sábado, 7 de maio de 2022

Tem a ver com o desconcerto


É questão que se põe ao Homem de todo o sempre, e até mesmo os nossos escritores de há muito o traduzem, embora por diferentes razões, que têm a ver com o conceito de Justiça, cá entre nós, de longa data versados em injustiça – “ca eu vejo ir melhor ao mentireiro / ch’ ao que diz verdade ao seu amigo” – ou, na versão camoniana: “Os bons vi sempre passar / no mundo graves tormentos / e para mais m’espantar/ os maus vi sempre nadar / em mar de contentamentos”. Muitos se queixaram, de resto, por cá, em termos pessoais, sendo Fialho de Almeida um desses agrestes, mas muitos outros houve a apontar os contrastes entre os viveres alheios, reais ou de escrita imaginária, e também, o nosso fado dá conta disso, juntamente com os zelosos defensores do povo das vilas morenas.

Mas trata-se de iluminismo, que foge a esses nossos esquemas fadistas de pobrezinhos queixosos, mas em que a coragem e valores vários de Zelensky se integram, revoltado com tanta hediondez de comportamento do “campeão” russo, aparentemente incompatível com as “Luzes” que deveriam tornar o Homem progressivamente consciente do Bem e do Mal, mas cada vez mais enviesando para o caminho da ambição de grandeza e poder - e talvez isso signifique também “Luzes” mentais, conquanto traduza total apagamento das luzes morais.

Por isso, o desconcerto de Schiller, na questão das “luzes” defendidas racionalmente, e não praticadas – o que é irracional, da citação do Dr. Salles, é uma constante de todos os tempos, que não se devia permitir, todavia, segundo o conceito de “Justiça” - que existe para, luministicamente – luminosamente - castigar a injustiça.


INVASÃO RUSSA DA UCRÂNIA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO,06.05.22

A nossa era é iluminada ... Como é que, então, ainda somos uns bárbaros?

Friedrich von Schiller

(1759-1805)

Tags:: avulso

 Adriano Miranda Lima  06.05.2022  18:26

Curiosamente, um western vulgar que eu hoje vi na televisão (Colts para 7 magníficos) conteve dois momentos de reflexão filosófica. Provavelmente, a intenção foi como pendurar dois adornos numa fisionomia pouco dotada pela natureza. Passo a citar. Um miúdo mexicano de uma população massacrada por um tirano perguntou a um dos protagonistas, americano e membro do grupo dos “7 magníficos”, porque é que os homens estão sempre em guerra entre si. A resposta foi esta: Olha, não sei responder-te. Mas quando tiveres a minha idade, se acaso souberes a resposta gostaria que ma dissesses. A ironia é que o interlocutor do miúdo era homem já de certa idade e o mais certo seria já não estar vivo quando aquele tivesse a explicação. Subtendida está a mensagem de que o problema em causa é insolúvel, mesmo que venham a surgir novos e futuros movimentos iluministas a marcar a história da civilização.

O outro momento de reflexão nada tem a ver com a temática das palavras de Schiller, mas vou referi-lo. Resolvido o conflito com o triunfo dos bons sobre os maus, e já no fim do filme, o herói do mesmo segreda a outro protagonista: Os cobardes morrem em vários momentos, mas o corajoso só morre uma vez.

Indo mais propriamente ao pensamento de Schiller, segundo ele, a história do desenvolvimento do homem, descrevendo o processo de formação e evolução da humanidade, não teria uma unidade reconhecível senão através da filosofia. Ela seria um simples aglomerado de acontecimentos que não explica o desenvolvimento da humanidade, pelo que só a filosofia, sob a égide da razão e com as suas ferramentas analíticas, lhe confere ordem, sentido e unidade. No entanto, a filosofia vai ter de suar ainda muito para descobrir a razão por que a barbárie não se despega da civilização materialmente ostentosa que se vai construindo com o contributo acelerado da ciência. O problema é que se calhar, Sr. Dr. Salles da Fonseca, nunca chegará a lado nenhum. Por isso, sempre que me aparece na televisão o oficial que é porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, mudo de canal. De facto, o seu ar frio e esfíngico a relatar os feitos da destruição e da mortandade provocadas pelo seu exército põe-me K.O.

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