Paradoxos, não de insegurança, mas do artifício que
nos vai nas malhas da nossa alma, sempre que nos convém arranjar desculpas para
os incumprimentos dos nossos apetites, ou os cumprimentos das nossas graças anedóticas,
com trocadilhos do nosso gozo. Com esses jogos de humor, nos
desresponsabilizamos, talvez, das coisas que deviam ser sagradas, estatuídas
numa sociedade regida por valores de seriedade, que a tradição consagrou. Mas também
o sagrado mudou de posto, ou é encarado com dúvida, inteligentes que somos para
adulterar, quando nos convém, contando as anedotas do nosso divertimento, com
as machadadas irónicas do nosso conhecimento do mundo.
E a política não justifica a falta de
verdade. Tenho andado a ouvir Pedro Passos
Coelho que o Youtube gravou, e encanta-me o seu todo de um
discurso político que me parece de uma rectidão que não ponho em dúvida.
Estudos
de ciência política
Da
verdade em política
FACEBOOK, 26/10/21
Mal os alunos
encontraram os seus lugares e o silêncio retornou à sala de aula, o Assistente
perguntou à turma:
- «Algum dos senhores entende
que o culto da verdade poderia ser útil ao político, no exercício da sua
função?».
Seguiu-se um sussurro indicativo de surpresa até que um dos alunos
pediu a palavra e disse.- seria útil à
formação do seu carácter, mas quanto ao exercício da profissão confesso que não
consigo formar juízo.
O assistente pegou na deixa e acrescentou: Robert Williams, prof. de Oxford especialista
nestas matérias, diria que só é garantidamente verdadeiro o efeito daquilo
em que as pessoas acreditam. Portanto a resposta seria se para a boa governação aquilo que o político fez
acreditar aos seus adeptos é útil para sociedade, então o político deve
dispensar o rigor da verdade. A mentira, sendo uma arte, no caso, torna-se útil.
A
verdade política é como o cunho da moeda. Todos sabem que o valor atribuído é
falso, mas todos o aceitam e isso permite a circulação de mercadorias.
«Nunca tal tinha pensado», diz um
aluno
-«Afinal, o que é verdade?»
Alguém do fim da aula citou Nietzsche:
- «Verdade é
a mentira que tínhamos esquecido que era mentira»
O assistente pegou então na palavra e arrematou: «Em política a mentira pode ser útil
tanto quanto a verdade pode ser perigosa.
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