Que actuações como a de Macron junto de Xi Jimping,
aparentemente apelativas de intervenção do presidente chinês junto do
presidente russo, e que descambaram nas propostas cínicas de sempre de Xi
Jimping e na actuação docilmente enviesada para os assuntos próprios, de Macron,
mostrando como a vida vai continuar nos mesmos moldes, de uma guerra sem fim à
vista, de facto, (texto a seguir ao de João
Marques Almeida), e segundo os interesses, cinismos e cobardias próprias – vão elucidando sobre a
eternização da guerra, de que o comentário de Portuguese Man acentua a trajectória.
Uma guerra sem fim àvista
Neste momento não é possível um acordo
de paz. Os russos querem conquistar mais território, os ucranianos expulsar o
invasor. Mas nenhum dos lados tem força militar suficiente para uma vitória
rápida.
JOÃO MARQUES
DE ALMEIDA
Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 11 mai 2022, 00:186
Ao contrário da previsão de muitos, no
discurso de 9 de Maio, Putin não ofereceu aos russos uma celebração de vitória.
O Presidente russo não tem uma vitória para oferecer, já que a guerra na
Ucrânia chegou a um impasse de onde não se vê saída a curto prazo. Por isso,
Putin também não declarou o fim da guerra e a retirada das tropas russas. O
Presidente russo não pode sair da Ucrânia sem uma vitória. Prefere a guerra a
uma retirada humilhante. No discurso de 9 de Maio, Putin preparou a população
russa para uma longa guerra.
Os
ucranianos também não aceitam um acordo de paz com a situação militar na
Ucrânia, onde os russos conquistaram mais território desde o início da guerra,
ocupando agora cerca de 20% do país. Nenhum governo na Ucrânia sobreviveria a
uma paz que aceite a perda de 20% do território. Além disso, os ucranianos
acreditam que podem forçar as tropas russas a recuar no campo de batalha.
Será difícil e, se acontecer, demorará muito tempo.
Os
dois lados preferem assim continuar a guerra. Neste
momento, não é possível fazer um acordo de paz que satisfaça os dois lados. Os
russos querem conquistar mais território, e os ucranianos querem expulsar o
invasor do seu país. Mas nenhum dos lados tem a força militar suficiente (no
caso russo, a força militar convencional) para uma vitória rápida. A guerra vai
assim durar meses, ou mesmo anos.
Irá
Putin seguir uma estratégia de escalada militar para alcançar a vitória? Não
acredito que use armas nucleares. Putin não é razoável, mas também não é
irracional e as forças armadas não querem o uso de armas nucleares. Mas pode
alargar a Guerra a outros países. A Moldávia
está na linha da frente, sobretudo se
Moscovo decidir tentar conquistar Odessa.
Mas
há outra data importante. A Finlândia prepara-se para pedir a adesão à NATO, assim como a Suécia. O
caso finlandês é mais problemático para Putin, visto que os dois países
partilham uma longa fronteira. Também não acredito que Putin ataque a
Finlândia, o que levaria a uma guerra com a NATO, o que o Presidente russo
seguramente não deseja. Mas haverá provocações russas, e poderá haver
respostas da NATO. Imaginem a repetição do que aconteceu há uns anos na
Turquia quando os turcos abateram um avião russo que havia invadido o seu
espaço aéreo. Por vezes, há acidentes e escaladas militares involuntárias.
De
qualquer modo, mesmo que se evite um confronto militar directo entre a NATO e a
Rússia (e convém fazer tudo para evitar), a guerra na Ucrânia vai continuar por
muito tempo. Neste momento, ninguém tem interesse na paz. A Rússia e a Ucrânia querem ambos ganhar e não
aceitam a actual situação no terreno. Vou mesmo mais longe. Não acredito que
algum dia Putin assine um acordo de paz com um governo ucraniano, qualquer que
seja esse governo. Convém recordar que a primira fase da guerra, entre 2014
e Fevereiro deste ano, durou oito anos e nunca foi possível assinar um tratado
de paz. Só haverá paz na Ucrânia quando Putin abandonar o
poder na Rússia. Mas podem passar anos até esse dia chegar.
A UCRÂNIA UCRÂNIA
EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS
Macron e Xi Jinping em conversações
sobre guerra na Ucrânia
EMA GIL PIRES - Ontem
às 15:44
As versões apresentadas por ambas as partes
sobre esta conversa diferem ligeiramente no seu conteúdo.
O
presidente francês, Emmanuel Macron,
esteve, esta terça-feira, em conversações telefónicas com o homólogo chinês, Xi
Jinping, tendo sido discutida a
temática da guerra na Ucrânia e de uma eventual crise alimentar global
associada.
De
acordo com a Reuters, que cita o Palácio do Eliseu, os dois chefes de
Estado terão concordado com a necessidade de um cessar-fogo urgente.
"Os dois chefes de Estado reiteraram o seu compromisso em
respeitar a integridade territorial e a soberania da Ucrânia", acrescenta ainda o gabinete presidencial de Emmanuel
Macron.
Porém,
a informação avançada pelos chineses difere
ligeiramente desta versão agora apresentada. A
Reuters, citando os media estatais da China, relata que Xi Jinping avisou apenas o homólogo francês de que o
confronto entre blocos, resultante da crise da Ucrânia, poderia tornar-se uma
ameaça maior e mais duradoura à paz global do que a própria situação em
território ucraniano.
Lembre-se,
a este propósito, que a China tem instado repetidamente os países
europeus a exercerem uma autonomia diplomática, em vez de se alinharem com os
Estados Unidos nestas matérias. O
país também ainda não condenou, até ao momento, a invasão russa sobre a
Ucrânia.
Os media estatais chineses estão, no entanto, também a reportar que
Xi Jinping terá dito a Macron que espera que França desempenhe um papel activo
na promoção dos laços entre a China e o
bloco europeu, numa altura em que o país detém a Presidência
do Conselho da União Europeia.
O Palácio do Eliseu esclareceu
ainda que os presidentes francês e chinês falaram sobre a iniciativa francesa
FARM ('Food and Agriculture Resilience Mission'),
enquanto uma possível resposta contra a crise alimentar global que pode vir
a ser desencadeada como consequência do conflito militar na Ucrânia.
Num
contexto em que a China continua a impor apertadas medidas de contenção da
pandemia de Covid-19, que têm vindo a limitar a circulação de pessoas, Macron
apelou também a Xi Jinping para ter em conta as preocupações da comunidade
francesa naquele país - pedindo que mantenha, nomeadamente, as ligações aéreas
entre ambos os Estados, informou ainda o gabinete presidencial francês.
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