sexta-feira, 15 de outubro de 2021

MENSAGEM


É de Luís Soares de Oliveira o seguinte texto do seu Facebook, com alguns pertinentes comentários dos seus amigos. Um texto rico de informação, a respeito dos cordelinhos por que se movem os ilustres do acesso ao Nobel, segundo a sua competência em prol da Humanidade. Por razões de precaução, mas talvez também de disfarce, dada a variedade de conceitos e de preconceitos estaduais, os estadistas não poderão alcandorar-se a esse título, nem talvez lhes importe tal glória, ultrapassada pela de poderem, nos seus cargos bem apetrechados plutocraticamente, obter fortuna e glória por essa via governativa, mais do que através do ansiado zelo pelo digno prémio.

ESTUDOS DE CIÊNCIA POLITICA: A mensagem oculta no prémio Nobel

Luis Soares de Oliveira

Alfred Nobel tomou a grande decisão da sua vida um ano antes de morrer (1896). Fez o testamento e assegurou que o rendimento anual da sua fabulosa fortuna (cerca de 200 milhões de USD actualizados) deveria ser “distribuído anualmente às pessoas que mais benefícios houvessem prestado à Humanidade nesse ano”. Admitiu como dignos de glorificação - médicos, cientistas, defensores de direitos humanos, sufragistas, artistas, etc. mas, salvo no domínio da pacificação, rejeitou os estadistas em actividade passada ou presente.

É curioso que próximo desta data, Oliveira Martins, seu contemporâneo, foi por instinto movido noutra direcção: decidiu enaltecer a boa governação. Imaginou o título literário "Príncipe Perfeito" que atribuiu a D. João II pela sua acção em prol da centralização do poder em Portugal e o fortalecimento do Estado, acção que tornou a monarquia portuguesa capaz de lançar atempadamente (e levar a cabo) empreendimentos de grande envergadura tais como a Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia.

Esperava Oliveira Martins que o julgamento dos estadistas pela positiva contribuiria para melhorar a qualidade da governação do povo, (assim como os Óscares da Academia contribuíram para melhorar a qualidade da representação dos actores de Hollywood). Lembrar ao público o lado positivo dos estadistas foi sem dúvida iniciativa bem-intencionada do ilustre historiador. A esperada mais valia aconteceu: a governação tornou-se séria, ordeira e respeitada em Portugal, embora só 40 anos depois.

É sabido que a análise política exige especialização, é demorada e não aceita competição, como no caso de prémios substanciais que animam o mundo das artes; por outro lado, o político exige o fraccionamento do espaço e do tempo, o que é recomendação para esquecimento. A obra do estadista, para ser avaliada, exige distância muito superior à de um artista ou do benemérito - e a Media detesta o que já lá vai. Cada época tem os seus desafios, as suas preocupações e as suas inovações.

Tais considerandos não seriam porém suficientes para fazer Nobel desistir do seu projecto. O motivo terá sido outro e muito mais complicado. Refiro-me ao fraccionamento e à limitação do espaço imposta pela própria política, a começar pelos fossos abertos no espaço político-administrativo do Planeta e a acabar nas pequenas freguesias talhadas a pincel nos mapas dos distritos urbanos das grandes cidades. Tudo isto cria fronteiras, diversifica hábitos, e diferencia usos humanos.

A História mostra-nos que o político aprecia cavar e armar trincheiras, isolar espaços, diferenciar usos. Dir-se-ia que esta prática é mais uma manifestação da sua ambição do poder - «Divide e manda» é velha máxima que terá tido por berço velhas ilhas lá do Norte que primeiro a formularam. Pela história da comunidade cristã instalada na Europa poderíamos deduzir que a rivalidade assanhada faz bem à saúde. Enquanto os políticos se esforçam por pulverizar o espaço, outros - tanto ou mais poderosos - empenham-se na unificação do mesmo. Os primeiros - os políticos - têm poder para destruir tudo; os segundos - os cibernéticos - conseguiram poder para controlar tudo.

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Como administrador de empresa multinacional, Nobel terá percebido antes dos políticos que a Economia na sua fase moderna exigia a integração do espaço, enquanto o político não dispensava a fragmentação do mesmo. A este impulso chamaram nacionalismo. O pior é que os nacionalistas de todas as cores não cessavam de reforçar a sua capacidade bélica.

Nobel ter-se-á apercebido do perigo em que a humanidade se encontrava e que se viria a concretizar com as tragédias de Hiroxima e Nagasaki. Nobel se ainda fosse vivo teria notado que uma vez aberto o espaço que os nipónicos pretendiam fechar, as duas economias anteriormente em guerra passaram a prosperar em sociedade.

O assunto não ficou inteiramente resolvido com o nuclear. O globalismo continuou a progredir, agora por via da…bisbilhotice das redes sociais. A pressão do sistema económico, a internet e a globalização pedem à bisbilhotice para reduzir os fossos entre povos mas que dilate os que separam as classes sociais. O perigo hoje será menor, mas, cuidado, a inteligência raras vezes obedece à consciência.

Desta feita, os pacíficos tomaram a dianteira. O núcleo secreto que domina o mundo já está mais que formado e mais do que instalado no comando. O da guerra talvez não. Os políticos continuam perigosamente a dispor das armas de destruição maciça, os estados continuam a desconfiar uns dos outros e alguns militares continuam interessados em resolver tudo com canhões. O ambiente hostil não impede a evolução. Foi durante a Guerra Fria que os EUA atingiram o globalismo. E, ao fim e ao cabo, o ambiente hostil deu sentido ao esforço para evitar uma guerra catastrófica. Na segunda metade do século XX, a paz prevaleceu, Será para sempre?

LSO

COMENTÁRIOS:

Antonio Coutinho: "A obra do estadista, para ser avaliada, exige distância superior às de um artista e do benemérito"

Henrique Borges: Alfred Nobel terá criado o prémio designadamente para se redimir da invenção da dinamite e do acidente que matou o seu irmão mais novo. Pertencente a uma família de fabricantes e negociantes de armamento, Nobel foi dono da empresa Bofors, que uma investigação recente e credível ligou ao assassinato de Olof Palme. Na sua duplicidade, Nobel é um símbolo expressivo da Suécia. Os prémios Nobel têm estado com frequência envolvidos em controvérsia. Um (ou uma neste caso) dos galardoados este ano com o Nobel da paz parece ser uma fraude. O nosso Saramago é outra fraude, aliás. O Nobel da economia - criado não por Nobel, mas pelo Riksbank - fez parte de uma cruzada anti-keynesiana. Não estou a desvalorizar o significado dos Nobel; apenas a tentar colocá-los em perspectiva.

João Manuel Mariz Fernandes: Infelizmente a explosão demográfica e a progressiva escassez de recursos fazem com que, na minha opinião, a paz eterna se torne impossível. A actual competição pelo poder, bem demonstrada nas ambições de supremacia da China e dos Estados Unidos aproximam-nos da guerra. Temo que políticos como Trump, Putin e Ji-Ping (ou os seus sucedâneos) se deixem levar pela ambição do domínio global. Há também um fenómeno comparável à guerra, que está em ascensão: a acumulação de riqueza por parte insignificante da população (e dos Estados) conduzirá inevitavelmente a um confronto que não necessitará do uso das armas nucleares. Alguns povos já estão a experimentar esse fenómeno

 

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