Envolvendo narrativa literária,
histórica, crítica, interpostas numa biografia, que poderia ser a de todos nós,
que vivemos semelhantes prazeres, de um humor sadio, em BD alegre de outros tempos, de ternura e
graça e conhecimento humano. Jaime Nogueira Pinto, como sempre
oportuno na mensagem de saber e de sentido crítico sobre uma actualidade
majestosamente severa e desinteressante, talvez porque alheia ao riso livre de
preconceito.
Será o que há 100 anos Tintin fazia no
Congo belga – acordando os nativos adormecidos para as letras da civilização e
para as novidades da modernidade – assim tão diferente do que hoje fazem as
ONGs?
JAIME NOGUEIRA PINTO, COLUNISTA DO OBSERVADOR
OBSERVADOR , 22 out 2021
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dos bastidores.
Quando
comecei a ler, aí por 1952, o Mundo de Aventuras saía às
Quintas-Feiras e trazia uma grande colecção de heróis. O Flash Gordon, o
Fantasma e o Mandrake eram os meus preferidos, os que eu ia logo ler mal saía
do quiosque. O Flash Gordon tinha uma namorada linda, a Dale, e havia o Dr.
Zarkov, um cientista de barbas, que os acompanhava em aventuras espaciais, no
Planeta Mongo, onde lutavam contra o Imperador Ming.
O Fantasma
tinha sido criado por Lee Falk em 1936, nos anos dourados da BD na América, os
anos das pulp magazines e da primeira Ficção Científica. O Fantasma vivia
num ambiente africano e era amigo dos pigmeus que o protegiam. Era um
justiceiro implacável, sem novidades tecnológicas, mas incansável na luta
contra o Mal e os maus.
O
Mandrake era diferente do Flash Gordon e do Fantasma. Era uma espécie de mago
que, pela indumentária, lembrava o Arsène Lupin, “Gentleman Cambrioleur”:
smoking Belle Époque, cartola, capa e um bigodinho fino em serrilha. Tinha um
ajudante, um negro gigantesco, o Lotário, que envergava uma pele de leopardo e
que, quando era preciso recorrer a formas superiores de luta, intervinha para
apoiar o patrão, já que o patrão só lutava através de truques de magia. Mandrake tinha
sido imaginado também por Lee Falk, que, em meados de 1934, propusera a série, com
desenhos de Phil Davis, ao King Features Syndicate. Mas Mandrake só apareceu
por cá, no Mundo de Aventuras,em Outubro de 1950.
Dois
anos depois, em Janeiro de 1952, dava entrada nos quiosques portugueses o Cavaleiro Andante, dirigido por Adolfo Simões
Müller. Simões Müller fora um pioneiro dos quadradinhos em Portugal, com O
Papagaio, que fundara em 1935, e depois com o Diabrete.
Tintin em Portugal
Tintin apareceu em Portugal em 1936 no Papagaio, pela
mão do padre Abel Varzim, que
conhecera o boneco de Hergé em Lovaina, onde se doutorara. Foi adaptado ao
colorido local e até colorido localmente, quando os desenhos (e o mundo) ainda
eram a preto e branco. Tintin au Congo, de 1930, iria chamar-se aqui Tim-tim em
Angola e Tintin en Amérique, a história com que O Papagaio apresentava
o repórter em Portugal, Tim-Tim na América do Norte. O primeiro
Tintin, Tintin au
pays des Soviets, um
retrato da Rússia dos sovietes e das suas selvajarias num desenho ainda incerto
e grosseiro, não entrou no Papagaio.
George
Remi, Hergé (RG), colaborador do jornal Le Vingtième Siècle, pode ter-se
inspirado em Léon Degrelle, então repórter do Vingtième, para criar o
Tintin. Na
segunda metade dos anos 20, Degrelle percorrera o México insurgente dos
camponeses católicos, da Cristiada, revoltados contra a política anti-religiosa
de Plutarco Elías Calles e escrevera Mes Aventures au Mexique. Vindo, como Hergé, dos Escuteiros e da Acção
Católica, Degrelle vai ser o fundador do Rex, um movimento de direita
revolucionária e radical que se torna o rosto belga do fascismo. E Degrelle
que, em 1934, se dizia próximo de Maurras e Mussolini mas hostil ao
nacional-socialismo alemão, acaba na Legião Wallonie dos Waffen-SS. Um
curriculum pouco recomendável para alguém que, em Tintin mon
Copain, um livro póstumo, proibido na Bélgica e em França, se reclama o
inspirador da personagem de Hergé.
Tintin, como toda a ficção, é
susceptível de interpretações políticas e é, por vezes, explicitamente político:
do anticomunismo de Tintin au pays des Soviets ao colonialismo
paternalista do Tintin au Congo ou ao anti-imperialismo de Le
lotus bleu. Não é, assim, de estranhar que Tintin e o seu criador,
Hergé, sejam agora um dos muitos alvos da perseguição e da purga da nova
polícia da moral e dos bons costumes presentes e passados, sempre atenta às
supostas susceptibilidades das suas vítimas de eleição e sempre alheada de tudo
o resto.
No contexto histórico do final dos
anos 20, princípios dos anos 30, a Europa, ainda e sempre consciente da sua
“missão civilizacional”, estava também radicalizada internamente, debatendo-se
com “o perigo comunista”, um perigo real que contribuíra à partida para essa
mesma radicalização. E o Petit Vingtième, o suplemento juvenil do
católico Le Vingtième Siècle, do padre Norbert Wallez, era
declaradamente anticomunista: daí que a história pioneira do repórter de Hergé
tenha lugar no país dos sovietes.
Tintin e os censores
A
incursão de Tintin no Congo Belga, em 1930, apresenta uma imagem de inequívoco
colonialismo paternalista, imagem que, logo no imediato pós-guerra, Hergé não
deixa de corrigir. E a caçada-massacre de animais selvagens também fere o
espírito do nosso tempo, mais tolerante para com outros massacres. De qualquer forma, “os maus” da história não são ali
os negros do Congo mas uns gangsters brancos, ligados a Al Capone,
que pretendem controlar o comércio de diamantes da colónia.
A história de Tintin no Congo tem,
agora, quase cem anos; mas como para os novos apóstolos da higienização
histórica e ficcional nunca é tarde para um bom auto de fé, tal não impediu que
os álbuns de Hergé fossem recentemente queimados no Canadá.
Todos nós, os que pertencemos à
geração que acabou por fazer a transição entre a África colonial, de dominação
europeia, e a África independente, estamos conscientes dos clichés que eram
então dominantes entre colonizadores e colonizados. Os clichés que pintavam os
colonizadores como imaculados civilizadores e os colonizados como seres
tribalizados, fragmentados em etnias e clãs, ignorantes, primitivos, infantis,
preguiçosos. Mas quem,
senão um grande escritor, como Céline, em Voyage au bout de la
nuit, ou um Henrique Galvão
ou um Castro
Soromenho, ou o
ocasional missionário ou antropólogo escapava então a estes clichés? Hergé seguia a tradição e a norma que dava aos brancos a
superioridade moral e o exclusivo domínio da técnica. Uma tradição agora inconscientemente continuada e
exacerbada pelos novos censores, cuja sobranceria moral, a fúria “civilizadora”,
o franco arremesso de rótulos, a autocontemplação da própria bondade e o
paternalismo para com “as vítimas” a quem se arrogam “dar voz” ultrapassam
largamente a cegueira dos antigos “opressores”. E será o que Tintin então fazia no Congo – pregando,
leccionando, iluminando, disciplinando, enfim, acordando ou despertando os
povos “adormecidos” para valores mais modernos e civilizados – assim tão
diferente do que agora fazem grande parte das ONGs?
Não restam dúvidas de que a imagem do
antigo feudo do rei Leopoldo, genialmente retratado em toda a sua crueza
no Heart of Darkness de Conrad, sai melhorada nos quadradinhos de
Tintin. Hergé não fora ao Congo mas visitara
o museu de Tervuren. Tinha 23 anos e talvez fosse cedo para aquele exercício
fundamental de se pôr na pele do outro e de pensar como experimentaria esse
“outro” as nossas bondosas e por vezes insensíveis percepções.
Talvez
por isso, num súbito e deslocado ataque de consciência racial e social e com a
cega fúria inquisitória e compensatória dos recém-convertidos, o grupo Borders arrumou Tintin au Congo na
secção de “leituras para Adultos”.
Curiosamente, não foi o que se passou no bem mais pragmático, realista e
complacente ex-Congo Belga, o território visado pela história: na antiga Léopoldville, hoje Kinshasa, há restaurantes
e ateliers Tintin e os intelectuais locais não mostram especial
animosidade em relação ao retrato histórico-fantasista de Hergé. Em Madagáscar
há até um Tintin negro.
Assim, em nome da nossa humanidade
comum – e curiosidade e ludicidade e desejo de aventura – Hergé e Tintin lá vão
sobrevivendo à fúria inquisitória daqueles a quem todos teremos de resistir,
sob pena de termos o nosso património comum, da Odisseia à Bíblia, de Dante a
Shakespeare, de Dostoiévski a Eça de Queirós, censurado e mutilado pela
descoberta de infindáveis “micro-agressões”, “apropriações culturais” e
demonstrações de “sexismo” e de “racismo”.
Ao longo de duas dúzias de álbuns,
Hergé vai-nos contando histórias, ou seja, vai-se apropriando culturalmente de
tudo e de todos e micro-agredindo a torto e a direito, oferecendo matéria de
sobra para o entretenimento de várias gerações de jovens dos sete aos setenta e
sete anos (incluindo os que agora andam à cata de lenha para o queimarem). Assim, Milou, o cão do
eterno e sempre casto adolescente Tintin, do
repórter que, como todos os repórteres, não noticia, é colaboracionista como
todos os animais vilmente domesticados; o capitão Haddock, fonte
inesgotável de palavroso discurso de ódio, é grosseiro e bêbado como todos os
capitães; os Dupont,
ineficazes e repetitivos como todos os detectives; o professor
Tournesol, louco e
explosivo como todos os cientistas; o
senhor Oliveira da Figueira, vendilhão como todos os portugueses; e os negros, os
asiáticos, os esquimós, os índios, os aborígenes, parte da paisagem e mero
cenário de aventura como todos os “nativos”.
Neste
mundo ou mundos, além das “agressões e apropriações” de que se faz a ficção, há
intrigas geopolíticas ou
geoeconómicas, como em
Tintin au
pays de l’or noir; há desconstrução de tiranias, como nas incursões
na Sildávia; e denúncia de autocracias,
como com sucessão dos generais Alcazar e Tapioca, representantes do poder
pretoriano na Hispanidade.
De
um modo geral, Tintin é independente, em termos de direita e de esquerda. É um
jovem “europeu” em cruzada divertida por mundos exóticos – balcânicos,
africanos, asiáticos e americanos. Ou só um jovem à procura de um mundo maior e
confrontado com a diferença. Hergé vai, entretanto, criando personagens que
encarnam o bem e o mal, como o sinistro Roberto Rastapopoulos, um capitalista
sem alma nem escrúpulos, que começa por aparecer em Tintin en Amérique,
que depois trafica ópio no Lotus bleu e que acaba mal no Vol
714 pour Sydney. Ao combatê-lo no Lotus azul, surge um Tintin
justiceiro, defensor dos fracos e oprimidos, no caso, vítimas do imperialismo
britânico.
Como
toda a personagem capaz de ganhar vida e de se tornar universal, Tintin está
profundamente enraizado na sua cultura e no seu chão. E o facto de ser
claramente “europeu” – confiante na superioridade da ciência e da tecnologia,
que, nos dois volumes da viagem à Lua, preparam o feito da NASA – não o impede
de respeitar conforme pode e sabe a identidade e a individualidade de culturas
que lhe são estranhas e que o fascinam.
Perdido
e achado nas traduções
De
acordo com o Index Translatcionum, Les
Aventures de Tintin estão no oitavo lugar das obras de expressão francesa
mais traduzidas – depois de Jules Verne, Alexandre Dumas, Georges Simenon, René
Goscinny, Honoré de Balzac, Charles Perrault e Antoine de Saint-Exupéry.
Esta
expansão, fez-se também através da rede dos jornais da Acção Católica na Europa. Em
Portugal chegou com o padre Abel Varzim e Simões Muller,
no Papagaio, e a primeira experiência das tiras a cores foi
portuguesa.
Curiosamente, na primeira versão lusitana, Oliveira
da Figueira, o
comerciante de Les cigares
du pharaon, passa a
ser espanhol. Não terá sido considerado um bom representante da nossa
raça e, pioneiros na deteção da micro-agressão, os tradutores (mas não
traidores) portugueses trataram de redireccionar para Espanha o insulto.
Também – colónia por colónia e metrópole por metrópole –, em vez de ir ao
Congo belga, Tintin começa aqui por ir a Angola, com o mapa da Bélgica
substituído pelo de Portugal. O Papagaio publicou oito aventuras de
Tintin.
Hoje as aventuras de Tintin estão
traduzidas em mais de 80 línguas, dando conta da qualidade e da universalidade
do herói e dos seus companheiros de aventura, dos desenhos, dos enredos e,
sobretudo, do humor – garantia contra todas as inquisições.
Hergé na Gulbenkian
A Gulbenkian, em colaboração com o Museu
Hergé de Louvain-la-Neuve, tem em exposição, até ao dia 10 de Janeiro, uma
selecção de documentos e obras do autor de Tintin, que se dedicou à banda
desenhada, mas que também fez publicidade e desenho de moda e se aventurou nas
artes plásticas. A mostra chama-se Hergé e vale a pena visitá-la para
conhecer ou revisitar o multifacetado criador de Tintin.
BANDA
DESENHADA LIVROS LITERATURA CULTURA
COMENTÁRIOS:
Ping PongYang: Se algum dos caríssimos elementos da tertúlia encontrar "por aí" o Doutor Virgolino, que tenha a
amabilidade de lhe perguntar se ele gosta do peixe-espada inteiro ou se prefere que lho
enfie às postas:
O sacana está a dever-me 45000 notas ! Paulo Alexandre :
AteuPing PongYang: LOL Filipe
Costa: Li todas as
aventuras do tintin, havia um vizinho que tinha tudo e comprava tudo, nunca na
minha juventude associei racismo ou outras tretas, temos que ter cultura,
promover e nunca diabolizar. História é história. Fui ao site da FNAC e comprei
o Tintin no Congo e os sovietes, aproveitei e comprei o Maus, pela 4ª vez,
empresto e não devolvem. acg
ag: Tanto eu gosto do
JNP, com ele tanto aprendo, também eu sou do tempo do Tin TIn e do Cavaleiro
Andante, era o que tínhamos e não era mau, péssimo é agora, tantos anos
passados, querer refazer (higienizar, como escreve JNP) a História, afinal
somos todos descendentes de escravos e racistas, ou têm dúvidas? Se não têm,
nada percebem de História nem sabem as tribos e migrações que por cá andaram. Romeu Francisco:
Tenho todos os livros do
Tintin, com excepção de Tintin e o lago dos tubarões. Comprei-os todos com os
trocos que ia juntando nos meus anos de primária, antes de seguir para o liceu.
Já lá vão mais de 35 anos. Era um devorador de BDs, como quase todos os miúdos
da minha idade, mas enquanto uns coleccionavam heróis da marvel ou da DC, eu
mergulhava na BD belga. Tintin não é para todos. Existe uma boa dose de
crítica social, do primeiro ao último volume. No entanto, Tintin no Congo tem
obviamente uma dose de colonialismo que hoje é complicado de fazer passar, mas
que em 1930 era lugar comum na Europa, mas que é uma caricatura que deve ser
lida com sentido de humor. A caça levada ao exagero, também hoje não passa.
O "boneco" do Africano negro, de lábios exagerados e vermelhos. Paus
de dinamite no rinoceronte? Overkill. Mas a crítica subtil à venda de refugo
e tralha aos indígenas, fazendo-as passar por algo de tecnologicamente
avançado, e que continua ao longo de várias obras a explorar a avidez humana
por tralha de que não precisa, encarnando-a no vendedor Sr. Oliveira da Figueira,
é muito bem conseguida. O comboio a cair aos pedaços, os arcabuzes, o
equipamento militar da era napoleónica... Mas, metido no meio de toda a
história, a caminho de uma missão cristã, e numa canoa, os indígenas cantam
"bula matari"... Uma óbvia crítica ao poder colonial e à repressão, mas
que na altura, talvez passasse por um elogio de força aos Europeus. Não,
não era. Dificilmente "esmagador de penedos" constitui um
elogio. Uma crítica muito subtil que, ao estilo "teatro de
revista" na nossa ditadura, teria passado despercebida às autoridades. O
livro anterior era de crítica fácil (Tintin no país dos sovietes). Demasiado
fácil apontar os erros do comunismo, óbvios para qualquer pessoa com um mínimo
de inteligência e conhecimento de história. Escrever sobre o colonialismo, na
Bélgica, num cenário passado numa colónia Belga, só poderia ser tarefa
complicada. Daí para a frente, Hergé adoptaria a estratégia de fazer a acção
decorrer em países imaginários, sempre que possível. A Sildávia, monárquica e
tradicionalista, versus a Bordúria, fascista e militarista, algures no
centro-leste Europeu? Uma óbvia crítica às potências do eixo. O tráfico de
droga? Criticado em vários livros.. o chefe do gang? Um tipo de Hollywood que
ostentava poder e riqueza mas que não passava de um gangster. Tintin na
américa? Crítica aos gangsters, ao tiro fácil, à lei seca, à repressão dos
índios (coisa extremamente rara numa altura em que os westerns se tornavam
populares), e um elogio ao empreendedorismo e ao capitalismo, capaz de fazer
surgir uma cidade em poucos dias, no meio do nada (obviamente exagerado), mas
com uma crítica simultânea ao modo como a procura pelo lucro passa por vezes
por cima dos mais fundamentais direitos humanos. A escravatura (cock en
stock), aludindo ao facto -acertadíssimo - de ainda existir nos países árabes.
A crítica à banca de investimento, que fomenta guerras entre países para
controlar recursos e matérias primas, envolvendo líderes, generais e juntas
militares corruptas, assim como uma indústria do armamento vendendo armas
a ambos os lados e enriquecendo. Ah, os caudilhos sul-americanos,
el-presidente num dia, e revolucionários resistindo na mata no dia seguinte,
Che Guevaras amantes de um bom velho fuzilamento com o minimo de choraminguice,
mas com a ideologia afogada em whisky. Querem
cancelar Hergé? Cancelem antes os neurónios que vos restarem. Ping PongYang > Romeu Francisco: "Tonerre
de Dieu e com seiscentos mil milhões de macacos !" Tiago Queirós: É, realmente, uma comparação
certeira e genial. Tal como os arautos do Progresso de antanho pugnavam pela
civilização dos povos menores e bárbaros, também os arautos do Progresso
presente tratam as comunidades africanas, asiáticas ou sul-americanas como
menores e bárbaras, porquanto assumem serem incapazes de autogoverno. Dentro de
cem anos (ou, provavelmente, apenas dez), também acabaremos por escarnecer das
personagens obtusas que, confiando sumamente em si próprias, se acham
iluminadas e, transferindo as suas pequenezas e frustrações, recorrem a likes por atacado em caixas
virtuais de comentários. Theodor Adorno: Toda a literatura reaccionária
deve ser abolida, por representar uma violação da dignidade dos povos . Está a
desenhar-se no horizonte uma nova sociedade com novos valores, habituem-se! O Serrano > Theodor
Adorno: O que é literatura reaccionária ? Explique se for capaz e diga também
porque é que os seus princípios não são reaccionários e os deste e daquele são.
Porque é que entende que os seus valores devem sobrepor-se aos dos outros,
diferentes dos seus ? Donde vem a sua pretensa superioridade para se arvorar em
censor ? Quem acha o Senhor que é ? Romeu Francisco > Theodor Adorno: Theodor, você dar-se-ia muito
bem numa qualquer polícia secreta e de estado! Querem liberdade de expressão?
Nada disso! Passem o lápis azul ao Theodor, que deve ter na parede da sala uma
foto qualquer de um político ao qual com toda a certeza acende uma velinha no
fim do dia. Pedro Cordeiro: Adoro todos os tintins menos,
realmente, o do congo, da América e dos sovietes. São racistas, grosseiros e tudo
mais. Mas Hergé evoluiu. A partir desses passou a ser óptimo. Os primeiros não
leio nunca. Todos os outros leio quase todos os anos. Tenho-os todos. klaus muller
> Pedro Cordeiro: Tem piada, são precisamente
esses que eu gosto mais. São muito primitivos, principalmente o da Rússia, que a minha mãe só
tem a preto e branco. Mas o do Congo
tem lá cenas que me fazem sorrir sempre que o releio. E calculo que qualquer
congolês que o leia também tenha vontade de rir dessas cenas super
paternalistas mas que, pelos vistos, eram encaradas sem os actuais histerismos
politicamente correctos
Elvis Wayne: Apesar de não desgostar de Tintin, sempre fui mais dado ao Astérix.
Mesmo assim, JNP
voltou a prendar-nos com outra excelente crónica.
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