É questão que se põe ao Homem de todo o
sempre, e até mesmo os nossos escritores de há muito o traduzem, embora por
diferentes razões, que têm a ver com o conceito de Justiça, cá entre nós, de
longa data versados em injustiça – “ca eu
vejo ir melhor ao mentireiro / ch’ ao que diz verdade ao seu amigo” – ou,
na versão camoniana: “Os bons vi sempre
passar / no mundo graves tormentos / e para mais m’espantar/ os maus vi sempre
nadar / em mar de contentamentos”. Muitos se queixaram, de resto, por cá, em
termos pessoais, sendo Fialho de Almeida um desses agrestes, mas muitos outros
houve a apontar os contrastes entre os viveres alheios, reais ou de escrita
imaginária, e também, o nosso fado dá conta disso, juntamente com os zelosos
defensores do povo das vilas morenas.
Mas trata-se de iluminismo, que foge a
esses nossos esquemas fadistas de pobrezinhos queixosos, mas em que a coragem e
valores vários de Zelensky se integram,
revoltado com tanta hediondez de comportamento do “campeão” russo, aparentemente
incompatível com as “Luzes” que deveriam tornar o Homem progressivamente
consciente do Bem e do Mal, mas cada vez mais enviesando para o caminho da
ambição de grandeza e poder - e talvez isso signifique também “Luzes” mentais,
conquanto traduza total apagamento das luzes morais.
Por isso, o desconcerto de Schiller, na
questão das “luzes” defendidas racionalmente, e não praticadas – o que é
irracional, da citação do Dr.
Salles, é uma constante de todos os tempos, que não se devia permitir,
todavia, segundo o conceito de “Justiça” - que existe para, luministicamente –
luminosamente - castigar a injustiça.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,06.05.22
A nossa era é
iluminada ... Como é que, então, ainda somos uns bárbaros?
Friedrich von Schiller
(1759-1805)
Tags:: avulso
Adriano
Miranda Lima 06.05.2022 18:26
Curiosamente, um western vulgar que eu hoje vi na televisão
(Colts para 7 magníficos) conteve dois momentos de reflexão filosófica.
Provavelmente, a intenção foi como pendurar dois adornos numa fisionomia pouco
dotada pela natureza. Passo a citar. Um miúdo mexicano de uma população massacrada por um
tirano perguntou a um dos protagonistas, americano e membro do grupo dos “7
magníficos”, porque é que os homens estão sempre em guerra entre si. A resposta
foi esta: Olha, não sei responder-te. Mas quando tiveres a minha idade, se
acaso souberes a resposta gostaria que ma dissesses. A ironia é que o
interlocutor do miúdo era homem já de certa idade e o mais certo seria já não
estar vivo quando aquele tivesse a explicação. Subtendida está a mensagem de
que o problema em causa é insolúvel, mesmo que venham a surgir novos e futuros
movimentos iluministas a marcar a história da civilização.
O outro momento de reflexão nada tem a ver com a temática das
palavras de Schiller, mas vou referi-lo. Resolvido o conflito com o triunfo dos
bons sobre os maus, e já no fim do filme, o herói do mesmo segreda a outro
protagonista: Os cobardes morrem em vários momentos, mas o corajoso só morre
uma vez.
Indo mais propriamente ao pensamento de Schiller, segundo
ele, a história do desenvolvimento do homem, descrevendo o processo de formação
e evolução da humanidade, não teria uma unidade reconhecível senão através da
filosofia. Ela seria um simples aglomerado de acontecimentos que não explica o
desenvolvimento da humanidade, pelo que só a filosofia, sob a égide da razão e
com as suas ferramentas analíticas, lhe confere ordem, sentido e unidade.
No entanto, a filosofia vai ter de suar ainda muito para descobrir a razão por
que a barbárie não se despega da civilização materialmente ostentosa que se vai
construindo com o contributo acelerado da ciência. O problema é que se calhar,
Sr. Dr. Salles da Fonseca, nunca chegará a lado nenhum. Por isso, sempre
que me aparece na televisão o oficial que é porta-voz do ministério da Defesa
russo, Igor Konashenkov, mudo de canal. De facto, o seu
ar frio e esfíngico a relatar os feitos da destruição e da mortandade
provocadas pelo seu exército põe-me K.O.
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