Resposta da Isabel
Correia a um texto da Paula, colocado
neste blog, em 22 de Julho de 2021, (“Que
estranha forma de vida”).
O nervosismo de um confinamento
implicando separação e tédio, na saudade da mesa do café como prolongamento
alegre e amistoso de um viver repartido nas inúmeras facetas de desempenho de
que se compõem as vidas humanas – as Mulheres, neste caso. A bendita mesa do
café, que a evolução dos tempos proporcionou à liberdade da Mulher, como espaço
de realização ou desafogo. Prestemos-lhe homenagem.
Da Isabel Correia (23.07.2021)
Paulinha,
lembro os dias, todos os dias em que lado a lado, saíamos da escola,
desenfreadas, logo após o toque, para irmos esfumaçar. As duas nos nossos
vestidos de linho do "Tecido Burguês", fabricados sei lá onde, que
isto hoje em dia já não se pode confiar em ninguém.
No mínimo, queimávamos dois cigarros e
falávamos. Falávamos da Escola que queríamos, naquilo em que acreditávamos, no
que estávamos a fazer e nos nossos alunos, aqueles tão especiais que fazem de
nós, todos os dias, melhores pessoas.
Não precisamos do Perfil do Aluno para o
Séc. XXI, blá, blá, blá...
Logo tu, que antes de lhes pedires que
olhem para um texto, os ensinas a olhar para o outro, para o que os rodeia,
para o belo...
Logo tu, que antes de pedires que
escrevam, pedes que escutem, que descrevam, que contem histórias, que falem.
Que os ensinas a falar bem, a saber o sentido das palavras, a saber
conversar... Depois logo vem a escrita, logo vem a leitura e logo vem a
gramática; a seca da gramática à qual só alguns resistem. E eles adoram-te!
Não me lixem!
Fomos Nós que inventámos o Perfil do
Aluno. Nós, professores que acreditamos acima de tudo que sem uma boa formação
pessoal a formação académica só produzirá trastes, como bem se vê.
É deixá-los pensar que inventam coisas.
Coitados!!!! Pensam que nos enganam! Pensam que enganam o povo! A nós que
vestimos no "Tecido Burguês", nunca!!!!
É deixá-los ter o seu momento de glória
(acham eles), efémero. Daqui a uns anos outros virão com a mesma ambição e
igual ignorância. Tudo mudará de novo.
Que ninguém se preocupe, vão uns, vêm
outros. Nós estamos cá sempre, pela Escola Pública.
Acontece que deixei de fumar e tu não,
deixei de ter tosse e tu não (vai tratar disso) e deixámos de ter os nossos
momentos de rabugice e inspiração diários para fazer coisas com os nossos
putos.
Quem se quer bem arranja pretextos para
estar e não desculpas. Vamos arranjando os nossos, mas desta vez vou cumprir o
meu isolamento profilático (eu que detesto ordens, vou cumprir), não por mim,
mas pelos outros, pelos que temem.
Isto é uma palhaçada e começo a ficar
preocupada com a facilidade com que controlam a nossa vida de forma
discricionária e sem lógica.
Estou fula, mas fico. Aproveito para
bricolar, pensar no próximo ano letivo e falar com quem tenho saudades.
Contigo, todos os dias.
Quando chegares de férias estou livre do
meu cárcere e vamos "rebentar a bolha" e dançar o vira.
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