sábado, 31 de julho de 2021

Verdadeiro herói


É Jaime Nogueira Pinto, que no Observador de 30/7/21 faz espectacular análise, séria e irónica, recontando feitos pessoalmente vividos, que mais contribuem para o acentuar das vilezas de um pobre tolo – Otelo Saraiva de Carvalho – a quem a pátria, interessada em se desfazer depressa de um fardo colonial, segundo os ditames da Rússia e outros mais povos encarregues do novo conceito constitucional de defesa dos direitos de liberdade de todos os povos, com a respectiva igualdade de direitos – salvo os resquícios que vão permanecendo associados ainda, por respeito e amizade, aos países seus patrocinadores, do Reino Unido à Rússia, passando por Portugal, que decididamente não se deixou expurgar dos Açores e da Madeira, (mau grado as velhas reservas de Jardim), a pretexto de que foram os primeiros a habitá-las, embora o mesmo tenha acontecido com o arquipélago de Cabo Verde, desabitado quando lá chegaram os portugueses, mas de povo decididamente reivindicativo, como os mais, dos seus direitos.

Jaime Nogueira Pinto, no seu texto «Bandeira a meia-haste /premium», no OBSERVADOR, historia as várias revoluções ou golpes de Estado, desde a de 1820 de implantação do regime liberal, a de 1910, de implantação da República, a de 1928, de implantação da segunda República, de regime ditatorial de direita, e finalmente o “25 de Abril”, desfazedor do império colonial, incomportável num pobre país sem estrutura material – nem moral – para o manter, facilmente dominado num status de desânimo governativo, sucedendo à força mantida durante o regime de Salazar, e segundo o conceito de Jaime Nogueira Pinto, como traço comum das ditas revoluções: “As revoluções portuguesas têm uma característica: não são as oposições que triunfam, são os governos que caem”.

É sobre Otelo o seu texto: «No meio de tudo isto, subsistia Otelo, narcisista, eufórico, solipsista, excitado, um Otelo que, no Verão de 75, com a fúria popular a descer de Norte a Sul sobre as sedes do PCP, se passeava por Cuba». Um Otelo que ele descreve integrado numa narrativa que só lamento não poder transcrever, como peça fundamental para o entendimento de uma Revolução de cravos, desfazedor de um império colonial, em ardilosa aparência de brandura, mais consentânea com a tacanhez e passividade de um povo, bem diverso daquele que, em França, tomara parte activa, na sua Revolução de terror.

Em todo o caso, Otelo sempre teve ocasião de provar o que valia, no seu contentamento de homem do momento:

«E aqui, o entretanto brigadeiro Otelo e o seu COPCON assumiram as funções de polícias, interrogadores, juízes, carcereiros e até de torturadores. E com o silêncio quase total dos partidos democráticos, poupados e assustados depois do episódio “maioria silenciosa”.

«Mário Soares e o PS só começaram a defender activamente as liberdades públicas quando viram, nos princípios de 1975, que eram eles as próximas vítimas. E depois de uma outra intentona, a de 11 de Março, ter acordado a América e a Europa para um possível “golpe de Praga” lusitano, houve apoio externo e condições internas para a união nacional anticomunista.

Sei que não posso abusar na transcrição de textos alheios, mas estas páginas da ironia de Jaime Nogueira Pinto, não posso deixar de as gravar aqui, como em lápide de um apreço intemporal:

«Ainda hoje é assim. São estes mesmos “democratas” – os mesmos que vêem a “ameaça da extrema-direita iliberal” e um “populista” em cada esquina –, que nos dizem agora que Otelo era popular e sentia e respondia ao apelo do povo; que queria, tão só, um “outro tipo de regime”, uma “democracia mais directa”, enfim, que “não acreditava na democracia representativa”. Que fora, depois, já nos anos 80, um sonhador deprimido pelo 25 de Novembro e pelo fim da “festa de Abril”, saudoso do PREC e das suas prisões, desmandos e sevícias; e que se limitara a continuar a sonhar e a prosseguir de forma ainda mais enfática o seu incansável combate contra a “ameaça fascista” da democracia representativa instituída. E que os seus crimes devem, por isso, ser recordados com um meio sorriso quase enternecido, como as pequenas travessuras de um “herói da Abril”.

Mas nem todos pensam assim. Para os mais moderados, a única coisa que a História, por enquanto, consegue apurar com clareza é que Otelo, no 25 de Abril, foi “o herói do momento”; sobre o resto, cai uma espessa amnistia amnésica, que só num futuro longínquo eventuais historiadores eventualmente menos amnésicos poderão, eventualmente, descortinar. 

Decrete-se, por tudo isto, luto nacional. Bandeira a meia-haste.

Quanto a Otelo, paz à sua alma.»

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Evocando VPV


Uma excelente análise sobre Vasco Pulido Valente, por David Martelo, apoiado na longa entrevista – por este referida no blog “A BIGORNA”, (Viagem a outro Vasco.pdf (67617)cujo registo formaria o livro de João Céu e Silva, como aponta. http://www.a-bigorna.pt

Altura para recordar Vasco Pulido Valente, um “bravo” original e caprichoso, que nessa entrevista se debruça sobre temas das suas afeições políticas, com um saber menos de historiador que de académico, sem grande escrúpulo pela verdade histórica, mas segundo uma visão subjectiva, extravasando o seu saber e o seu humor com a parcialidade, talvez, de uma inteligência impaciente por se julgar superior, que a cada passo impõe – se bem me lembro também – o ferrete tantas vezes sardónico do seu ponto de vista de intelectual navegando entre a informação séria e a altivez desprezativa, proveniente, talvez, de uma formação de superior calibre, em Oxford.

David Martelo considera a inverdade das opiniões do historiador VPV nos temas abordados – morte “acidental” (não “atentado”) de Sá Carneiro, a situação do Exército apoiado em armas obsoletas, e de uma progressão na carreira estacionária, (o que levaria Marcello Caetano a promover as tropas milicianas, - com escândalo para os oficiais de carreira – para liderar as companhias nas guerras de África - medida propícia a revolta que levou ao fim do regime), a visão miserabilista de Salazar sobre a economia nacional, num país com apenas as universidades de Coimbra e de Lisboa…

E ironiza sobre essas verdades não fidedignas, ditadas com displicência – não de verdadeiro historiador, mas de “académico” amador de álcool, facilmente desconcertante, apesar da elegância da sua escrita incisiva e sóbria, que se recorda com saudade.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Luto nacional


Telejornal, falou-se em covid, seguiram-se as burlas do costume por cá, em referência aos burladores habituais e seguintes, os ataques interpares partidários - PSD e PS - nas pessoas dos seus representantes, seguidos dos reclames do PM à sua acção governativa, com muito apoio social, chamariz de votação, é claro, o que não evitou as reclamações das forças de segurança para os aumentos próprios em futuras greves reivindicativas, mais outros dados sobre o como vai o mundo nosso e alheio, etc., etc. mas no entrementes foi ouvido o General Ramalho Eanes, em entrevista sobre Otelo Saraiva de Carvalho, iniciada pela pergunta sobre se o General entendia que se deveria ter declarado um dia de luto nacional hoje, dia do funeral daquele. O General Eanes respondeu com a boca cheia da habitual seriedade, que lhe não competia imiscuir-se nas decisões dos encarregados da função governativa, ele próprio tendo sido um dos competentes dessa, em 76, após ter sido o principal responsável do 25 de Novembro que ajudou a desmantelar o tal COPCOM, com que Otelo, o responsável por esse, se divertia em ocupações e ultrajes constantes à ordem social do país. Em 76, Ramalho Eanes fez-se mesmo PR, trazendo alguma paz a uma sociedade aterrada naquela desordem, que alguns parecem querer denominar hoje de democracia, enternecidos por ter definitivamente arrumado com o bolorento salazarismo ditatorial. Durante 4 anos de acção governativa, Ramalho Eanes pareceu proceder com respeitável lisura, na companhia da sua gentil mulher Manuela Eanes, mas o segundo mandato presidencial, a partir de 1980, mostrou que Eanes estava, de-alma-e-coração, sim, com os Otelos do seu país, o que me fez dedicar-lhe toda uma IV parte –( “MESSIAS”: “A bem nascida segurança / Da lusitana antiga liberdade” – Camões, Lus., I, 6   RAMALHO EANES?”) do meu livro CRAVOS ROXOS. “Ramalho Eanes” com interrogação, tendo deixado de ser o ídolo que nos apaziguara momentaneamente, contra as perversões perpetradas por um terrorista assumido, aparentemente defensor de uma “liberdade”, que manipulou a seu gosto, responsável, ele próprio, por crimes de que esteve preso.

Otelo, o amigo de Ramalho, ao que este afirmou hoje, em entrevista no 1º Canal. Ramalho, um homem que, na sua voz trepidante, debitou frases de justiceiro, como se de um justo falasse. Ramalho que admirei, por nos ter salvo de um status de autêntica vilania, em 1975, cometida por um pobre vilão pretensioso e traidor, de uma pátria, aliás, de inúmeros traidores, que empurram sobre Salazar, o odioso de uma governação férrea mas eficiente, na preservação de um pobre país legado por gente que fora valorosa, embora o tivesse sido para sustentar tanto do parasitismo de que sempre enfermou, sem o desenvolvimento adequado, com o beneplácito eclesiástico, de resto, de diminuto alcance, em eterno desequilíbrio com o desenvolvimento intelectual e tecnológico estrangeiros.

Não havia necessidade, sr. General, da sua oposição a A. Costa e a Marcelo R. de Sousa, no que toca à questão do luto nacional. Otelo não merece esse luto, o sr General não é da igualha daquele. Quem merecerá esse luto um dia, será o sr. General. Porque salvou o seu país de um criminoso, pode crer, com a parceria de muitos, de que o sr. General nos livrou.

Hoje sinto gratidão por Costa e Marcelo. Porque foram sérios e equilibrados, sem esses extremismos de um afecto pedante e insincero, quero crê-lo, movido pelo aforismo de que na morte não é de bom tom apontarem-se os defeitos.

Os órgãos de comunicação, sobretudo os entrevistadores, deveriam ser menos mexeriqueiros. Pois não passam disso, essas entrevistas revisteiras.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Um texto que me escapou


De Henrique Salles da Fonseca, e que deu para justificar – suponho que não pela primeira vez, aqui - o nome da Avenida 24 de Julho de Lourenço Marques, uma das principais da cidade, talvez a maior, que atravessava a cidade de ocidente para oriente. Fora essa, pois, uma data importante, na consolidação do regime liberal, em Portugal.

 

EFEMÉRIDE

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 24.07.21

24 DE JULHO DE 1833

Vindas dos Açores e desembarcadas no Mindelo, as forças liberais entrincheiraram-se no Porto dando os miguelistas início ao duro e prolongado Cerco da cidade. Mas, conseguindo furar o bloqueio naval da barra do Douro, uma frota liberal fez-se ao mar e seguiu até ao Algarve onde defrontou uma esquadra miguelista que rapidamente se entregou.

Batalha Naval no Cabo de S. Vicente, 5 de Julho de 1833

Feitas as pazes localmente, as forças liberais e miguelistas uniram-se em Cacela (hoje, Cacela Velha) sob o comando do Marechal Duque da Terceira que rumou a Lisboa não mais pelo mar mas sim por terra ludibriando o bloqueio que os miguelistas faziam da barra do Tejo.

Chegados a Cacilhas, atravessaram o Tejo em todos os barcos, pequenos e grandes, que encontraram e desembarcaram em Lisboa no dia 24 de Julho tomando a cidade que se entregou sem resistência.

 

COMENTÁRIO

Anónimo, 25.07.2021 Bom dia caro colega e amigo, obrigado por mais esta efeméride, pilar da nossa história mas de que, hoje, muito pouca gente se lembra ou liga. Um pequeno detalhe: o desembarque das tropas liberais terá sido 4 a 5 km a este de Cacela Velha no que hoje é a praia de Altura. Admito que o forte de Cacela para isso tenha contribuído. José Carlos Portugal

 

terça-feira, 27 de julho de 2021

Homenagem à mesa do café


Resposta da Isabel Correia a um texto da Paula, colocado neste blog, em 22 de Julho de 2021, (“Que estranha forma de vida”).

O nervosismo de um confinamento implicando separação e tédio, na saudade da mesa do café como prolongamento alegre e amistoso de um viver repartido nas inúmeras facetas de desempenho de que se compõem as vidas humanas – as Mulheres, neste caso. A bendita mesa do café, que a evolução dos tempos proporcionou à liberdade da Mulher, como espaço de realização ou desafogo. Prestemos-lhe homenagem.

 

 

Da Isabel Correia (23.07.2021)

Paulinha, lembro os dias, todos os dias em que lado a lado, saíamos da escola, desenfreadas, logo após o toque, para irmos esfumaçar. As duas nos nossos vestidos de linho do "Tecido Burguês", fabricados sei lá onde, que isto hoje em dia já não se pode confiar em ninguém.

No mínimo, queimávamos dois cigarros e falávamos. Falávamos da Escola que queríamos, naquilo em que acreditávamos, no que estávamos a fazer e nos nossos alunos, aqueles tão especiais que fazem de nós, todos os dias, melhores pessoas.

Não precisamos do Perfil do Aluno para o Séc. XXI, blá, blá, blá...

Logo tu, que antes de lhes pedires que olhem para um texto, os ensinas a olhar para o outro, para o que os rodeia, para o belo...

Logo tu, que antes de pedires que escrevam, pedes que escutem, que descrevam, que contem histórias, que falem. Que os ensinas a falar bem, a saber o sentido das palavras, a saber conversar... Depois logo vem a escrita, logo vem a leitura e logo vem a gramática; a seca da gramática à qual só alguns resistem. E eles adoram-te!

Não me lixem!

Fomos Nós que inventámos o Perfil do Aluno. Nós, professores que acreditamos acima de tudo que sem uma boa formação pessoal a formação académica só produzirá trastes, como bem se vê.

É deixá-los pensar que inventam coisas. Coitados!!!! Pensam que nos enganam! Pensam que enganam o povo! A nós que vestimos no "Tecido Burguês", nunca!!!!

É deixá-los ter o seu momento de glória (acham eles), efémero. Daqui a uns anos outros virão com a mesma ambição e igual ignorância. Tudo mudará de novo.

Que ninguém se preocupe, vão uns, vêm outros. Nós estamos cá sempre, pela Escola Pública.

Acontece que deixei de fumar e tu não, deixei de ter tosse e tu não (vai tratar disso) e deixámos de ter os nossos momentos de rabugice e inspiração diários para fazer coisas com os nossos putos.

Quem se quer bem arranja pretextos para estar e não desculpas. Vamos arranjando os nossos, mas desta vez vou cumprir o meu isolamento profilático (eu que detesto ordens, vou cumprir), não por mim, mas pelos outros, pelos que temem.

Isto é uma palhaçada e começo a ficar preocupada com a facilidade com que controlam a nossa vida de forma discricionária e sem lógica.

Estou fula, mas fico. Aproveito para bricolar, pensar no próximo ano letivo e falar com quem tenho saudades. Contigo, todos os dias.

Quando chegares de férias estou livre do meu cárcere e vamos "rebentar a bolha" e dançar o vira.

 

Trinta linhas sobre um tema

Apenas resposta a um desafio:


ALMA DE MAR

Montanhas bem no fundo a penetrar

Nas águas que em redor delas as sustentam

Covis de peixes, suportes de corais,

Servindo de alimento a tantos seres

Servindo de passagem a tantos mundos.

Mar de sal, mar de luz, mar de prazer

Traço de união ou de separação

Entre a zona do terreno habitado

Por seres com alma ou sem, e os vegetais,

Povoadores dessa crusta que se eleva

Em percentagem mínima quando confrontada

Com a parte líquida que a cerca e guarda

E simultaneamente a despegou espalhando

Continentes e ilhas a beijar,

Na dispersão e no distanciamento

Das marés constantes da atracção lunar,

Mas que se diria antes de movimento de alma

Que uma vontade forte faz determinar.

E é esse mar de alma e amor,

- Por vezes antes de vingança e dor -

Que é visitado pelos estercos poluentes

Dos homens inconscientes

Imprevidentes e desalmados

Que jogam às escondidas

Manhosamente,

Sub-repticiamente,

Mas ficam sempre a perder.

Porque a alma do mar é maior,

Tanto quanto o seu poder.


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Revivendo

 Sem mudança sequer de vírgulas, crónicas antigas que recordo, na morte de Otelo Saraiva de Carvalho.

 

De “Cravos Roxos – Croniquetas Verde-Rubras” (1981) (III LIVRO - LUSOS /74), escrito em Lourenço Marques, em 1974:

 

1ª Crónica:

5- O CÉREBRO DO 25 DE ABRIL

Chama-se Otelo Saraiva de Carvalho, é brigadeiro depois de ter sido cérebro, e mostra-se optimista depois de se ter descartado das colónias e a nós com elas. Diz que tem a família cá, e também tem amigos e companheiros na Frelimo. Aconselha a família a permanecer aqui, possivelmente para ter a oportunidade de lhe apresentar os seus amigos e companheiros da Frelimo, embora ele não tenha mostrado a intenção de vir cá fazer isso, mas pode sempre enviar os seus cartões-de-visita já com o novo posto no Exército.

O que me parece nestes indivíduos cerebrais é que eles reduzem tudo à escala familiar e é essa com certeza a maneira mais afectuosa de reduzir. Só se ouve falar em amigos, amizades, famílias, familiaridades, e por isso todos nós nos sentimos confiantes e enternecidos.

Finalmente, após oitocentos anos de má administração, temos a Nação entregue a jovens – jovens capitães, jovens democratas, jovens estudantes, jovens cérebros em suma – e agora é que ele está bem entregue e vai produzir frutos bons.

Pelo menos prestígio não nos falta e do que todos precisamos é disso, já tive a grata ocasião de o apontar, em referência a uma frase lapidar saída no jornal EXPRESSO para a História.» (Pág. 260)

PS – A “frase lapidar” referenciada está contida no texto anterior - «4-Prestígio» - que, naturalmente, transcrevo, como esclarecimento, em

2ª Crónica:

«O Ministro Almeida Santos disse que dantes éramos uma nação grande mas sem prestígio nenhum, ao passo que agora somos um povo pequeno mas passámos a ter um prestígio enorme. Disse isto expressamente para o “EXPRESSO” que gosta de arrecadar frases célebres dos homens que vão ficar na História. E nisso das frases célebres o Ministro Almeida Santos supera todos os outros homens que costumam vir nos jornais para a História. Nunca encontrei mesmo quem dissesse tantas frases tão bem trabalhadas e a gente ao lê-lo pensa logo nos abençoados professores de português do Ministro Almeida Santos que souberam orientar tão primorosamente a inteligência, notável para as frases, do seu discípulo. E tem muitos adeptos, há imensa gente que aprecia o estilo trabalhado e aplaudem até com gosto. Cá em Lourenço Marques foi sempre assim, tão apreciado como advogado que a sua fortuna brotou, tal como brotam as suas frases. Mas pôs a bom recato a fortuna, enquanto que na questão das frases, não faz questão em as lançar profusamente para a História. E nós arrecadamo-las sofregamente.

Quanto àquela que ele disse expressamente para o EXPRESSO, tão bem cuidada no seu jogo de paralelismo antitético, eu achei-a um achado.

Nem todos a apoiam, é certo, como eu, mas é porque não notaram a antítese nem o paralelismo. Ultimamente só ouço mesmo dizer que têm vergonha de serem portugueses e foi por isso com certeza que o administrador da Malvérnia partiu com armas e bagagens para a África do Sul e deixou um bilhete na porta a despedir-se afectuosamente da terra que tanto amara e se via forçado a abandonar.

Há até quem diga que era o que deviam fazer todas as pessoas de honra: renegar a pátria que nos renegou.

Mas parece-me isso, precipitação, e deve ser porque não lêem o EXPRESSO. Pois agora temos mais prestígio no mundo e isso importa acima de tudo – que os outros nos vejam com bons olhos. Nós somos tímidos e gostamos que nos queiram bem-

Por isso o termos entregue as colónias não significa de modo nenhum cobardia, que constitui sempre uma mancha grave que os outros povos nos podem apontar, se quiserem dar-se a esse trabalho. Significa bondade e compreensão que os outros povos nos hão-de reconhecer, dentro da mesma condição.

Daí o nosso grande prestígio na nação pequena, mais valioso do que o pequeno prestígio anterior na nação grande, como afirmou, paralelística e antiteticamente, para o EXPRESSO, e para a HISTÓRIA, o Ministro Almeida Santos.»


Morreu Otelo, o tal, das amizades, como já o livro de Teolinda Gersão que li há dias – “A ÁRVORE DAS PATACAS” - referia também, na identificação das amizades rácicas, virtuosamente aí exploradas, para a condenação dos racismos, temática profusamente difundida, como propícia às “patacas” (mesmo de empréstimo) da nossa virtude dulçorosa, hoje.

 



Enquanto esperamos


Um pensamento um tanto macabro este do Dr. Salles, que me parece envolto em tristeza, a mesma – ou outra – que nos acabrunha, em face de perspectivas acabrunhantes, na conquista de um futuro sombrio, visto um presente envolto numa qualquer maleita que parece ter-se definitivamente imposto no ar que respiramos e nos transtorna a existência, mau grado as passeatas que já se efectuam por esses caminhos do espaço, talvez um próximo brinquedo do Homem irrequieto, sempre, e cada vez mais ambicioso na obtenção do conhecimento, apesar da modéstia dos clássicos contida no aforismo cartesiano “Só sei que nada sei”. Mas é por isso que recorro uma vez mais a Pessoa, cujo poema “Tabacaria” do seu heterónimo Álvaro de Campos, nos enche sempre a alma de encanto, e que envio ao Dr. Salles para nele mergulhar as suas próprias tristezas, desejando simultaneamente que a sinceridade do Dr. Salles, na afirmação do seu pensamento honrado, se mantenha por longos anos, assim, ferino ou simplesmente sensato, como uma lição a seguir, há muito, todavia, posta em causa, pelos adeptos do simplismo como virtude:

(Excerto de um pensamento lúcido):

«……….Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Génio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,

E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.

Não, não creio em mim.

Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?

Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo

Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,

E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. ………»

 

PELO TOQUE DA ALVORADA - 15

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 25.07.21

O silêncio espera por nós na eternidade. Não hesitemos agora em dizer o que pensamos – se pensamos.

 

COMENTÁRIOS

Escassos meses depois de eu saber que havia dado um salto gigante a caminho da eternidade, convida-nos agora a dizer o que pensamos, antes que o manto de silêncio nos cubra na eternidade. Pois vou aceitar o teu convite, Henrique, e quebrando o silêncio, vou alinhavar alguns pensamentos que, por factos que a seguir discriminarei, assaltaram hoje ao meu cérebro. Vi hoje, no youtube, o professor Agostinho da Silva, numa das suas conversas vadias, a dizer que o homem não tem defeitos e virtudes, mas apenas características e somos nós, em função da avaliação que fazemos delas, que caracterizamos cada uma delas em virtude ou defeito. Pois, então, que todos os que estão na Eternidade, e independentemente dessas características, que descansem em Paz. Também hoje comecei a reler “A Guerra Fria”, de John Lewis Gaddis. O livro começa com a referência que no dia 25/4/1945, na cidade leste-alemã de Torgau, nas margens do Elba, encontraram-se os exércitos aliados que convergiam de extremos opostos do globo e dividiam a Alemanha nazi ao meio. Sorri pela coincidência de datas. Nessa mesma data, como sabemos, houve a libertação de Itália, e nesse dia e mês, umas décadas depois, Portugal haveria de comemorar a sua revolução que estende, pelo menos, até outro 25, mas desta vez, de novembro e do ano subsequente. A este propósito, não pude deixar de me recordar de André Malraux que disse que na revolução portuguesa, pela primeira vez (e única, penso eu) os mencheviques derrotaram os bolcheviques. Pronto, já quebrei o silêncio que nos espera na eternidade. Um abraço. Carlos Traguelho

Anónimo 31.07.2021: Para Baruch Espinosa, há uma unidade entre a natureza e o espírito, aspecto em que difere do dualismo de Descartes, que separa a filosofia da religião. Daí que, segundo Baruch, Deus está na essência dessa unidade. E assim sendo a eternidade não terá a estrita duração das nossas vidas?

Henrique Salles da Fonseca: 31.07.2021: A questão de haver ou não vida para além da morte. E, na afirmativa, por quanto tempo? Aos raciocínios eruditos há a convicção empírica que move montanhas.

Adriano Miranda Lima 31.07.2021: Sr. Dr., comentei e não reparei que não estava disponível a minha identificação, como costuma estar. Citei Espinosa porque estou a lê-lo de novo. É dos meus preferidos e o meu deus é o dele. Um abraço Adriano Miranda Lima


domingo, 25 de julho de 2021

Amei


De paixão. Um livro sobre a minha terra, explorando espaços que eu atravessei, citando nomes que tão bem conheci, de avenidas que percorri, uma cidade onde habitei – na Belegarde da Silva, já no meu tempo de casada em primeiras núpcias, avenida onde vivia o Rui Knopfli, a Praça 7 de Março, onde às vezes não propriamente “petiscávamos sardinhas” - como na casa da Mariquinhas da nossa Amália, (inexistentes na ementa da mesma, na versão primeira, do Alfredo Marceneiro) – mas tomávamos talvez a coca-cola ou a cerveja nocturnas, aos sábados à noite, de regresso de um filme num qualquer desses cinemas que cita – Varietá, Scala, Gil Vicente, Manuel Rodrigues, já nem sei bem, pois não foram assim tantas as vezes desse convívio primeiro, em breve a vida, já de trabalho e outras “competências”, nos afastara desses primeiros amigos – Knopfli, Eugénio Lisboa – que a chegada a Lourenço Marques, após a formatura em Coimbra, prodigalizara, como amigos do Rui, dos tempos do liceu “Salazar”, nome este que, reparei, não é citado no romance de Teolinda Gersão – “A Árvore das Patacas” – em breve me apercebendo do tabu que representou esse nome, apenas insinuado em perífrase, como responsável engenhoso pela manutenção de um status colonial que revolução posterior naturalmente desfaria.

Amei o livro. Muito, é certo, pela profusão desses nomes de sítios – Namaacha, Marracuene, Bilene… - que povoaram não só a minha adolescência, e ficaram presentes em fotos desses tempos de piqueniques aos domingos, a esses sítios e sobretudo à praia da Polana, levados no carro de uns primos – desses de casamento por procuração, embora o da Amélia - mãe da protagonista Guita, de “A Árvore das Patacas” - o tenha sido por anúncio, num jornal metropolitano, como tantos fizeram.

Sim, foram sobretudo essas recordações de sítios que eu conheci, e que a narradora traz à baila, num desígnio não de saudade, pois que se tratou de uma vivência passageira - sendo a autora protagonista de outras muitas vivências que a ilustraram, segundo leio na sua biografia posta à disposição pela Internet – mas intencionalmente específico para historiar uma ocupação de um espaço – que outros mais espaços exemplificariam em idêntico percurso colonialista ocupacional, nesse século 20 de mais amplo relevo em desenvolvimento, pela obstinação de um velho patriota chefe, sacrificando – ou não, pois que muitos foram os que por lá ficaram, ou ficariam por amor, desses tropas enviados para proteger os “portugueses de segunda”, da debandada final.

Trata-se, inegavelmente, de um livro magnificamente escrito, a dimensão poética o envolvendo, quer nas referências aos espaços e à natureza, quer no tom arrastado e ambíguo de um enredo que se vai abrindo gradualmente, quer nas referências espaciais e a personagens e suas vivências, de que se não descodifica logo o papel – Laureano o pai, Amélia a mãe, Guita, a filha – e suas personalidades na “entourage” que lhes servirá de apoio – quer, enfim, num estilo magnificamente elaborado, muitas vezes sentencioso ou poético que nos faz relê-lo, apesar da não citação dos espaços e ruas onde vivi na infância – a casa da 5 de Outubro, na esquina com a João de Deus, situada entre a Baixa e o Alto Maé – casa do Estado que o meu pai arranjou quando em 44 regressámos a Lourenço Marques, para junto dele, que era Guarda-Fiscal, passados os tempos da Guerra, numa travessia atlântica e índica mais cordata, com paragens por S. Tomé, Luanda, Lobito, que Teolinda Gersão igualmente refere a propósito da viagem de Amélia, casada por procuração, na frustração de um seu namoro anterior, desfeito. Mas essas ruas, - 5 de Outubro, Luciano Cordeiro – onde brinquei descalça, não são referenciadas, não estando dentro dos parâmetros da tese acerca do pedantismo racista da sociedade branca, justificativo de todas as descolonizações, conquanto a ideia dos bidonvilles franceses para os emigrantes do nosso país de trabalhadores mal pagos, ou mesmo outras explorações tão apontadas por cá, não sejam parâmetro a ter em conta na tese da escritora, no seu desígnio anticolonialista à la page, merecedor de prémio, quando realizado, como é o caso, com digna perícia.

A I parte, uma filha na sua infância fantasista, amando o pai e com ele brincando, receando a mãe, mulher frustrada e áspera, e amando a criada negra que a amamentou, juntamente com a sua própria filha, um pai pacífico e trabalhador e bom companheiro de brincadeiras da filha, uma mãe rigidamente agarrada à sua costura e aos seus muitos recalcamentos magoados, de ódios, invejas e frustrações.

A II parte leva-nos a Amélia, aos seus passeios solitários ao domingo, pelos espaços citadinos, nas suas fantasias de engrandecimento próprio, ao percorrer os espaços das elites, Polana, bairro de Sommerschield, o Caracol, satisfazendo sonhos de grandeza, para contar às clientes invejosas. A história em analepse da sua infância e juventude frustradas em Portugal, o casamento por anúncio e foto respectiva, com Laureano que em correspondência a fora convencendo, com as suas descrições sobre Lourenço Marques e arredores, o gradual desapego dos seus – marido e filha - que a levam a uma fuga para novo casamento na Austrália.

A III Parte, a história de Guita e seus muitos companheiros e amigos, muitos, negros, na ânsia da escritora de demonstração de fraternidade e anti-racismo, bem contrários aos comportamentos obrigatoriamente racistas dos colonos brancos vivendo na cidade do asfalto, os negros na do caniço de desconforto e árvores, dos sonhos amantes de Guita, procurando incansavelmente a sua meiga ama Lóia, que um dia não voltou. E os amores de Guita, estudante, com Rodrigo, a descolonização e uma falsa informação de gravidez, desta, originando o desapego e a fuga daquele, com o pai, a eles contrário – ficção novelesca – mais uma – de que se compõe a tessitura da banalidade humana.

Romance de tese, é claro, belo no seu estilo, banal na sua intriga, para efeitos de sátira, de resto, tal como a que é despejada em torno da tal sociedade de elites, contrastando com a simpatia de um povo colonizado que a pata do colonizador importunou.

É claro que se augura o bem para essa terra independente e livre da tal pata colonialista. Mas a personagem Guita não permaneceria nessa terra, levada na avalanche temerosa das consequências de uma permanência instável, demonstradora de que o povo nativo não seria tão doce assim, e que conviria escapar, ainda que fosse para casa de alguma tia áspera, empregando-se num café, para sobreviver. Na restauração, como se diz hoje.


sábado, 24 de julho de 2021

Bonito mas irreal


Assim me pareceu a inauguração dos JOGOS OLÍMPICOS 2020, no Japão, neste ano seguinte, por culpa do vírus que, esse sim, abraça o mundo com eficácia sem tréguas. À conta disso, as bancadas foram despovoadas de espectadores, mas já estamos a isso habituados, ultimamente, quer nas “Questions pour un Champion” quer nos “Snooker” da nossa visibilidade, concedida gratuitamente, à bancada de sofá, pela televisão do nosso comodismo.

Muito bonito e engenhoso, de efeitos luminosos espectaculares acompanhando as evoluções dos corpos, nos seus jeitos vários de dinamismo e beleza, cheios de arte e intenções simbólicas. Não me pareceu que tivesse, contudo, o aprumo implacavelmente impecável dos JO realizados na China, há 8 anos ou 9, se me não engano, de uma apresentação sem falhas, os corpos de igual tamanho, medidos a regra e esquadro, em exercícios vários de uma arte geométrica sem quebras, que a voz de uma pequena cantora tornaria quase irreal.

E, na cansativa apresentação dos desportistas dos vários países, uma vez mais o grupo português pretendeu transgredir a regra da discrição e compostura, apresentando-se em andamento dançarino brincalhão, de triste efeito em termos educativos. Afinal, que é isso de igualdade como característica a defender na humanidade, quando somos os primeiros a não respeitar a designação, acompanhando os demais parceiros mundiais num desfile sem história e, naturalmente, sem brinquedo. Porque a história virá depois, se a tivermos. Oxalá que sim.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Amálgama

Amálgama

Talvez eu tenha pecado, ao transpor para o meu blog textos de jornais que, por ser assinante – o meu marido, do “Público”, eu, do “Observador” – fizeram as delícias de uma velhice – a minha, naturalmente – ao permitir-me comentá-los, levando-os ao conhecimento de muitos leitores que no mundo – especialmente nos Estados Unidos, ultimamente na Suécia, - os foram conhecendo - e bem assim aos seus comentadores, que irrepreensivelmente extremava, no Word - antes de os colocar no meu blog. Vejo que cometi um erro, uma fraude, se se quiser, mas julgo não ter prejudicado esses jornais, e pelo contrário os dei a conhecer, nos seus cronistas actuais, a gentes – provavelmente portugueses disseminados por esse mundo – que não teriam acesso a esses e se encantaram com essas crónicas fabricadas por gente bem pensante do nosso país, e me fizeram sentir orgulho - que, de certo modo, amenizava outros sentimentos de frustração causados por tantos desmandos nacionais que, como cidadã e patriota me achei com o direito de condenar, exemplificando com tais textos, que muito me ensinaram e bem assim a quem os leu, através do meu blog.

Repito, pois, que, se cometi um erro, não me arrependo dele, mas desperto hoje para a realidade feia da amálgama em que foi transformado esse meu último artigo sobre uma crónica de Paulo Tunhas, em que esta, e os respectivos comentários apareceram de enfiada de gozo e troça, que deixei ficar como exemplificação. Ponho, assim, ponto final na transcrição desses textos dos jornais. Não sei se o mesmo acontecerá com aqueles que amigavelmente me enviam para o email.

Lições da nossa experiência

Com máscara, sem máscara, sobra sempre uma lição escrita. Esta, de Paulo Tunhas, para recreação e entendimento do nosso caso somítico. Da China a Portugal /premium A humanidade é mesmo ligada por características comuns e, por mais diferentes que sejam os tipos antropológicos criados pelo totalitarismo e pela democracia, há sempre umas semelhançazinhas aqui e ali PAULO TUNHAS OBSERVADOR, 22 jul 2021 Aqui há vários anos, deixei praticamente de ler coisas sobre o horror dos totalitarismos. Em parte, porque acreditava que sabia tudo o que de essencial havia a saber sobre o fenómeno – o que não deixava de ser em parte verdade, a partir do momento em que se percebe que há um princípio de ilimitação do crime intrínseco a esses regimes -, em parte porque estava farto de pensar o pior e apetecia-me passar mais tempo a pensar o melhor. Mantive esta regra informal, com uma excepção ou outra, durante muito tempo. E ainda me esforço para a manter, sendo as excepções aquelas que me parecem úteis para iluminar a nossa situação presente. E é por a história da Revolução Cultural chinesa (1962-1976) apresentar, à superfície – quer dizer: longe da abissal profundidade da morte de milhões –, algumas semelhanças com o movimento woke, que me pus a ler coisas sobre essa época de terror que provocou o habitual entusiasmo imoderado de muitos intelectuais ocidentais. Reli o que tinha em tempos lido de Simon Leys (pseudónimo do grande sinólogo belga Pierre Ryckmans) e li pela primeira vez o último volume, The Cultural Revolution, da triologia que Frank Dikötter dedicou ao regime maoista. É claro que entre o horror totalitário e a democracia há um caminho imenso que não se percorre de um só passo. Mas, como não poderia deixar de ser, há uma continuidade entre as paixões do homem totalitário e as paixões do homem democrático. Não poucas vezes descobrem-se as primeiras no interior das segundas. Depois da Grande Fome (1958-1962), provocada pelo “Grande Salto em Frente” de Mao Tsé-tung, que fez – pela própria fome ou pelos massacres que à época tiveram lugar – pelo menos cerca de 45 milhões de mortos, Mao sentiu o chão debaixo de si pouco seguro. A maneira que encontrou para resolver o seu problema foi a chamada “Revolução Cultural”, que não foi senão uma gigantesca guerra civil, fomentada pelo próprio Mao, em que se opuseram constantemente facções contrárias, todas elas reivindicando-se do “pensamento Mao Tsé-tung” (é nessa altura que é publicado o Pequeno Livro Vermelho e que o “culto da personalidade” atinge dimensões nunca vistas), que Mao apoiava alternadamente. Os chefes das facções eram todos eles, num certo sentido, criaturas de Mao, a começar por Lin Piao – dado a fobias extremas, nomeadamente no que respeita à água: o simples ruído da água corrente provocava-lhe diarreias – e pela mulher de Mao, Chiang Ch’ing, e a acabar no mais ignorado dos Guardas Vermelhos. Mao ia-os apoiando até suspeitar que lhe procuravam suceder. De facto, o seu grande medo era o de que algum deles se tornasse o “Khrushchov chinês”, isto é, que lhe fizesse a ele o que Khrushchov fez a Estaline, o seu modelo, no XXº Congresso do PCUS. Para eliminar essa possibilidade era necessário inventar a continuação da “luta de classes” – “Nunca esquecer a luta de classes!” era um slogan da altura – no interior do regime e fingir que tudo começava do zero. Diz o excerto de um discurso de 1958 recolhido no Pequeno Livro Vermelho que a pobreza e a miséria são “coisas más na aparência, mas boas na realidade. A pobreza leva à mudança, à acção, à revolução. Sobre uma folha branca, tudo é possível; podemos escrever e desenhar o que há de mais novo e de mais belo”. Mao fartou-se de escrever e de desenhar. A educação devia, em consequência, ser inteiramente revista, de modo a fazer desaparecer qualquer vestígio do ensino burguês, incluindo as avaliações dos estudantes segundo os critérios tradicionais. Destruíram-se templos e bibliotecas. A linguagem do “pensamento Mao Tsé-tung” tornou-se a linguagem única admissível. Criaram-se personagens com biografias fictícias, como o bravo soldado Lei Feng, que resumiam em si, para servir de exemplo, todo o fervor maoista, no seu combate contra “monstros e demónios”. No meio desta guerra civil destinada, do princípio ao fim, à consolidação do seu poder e à eliminação de todos os seus adversários – até Lin Piao, o fiel dos fiéis, encontra a morte em 1971 -, perde-se a conta ao número de vidas desaparecidas e às humilhações sem nome a que são submetidos todos os que vão sendo declarados, por uma facção ou outra, inimigos do maoismo, tal como não há limite para as autocríticas, que florescem a velocidade inédita. Não falta sequer o ocasional canibalismo, mais trivial durante a Grande Fome, um canibalismo teoricamente justificado pela luta de classes: “Canibalismo? Era a carne de um proprietário! A carne de um espião!”, explicava o chefe de um comité revolucionário. Quando Mao morre, em 1976, a festa acaba. Em vida, conseguiu evitar o aparecimento de um “Khrushchov chinês”, isto é, de alguém que o condenasse. Condenados, depois, foram alguns dos que o apoiavam. Entre os muitos julgados, encontrava-se Chiang Ch’ing, a viúva de Mao e figura eminente do chamado Bando dos Quatro: “Eu era o cão do Presidente. Mordia quem quer que fosse que ele me mandasse morder”, declarou para a eternidade. É difícil transitar do horror totalitário para a mais pacata vida das democracias, mas está longe de ser impossível, como disse antes, encontrar certas tendências totalitárias no movimento woke: a ideia de que se pode começar tudo como numa página em branco; a multiplicação das humilhações públicas e das consequentes autocríticas; a o derrube das estátuas e dos vestígios do passado; a transformação da linguagem; e por aí adiante. De facto, nem sequer é necessário ir tão longe quanto isso. Basta pensar no nosso manso Portugal de hoje. Querem alguém que seja tanto uma criatura do seu mestre como Eduardo Cabrita? Trata-se obviamente de uma ficção inventada por António Costa. Só existe politicamente por isso e deixará de existir mal o mestre lhe diga para desaparecer. É por isso que é inútil interrogá-lo sobre o que quer que seja. Querem combates contra “monstros e demónios”? É ler, por exemplo, os relatos que a imprensa divulgou das Jornadas parlamentares do PS em Caminha ou toda a escola de pensamento que gosta de “malhar na direita”. Querem culto da personalidade? Ascenso Simões publicou recentemente um artigo tão grotesco sobre Costa que me recuso a detalhá-lo aqui, algo do género “Sigamos o pensamento António Costa a caminho da liberdade, com o sol dentro do nosso coração”. Mas basta lembrar que foi ele o primeiro director da campanha de Costa para as eleições de 2015, aquelas que ele perdeu para Passos Coelho. Foi substituído por causa de uns cartazes muito maoistas que anunciavam uma brilhante página em branco na qual tudo podia radiosamente ser escrito e por uns outros em que apareciam fotografias de indivíduos que narravam os tormentos pelos quais passaram durante a troika e que eram, de facto, funcionários de uma Junta de Freguesia lisboeta do PS. E, é claro, Ascenso Simões alçou-se à celebridade nacional com o seu famoso artigo onde lamentava o pouco sangue que correra no dia 25 de Abril e onde reclamava a destruição do Padrão dos Descobrimentos. Querem um Lei Feng lusitano? Esperem um bocado, que ainda vai aparecer algum jovem empresário socialista – chamemos-lhe Valentim Feliciano – que interpreta as sublimes directivas de Costa na execução do PRR com o exemplar fervor da juventude que conta, aquela que traz consigo o futuro, a paz dos povos e a mensagem do “pensamento António Costa”. Estamos, é claro, muito longe do horror totalitário, graças a Deus, e não estou a ver Pedro Nuno Santos e Fernando Medina a acusarem-se um ao outro de serem o “Khrushchov português”, mas, à nossa escala, não é, no conjunto, um espectáculo bonito. Enfim, a humanidade é mesmo ligada por características comuns e, por mais diferentes que sejam os tipos antropológicos criados pelo totalitarismo e pela democracia, há sempre umas semelhançazinhas aqui e ali. POLÍTICA CHINA MUNDO COMUNISMO PS COMENTÁRIOS josé maria: Da China a Portugal passando pela América: Facts about poverty and hunger in America. Even in the world’s greatest food-producing nation, children and adults face poverty and hunger in every county across America. In 2019, 34 million people lived in poverty in America. For a family of four, that means earning just $25,000 per year. Before the coronavirus pandemic, more than 35 million people faced hunger in the United States, including more than 10 million children.A household that is food insecure has limited or uncertain access to enough food to support a healthy life. Children are more likely to face food insecurity than any other group in the United States. Feeding America. Org João Vieira > josé maria: O sonho dos pais fundadores foi, claramente, um erro e os milhões de mortos do comunismo apenas danos colaterais. Vendam já o mundo à China por um prato de caracóis. Francisco Tavares de Almeida: Paulo Tunhas abre, não direi uma janela mas um postigo de esperança. Com tudo e todos centrados no pensamento de António Costa, quando este for para Bruxelas substituir Michel, talvez o edifício partidário socialista impluda. manuel soares > MartinsFrancisco Tavares de Almeida: A coisa perde muito do seu sal se não reparar que, conforme o texto, para os sequazes do tipo Ascenso Simões, seguindo a mentalidade do velho maoísmo, não se trata do pensamento "DE" A. Costa mas sim do "pensamento António Costa", um pensamento objectivo que, embora indissociável da pessoa, como no "pensamento Mao", continuará a agir nos seus fiéis sem a sua presença. Francisco Tavares de Almeida > manuel soares Martins: Lamento menorizar a sua erudição mas o pensamento, com ou sem de, António Costa é circular: esgota-se nele próprio. Aliás esse pensamento, com ou sem de, tem o objectivo de qualquer vírus: perpetuar-se e multiplicar-se (talvez por isso há quem diga "isto" não começou na China pois a variante Delta já cá anda desde 2015). Admitindo com alguma boa vontade que esse pensamento, com ou sem de, possa ser transposto para o PS ou seja, para a objectivo de continuar a ocupação do Estado, a influência na justiça e o controlo das narrativas, na ausência do maestro a coisa pode tender a esboroar-se. É que não vejo segundo e sucessor com a sua habilidade e, se Santos Silva, como já ameaçou, regressar ao ensino, não sobra nenhum com inteligência. que mereça destaque. Antes pelo contrário: Meu caro, "o fenómeno", como lhe chama, é velho como a humanidade e mais antigo até, pois tudo leva a crer que foi criado pelos primeiros primatas, porém só adquiriu o actual significado quando houve gente que se começou a opor aos totalitarismos, primeiro pontualmente, e depois regularmente, desde a Revolução Francesa. Foi aliás graças aos totalitarismos que surgiu uma coisa chamada "democracia", que mais não é que o totalitarismo citadino, ligado ao território, primeiro o dos "cidadãos", e depois o dos Estados enquanto unidades territoriais, por oposição ao totalitarismo meramente tribal com que tudo começou, o dos vigaristas - os chamanes ou feiticeiros, ou seja os fala-barato como os "comentadores", de que hoje temos muitos exemplos na política e na justiça - um deles até chegou a Presidente - ou o dos "senhores de pendão e caldeira", ou seja os que andavam com uma bandeira e um caldeirão para alimentar quem os seguia, dos quais também temos um exemplo quase perfeito no Rui Rio - em todo o caso é o que ele julga - e um "mais-que-perfeito", no Costa e na sua camarilha. Curiosamente no futebol, é que eles se "realizam", pois conseguem ser simultaneamente as duas coisas. Na política é mais complicado pois só há lugar para um: o 1º Ministro!!! Todavia a democracia é uma coisa do passado. Tal como o totalitarismo. Em todo o caso no singular, ou seja um totalitarismo de cada vez... porque hoje, graças ao progresso e às novas tecnologias, temos os totalitarismos todos de uma vez!!! É assim uma espécie de "King sintético"... as Copas, o Rei de Copas, as Damas, as Duas últimas, os "homens", e 13 vazas - tudo ao mesmo tempo!!! António Sennfelt: Parabéns a Paulo Tunhas por mais um dos seus oportunos textos! Mas será que continuando nós a seguir "o pensamento de António Costa a caminho da liberdade com o sol dentro do nosso coração" estaremos assim tão longe do horror do totalitarismo? f Teixeira: O que admiro nestas crónicas é a forma elevada e até elegante como o autor expõe as misérias cá do burgo. Ler estes textos, é um prazer obrigatório, que se repete a cada quinta-feira e que, de forma inteligente, nos alerta para o buraco em que estamos a deixar afundar o país. Obrigado. Ahmed Gany: " Qualquer que tenha sido o preço da revolução chinesa, obviamente teve êxito não só produzindo uma administração mais dedicada e eficiente senão inclusive no fomento de uma alta moral e propósito comunitário (...) "A experiência social na China, sob a liderança de Mao, é uma das mais importantes e bem-sucedidas na história humana " - David Rockefeller. Alberto Rei: O wokismo da China ?, não me parece. Mais talvez de Cuba, como o PS, manifestou há dias. Semelhanças com a China de Mao? também não me parece, apesar de aqui e acolá Tunhas demonstrar um culto da personalidade inadmissível, tal a falta de competência e de classe de Costa. Não tem pinta nenhuma, é um desbragado. Mas tem mais, a China totalitarista, soube construir "um socialismo com características chinesas", com certos limites aos cidadãos, mas com ordem para estes enriquecerem. E Portugal? vai ao bolso dos cidadãos continuadamente, e empréstimos internacionais. Os holandeses sabem bem como a gente gasta o dinheiro, sem qualquer sentido de futuro. Não há qualquer semelhança com a China. voando sobre um ninho de cucos: Não há semelhançazinhas: há grandes pontos de convergência. Um dado curioso: em 2015 Ascenso Simões foi afastado por causa do cartaz enganador. Há seis anos ainda se tinham em conta pelo menos as aparências. Hoje ninguém quer saber disso. E por favor, não usem os cães para metáforas políticas: os cães são animais muito dignos . deles se diz que podemos esperar fidelidade canina, que são o melhor amigo do «homem», que lambem as mãos do dono e reconhecem a sua voz. Eu não conheço nenhum político que possa encaixar neste perfil. E finalmente há aquele célebre provérbio : os cães ladram e a caravana passa. Ontem António Costa deve ter pensado muito neste provérbio se bem que com outras palavras: deve ter mandado a oposição para aquele sítio cujo som é bastante semelhante ao da árvore venerada pelos druidas. Carlos Quartel: Um alerta sério, De facto, passo a passo , o PS se vai corporizando em Costa, só Costa e as suas criaturas. A crónica é assustadora e, esperemos, exagerada, mas lá está a capacidade manipuladora, lá está a corte obediente e lá estão os cães de Mao. Correndo o leque de personagens do topo do PS, só encontramos gente cinzenta, sem ideias próprias, vigilantes e agressivos, prontos a morder para protecção do dono. Uma interessante e fresca abordagem da situação, parabéns ao autor ,,,, Zé da Esquina: Excelente artigo, para guardar! Ainda bem que existem jornalistas ou intelectuais com a coragem e o discernimento para nos elucidarem sobre as 'manigâncias' desses regimes totalitários e da cegueira ideológica dos que os seguem. Uns, muitos poucos, são os líderes; mas idiotas úteis abundam com fartura em cada esquina, sempre prontos para idolatrar o líder, prontos para novo grande salto em frente... Cisca Impllit: Cada vez mais - mais gosto da lucidez de Paulo Tunhas. E transmitida à compreensão simples.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

“Que estranha forma de vida”


Escuto o magnífico programa sobre Amália Rodrigues, com que a RTP vai tentando amenizar a tragédia em que estamos soterrados, com este estranho vírus de vaivém, que promete durar e não deixa esperança de uma viragem mais sedutora para um futuro sem grande expectativa, numa Terra sacudida pelo medo das catástrofes com que iradamente a cada passo ela parece vingar-se dos atropelos humanos.

O texto que a Paula me mandou parece enquadrar-se nesses medos que se vivem hoje, de casos de menos escrúpulos que danam o ambiente e a economia, juntamente com as debandadas de encerramento de aulas, provenientes do vírus na escola, que é o do seu caso e de colegas que o vírus momentaneamente dissipou do convívio habitual.

Um texto, o seu, de revolta e tristeza e apelo, de evocação de outros tempos de uma juventude empenhada, de receio – e ironia - em relação aos tempos de hoje, por muito participativos que sejam, numa “estranha forma de vida”- de um coração altivo em Amália, de corações de hoje, corajosos contudo, tentando ultrapassar o pesadelo, com a amizade apelativa de algum bom senso.                                                                         

À Isabel Correia, no seu tempo de gelados fora da “bolha” que lhe causaram um ataque de isolamento Profiláctico

 Isabel, anda ter connosco, tu não tens lepra e temos saudades tuas! E, mesmo que tivesses, este mundo já é uma gafaria... Anda trabalhar!, não os deixes fechar a tua alegria numa gaiola caseira!

Apanha amanhã o autocarro para a Amadora, "de manhã bem cedinho", brinca no parque, almoça numa esplanada (olha que o certificado não serve para viajar, mas há viagens curtas e sítios ao ar livre para se respirar e imunizar). E, à tarde, regressa à linha das tias, que é a tua. A Amadora, concentrada na praia de Santo Amaro, sem polícia marítima, escassa (que o calor derrete e o governo só manda no ar condicionado), estará de regresso ao seu lar, concentrada nos autocarros do final do dia (vai ser necessário reforçar a frota, de certeza!).

No dia seguinte, com as nossas máscaras e distanciamento social, na graaaannnnde sala que nos destinaram para Coordenação de Exames, vamos assegurar o futuro dos nossos jovens, que desejamos cidadãos críticos e criativos, mas, sobretudo, dotados de uma sensibilidade estética/artística que os distinga no futuro.

E o nosso pequeno grande mundo, esta "bolha" alegre de trabalho e dedicação começará a ter significado.

Que é o que andamos por aqui a fazer - perceber o sentido de trabalhar de sol a sol, o da nossa existência de setembro a julho - o sentido da existência!

Vai de autocarro (são mais completas a coerência e a sensação de risco - não faças batota com o teu velho Alfa Romeu) , leva duas máscaras, se quiseres, mas nunca, nunca, nunca tapes os olhos: continua a cumprir o teu Perfil de Educadora do século XXI, aquele que é o nosso, o da nossa aprendizagem desde o século XX quando começámos o nosso percurso profissional no "tempo dos conteúdos" (de outros Ministérios) e não "das formas" em forma do falatar sobre a essência, sem experimentar antes, sentados num gabinete confortável, com uma qualquer máquina de ar condicionado artificial a refrescar as leves ideias que saltitam no rio da corrente dos gabinetes. Faremos a nossa avaliação formativa e a qualitativa das suas cabeças e bocas, do seu Falar Falar Falar sobre quem TEM de pensar como ELES da forma como querem que pensemos (mas "ELES que não sabem que o sonho é uma constante da vida"), avaliaremos quem manda pensar sobre quem pensa, afinal... e deve fazer como ELES pensam que se faz ou deve fazer-se, e, portanto, tem de ser feito. Obrigar e dar ordens a quem pensa, a quem há muito tem os dez mandamentos interiorizados com seus nove critérios rumo à perfeição e ao ideal que pensam que inventaram (perfeição e ideal, leia-se Perfil do Aluno para o século XXI, à Saída da Escolaridade Obrigatória, Decreto-lei 55/2018).

Faz o teste: o teu quarto ou quinto teste, pega nas tuas duas vacinas e certificado, vai à Amadora e volta para junto de nós. Rompe e voa ("baixinho mas voa!). Esquece o teu velho Alfa Romeu e passeia de crocodilo, compra um no chinês.

E, quando vieres com o teu vestido de linho e ténis da natural world eco friendly sem pele de animais, os teus ténis giros e naturais a condizer com a cor do vestido, ténis made in Spain e não na China "já aqui tão perto", vamos dançar o vira do Minho- o da Maria da Fonte (https://www.youtube.com/watch?v=UjkpMdvI9No)

ou então o Fado da Maria da Fonte (https://www.youtube.com/watch?v=yN8tv9R705k) , num slow com o único "menino" do Secretariado, o Bruno Rocha, com os seus ténis confortáveis e surrados, um jovem de ténis antigos como ele já começa também a ser, ainda contratado, com filhos pequenos que têm de desenvolver-se, civicamente interventivos e bem formados, usando a Escola Pública que fazemos crescer neste bendito século XXI, mas onde agradecemos ter chegado e podido enriquecer intelectualmente até à fronteira (que esperamos cheia de flores e verde) do nosso possível futuro!

P.S. - Peço desculpa aos quatro que, ou não têm Facebook ou de quem não tenho os contactos, na minha lista, porque só são amigos na vida real .

 


quarta-feira, 21 de julho de 2021

Poluição, o grande problema


No Youtube gastei horas a rever esses simpáticos pinguins, de uma doçura e beleza a merecer o nosso cuidado com o que lançamos no mar e nas praias… e que chegam aos mares gélidos da Antárctida, que gente corajosa visita e fotografa, para nos favorecer no conhecimento do mundo, aprendendo nós a respeitá-lo… se tivermos consciência para isso.

I - Estudo revela presença de microplásticos em pinguins da Antárctida há mais de 15 anos

Estudo demonstra a presença de microplásticos, há mais de 15 anos, em toda e qualquer espécie de pinguim na Antárctida. A persistência deste material no meio ambiente é o mais preocupante.

Estudo permitiu verificar a presença generalizada de microplásticos em "todas as espécies, colónias e anos do estudo".

Christian Aslund / Greenpeace HANDOUT/EPA

OBSERVADOR,

Um estudo internacional demonstrou a presença de microplásticos, como poliéster e polietileno, entre outras que gente corajosa fotografa.   partículas de origem antropogénica, há mais de 15 anos, em pinguins na Antárctida, revelou esta terça-feira a Universidade de Coimbra (UC).

As análises realizadas no âmbito deste estudo liderado por cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) permitiram verificar a presença generalizada de microplásticos (partículas com menos de cinco milímetros) — em “todas as espécies, colónias e anos do estudo”.

Na investigação, na qual participaram também especialistas da Universidade de Nova de Lisboa, do Museo Nacional de Ciencias Naturales (Espanha) e do British Antarctic Survey (Reino Unido), foram utilizadas amostras de fezes de três espécies de pinguinspinguim Adelie (Pygoscelis adeliae), pinguim de barbicha (Pygoscelis antarcticus) e pinguim gentoo (Pygoscelis papua)recolhidas entre 2006 e 2016.

Além das partículas de plástico, foram encontradas, “em quantidades semelhantes, outras partículas processadas, na maioria fibras, que, apesar de serem de origem natural (celuloses), são produzidas artificialmente e podem ter compostos, como tintas, que podem persistir no ambiente”, sublinha a UC, numa nota enviada à agência Lusa.

Já publicado na revista Science of the Total Environment, este trabalho, segundo os autores, citados pela UC, “demonstra que os microplásticos estão cada vez mais difundidos nos ecossistemas marinhos, identificados agora na Antártida, o que é preocupante dada a sua persistência no meio ambiente e a sua acumulação nas cadeias alimentares“.

Joana Fragão, autora principal do estudo e investigadora do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), salienta que “o mais impressionante dos resultados foi verificar que os micro plásticos estavam presentes na dieta das três espécies de pinguins, em vários locais e nos vários anos do estudo (2006, 2007, 2008, 2012, 2013, 2014 e 2016), o que demonstra que estas partículas se encontram já bem difundidas no ecossistema marinho Antárctico”.

Por seu lado, Filipa Bessa, co-autora da investigação e especialista em poluição por micro plásticos da UC, afirma que, agora que se sabe “que várias espécies de pinguins de regiões remotas como a Antárctida ingerem micro plásticos, mas que não existe um foco específico para a origem destas partículas, o próximo passo é também avaliar os efeitos destas partículas nestes ambientes”.

Os resultados obtidos, frisa José Xavier, autor sénior do artigo científico, “vão certamente ser muito úteis para abrir novas áreas de investigação nesta temática e avançar com políticas para reduzir o impacto da poluição por plásticos no Oceano Antárctico no contexto do Tratado da Antárctida”.

Ou seja, concluem os três cientistas da FCTUC, “são necessários mais estudos para entender melhor a dinâmica espaciotemporal, destino e efeito dos micro plásticos nesses ecossistemas, e controlar a contaminação por plásticos na Antárctida”.

POLUIÇÃO  AMBIENTE  CIÊNCIA  PLÁSTICO  TECNOLOGIA  ANIMAIS  NATUREZA  ANTÁRTIDA  MUNDO

II - MUNDO / MÉXICO: Misteriosa espuma no mar obriga praias a fechar no México

A causa do aparecimento da espuma ainda não é conhecida, mas pensa-se que estará relacionada com a agitação das ondas do mar e com a decomposição de algas. A costa ficou interdita a banhos.

OBSERVADOR, 21 jul 2021

FOTO: A espuma desloca-se para a frente e para trás com a força do mar

Um manto de espuma branca com cerca de 20 centímetros de altura apareceu no fim de semana passada nas praias de Coatzacoalcos, na costa de Veracruz, no México.

A praia adjacente aos bairros de Puerto México, Petroquímica e Playa Sol foi fechada ao público e as autoridades recolheram amostras da água para investigar o fenómeno, conta o Mexico News Daily.

David Esponda Cruz, chefe da Protecção Civil de Coatzacoalcos, garantiu, segundo o jornal El Sol de México, que a espuma não é tóxica, mas recomenda às pessoas para não entrarem no mar “até que a situação esteja esclarecida”.

As causas para o aparecimento da espuma não são conhecidas. O episódio pode estar ligado à “agitação das ondas” em “áreas onde existe uma alta concentração de matéria orgânica, o que provoca um florescimento local de colónias de micro algas que, ao romperem-se, formam a espuma”, explica Saúl Miranda, coordenador do Centro de Proteção Civil de Estudos e Previsões Meteorológicas de Veracruz.

A paisagem branca pode também ter nascido da decomposição de algumas algas, um acontecimento “comum e natural”, descreve o mesmo especialista, que pode durar dias ou desaparecer e reaparecer “em cinco, dez, vinte anos. É aleatório”.

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