É de Luís
Soares de Oliveira o seguinte texto do seu Facebook, com alguns pertinentes
comentários dos seus amigos. Um texto rico de informação, a respeito dos
cordelinhos por que se movem os ilustres do acesso ao Nobel, segundo a sua
competência em prol da Humanidade. Por razões de precaução, mas talvez também
de disfarce, dada a variedade de conceitos e de preconceitos estaduais, os
estadistas não poderão alcandorar-se a esse título, nem talvez lhes importe tal
glória, ultrapassada pela de poderem, nos seus cargos bem apetrechados plutocraticamente,
obter fortuna e glória por essa via governativa, mais do que através do ansiado
zelo pelo digno prémio.
ESTUDOS DE CIÊNCIA POLITICA: A mensagem
oculta no prémio Nobel
Alfred
Nobel tomou a
grande decisão da sua vida um ano antes de morrer (1896). Fez o testamento e assegurou que o rendimento anual da
sua fabulosa fortuna (cerca de 200 milhões de USD actualizados) deveria ser
“distribuído anualmente às pessoas que mais benefícios houvessem prestado à
Humanidade nesse ano”. Admitiu como dignos de glorificação - médicos,
cientistas, defensores de direitos humanos, sufragistas, artistas, etc. mas, salvo no domínio da pacificação, rejeitou os estadistas em actividade passada
ou presente.
É curioso que próximo desta data, Oliveira Martins, seu
contemporâneo, foi por instinto movido noutra direcção: decidiu enaltecer a boa governação. Imaginou o título
literário "Príncipe Perfeito"
que atribuiu a D. João II pela sua acção em prol da centralização
do poder em Portugal e o fortalecimento do Estado, acção que tornou a monarquia
portuguesa capaz de lançar atempadamente (e levar a cabo) empreendimentos de
grande envergadura tais como a Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia.
Esperava Oliveira Martins que o
julgamento dos estadistas pela positiva contribuiria para melhorar a qualidade da governação do povo, (assim
como os Óscares da Academia
contribuíram para melhorar a qualidade da representação dos actores de
Hollywood). Lembrar
ao público o lado positivo dos estadistas foi sem dúvida iniciativa bem-intencionada
do ilustre historiador. A
esperada mais valia aconteceu: a governação tornou-se séria, ordeira e
respeitada em Portugal, embora só 40 anos depois.
É
sabido que a análise política exige especialização, é demorada e
não aceita competição, como no
caso de prémios substanciais que animam o mundo das artes; por outro lado, o
político exige o fraccionamento do espaço e do tempo, o que é recomendação para
esquecimento. A
obra do estadista, para ser avaliada, exige distância muito superior à de um
artista ou do benemérito - e a Media detesta o que já lá vai. Cada época tem os seus desafios, as suas
preocupações e as suas inovações.
Tais
considerandos não seriam porém suficientes para fazer Nobel desistir do seu
projecto. O motivo terá sido outro e muito mais complicado. Refiro-me
ao fraccionamento e à limitação do espaço imposta pela própria política, a
começar pelos fossos abertos no espaço político-administrativo do Planeta e a
acabar nas pequenas freguesias talhadas a pincel nos mapas dos distritos
urbanos das grandes cidades. Tudo isto
cria fronteiras, diversifica hábitos, e diferencia usos humanos.
A História mostra-nos que o político aprecia cavar e armar trincheiras,
isolar espaços, diferenciar usos. Dir-se-ia
que esta prática é mais uma manifestação da sua ambição do poder - «Divide
e manda» é velha máxima que terá tido por
berço velhas ilhas lá do Norte que primeiro a formularam. Pela história da comunidade cristã instalada na
Europa poderíamos deduzir que a rivalidade assanhada faz bem à saúde.
Enquanto os políticos se esforçam por pulverizar o espaço, outros -
tanto ou mais poderosos - empenham-se na unificação do mesmo. Os
primeiros - os políticos - têm poder para destruir tudo; os segundos - os
cibernéticos - conseguiram poder para controlar tudo.
***
Como
administrador de empresa multinacional, Nobel terá percebido antes dos
políticos que a Economia na sua fase moderna exigia a integração
do espaço, enquanto o político não dispensava a fragmentação do mesmo. A este impulso chamaram nacionalismo. O
pior é que os nacionalistas de todas as cores não cessavam de reforçar a sua
capacidade bélica.
Nobel
ter-se-á apercebido do perigo em que a humanidade se encontrava e que se viria
a concretizar com as tragédias de Hiroxima e Nagasaki. Nobel se ainda fosse vivo teria notado que uma
vez aberto o espaço que os nipónicos pretendiam fechar, as duas economias
anteriormente em guerra passaram a prosperar em sociedade.
O assunto não ficou
inteiramente resolvido com o nuclear. O
globalismo continuou a progredir, agora por via da…bisbilhotice das redes
sociais. A pressão do sistema económico, a internet e a
globalização pedem à bisbilhotice para reduzir os fossos entre povos mas que
dilate os que separam as classes sociais. O perigo hoje será menor, mas,
cuidado, a inteligência raras vezes obedece à consciência.
Desta
feita, os pacíficos tomaram a dianteira. O núcleo secreto que domina
o mundo já está mais que formado e mais do que instalado no comando. O
da guerra talvez não. Os políticos continuam perigosamente a
dispor das armas de destruição maciça, os estados continuam a desconfiar uns
dos outros e alguns militares continuam interessados em resolver tudo com
canhões. O ambiente hostil não impede a evolução. Foi durante a
Guerra Fria que os EUA atingiram o globalismo. E, ao fim e ao cabo, o ambiente
hostil deu sentido ao esforço para evitar uma guerra catastrófica. Na segunda
metade do século XX, a paz prevaleceu, Será para sempre?
LSO
COMENTÁRIOS:
Antonio Coutinho: "A obra do estadista, para ser avaliada, exige
distância superior às de um artista e do benemérito"
Henrique Borges: Alfred Nobel terá criado o
prémio designadamente para se redimir da invenção da dinamite e do acidente que
matou o seu irmão mais novo. Pertencente a uma família de fabricantes e
negociantes de armamento, Nobel foi dono da empresa Bofors, que uma
investigação recente e credível ligou ao assassinato de Olof Palme. Na sua duplicidade, Nobel é um símbolo expressivo da
Suécia. Os prémios Nobel têm estado com frequência envolvidos em controvérsia.
Um (ou uma neste caso) dos galardoados este ano com o Nobel da paz parece
ser uma fraude. O nosso Saramago é outra fraude, aliás. O Nobel da economia -
criado não por Nobel, mas pelo Riksbank - fez parte de uma cruzada
anti-keynesiana. Não estou a desvalorizar o significado dos Nobel; apenas a
tentar colocá-los em perspectiva.
João Manuel Mariz Fernandes: Infelizmente a
explosão demográfica e a progressiva escassez de recursos fazem com que, na
minha opinião, a paz eterna se torne impossível. A actual competição
pelo poder, bem demonstrada nas ambições de supremacia da China e dos Estados
Unidos aproximam-nos da guerra. Temo que políticos como Trump, Putin e Ji-Ping (ou os seus sucedâneos) se deixem levar pela ambição do domínio global. Há também um
fenómeno comparável à guerra, que está em ascensão: a acumulação de riqueza
por parte insignificante da população (e dos Estados) conduzirá inevitavelmente
a um confronto que não necessitará do uso das armas nucleares. Alguns povos já
estão a experimentar esse fenómeno
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