sexta-feira, 20 de maio de 2022

“Lasciate ogni speranza…”

 

“… Voi che siete ancora qui”. Com covids, guerras assustadoras, varíola nos macacos, transmissível, certamente, aos humanos, e a fome no mundo – que sempre houve, mas que se desejou inutilmente travar - e a doença – de même, e o clima, a acrescentar ao tal torpedear impune dos monstros humanos, que a evolução fez requintar, torpedeando ele próprio, clima malbaratado e poderosamente vingativo, o triste planeta. Uma razia, um apagamento. Para quando? E os meninos de hoje, qual o seu futuro?

Massas de gelo dos Andes tropicais encolheram 42% em 30 anos

ONG brasileira revela que o recuo registado nas últimas três décadas equivale a quase metade da extensão das massas de gelo tropicais andinas registada em 1990.

AGÊNCIA LUSA: Texto

OBSERVADOR, 20 mai 2022, 09:55  

A ONG refere que um dos factores responsáveis pela perda de massa pode ser o aumento das queimadas florestais na Amazónia

CONSERVACIÓN INTERNACIONAL / HANDOUT/EPA

As massas de gelo dos Andes tropicais encolheram 42% entre 1990 e 2020, passando de um máximo de 2.429,38 quilómetros quadrados (km2) para apenas 1.409,11 km2, refere um artigo científico divulgado esta sexta-feira pela organização não-governamental (ONG) brasileira Mapbiomas.

Os Andes tropicais incluem quase todas as zonas montanhosas da Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, bem como partes menores na Venezuela, Chile e Argentina, acima dos 600 metros e 800 metros de altitude.

O texto, publicado na revista Remote Sensing por especialistas da iniciativa MapBiomas Amazónia em colaboração com a Universidade Nacional Agrária La Molina, o Instituto de Pesquisas em Glaciares e Ecossistemas de Montanha, ambos do Peru, e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, do Brasil, destacou ainda que o “recuo registado nas últimas três décadas equivale a quase metade da extensão das geleiras [massas de gelo] tropicais andinas registada em 1990″.

Num comunicado, a ONG menciona que “esse crescimento sem precedentes da perda de geleiras, tanto em extensão quanto em volume, pode ser atribuído às mudanças climáticas e a factores não climáticos como o aumento das queimadas florestais nos últimos anos na Amazónia, que geram carbono negro que pode acelerar o recuo” das massas de gelo.

 “A queima das florestas gera carbono negro, que acelera o recuo das geleiras quando entra em contacto com a sua superfície”, explicou Efrain Turpo, que liderou o estudo.

A ONG acrescentou que a perda de massas de gelo afeta a integridade dos ecossistemas nesta região da América do Sul que dependem do ciclo da água, agricultura, abastecimento de água potável, geração de eletricidade, turismo, entre outros.

Já Maria Olga Borja, coautora do artigo, reforçou a importância de reduzir as emissões que se originam na destruição de florestas para dar lugar a outros usos da terra, como agricultura e pecuária.

As massas de gelo tropicais andinas estão localizadas entre o trópico de Câncer e o trópico de Capricórnio dentro da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

Os cientistas envolvidos na investigação científica acreditam que o ritmo de mudança nas massas de gelo tem sido rápido, com uma perda média anual de 28,42 km2.

“As [áreas] mais afectadas foram as geleiras que estão a menos de 5.000 metros acima do nível do mar, que em 30 anos perderam quase 80,25% de sua área. A aceleração foi mais significativa a partir de 1995, quando a perda da bacia Amazónica supera a de outras bacias. Em 2020 elas possuíam uma área aproximada de 869,59 km2”, disse o Mapbiomas.

As massas de gelo tropicais andinas estão presentes, com extensões muito variadas, em todos os países andinos da América do Sul.

Aqueles com as maiores áreas são Peru (72,76%), Bolívia (20,35%) e Equador (3,89%).

O Mapbiomas informou que o recuo das massas de gelo em 2020 face a 1990 foi de 41,19% no Peru, de 42,61% na Bolívia e de 36,37% no Equador.

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