terça-feira, 31 de maio de 2022

Filosofar para justificar?


Ou apenas para explicar? Por mim, julgo que não há desculpa possível para tanta maldade desencadeada tão a sangue frio, e não apetece incriminar o mundo inteiro, afirmando que “o diabo vive em nós”, por conta de uma besta armada de um poder que não olha a razões que não sejam as de uma absoluta mas estúpida consciência de um poder que se supõe ilimitado, numa gula ultrajante a merecer retaliação. A mim cheira-me - o texto de Eduardo Sá - a excesso de teoria, para justificar a falta de “prática” - da tal retaliação...

O diabo vive em nós

Seremos todos capazes do ódio? Olhando as redes sociais não há, muitas vezes, como dizer que não. O que faz com que, às vezes, vivamos num mundo que é contra a guerra e a favor do ódio.

EDUARDO SÁ

OBSERVADOR,29 mai 2022, 20:4417

Num dia, a guerra surpreende-nos. Noutro, um massacre numa escola dos Estados Unidos deixa-nos em choque. Fará a violência parte de nós? Como é que pessoas que se vinculam e se amam são capazes da violência e da morte? Se todos os animais, sempre que se sentem ameaçados e acossados, são agressivos, porque é que só os seres humanos são violentos?

Em muitos momentos, o discurso dos pais e dos educadores é pouco compreensivo para com a agressividade dos filhos. De início, as mães chamam à ira dos bebés “raivinhas”. Acolhem-na. E, de certo modo, mimam-na. Mais tarde, censuram-na e reprimem-na. Regra geral, os pais entendem a agressividade como um coisa má. Reagem como se ela parecesse ser a antecâmara da violência. Mas a agressividade humana é, simultaneamente, um ansiolítico e um anti-depressivo. Sempre que nos assustamos, eriçamo-nos e reagimos. Na base, a agressividade é saudável. A ira (a raiva) é reflexa. Surge quando surge o stress. Mesmo que, a seguir, se transforme num impulso. A ira mete medo ao medo. Assusta quem nos assusta. A agressividade é um degrau acima da ira, a caminho do pensamento. Já tem muito de voluntário. Protege do medo, num primeiro momento. Sublimada, transforma-se em rivalidade e ambição. Transformada, promove a proactividade e o empreendedorismo. A agressividade que não se comunica não se transforma. Sempre que a contemos, a agressividade que resulta da dor gera a hostilidade (inibindo a sensibilidade, a imaginação, a fantasia, a subjetividade e a relação). Conter a hostilidade torna-nos amigos do rancor. E rancor é ódio. E o ódio o motor da violência. Contida.

É claro que a agressividade magoa o outro. E é suposto que em consequência dessa dor sejamos capazes de aceder à experiência de culpabilidade. Sem experimentarmos a culpabilidade não nos tornamos bondosos. Magoarmos o outro rouba-nos aquilo que ele nos pode dar de si, que seja indispensável ao conhecimento de nós próprios e ao nosso crescimento. Aquilo que distingue a agressividade da violência é que a agressividade termina onde começa a consciência da dor do outro. Já a violência começa aí. Violência são todos os actos voluntários que promovem, deliberadamente, sofrimento no outro, sem que mereçam reparação, esperando quem nos violenta que essa violência desencadeie em quem foi agredido uma reacção especular. Quem violenta precisa que quem é violentado ou reaja em pânico, e pactue com o mal, e faça com que a violência se repita, ou reaja em espelho, respondendo com violência, justificando mais maldade por quem começou por violentar.  As pessoas violentas esperam que a resposta dos outros seja à medida da violência que projectam sobre eles. É por isso que todos os violentos, a seguir a violentarem, reclamam que reagem em legítima defesa.

Ninguém nasce violento! A violência resulta de apelos cumulativos ao apego, permanentemente, insatisfeitos. A dor corrompe o amor pela violência. É por isso que na base da violência está o desespero, que resulta da dor, continuadamente lancinante, que alguém nos trouxe. E que leva a que quem sofre absorva a culpa pelo seu sofrimento. Como se a maneira como é violentado fosse, no limite, uma responsabilidade sua. Quase como se quem violenta nos perguntasse, como quem se lamenta: “Porque é me obrigas a fazer-te mal?!…” Tal é o modo como quem violenta impinge a culpa da sua violência sobre a sua vítima, continuadamente.

A culpa pela dor que se sofre nunca se esquece. E persegue por dentro. É uma culpa que atormenta. E que enlouquece. Expulsá-la, “vomitando-a” sobre o outro, é uma forma de a tentar exorcizar. Destruí-lo, um modo de a incinerar, para que desapareça. E é por isso que o ódio é a lixívia da culpa. E, enquanto funciona, sustém a loucura. Mas o ódio não destrói a culpa, completamente. Até porque ela gera uma inveja destrutiva diante de todos os outros que têm o privilégio de ter aquilo que quem violenta nunca teve. Conspurcar e contaminar o bem pelo mal serve para que o bem dos outros não avive e não acentue mais as falhas do bem que não se teve. E assim não exacerbe o desespero. Porque qualquer episódio de culpa sobre a culpa que persegue por dentro representa “a gota de água” que afoga. Vistos pelos olhos do mal, o diabo são os outros.

É por isso que qualquer pessoa enlouquecida vê a destruição do outro como uma forma de se libertar do mal que a persegue. Num registo de “ou mato ou morro”. Ou destruo tudo aquilo que me atormenta e amenizo o meu desespero, ou mais desespero sobre todo o desespero que já sinto me destrói. Por outras palavras, sim, quem violenta já foi violentado. Ou foi acumulando distrações sobre distracções de quem não as podia ter tido sobre todo o sofrimento de que se foi vítima. E, sim, tanta dor torna-o doente. Mas nem sempre a violência se manifesta pela destruição física de alguém. Muitas vezes, traduz-se por assassinatos de carácter. Noutras, por atentados à intimidade, à imagem ou à vida privada. Noutras, ainda, pela calúnia e pela difamação. Noutras, finalmente, quando o mesmo discurso de ódio surge embrulhado numa ideia de purificação. Como quando uma minoria organizada defende a destruição de um dado grupo como uma forma supremacista de vincar no mal que promove o seu estatuto de defensor do bem. Pelos olhos dos maus, o diabo são os outros. Aos olhos das pessoas saudáveis, o diabo vive em nós. E é a forma como dialogamos com as nossas pequenas maldades que os remorsos abrem espaço para escolhermos o bem. Mas é fácil tornarmo-nos um bocadinho maus. Fazemo-lo, por exemplo, quando, diante do mal, reclamamos um estatuto de neutralidade. Que é uma forma — cobarde, todavia — de assumir que o mal que vitima os outros é… dos outros. Mesmo quanto mais o mal se banaliza mais a compaixão acabe em indiferença. Nessa altura, a vergonha resulta da forma como fugimos do mal de que os outros são vítimas. Representa uma forma de reconhecermos, silenciosamente, que o diabo também vive em nós.  Mas que o mal está nos outros.

Num dia, a guerra surpreende-nos. Noutro, um massacre numa escola dos Estados Unidos deixa-nos em choque. Fará a maldade, intrinsecamente, parte de nós? Sermos capazes de maldades não significa que sejamos maus. Mas, sim, todos somos capazes do mal. De pequenos males, pelo menos. Por mais que haja uma grande diferença entre sermos maus num impulso, magoarmos, reconsiderarmos, pedirmos que nos desculpem e reparamos as nossas maldades, e escolhermos ser maus.

Como é que pessoas que se vinculam e se amam são capazes da violência e da morte? Porque a violência de que se é vítima corrompe a esperança, corrói a confiança e martiriza o amor, o que faz com que a essa violência se oponha a violência com que se vitimiza. Sempre que de cada vez em que somos vítimas não nos refugiarmos em quem nos ama. O amor é o antídoto do ódio. Mesmo quando é a dor esdrúxula que se sofre que mais aclara quem nos ama.

Se todos os animais são agressivos, sempre que se sentem ameaçados e acossados, porque é que só os seres humanos são violentos? Porque só os seres humanos são capazes de pensar. Sobre o desespero. Sobre a culpa. Sobre a humilhação. E, para que não enlouqueçam quando pensam (e morram, a seguir), a violência é a forma de porem a inveja a vingar-se sobre os outros da culpa que resulta da violência que sofreram, na solidão e sem auxílio.

Seremos todos capazes do ódio? Olhando as redes sociais não há, muitas vezes, como dizer que não. O que faz com que, às vezes, vivamos num mundo que é contra a guerra e a favor do ódio. (Acrobático, não é?…) Mas, para além do ódio, o mundo das pessoas é, ciclicamente, amigo da vaidade. E a  vaidade, bem vistas as coisas, é uma forma de esconjurar a inveja. De fazer de conta que estamos acima dela. De usarmos os outros como objectos diante dos quais se exibe a nossa supremacia. Por outras palavras, temos muitos bocadinhos de violência, mais ou menos silenciosa, dentro de nós. A vaidade que se impõe é violência. Ódio é violência. Humilhação é violência. Indiferença é violência. E, já agora, reagirmos com pensamentos cheios de destrutividade, quando uma dor brutal nos atropela e dilacera, é violência. A diferença está entre reconhecermos o diabo em nós diante dos momentos em que somos violentos num impulso, e escolhermos ser bons, ou assumirmos que maus são os outros ou que são eles os únicos culpados do nosso desespero.

Chegados aqui não é justo que se presuma que aquilo que se disse seja uma forma de banalizar a violência. Ou de a desculpar. Ou de levar ao colapso a comporta com que separamos o bem do mal, com medo que um e outro se confundam. Dividir as pessoas entre os bons e os maus não significava que os bons não possam, às vezes, ser maus. Aquilo que distingue os bons dos maus é que, para os bons, a sua maldade termina onde começa a consciência da dor do outro. Para os maus, a sua maldade começa aí.

GUERRA  CONFLITOS  MUNDO  COMPORTAMENTO  SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

Desabafo Assim: Às vezes aparecem figuras públicas que nos levam ao pensamento "conjunturas sociais favoráveis, famílias de Lisboa" porque quando abrem a boca denunciam vulgaridade, mas outras ficamos na dúvida, faltam-nos dados. Dessas outras, quando temos dados, tal como o caso, ficamos tristes, pessoas maiores que o chão que pisam, Moldávia, romenos, portugueses, que desperdício, tanta falta fazem ao mundo todo. bento guerra: Informação a mais e má            Ahmed Gany: O diabo vive em nós como o sangue que corre nas veias do filho de Adão.            Paulo Silva: Se todos os animais […] são agressivos [...] só os seres humanos são violentos. Isso não será bem verdade, caro colunista. Segundo o antropólogo e primatólogo Richard Wrangham os chimpanzés são capazes de matar um indivíduo da mesma espécie por tudo, (território, comida, sexo, etc), e por nada… pelo simples prazer de matar.            Mario Figueiredo: Caro Eduardo Sá, se estiver a ler isto quero que saiba que é sempre um enorme gosto ler e ouvi-lo. Mas preciso de fazer um reparo. A comparação ao comportamento animal que tendencialmente se faz sempre que se quer criticar ou diminuir o comportamento humano, não é somente incorrecta como também muitas vezes falsa. O nosso intelecto e a construção social humana são infinitamente mais complexos do que qualquer outro animal no nosso planeta, pelo que os comportamentos resultantes não podem ser sujeitos a uma comparação justa. Veja-se por exemplo a complexidade da forma como o ser humano luta por recursos em comparação com outros animais. Pergunto-lhe que outra espécie escreveu leis internacionais para regular conflitos ou interesses. Por outro lado é manifestamente falso que os animais não sejam capazes de violência. Não é sequer difícil encontrar no reino animal casos de extrema violência que na sociedade humana aprendemos há muito a renegar e até criminalizar. Recordo-lhe o comportamento de leões e ursos que matam as crias alheias para poderem acasalar com as fêmeas. Ou a forma terrivelmente agressiva como os hipopótamos defendem a sua área de qualquer outra criatura, incluindo os seus. Ou de como os crocodilos (e muitos outros predadores) são dados a canibalismo. Gostaria que se evitassem comparações desnecessárias e até mesmo falsas para fazer valer um argumento que vale por si próprio. O ser humano é seguramente o mais belo produto da natureza. Capaz de mais "humanidade" do que qualquer outro animal no nosso planeta.                 Ahmed Gany > Mario Figueiredo: Não se deve comparar o racional com o irracional nem o o sábio com o idiota.           Pobre Portugal > Mario Figueiredo:  “para poderem acasalar”, para “defenderem a sua área”; ou seja, há sempre uma causalidade nessa agressividade animal. Um leão ou um crocodilo não pensam na “violência que sofreram, na solidão e sem auxílio”. Nem fazem complexos jogos mentais sobre a sua martirizada infância. Isso só os seres humanos fazem. Mas se amanhã me provarem que os animais ou as pedras pensam, eu mudo logo de ideias.            Mario Figueiredo > Pobre Portugal: Se um animal é isento de juízo de valor moral -- e que deve ser, pela natureza maioritariamente instintiva -- então pelo mesmo raciocínio não se podem fazer comparações de teor moral com o comportamento humano. Por outras palavras, apenas o ser humano está sujeito a avaliação moral ou ética. E isto é importante. Até porque como tento demonstrar em cima, entraríamos num terreno perigoso em que rapidamente nos apercebemos que o restante reino animal é esmagadoramente mais agressivo e violento que o ser humano. Veja por exemplo o que corujas-das-torres fazem a toda uma família de pombos para lhes tomar o ninho em vez de procurarem um para si. O nexo de causalidade é universal. Também o comportamento humano se move entre relações causa-efeito. História, Sociologia, Antropologia, Psicologia, todas explicam o ser humano neste contexto. Na verdade a Biologia ensina-nos que também nós somos movidos po r poderosas forças instintivas, das quais o nosso intelecto superior ainda não se conseguiu libertar. E veja, até há quem diga que é precisamente aí que está a raiz do Mal; o Instinto, a nossa amigdala. E que o ser humano se eleva sobre os restantes animais precisamente pela sua capacidade latente de o combater. Pessoalmente não vejo as coisas dessa forma. Pertenço à "escola" que defende que o Mal é apenas uma figura mitológica e que não existe. Existem sim desvios da norma comportamental da época e que invariavelmente se explicam clinicamente. E paradoxalmente o texto do Eduardo Sá caminha precisamente nesse sentido.             josé maria Seremos todos capazes de ódio ? Não creio, muito pelo contrário, partilho do optimismo de Steven Pinker. Estou convicto que a larga maioria dos seres humanos é composta por gente de bem, que, por vezes, se divide internamente na polaridade de vários "eus", em áreas luminosas, cinzentas ou escuras, entre o egoísmo, mais ou menos exacerbado, e uma propensão residual para o altruísmo e a abnegação.           Paulo Silva > josé maria: Isso mesmo woke de bem' zé maria, Steven Pinker, o liberal optimista de “Os Anjos Bons da Nossa Natureza : Porque tem Declinado a Violência.”         josé maria > Paulo Silva: Nem mais, você já anda a aprender umas coisas com o Steven Pinker………………..

 

Um discurso ambíguo


Luis Soares de Oliveira escreveu no seu facebook o texto que segue, que me chegou por email:

Ontem às 09:43

28 de maio, PAZ PORTUGUESA -II

«Dizem alguns que tivemos a paz mas pagamos um preço pesado. Claro que pagamos um preço. Em parte nenhuma existe free lunch. E que preço foi esse? O preço que pagamos então foi termos sido beneficiários do Plano Marshall (1948) e membros fundadores da NATO (1949) . O primeiro trouxe-nos a electrificação; o segundo, custou-nos o Império. Valeu a pena? A cada um a sua resposta. Eu que conheci o Portugal de então, sou pela positiva.»

 

Julgo que a “positiva” do sr. Embaixador não poderá abranger os desmandos estabelecidos com as descolonizações - as misérias, violências, totalitarismos dos novos governantes, lá pelas Áfricas, e a substituição dos colonizadores pacíficos, pelas ingerências modernas dos extremismos islamitas e quejandos, movidos por interesses comerciais ou de alargamento islâmico. A positiva não são certamente as migrações desvairadas desses povos maltratados, quer pelos seus novos chefes, quer pelas suas ambições em busca de melhores espaços, quantas vezes os naufrágios e outros males não lhes permitindo alcançar as terras europeias ou americanas da sua ambição… Esses casos merecerão talvez, o reconhecimento de uma África menos conturbada então, a merecer o antigamente uma classificação pela positiva, do Sr. Embaixador.

Mas não me parece que seja esse o sentido da sua expressão ambígua.

Democracia … sim, também parece merecer a anuência positiva de qualquer um de nós que, segundo se afirma, nunca foi tão liberal, etc, etc… mas a destruição económica, o viver de empréstimos, numa aparência de fausto, e a corrupção tão constante com a violência que hoje se patenteia por toda a parte, será isso tão positivo assim?

Positivo, sim, este desenvolvimento tecnológico, que nos traz o “conforto” visual e não só, ao que se passa no mundo, no imediato dos acontecimentos. Mas uma extraordinária manipulação dos telemóveis ou suas famílias pela juventude, constitui um obstáculo grosseiro, pelo divertimento abusivo, ao pleno desenvolvimento dos jovens em idade escolar, hoje, preterindo as leituras mais sadias e formativas… Tanto que se poderia citar, a confirmar o positivo ou o negativo...

Mas negativo, sim, foi a tal época anterior, da ditadura construtiva... salazarenta… se não me engano, na decifração do ironicamente ambíguo - “sou pela positiva”.

 

segunda-feira, 30 de maio de 2022

O que salva a democracia


É o respeito pelos velhos valores morais registados nos livros, tanto de reflexões ou pensamentos clássicos, como nas obras poéticas ou romanescas que constituem exemplos de participações sociais, que ajudam à formação e reflexão humana, desde que venham preservados nas famílias…. É claro que todas essas assembleias são importantes nas orientações a tomar, mas já passámos por tudo isso, e chegámos a isto: a facilidade de matar, segundo o valor do mais forte – nas armas e na falta de escrúpulos. A educação conta para alguma coisa? Tudo parece tão frágil! E tão teórico …

As assembleias de cidadãos podem salvar a democracia? – Parte II

A reflexão política deliberativa deve ser um compromisso entre vários mundos e ser representativa da sociedade atual e não de uma sociedade futura e imaginada sob pena da alienação política se agravar

PATRÍCIA FERNANDES , Professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho

OBSERVADOR, 30/5/22

No domínio das teorias da democracia, a reflexão inicial parte sempre da democracia liberal: foi este o modelo que consagrou o espírito contratualista da soberania popular e os princípios liberais de limitação do poder político, direitos individuais e estado de direito. O seu elemento central é o conceito de representaçãoé a representação que o torna moderno, por oposição aos modelos antigos de democracia directa. Isto significa que quase todas as teorias que se apresentam como correctivas ou alternativas da democracia liberal têm o mecanismo de representação como alvo.

Como vimos, as teorias de democracia deliberativa procuram corrigir e ampliar o conceito de representação alargando o processo deliberativo às pessoas comuns (i.e., retirando-o do espaço exclusivo das elites políticas). Já as teorias de democracia participativa, por regra mais radicais, pretendem substituir o mecanismo de representação por uma participação directa e não mediada no poder por parte dos cidadãos. Neste sentido, as duas teorias não se confundem e devemos, por isso, clarificar os seus limites.

As propostas de democracia participativa apelam, por regra, a uma participação imediata dos cidadãos, acreditando que um igual exercício do poder é a única forma de verdadeira democracia. O processo de deliberação que conduz à formação da vontade política não é central para estas teorias: em sociedades informadas e emancipadas, os cidadãos sabem formar as suas posições e o objetivo das estruturas de participação é simplesmente garantir que a expressão dessa vontade é feita de forma livre e igual.

As teorias deliberativas assentam num pressuposto diferente: centrando-se no processo de deliberação no seu duplo sentido – discussão e decisão –, estas teorias não consideram que a resposta já se encontra tomada, mas antes que os cidadãos devem ser livres de participar de forma igual no processo deliberativo que conduz à decisão final. As assembleias de cidadãos não constituem, então, fóruns de expressão de vontade, mas momentos de aprendizagem, questionamento e discussão de uma determinada medida (e é por essa razão que não devem ser televisionadas).

Antes, porém, de regressarmos à avaliação das iniciativas recentemente promovidas, importa fazer notar que a democracia deliberativa não se confunde com aquele mecanismo: as teorias deliberativas cobrem um variado leque de reflexões e interpretações e as assembleias são apenas um dos mecanismos desenvolvidos. Em Portugal, João de Almeida Santos chama a atenção para esse aspecto, em “A política deliberativa: afinal, o que é?”, quando elogia a possibilidade aberta pela internet de multiplicação de espaços de deliberação:

“A rede iniciou um poderoso processo de desintermediação da política e da comunicação, devolvendo soberania à cidadania, dotando-a de instrumentos capazes de promover auto-organização e automobilização política e comunicacional, reforçando fortemente o espaço público deliberativo e substituindo a velha mass communication por uma mass self-communication que vê emergir o indivíduo singular com maior protagonismo e capacidade de autónoma intervenção no espaço público deliberativo.”

Encontramos este tipo de democracia deliberativa na plataforma digital disponibilizada pela Conferência sobre o Futuro da Europa, em que os cidadãos foram chamados para participar na discussão como parte do processo deliberativo.

Já as assembleias de cidadãos constituem uma modalidade de democracia deliberativa diferente: aqui pretende-se criar um fórum de deliberação que não é constituído por representantes que apresentam ideias ou agendas políticas pré-determinadas (nomeadamente, por partidos políticos), mas por pessoas comuns que deverão deliberar (examinar, discutir e formar uma decisão) sobre um determinado assunto. Importa notar que elas não são representantes, recuperando-se, portanto, o espírito da democracia directa dos antigos: a sua participação funciona, antes, como uma espécie de experiência mental que legitima o processo político.

Na Europa, o melhor exemplo deste mecanismo pode ser encontrado na República da Irlanda: uma das estratégias do seu plano de Open Government é, precisamente, o Ireland’s Citizens’ Assembly. A decisão mais emblemática tomada com recurso a este mecanismo deliberativo prende-se com a alteração da oitava emenda da constituição, que possibilitou a aprovação da lei de 2018 sobre a interrupção voluntária da gravidez: o processo foi iniciado com uma decisão da assembleia de cidadãos e depois sujeita a referendo, ao invés de se deixar a decisão unicamente aos actores políticos tradicionais.

Para que as assembleias de cidadãos possam cumprir o objectivo de superar a crise de representação das democracias liberais é fundamental que a sua composição cumpra dois elementos fundamentais: deve resultar de um sorteio de todos os cidadãos e ser representativa dessa comunidade. Estes dois elementos são necessários para garantir uma decisão que os cidadãos reconheçam como sua e não como resultado das elites políticas.

Ora, nas duas assembleias de cidadãos recentemente promovidas estes requisitos não se encontram cumpridos – o que não só retira validade à experiência, como fragiliza a própria teoria deliberativa, que passa a ser vista com desconfiança pelos eleitores. Ao contrário de servirem a renovação democrática, as duas iniciativas fragilizaram a confiança que estes mecanismos deveriam gerar. Vejamos melhor por que razão.

O Conselho de Cidadãos de Lisboa

Embora o Conselho de Cidadãos de Lisboa se apresente como inovador, esta iniciativa sofre de um pecado capital: a composição da assembleia foi sorteada a partir de uma inscrição prévia. Ou seja: numa primeira fase, o projecto recebeu a inscrição de interessados em participar no Conselho e, numa segunda fase, o sorteio foi realizado a partir dessas inscrições. Por que razão é isto um pecado capital?

O objectivo das assembleias deliberativas é satisfazer um princípio de igualdade política que não parece respeitado nas democracias representativas: é suposto os representantes serem a nossa voz no processo de decisão, mas as decisões parecem desfasadas das nossas preocupações, necessidades e interesses. O resultado é um defraudar das expectativas democráticas e também uma desigualdade no acesso ao processo de decisão. O mecanismo do sorteio nas assembleias de cidadãos visa, precisamente, colmatar esta falha: ao oferecer a possibilidade de qualquer um de nós ser escolhido para participar, garante-se esse princípio de igualdade. O facto de serem aquelas pessoas a participar, e não nós, não resultaria de um mau funcionamento do sistema (que cederia a interesses partidários e económicos), mas à mera sorte, que nos poderá calhar da próxima vez.

Ao ter optado pela inscrição prévia, este projeto destruiu as garantias oferecidas pelo sorteio e alienou a maioria da população, que, desconhecendo o sorteio, verá com desconfiança o facto de alguns terem tido acesso a informação privilegiada – o que põe em causa a expectativa de igualdade que o mecanismo propõe assegurar.

Mas há uma segunda razão para considerar a inscrição prévia uma péssima ideia: as assembleias deliberativas devem ser representativas da comunidade e devem permitir o envolvimento político dos cidadãos, que, na sua maioria, se sentem afastados da política. No entanto, a estratégia de inscrição não garante essa representatividade nem esse envolvimento, na medida em que permite que a iniciativa seja capturada por grupos activistas. Basta que os elementos destes grupos se inscrevam em largo número para que fiquem sobre representados na assembleia de cidadãos. Note-se que não há nada de errado com a existência de grupos activistas, que devem ter lugar numa sociedade pluralista. Mas o objectivo de uma assembleia deliberativa não é dar espaço a grupos já envolvidos politicamente – visa, antes, permitir que os cidadãos comuns se possam envolver politicamente. Se as assembleias não acautelarem esta possível captura, é o próprio funcionamento do mecanismo que fica posto em causa: as decisões que resultarem dessas assembleias não serão representativas da comunidade, mas representativas dos interesses avançados por esses grupos.

E, na verdade, as decisões que resultaram do Painel de Cidadãos de Lisboa parecem refletir precisamente este processo de captura. A consequência é a própria fragilização do processo deliberativo e um aumento da desconfiança face ao sistema. O processo de inscrição deve ser eliminado nas próximas sessões, sob pena de o executivo de Carlos Moedas agravar a crise democrática ao invés de a corrigir.

O Painel de Cidadãos Europeus

De acordo com a iniciativa organizada no âmbito da Conferência sobre o Futuro da Europa, os Painéis de Cidadãos Europeus respeitariam as seguintes condições:

composição por 200 cidadãos europeus escolhidos por seleção aleatória nos 27 Estados-Membros;

reflexo da diversidade da UE em termos de origem geográfica (nacionalidade e origem urbana/rural), género, idade, contexto socioeconómico e nível de instrução;

inclusão de, pelo menos, uma cidadã e um cidadão por Estado-Membro;

composição de um terço por jovens (com idades entre os 16 e os 25 anos).

Os três primeiros requisitos cumprem o espírito das assembleias deliberativas: o sorteio foi feito a partir da totalidade dos cidadãos europeus de forma aleatória, reflectindo a diversidade da UE e a representatividade por estado. Mas a última condição merece reflexão: por que razão deverão os cidadãos entre 16 e 25 anos representar um terço de cada painel?

Importa considerar que os jovens entre os 16 e os 25 anos correspondem, no território da UE, a aproximadamente 11% da população total, mas nos Painéis de Cidadãos Europeus a sua representatividade foi elevada para 33%.

A justificação parece ser simples: se a reflexão é sobre o futuro da UE, seria natural que os jovens tivessem uma primazia nessa reflexão. No entanto, se recusarmos esse facilitismo argumentativo, podemos notar o prejuízo desta opção.

Mais uma vez: as assembleias de cidadãos visam superar o distanciamento e a fragilização democrática que resulta das democracias representativas, integrando no processo de decisão uma opinião representativa da população. Mas de que forma é que quase triplicar a representatividade de uma parte da população garante a representatividade? Elas serão, antes, deturpadas por essa sobrevalorização de uma parte da população, tornando-se, por isso, menos representativas – o que cancela o efeito pretendido pelo mecanismo deliberativo.

Essa perturbação é particularmente relevante num momento em que a sociedade europeia apresenta divisões sociais e políticas crescentes, marcadas por termos morais e identitários com forte base geracional. Assim, privilegiar um grupo etário sobre os restantes só reforçará essas tensões sociais. Por outro lado, estamos a desprezar a grande maioria da população, que lida hoje com problemas muito concretos decorrentes da sua idade: dificuldade em lidar com a transição digital, baixa remuneração salarial para menores qualificações e desafios que resultam do envelhecimento e perda de autonomia.

Como muitas vezes acontece, as iniciativas da UE revelam-se contraditórias: por um lado, há projectos dedicados ao problema do envelhecimento da sociedade e, simultaneamente, desvaloriza-se a proporção de pessoas que estão directamente implicadas nesse problema e que sofrem ou sofrerão a curto prazo as suas consequências.

Esta decisão de primazia etária resulta muito do Zeitgeist: se a modernidade se caracteriza pela imposição de uma lógica de tempo linear (ao contrário da visão circular dos antigos), os tempos de pós-modernidade têm imposto a ditadura do progresso e do futuro, sobrevalorizando a novidade e a juventude em detrimento da experiência e da velhice. Se a sabedoria acumulada com os anos já constituiu o valor político por excelência, hoje ela parece desvalorizada. Mas que sabedoria e experiência de vida podem trazer os jovens entre os 16 e os 25 anos? Na verdade, e como diz Lívia Franco a partir de Tocqueville, “a falta de experiência política aumenta a fé nas possibilidades das teorias abstratas fazendo aumentar o fosso entre os problemas reais e as soluções políticas propostas.”

A reflexão política deliberativa deve antes ser um compromisso entre os vários mundos e, sobretudo, ser representativa da sociedade actual e não de uma sociedade futura e imaginada, sob pena de a alienação política e o descrédito democrático presentes se agravarem. Se desvalorizarmos o presente e a experiência passada, não haverá futuro para uma UE que tanto reflectiu sobre ele.

PS: Recordando que o cerne da democracia deliberativa é garantir que deliberamos em conjunto com pessoas que pensam de modo diferente, vale muito a pena ler uma das crónicas desta semana de Miguel Esteves Cardoso.

Professora da Universidade da Beira Interior

POLÍTICA  DEMOCRACIA  SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

José Dias: Cara Sofia Dias, seria uma dissertação para ficar bem vista junto de quem refere se não viesse, e correctamente na minha opinião, apontar os truques que fazem com que tais órgãos de recolha do pensar e sentir das comunidades sejam constituídos de forma a distorcer tais propósitos ... sugiro que volte a ler com mais atenção e volte a dar a sua opinião. E não tenha vergonha de admitir que fez uma má interpretação!

Sofia Dias: Isto é uma dissertação para entrar no Livre ou no Bloco de Esquerda? Falta de vergonha

Um ver se te avias


Guerras, ódios, zangas, insanidades. Lá fora. E sobretudo cá dentro, expressos em comentários de vário calibre, reveladores de quão pouco amor existe, de facto, entre nós, de quão fora das leis divinas andam os mandamentos humanos, apesar da tal fraternidade propalada nos primórdios da revolução, sobretudo, e que virou de agulha para passar a outros carris… Todos se aproveitam de uma referência a uma crítica interna da guerra russa, para desancar nos nossos  - jornalistas, governantes, governados… Tanta inimizade comentarista, como se os comentadores críticos, é que fossem os da excelência nos costumes… E da jornalista russa não se tratou, apenas uma afirmação – sugestão devota? de perfídia, talvez... – de que se arrependera…

Jornalista russa que se demitiu do canal estatal apela à população que "desligue a televisão"

Jornalista russa que trabalhou para o canal estatal deixou um apelo à população da Rússia: "Desliguem a televisão". Meios de comunicação da Rússia são "máquina de lavagem cerebral", acusa.

JOSÉ CARLOS DUARTE: Texto

OBSERVADOR 27 mai 2022,

“Já não consigo fazer este trabalho.” Foi assim que a conhecida pivô, apresentadora e jornalista russa Zhanna Agalakova, que trabalhava para o canal detido pelo Kremlin, apresentou a demissão aos seus chefes dias depois de a guerra na Ucrânia ter começado. Acusando a estação televisiva de “zombificar” a população, a profissional da área da comunicação opunha-se à falta de liberdade de imprensa existente na Rússia

Esta sexta-feira, numa entrevista à BBC, a jornalista voltou a repetir as acusações e deixou um apelo aos cidadãos russos: “Desliguem a televisão”. “É uma máquina de lavagem cerebral”, afirmou, aconselhando a população a “procurar outras fontes de informação”. “Vão à internet e abram o coração.”

Mantendo a sua oposição ao conflito militar, Zhanna Agalakova descreveu a guerra como sendo “malvada” e um sinónimo para “morte”. “É como se houvesse dois mundos, dois planetas”, apontou, confessando que continua ainda assim a assistir às notícias russas.

Os programas do canal estatal pintam dois “planetas diferentes”. Num deles há “ruínas, um desastre total e tragédia”, assinalou a jornalista, que referiu que, no outro “planeta”, as forças russas são “recebidas com flores pela população local” e é “só vitórias”: “É algo positivo e maravilhoso”.  

“Esses dois mundos não se juntam e surpreende-me como é que eles o conseguem fazer”, sinalizou Zhanna Agalakova, que caracterizou como “incrível” a forma como os meios de comunicação russos conseguem “fazer uma lavagem cerebral à população”.

GUERRA NA UCRÂNIA  UCRÂNIA  EUROPA  MUNDO  RÚSSIA

COMENTÁRIOS:

Carlos Peixoto: Aqui em Portugal nem tv nem jornais. Intoxicação pura.              Miguel Ferreira: Não é só lá... Desliguem as televisões em todo o lado e façam amor... Com contraceptivos... A população mundial já está muito elevada e não quero que se entupa o SNS com abortos... Mulheres? Como é que é? Bora lá!             Paulo F.: Parece que nem a família agora quer falar com ela, saiu da Rússia e já está arrependida.          Luis Martins: Não é só na Rússia. Por cá também temos tido uma imprensa que se permitiu ser o veículo de propaganda do governo onde este tem pintado também um mundo virtual e lavado cérebros de muita gente. Quem não viu várias vezes a imprensa passar peças onde se afirmava a convergência com a Europa? Quem não assistiu à suposta salvação do SNS por parte da geringonça? Quem não ouviu alto e bom som a narrativa de que a austeridade acabara? Só 3 exemplos que não passam de pura mentira mas que a imprensa portuguesa nada fez para o demonstrar. Sobre a convergência com a Europa afinal não só fomos ultrapassados entre 2015 e 2021por vários países de leste como nos afastamos em 4% da média do PIB em ppc europeus. Sobre a salvação do SNS temos hoje muitos mais portugueses sem médico de família e listas de espera maiores que em 2015. Sobre o final da austeridade nunca pagámos tantos impostos como com o governo da geringonça no qual se bateram records consecutivos graças a uma carga fiscal aumentada mas camuflada ardilosamente em impostos indiretos. Portanto, os dados demonstram que aquilo que passou na nossa imprensa nos últimos anos não foi mais do que manipulação das massas e propaganda e que a CS foi conivente com o governo em ambas.          The Real Donald Trump desligue a televisão: Bom conselho, é o que tenho feito nas TVs portuguesas, evito ver canais de notícias. É guerra, propaganda existe dos dois lados.             João Silva: Desligar a tv e o cérebro minúsculo e retrógrado  dos comendadores bolcheviques aqui do observador           Bernardo Durão: A lavagem cerebral russa tem os seus ridículos tentáculos também aqui, neste cantinho à beira mar, e na caixa de comentários do observador. Mas são rublos mal gastos. A esmagadora maioria dos Portugueses não são estúpidos.          Sérgio Correia: Pelo menos esta tem coragem para o dizer e se demitir. Gostava de ver alguém da SIC, TVI, CNN, RTP & companhia a admitir o mesmo. Propaganda houve e sempre vai haver. Desde as incubadoras no Kuwait, às armas de destruicao em massa, ao bicho mau que nos vai comer de noite.          Pontifex Maximus: Os russos não podem deixar de ver as televisões oficiais russas pela mesma razão que os portugueses não podem desligar-se da CMTV: o seu baixo grau de cultura e de senso crítico da realidade. Lá como cá será sempre mais fácil ver a realidade servida pelos senhores importantes das televisões (vulgo jornalistas) que sabem as coisas enquanto o povo ignaro mal sabe ler e escrever …          joao silva > Pontifex Maximus: Olhe que já há pior. Ver alguns comentadeiros da CNN ou SIC noticias até provoca asco. Não porque não tenham o direito de emitir a sua opinião mas porque distorcem a realidade e a história. Porque ocultam factos que desmascaram a sua narrativa e porque mentem na tentativa de manipular a opinião pública. Os tipos da CMTV são uns aprendizes ao pé destes "senhores"              João Silva > joao silva: Simplesmente idiota          José Dias: Já deixei de ver qualquer dos canais nacionais ... a intoxicação desinformativa e as vénias constantes ao Poder e aos novos ditadores do politicamente correcto, a que acrescem os esgares dos "jornalistas", o tom de "alerta" em relação a tudo e a nada e o acento quase que único na Emoção em prejuízo da Razão, tornaram a visualização da coisa algo passível de causar danos irreversíveis na sanidade do mais calmo e ponderado dos cidadãos.         Der Führer Returns: Desliguem é a tv de todos os países, não só a russa. Propaganda doentia há em todas.           Nuno Salgueiro > Der Führer Returns: Velha táctica essa de dizer que são todos igualmente maus.         Paulo Morisson: “Lavagem cerebral” foi e é a especialidade que o KGB desenvolveu e exportou para todos os cantos do mundo através de todos os meios de comunicação, produção cultural e científica, onde ainda hoje impera a hegemonia esquerdista. Todo o mundo vive actualmente imerso nesse caldo lunático de realidade alternativa de que começamos tímida e finalmente a despertar.           Hermes Melo: Parem com a vossa propaganda Ocidental!!!!! Acabei de ver um vidéo onde um representante do exército ucraniano executa uma pessoa de Karkov da maneira mais cruel..O assassino esfaqueia a vítima no pescoço e no rosto várias vezes. Como é que a europa e os europeus, que se acham muito civilizados, podem apoiar e financiar este tipo de coisas? Que vergonha!!!............

 

domingo, 29 de maio de 2022

As costas quentes do Costa


Ou, em versão cristianizada: “Venha a Nós o vosso reino”, com a respectiva troca das maiúsculas, segundo a arte governativa. Helena Matos, como sempre, após as evidências de uma pesquisa resultante da sua “clara mente”, assim conclui com brilhantismo. O reino está seguro para quem o pediu e obteve. Só nos resta o Amen, da nossa anuência convictamente deferente.

A eleição de Luís Montenegro e a contratatação de Rui Tavares

Luís Montenegro e Rui Tavares são os novos líderes da oposição. O primeiro porque lidera o principal partido da oposição. O segundo porque para tal foi seleccionado

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR; 29 mai 2022, 04:4515

Enquanto o PS aprovava a fraude anedótica das alterações ao OE propostas pelo Livre, PSD, BE e PCP partilhavam a impotência perante o poder do PS. Mais precisamente viam como à esquerda o Governo não se limita a esmagar a oposição, inventa-a. E como à direita impõe regras de um jogo viciado.

Comecemos pela esquerda. Para insuflar Rui Tavares, o PS prestou-se a uma farsa na discussão deste Orçamento do Estado: impavidamente os socialistas aprovaram medidas que já existiam – caso do conforto térmico e do IVA dos produtos de higiene menstrualdeixando que Rui Tavares as apresentasse como pioneiras e suas. Esta ficção política deixou o BE e o PCP a nadar em seco. Os parceiros da geringonça, sobretudo o BE, foram descartados e não sabem o que fazer consigo mesmos.

Já para fragilizar Luís Montenegro, o PS vai buscar o Chega. Obviamente aos socialistas não chegava rearrumar a esquerda. E aí, na neutralização do PSD, o Chega desempenha um papel crucial não tanto pelos votos que conseguiu (e são muitos) mas sim porque o PS, ao mesmo tempo que dá uma importância desmesurada ao partido de Ventura, institui para o PSD o tabu Chega. Quanto mais votos tiver o Chega e quanto mais tempo levar o líder do PSD, seja ele qual for, a explicar que nunca teve nem terá contactos com o Chega, melhor para o PS. A isto juntem-se os jogos de Marcelo e o ensimesmamento obstinado de Rui Rio e percebe-se facilmente porque passou o PSD de partido que discute o futuro do país a partido que discute se tem lugar nesse futuro.

A invenção da oposição, caso do Livre, e a definição das opções que esta pode tomar (relação PSD-Chega) são sintomáticas do poder socialista. Inquestionável.

Os maquinistas do Metro de Lisboa (ML) são claustrofóbicos? Não digo todos, mas alguns? Tenho fortes razões para crer que sim. Senão vejamos, a empresa Metro de Lisboa emprega 260 maquinistas. Um número manifestamente exagerado mesmo tendo em conta o crescimento das linhas. Note-se contudo que, dentro em breve, estes 260 maquinistas passarão a quase trezentos, pois, após várias greves e ameaças de greve, o Governo entendeu por bem que se vão contratar mais maquinistas. Afinal estão aí os arraiais à porta e uma greve nesses dias é algo que António Costa não está preparado pera enfrentar. Já era esta a sua resposta à contestação na CML e é agora a sua forma de calar os protestos laborais. A factura como de costuma segue para o contribuinte. Mas o mais interessante destes dados é que constatamos que o número de maquinistas ao serviço do Metro de Lisboa aumenta ao mesmo tempo que diminui o número de passageiros transportados pela empresa. Já se sabe que em 2020 e em 2021 o número de passageiros diminuiu em consequência da pandemia: em 2020 o ML perdeu 50,7%  dos passageiros, ou seja mais de metade. Em 2021 perdeu ainda mais passageiros: transportou menos 7,6% do que em 2020. E quando se esperava que 2022 o ML apresentasse uma recuperação significativa, constata-se que no Metro de Lisboa a recuperação de passageiros acontece de forma muitos mais lenta que nas outras outras empresas de transportes, a começar pela Metro do Porto. O número de passageiros transportados nos primeiros quatro meses deste ano pela ML está 28% abaixo do mesmo período no ano de 2019. Nada que se compare, por exemplo, com o Metro do Porto, onde esta percentagem é de 6%, Tendo em conta a degradação do serviço prestado pelo Metro de Lisboa, mais a perturbação introduzida pelas greves e anúncios de greve, importa-se o senhor ministro do Ambiente e da Acção Climática de vir explicar qual a razão para obrigar o contribuinte a sustentar uma empresa com tão mau desempenho? E já agora de caminho assumir que está sob a tutela do seu ministério, dito de Acção Climática, uma das empresas que mais contribui para a utilização do automóvel individual a saber o Metro de Lisboa.

GOVERNO  POLÍTICA  METRO DE LISBOA  TRANSPORTES PÚBLICOS  TRANSPORTES  PAÍS  LUÍS MONTENEGRO  RUI TAVARES

COMENTÁRIOS:

Lidia Santos; Helena Matos não foram só o PSD, o PCP e o Bloco que partilharam a impotência perante o absoluto PS.Não acha que a Iniciativa Liberal e o Chega também foram bloqueados? porque não fala neles? Influência do Observador?              José Paulo C Castro: Há uma relação verificável de causalidade entre os anos de poder socialista e a degradação das contas e realidade económica do país. Curiosamente, os media nunca realçam esta relação, talvez por dependência mútua. Esta anestesia mediática é a verdadeira face do jogo político socialista, que lhe permite promover e despromover quem quer aos olhos dos portugueses. Sem combater isto, não se combate nada. Apenas se é usado. A luta faz-se nas redações. Proibir publicidade institucional em meios privados era a primeira medida. Esses privados teriam de se diferenciar das agências oficiais para sobreviverem na sua quota de mercado. Só daqui a 4 anos, suponho...       Dr. Feelgood: Olá e adeus, pois parece que d'hoje em diante, doravante e para o futuro isto por aqui vai ser uma espécie de coito interrompido em virtude das novas regras anti-falência. Como não dou para esse peditório apresento os meus comprimentos, larguras e alturas. Os novos " patronos " que vos sustentem.            FME > Dr. Feelgood: Fazer por aqui uns comentários não deixa de ser um vício. A lógica é que depois de viciados já não conseguimos deixar a droga. Treta, quando os vícios batem de frente contra uma parede, partem-se. Também vou fazer uma pausa. A situação é propícia a pausas. Governo maioritário, extinção do Covid, saturação da guerra, PSD na mesma, e os temas dos artigos sem novidade nem criatividade. Fico-me pelas manhãs na Rádio Observador que continuam imperdíveis sempre que posso, apesar de no verão, terem muito mais concorrência. Cumprimentos a todos      Dr. FeelgoodFME: Interpretou mais ou menos a metáfora do " coito interrompido ". A questão não é fazermos um comentário para matar o bicho, é apenas termos acesso a metade do artigo que nos impulsiona a intervir. Cuidado com os tímpanos.           António Lamas: Brilhante como sempre. Obrigado MHM. Já o escrevi. Tavares anda deslumbrado com a importância que Costa lhe dá. Coitado, ainda não percebeu que para ele, Costa, não passa de um bibelot piroso para pôr em cima da televisão               Cisca Impllit > António Lamas: É mesmo!          Dr. Feelgood > António Lamas: Com origem nas Caldas, I suppose....