terça-feira, 27 de julho de 2021

Homenagem à mesa do café


Resposta da Isabel Correia a um texto da Paula, colocado neste blog, em 22 de Julho de 2021, (“Que estranha forma de vida”).

O nervosismo de um confinamento implicando separação e tédio, na saudade da mesa do café como prolongamento alegre e amistoso de um viver repartido nas inúmeras facetas de desempenho de que se compõem as vidas humanas – as Mulheres, neste caso. A bendita mesa do café, que a evolução dos tempos proporcionou à liberdade da Mulher, como espaço de realização ou desafogo. Prestemos-lhe homenagem.

 

 

Da Isabel Correia (23.07.2021)

Paulinha, lembro os dias, todos os dias em que lado a lado, saíamos da escola, desenfreadas, logo após o toque, para irmos esfumaçar. As duas nos nossos vestidos de linho do "Tecido Burguês", fabricados sei lá onde, que isto hoje em dia já não se pode confiar em ninguém.

No mínimo, queimávamos dois cigarros e falávamos. Falávamos da Escola que queríamos, naquilo em que acreditávamos, no que estávamos a fazer e nos nossos alunos, aqueles tão especiais que fazem de nós, todos os dias, melhores pessoas.

Não precisamos do Perfil do Aluno para o Séc. XXI, blá, blá, blá...

Logo tu, que antes de lhes pedires que olhem para um texto, os ensinas a olhar para o outro, para o que os rodeia, para o belo...

Logo tu, que antes de pedires que escrevam, pedes que escutem, que descrevam, que contem histórias, que falem. Que os ensinas a falar bem, a saber o sentido das palavras, a saber conversar... Depois logo vem a escrita, logo vem a leitura e logo vem a gramática; a seca da gramática à qual só alguns resistem. E eles adoram-te!

Não me lixem!

Fomos Nós que inventámos o Perfil do Aluno. Nós, professores que acreditamos acima de tudo que sem uma boa formação pessoal a formação académica só produzirá trastes, como bem se vê.

É deixá-los pensar que inventam coisas. Coitados!!!! Pensam que nos enganam! Pensam que enganam o povo! A nós que vestimos no "Tecido Burguês", nunca!!!!

É deixá-los ter o seu momento de glória (acham eles), efémero. Daqui a uns anos outros virão com a mesma ambição e igual ignorância. Tudo mudará de novo.

Que ninguém se preocupe, vão uns, vêm outros. Nós estamos cá sempre, pela Escola Pública.

Acontece que deixei de fumar e tu não, deixei de ter tosse e tu não (vai tratar disso) e deixámos de ter os nossos momentos de rabugice e inspiração diários para fazer coisas com os nossos putos.

Quem se quer bem arranja pretextos para estar e não desculpas. Vamos arranjando os nossos, mas desta vez vou cumprir o meu isolamento profilático (eu que detesto ordens, vou cumprir), não por mim, mas pelos outros, pelos que temem.

Isto é uma palhaçada e começo a ficar preocupada com a facilidade com que controlam a nossa vida de forma discricionária e sem lógica.

Estou fula, mas fico. Aproveito para bricolar, pensar no próximo ano letivo e falar com quem tenho saudades. Contigo, todos os dias.

Quando chegares de férias estou livre do meu cárcere e vamos "rebentar a bolha" e dançar o vira.

 

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