sábado, 7 de maio de 2022

Desmascarar


Não se trata já da máscara covidiana que pacientemente Alberto Gonçalves ridicularizou semana após semana, mês após mês, destapando caras, e simultaneamente os corações, embora se diga, julgo que nem sempre correctamente, que quem vê as primeiras não vê os segundos. Desta vez assenta arraiais sobre os promotores da acusação de nazistas a todos os por cá defensores dos ucranianos e seu presidente, contra as monstruosidades putinescas que os seus servidores de cá acompanham com exaltação eloquente e aparentemente enternecida, que lhes dá outra chave acusatória dos seus conterrâneos - agora nazificados, em substituição drástica dos anteriores sufixos, na sua maioria em –istas, tais como fascistas, racistas, imperialistas… embora eles próprios defendam o imperialismo do actual czar comunista. Veremos quanto tempo vai durar a grotesca temática, na escrita de AG. Que ele é persistente, e tem muito pano para mangas e respectiva chave descodificadora. Mas oxalá que não seja por muito mais tempo, sinal de que a causa da crítica se extinguiu - cereja em cima do bolo se essa causa for a morte do seu artífice – sinal bem positivo de que duvidamos, é claro.

Os inventores de nazis

No fundo, a nossa extrema-esquerda faz hoje aos ucranianos o que faz connosco desde 1974: inventariar e denunciar nazis, que por regra são todos os sujeitos que não alinham na extrema-esquerda.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 07 mai 2022, 00:203

Antes da invasão russa, o PCP e o Bloco fartaram-se de avisar que a Ucrânia estava repleta de nazis. Quem lesse o “Avante!” e o site Esquerda.net conhecia o Batalhão Azov como os espectadores da RTP nos anos 1970 conheciam Badaró. Aliás, um dos leitores dos referidos órgãos informativos terá sido o sr. Putin, que indignado com tamanho regabofe enviou tropas para “desnazificar” o país vizinho. Os ingénuos tentaram notar que não é comum um regime nacional-socialista organizar eleições livres, ser presidido por um judeu e manter boas relações com Israel. Felizmente, o sr. Putin não se deixou iludir pelas aparências e preferiu confiar na “inteligência” portuguesa, constituída por dois partidos leninistas, meia-dúzia de comentadores isentos e 35 generais, mumificados no PREC, que vão às televisões desmascarar a submissão ucraniana ao Terceiro Reich.

Dois meses e meio depois, constata-se que a “desnazificação” daquilo não é fácil. E não é fácil porque a “nazificação” não é óbvia. A ideia de que as ruas de Kiev eram possuídas por multidões a gritar “Heil, Zelensky!” não se confirmou. O pressuposto, sensato, de que haveria no Donbass campos de extermínio cheiinhos de separatistas pró-russos também não. Os ucranianos são nazis, não são burros: as provas das suas pérfidas convicções primam pela subtileza subtis e exigem investigação minuciosa e peneira fina. Felizmente, as “redes sociais” dispõem de investigadores e peneirentos em abundância. Num ápice, iniciou-se a caça à suástica e à Cruz de Ferro.

A partir de apartamentos no Cacém e em Gaia, caçadores argutos procederam à análise das imagens do conflito em busca dos nefastos símbolos. E, sem surpresas, encontraram-no com frequência, quer na parafernália militar, quer em manifestações de civis, quer até numa camisola desportiva nas mãos do próprio Zelensky. É verdade que, nuns casos, a suástica fora acrescentada mediante Photoshop, e noutros a Cruz de Ferro não era bem a Cruz de Ferro e sim o emblema do exército ucraniano. Porém, os pormenores não beliscam o essencial. Um repórter da TVI descobriu numa casa abandonada um exemplar do “Mein Kampf”, no original alemão para que o sumo não se perdesse na tradução. Pelo amor de Deus: eu mesmo vi as filmagens de uma criança ucraniana a prometer matar russos enquanto esticava o bracinho. Embora a criança envergasse um lenço “fedayin” e berrasse “Alá é grande”, e o vídeo fosse de 2015 e divulgado pelo Estado Islâmico, é impossível restarem dúvidas: a Ucrânia é nazi.

De resto, a percentagem de nazismo é irrelevante. Ainda que houvesse uma única “t-shirt” de Goebbels em Donetsk, a invasão estaria plenamente justificada. À luz do direito internacional, versão revista e anotada por Mariana Mortágua, é perfeitamente legítimo que uma ditadura liderada por um ex-agente do KGB procure resgatar, através dos respectivos bombardeamentos e chacinas, cada povo que o ex-agente do KGB considera em risco de cedência ao jugo hitleriano. A Ucrânia, que quando acabar de enterrar os mortos saberá agradecer a ajuda, foi apenas o primeiro. Talvez se siga a Suécia, onde o Kremlin já detectou três proto-nazis: a criadora da Pipi das Meias Altas, o fundador do Ikea e o cineasta Ingmar Bergman. Com jeito, se vasculharem fotografias de Estocolmo, arranjam mais um ou dois, e desta vez vivos. Os suecos têm razões para andar receosos. E os portugueses têm razões para entrar em pânico – ou em êxtase, depende da perspectiva.

É um facto amplamente demonstrado que Portugal não há três nazis. Nem uma dúzia. Nem sete mil. Há quase meio século que a extrema-esquerda, algum PS incluído, fareja por cá quantidades incomensuráveis de indivíduos pertencentes a essa sub-espécie. Por educação ou cortesia, pode chamar-lhes “fascistas”, “capitalistas”, “imperialistas”, “colonialistas”, “neo-liberais” ou “bandalhos de extrema-direita”. Mas que ninguém se engane: trata-se de nazis, resmas de nazis, magotes de nazis a fervilhar, quais larvas, do Minho aos Algarves. Até agora, julgo que só a distância impedia que o sr. Putin nos salvasse. Agora, com a tecnologia “hipersónica” que tanto excita os generais na televisão, nada impede.

No fundo, a nossa extrema-esquerda faz hoje aos ucranianos o que faz connosco desde 1974: inventariar e denunciar nazis, que por regra são todos os sujeitos que não alinham na extrema-esquerda. E a nossa extrema-esquerda sonha desde 1974 que alguém faça connosco o que o sr. Putin faz hoje aos ucranianos. Por curiosa coincidência, o ódio às democracias, a desumanização do inimigo e o apetite de aniquilação são o que define os nazis que não temos e os comunistas, de seitas sortidas, que temos de sobra. Durante 48 anos, deixámos que os comunistas criassem as regras do jogo e o jogassem à vontade. Jamais suspeitámos o resultado do jogo caso eles o ganhassem. Espero que a invasão da Ucrânia nos tenha dado uma ideia.

GUERRA NA UCRÂNIA  UCRÂNIA  EUROPA  MUNDO

COMENTÁRIOS:

António Louro: Excelente. Mais uma colónia russa?              Tiago Figueiredo: Por acaso, ainda esta semana, vi um documentário sobre a Segunda Grande Guerra, no National Geographic, que mostrava - com filmagens gravadas na época - como os exércitos de Adolf Hitler foram recebidos na Ucrânia como libertadores da tirania da União Soviética Estalinista, sob a qual voltou a cair depois da vitória dos Aliados. Assim, não me parece de todo estranho que exista ainda um forte movimento de simpatia ao nazismo... Just saying...             Rui Lima: Sim é verdade com a ajuda dos Socialistas, ainda agora o PS votou ao lado dos comunistas de Setúbal amigos de Putin. Um socialista nem é carne nem peixe sabe o que foi o comunismo mas a sua costela marxista nunca morreu, ainda agora em França junta-se com a extrema esquerda FME: A correlação entre Putin e os seus nazis e os fascistas de Jeropiga & Companhia é o ódio visceral que partilham ao Ocidente, aos Estados Unidos, à NATO e à União Europeia (ódio em desenvolvimento). Jeropiga & Companhia odeiam com a força de uma ogiva nuclear todos os valores ocidentais, e como diz o ditado: Quem é inimigo do meu inimigo é meu amigo! Mas creio que o ditado não justifica tudo. Existe uma atracção irresistível com a Mãe Rússia seja ela Partido Comunista ou Rússia Unida que projecta os nossos Jeropigas & Companhia para o outro lado da trincheira. Questiono como vai o Estado Português lidar com esta gente se a NATO entrar em guerra e Portugal por arrasto também? Será que vamos ter Jeropiga e Varela a debitar propaganda russa nas televisões ou serão recolhidos e privados de liberdade? Uma dúvida pertinente é saber como as democracias do mundo livre irão lidar com os amigos dos inimigos em Estado de Guerra. A pandemia deu um cheirinho ao restringir direitos e liberdades. Não se prendeu ninguém que eu saiba, mas em Estado de Guerra com os nossos soldados nas frentes de batalha, os Jeropigas & Companhia não terão a vida fácil com a retórica da propaganda russa, e será muito difícil classificarem de nazis e fascistas os soldados que lutam pelo direito à auto-determinação de países e povos.            Américo Silva: Eu sou de poucas luzes e um bocadinho lerdo de pensamento, demorei décadas a perceber o que é o nazismo/fascismo, e só me clarifiquei com a guerra na Ucrânia, fascismo é um feixe de pessoas, como qualquer partido ou religião, com a diferença de que quem está fora do feixe é aniquilado, como estavam a ser aniquilados os ucranianos russos, física e culturalmente, como são aniquilados os escudos humanos, e como tentam aniquilar os não alinhados com Zelensky em toda a Europa.              Vitor Batista: Já aqui o afirmei e volto a repetir: Portugal é um país manietado e controlado por gente execrável, dominado por fascistas nazis que fazem alarde disso mesmo, a toda a hora e ao vivo na TV. Portugal tem um governo e alguns partidos politicos nojentos e execráveis, autênticos traidores que apoiam putin cá dentro, e vão a Kiev beijar a mão a Zelensky, como se ele não soubesse desde 2015 quem é o dito personagem,é o mesmo que verga a espinha para pedir licença para ir ao banco, é um tipo muito perigoso, Orban diz ao que vai, mas este, velhaco, traidor e rancoroso, morde pela calada.             servus inutilis: A retórica da desnazificação não é nada para consumo interno. Um exemplo? A maioria dos brasileiros acredita mesmo nisso. E vão escolher para presidente um de dois amigos de Putin, ou Bolsonaro ou Lula. Lula leva vantagem, é ainda mais putinesco do que Bolsonaro.                  Paulo Silva > servus inutilis: É para consumo interno sim, meu caro. Porque na psique dos russos a referência ao nazismo remete para a Grande Guerra Patriótica. A heróica resistência do povo russo ao invasor da Grande Mãe Rússia, que no caso foi a Alemanha nazi. Por lá não é propriamente uma questão ideológica. E como a imprensa por lá não é propriamente livre, a população deixa-se levar com facilidade nessa retórica. Já existem críticas internas a dizerem que Putin não levou tropa suficiente... Por outro lado não deixa de ter razão quando noutras regiões do mundo acaba por ter acolhimento, por razões diversas. Mas na Europa - que é palco do conflito - só tem acolhimento em mentes obtusas e tolhidas pela propaganda comunista que ainda resiste nalgumas bolsas, como no cantinho à beira-mar. Paulo Silva: As regras foram definidas e aceites por toda a Esquerda. A retórica da ‘desnazificação’ da Ucrânia do sr. Putin é só para consumo interno, porque ninguém informado pode tomá-la a sério quando se sabe que o novo Czar patrocina grupos de neo-nazis na sua terra natal. Já para não falar das notícias que o apresentam como benfeitor e mecenas da ‘extrema-direita’ da Europa. Mas aqui serve para alimentar a paranoia esquizoide de uns quantos tontinhos que sonham com nazis e fachos debaixo da cama, enquanto se deitam e dormem com estalinistas. Mas enfim, é o que temos... Podem dizer que Putin já não é comunista, mas replica bem os seus métodos.

 

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