sexta-feira, 27 de maio de 2022

A “Ágora” redundou em “Tabacaria”


Cujo dono se limita a “sorrir”, espaço, pois, da “visibilidade” humana derrotista e descrente, que, entende, sabiamente, ironicamente, que «não há mais metafísica no mundo senão chocolates».

O Dr. Salles é homem rijo, crente nos preceitos dos antigos, nesses espaços da “Ágora” das questões humanistas de que ele deseja a continuidade. Bom seria que assim fosse, que surgissem de vez em quando os respeitadores dos velhos conceitos sobre a consciência humana e quejandos, mas há sempre por aí “donos de tabacarias” troçando dessas bagatelas, virados definitivamente para o chocolate da sua glutonaria.

PASSEANDO PELA ÁGORA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 26.05.22

Hoje, a pergunta é:

- O que andamos por cá a fazer?

Sem perda de tempo, a minha resposta é:

- A essência da função humana é a edificação de uma sociedade harmónica e benigna pela via da compaixão individual e pela solidariedade global.

Propositadamente, afastei a Teologia para que agnósticos e ateus não arranjassem o pretexto de que o conceito não se lhes aplicaria.

Propositadamente, utilizei a Ágora como símbolo do local em que as pessoas se encontram para conversarem e deliberarem deste modo abarcando todas as Civilizações ao longo dos séculos.

Propositadamente, coloco a pessoa como construtora da sociedade e não como serva desta.

Propositadamente, refiro a compaixão e a solidariedade como conceitos lexicais despojados de qualquer sentido religioso ou político.

Propositadamente, aponto por omissão a anormalidade humana como o egoísmo e a conflitualidade.

Propositadamente, fui lacónico porque escrevo para quem sabe do tema mais do que eu não carecendo de explicações e, pelo contrário, dando-as nos comentários já recebidos aos textos anteriores e nos seguintes que desejo receber.

Voto final: - Vivamos, deixemos viver e continuemos…

Lisboa, 25 de Maio de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags: filosofia

COMENTÁRIOS

Antonio Fonseca 26.05.2022 13:02: O Doutor Henrique Salles da Fonseca captura nessa expressão genial a essência da nossa existência, fruto, decerto, de profundas reflexões sobre a condição humana. Os esclarecimentos a seguir contextualizam a resposta obtida no cadinho da acomodação da diversidade humana. Admirável texto. Muito obrigado.

 Adriano Miranda Lima 27.05.2022 23:58

Tem razão, Sr. Dr. A busca dessa essência do bem no seio da sua natureza tem perseguido o homem desde os primórdios da sua existência. Mais exactamente, desde o que é classificado como Revolução Cognitiva.
No seu diálogo ou interpenetração com a natureza, desde sempre procurou garantir a sua sobrevivência satisfazendo as necessidades básicas suscitadas pelo instinto.
Mas ao mesmo tempo questionando sobre si próprio: o sentido da sua existência. Mitos, lendas, culto da natureza, divindades, povoaram a sua mente, para encontrar as respostas que a razão não lhe proporcionava. A "ágora" surge com a civilização grega e é espaço de encontro, discussão e procura daquela essência do ser sem o que o homem não se tenta conhecer e pouco ou nada se destrinça das outras espécies animais. Eu sou dos que recusam encontrar na "Teologia" o que a razão e a compaixão não nos lobrigam percepcionar e/ou sentir. Banida essa essência ou ignorando-a ou desvalorizando-a, não somos diferentes dos outros animais. Infelizmente, ao longo da História, o homem se tem perdido de si, muitas vezes parecendo retroceder, como se o progresso material pouco contasse. Gengis khan ou Taras Bulba em que diferiam de Putin em mentalidade? Todos eles não arrasavam povoações, matavam, pilhavam e violavam como Putin? A única diferença ê que este veste fatos Armani e perfuma-se com Bucheron e os do antanho com pele cabra ou carneiro. Sim, é preciso reinventar a "ágora", na impossibilidade de reinventar antropologicamente os que a frequentam. A "ágora" não precisa ter fronteiras físicas. Terâ de ser ubíqua, intemporal, sem limites. Basta-lhe um horizonte e uma bússola sempre em calibração no interior do ser humano. Um abraço amigo, Sr. Dr. Adriano Lima

Adriano Miranda Lima 28.05.2022 16:14: Continuando a comentar, e pegando nas palavras iniciais do texto "Passeando pela Ágora", pareceria um processo matematicamente simples edificar a sociedade humana com o tijolo do melhor que tem a natureza humana: aquela essência que a diferencia das outras espécies e que por definição se chama espiritualidade. O problema é que se essa essência é perceptível, distinguível e de contornos nítidos com o homem visto num plano individual, logo exposto a uma relativamente fácil observação e avaliação, tudo é bem mais complexo, difícil e imprevisível quando ele se integra em grupo e em sociedade. Imagine-se agora quando a dimensão é a do Estado organizado. Vem à tona a complexidade da natureza humana e logo o confronto e colisão das diferenças as mais variáveis de personalidade, de humores, de crenças, de convicções, de tendências, de hábitos, etc. Portanto, o ideal de uma sociedade humana harmónica, justa e pacífica é algo que parece inatingível nas eras mais próximas e sabe-se lá se alguma vez o será. Olhamos para certos fenómenos como o do jovem de 18 anos que ceifou a vida de 21 criaturas e é como olhar para o negrume da noite. Não se consegue ligar ponta com ponta. Mas não será diferente do general de Putin que manda bombardear cidades sabendo que vai matar civis inocentes e infligir sofrimento a criaturas indefesas que não fizeram mal nenhum. Entre um e outro qual a diferença? Onde é caso de comportamento simplesmente demencial e onde é cálculo frio e racional? Qual o mais revelador do lado Demens do Homo?

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