Daqueles velhos rezingas Walter Matthau e Jack Lemmon, que a RTP mostrava, nos seus tempos de exclusividade
e selecção cinéfila, que a multiplicação de canais destinados ao cinema
dificilmente reproduz hoje, acompanhando preferencialmente a evolução e os
gostos modernos das modernas gentes. Filmes que ficaram na memória, de gente
que ficou na história, como esses cómicos bem assinalados por Eurico
de Barros, entre tantas figuras de actores e actrizes que desempenhavam
papéis ficcionais, apoiadas na realidade humana ou mesmo de fantasia. E houve muitos
bons, como ainda há, naturalmente, acompanhando a evolução dos costumes. Mas esses
tais filmes que pretendem apoiar-se exclusivamente na tecnologia para formar
mensagens de pura alarvidade, como esse referido em brilhante análise crítica
por Eurico de Barros, são
tortuosos e indigestos, ruidosos e de sujas mentes, contribuindo em grande
escala, parece-me, para a transformação comportamental da humanidade, que assim
vai desabando na pandemia universal do sem-nexo.
“Venom: Tempo de Carnificina”: uma
bocejante e indigesta orgia de tentáculos e dentuças ★★★★★
A continuação de "Venom", em
que um jornalista vive em simbiose com um monstro alienígena comedor de
cérebros, é mais do mesmo, um filme feio, bruto e sujo. Eurico de Barros dá-lhe
uma estrela.
OBSERVADOR, 14 out
2021
Venom à procura de cérebros para
comer em "Venom: Tempo de Carnificina"
3 fotos
Como se não bastasse aos
“comics” terem colonizado Hollywood e invadido o cinema com os seus
super-heróis, temos também que sofrer os anti-heróis, que ainda por cima têm a
mania que são muito espirituosos e cómicos.
Além do engraçadinho Deadpool,
há também Venom, na
realidade dois anti-heróis num só, o jornalista bronco Eddie Brock
(Tom Hardy) e o dito Venom, o alienígena monstruoso de voz cava que vive em
simbiose com ele e se alimenta de cérebros e chocolate. Que saudades do
tempo em que, no cinema americano, uma parceria insólita significava Walter
Matthau e Jack Lemmon a
partilharem um apartamento e a embirrarem por tudo e por nada.
Era
mais certo que a morte que após o sucesso comercial do filme original, “Venom”
(2018), aparecesse uma continuação. Eis assim “Venom: Tempo de Carnificina”, realizado por Andy Serkis, onde Eddie e Venom continuam às turras um com o
outro até um deles ficar farto, declarar a independência e sair de casa. O
novo vilão é Cletus Kasady (Woody Harrelson a fazer caretas e esgares reciclados da sua
personagem de “Assassinos Natos”),
um “serial killer” que por
acidente fica infectado com o ADN de Eddie e desenvolve o seu próprio
inquilino alienígena, o Carnificina do título. Ao pé dele,
Venom parece o ursinho Paddington.
[Veja
o “trailer” de “Venom: Tempo de Carnificina”:]
Tal como o primeiro, “Venom: Tempo de Carnificina” é uma estúpida,
indigesta e lúgubre mistela de filme de monstros, comédia negra sanguinolenta e
ultraviolência gerada por efeitos digitais (e dos manhosos). Serkis realiza
no pior estilo feio, bruto e sujo, as sequências de acção são tão
espalhafatosas como monótonas —
monstros a atirar pessoas contra paredes ou a rebentar com carros e
helicópteros da polícia –, e a batalha
final entre Venom e Carnificina, uma verdadeira orgia de tentáculos e dentuças,
é bocejante (para quem ainda não adormeceu até aí) em vez de empolgante. Os
combates entre Godzilla e Rodan nos velhos filmes de monstros japoneses eram
mil vezes melhores, e nesse tempo nem sequer havia efeitos computacionais.
No final de “Venom: Tempo de Carnificina”, fica – infelizmente! – a
promessa de uma Parte III, que poderá de alguma forma envolver o Homem-Aranha
(coitado dele, e de nós). E, mais uma vez, a certeza de que esta “franchise”
muito chunga da Marvel é menos dotada de massa cinzenta do que as duas
galinhas-mascote de Venom.
CINEMA CULTURA ESTREIA DA
SEMANA
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