sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Um texto muito bem escrito.


Sintético e ambíguo, a mostrar quanto até o sentido das palavras varia conforme o “quem” que a aplica – num caso com o desapego de quem luta por uma causa alheia, simbolizada numa nação em trapalhada governativa a precisar de regra, noutro caso com o apego de quem luta em causa própria, indiferente à nação, necessariamente impondo as regras de uma flexibilidade aparente, ao modo em voga, a atrair adeptos. Na realidade, feitas bem as contas, com subtileza quântica, mas idêntica determinação, sob a capa da sedução sorridente, os dentes intimamente arreganhados em fúria mesureira, a disfarçar.

 

O DITO, O MODO E QUEM

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 30.09.21

Quem se rege por ideais e dispensa cargos, gere a palavra com a independência que os gestores da circunstância não alcançam.

É fácil o acréscimo de valor quando nos movemos entre parâmetros doutrinários; difícil será acertar um rumo quando se tem uma bússola desmagnetizada. Por isso houve quem certa vez dissesse que sabia o que queria e para onde ia e assim rumasse durante mais de 40 anos sem que os daquela circunstância lhe quisessem mexer[1].

Os ideais devem, contudo, ser pontos no infinito havendo que rumar no seu sentido através de políticas (ditos) humanistas de modo que seja o ideal a servir a pessoa. A rigidez idealista inferniza a circunstância. Daí, o dito (a política) dever ser maleável.

À convivência de vários ideais (e várias propostas de ditos) se chama democracia; o trânsito de meras circunstâncias é quântico e historicamente se conclui com alguém a pôr ordem na confusão. Quis por vezes o Altíssimo que esse ordenante tivesse ideais e que estes fossem benignos; outras vezes, não.

O modo não é indiferente para a qualidade do dito e à rigidez deste se chama ditadura.

Mais vale, pois, que o sistema se ordene por ideais geridos com maleabilidade e por quem tenha de seu e, daí, desapego dos cargos. Assim não sendo, aportamos a África.

Henrique Salles da Fonseca

 

[1]- No Governo da Ditadura Militar não deram a Salazar as condições que ele considerava necessárias para exercer o cargo de Ministro das Finanças, demitiu-se e tiveram que ir busca-lo de novo a Coimbra para o cargo de Presidente do Conselho de Ministros. Aí, foi ele próprio que definiu as condições.

Tags: política

COMENTÁRIOS:

Anónimo 30.09.2021: Sábio e muito oportuno!

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