nos desresponsabilizamos, talvez, das coisas que deviam ser sagradas, estatuídas numa sociedade regida por valores de seriedade, que a tradição consagrou. Mas também o sagrado mudou de posto, ou é encarado com dúvida, inteligentes que somos para adulterar, quando nos convém, contando as anedotas do nosso divertimento, com as machadadas irónicas do nosso conhecimento do mundo.

E a política não justifica a falta de verdade. Tenho andado a ouvir Pedro Passos Coelho que o Youtube gravou, e encanta-me o seu todo de um discurso político que me parece de uma rectidão que não ponho em dúvida.

Estudos de ciência política

Da verdade em política

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

FACEBOOK, 26/10/21

Mal os alunos encontraram os seus lugares e o silêncio retornou à sala de aula, o Assistente perguntou à turma:

- «Algum dos senhores entende que o culto da verdade poderia ser útil ao político, no exercício da sua função?».

Seguiu-se um sussurro indicativo de surpresa até que um dos alunos pediu a palavra e disse.- seria útil à formação do seu carácter, mas quanto ao exercício da profissão confesso que não consigo formar juízo.

O assistente pegou na deixa e acrescentou: Robert Williams, prof. de Oxford especialista nestas matérias, diria que só é garantidamente verdadeiro o efeito daquilo em que as pessoas acreditam. Portanto a resposta seria se para a boa governação aquilo que o político fez acreditar aos seus adeptos é útil para sociedade, então o político deve dispensar o rigor da verdade. A mentira, sendo uma arte, no caso, torna-se útil. A verdade política é como o cunho da moeda. Todos sabem que o valor atribuído é falso, mas todos o aceitam e isso permite a circulação de mercadorias.

«Nunca tal tinha pensado», diz um aluno

-«Afinal, o que é verdade?»

Alguém do fim da aula citou Nietzsche:

- «Verdade é a mentira que tínhamos esquecido que era mentira»

O assistente pegou então na palavra e arrematou: «Em política a mentira pode ser útil tanto quanto a verdade pode ser perigosa.

 

 

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