terça-feira, 3 de maio de 2022

Sol e sombra


País de touradas, sem morte de touro, sensíveis que somos… Será que o governo estava informado? Mas mesmo que estivesse não o diria e as mãos lavaria, como sempre se fez por cá, na parvónia.

Quanto ao partido que nela impera, nessa parvónia que tudo adultera, ponho um retrato, simples mas certo, que um email me trouxe, para me ilustrar, mas que ajuda a desmascarar…

Será um reforço para o entendimento da nossa idiossincrasia de servilismo e astúcia … por vezes de idiotia, por vezes de argúcia…

Portugal: paraíso para espiões russos

Moscovo usa como ninguém este recreio para espiões. Até porque aqui ninguém acredita que alguém no Kremlin esteja interessado em informações que chegam de Portugal. É o cenário perfeito.

RAQUEL ABECASIS Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 03 mai 2022

Este cantinho europeu à beira-mar plantado, onde vive um povo que não se governa nem se deixa governar, é o lugar certo para estacionar espiões que por cá podem trabalhar, longe de olhares curiosos e com o sossego e à-vontade necessários à prática da atividade.

A fama já vinha de longe. Dos tempos da Segunda Guerra Mundial, quando as esplanadas, restaurantes e hotéis de luxo eram perfeitos para sacar informações preciosas que chegavam direitinhas aos senhores da guerra. Por essa altura, deu grande impulso à economia nacional o negócio do urânio que vendíamos sem peso na consciência aos dois campos opostos do teatro de guerra.

A guerra para nós é um negócio e pode mesmo ser promissor. Basta continuarmos sem vergonha na cara a justificar todos os casos que vêm a público como ingenuidades, distracções, boa-fé, cumprimento de normas, rotinas. E não adianta argumentar com queixas e denúncias. Se não apareceu no jornal ou na TV, ninguém viu ou ouviu.

Moscovo usa como ninguém este recreio para espiões. Até porque aqui ninguém acredita que alguém no Kremlin esteja interessado em informações que chegam de Portugal. É o cenário perfeito. Quando a coisa dá para o torto, os responsáveis anunciam os mais variados inquéritos, que é o mesmo que dizer: enquanto os resultados chegam e não chegam, esquece-se o caso e o espião encontra outra forma de continuar a atividade. Cereja em cima do bolo: aqui há um partido disposto a colaborar, muito habituado a estas coisas da clandestinidade e que é visto como um partido pacífico e amigo da democracia.

Em Portugal, foi possível um Presidente de Câmara da capital ter escapado incólume ao fornecimento de dados de cidadãos críticos à embaixada russa. Como se não bastasse, outro Presidente de Câmara, poucos meses depois, acha normal invocar, outra vez, a ingenuidade e a burocracia para colocar russos a acolher refugiados ucranianos. Os dois têm em comum uma reacção: sorriem quando lhes é sugerido que o regime de Putin está interessado na informação e pode usá-la na perseguição aos seus inimigos.

Os portugueses não se levam a sério nem levam o país a sério. Usam a nossa pequena dimensão no concerto das nações para desvalorizarem as consequências do que aqui se passa. Mesmo quando o que aqui se passa é muito grave e contraria todas as regras de uma democracia ocidental.

O que se passou (ou será que ainda passa?) na Câmara Municipal de Setúbal é uma vergonha e não precisamos de nenhum inquérito para o concluir, como também não precisámos do célebre inquérito na Câmara de Lisboa para ter a certeza de que a autarquia denunciou dissidentes ao regime russo.

As declarações públicas do Presidente da Câmara de Setúbal sobre o caso fazem-nos temer o pior. Este representante da nossa democracia acha que fez tudo bem e, a menos que alguém lhe prove o contrário, continuará a usar os amigos russos para acolher e talvez mesmo aconchegar os refugiados ucranianos que fogem do terror que os russos estão a espalhar nas suas terras. O Kremlin e Putin agradecem e garantem que vão continuar a investir em Portugal. Por cá no pasa nada!

REFUGIADOS MUNDO   GUERRA NA UCRÂNIA  UCRÂNIA  EUROPA  ESPIONAGEM    SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

Jose Oliveira: Dra. Raquel Creio que o cidadão comum, sujeito há 48 anos a um ruído social constante, por: - "escândalos" diários - manifestações por tudo e por nada - declarações "solenes" de ofendidos costumeiros - artigos enviesados etc. foi, para defesa da saúde mental, levado a preocupar-se pouco com a moral da vida pública porque, de alguma forma, os "habitués" (esquerda radical), estariam "atentos". Quando gradualmente toma consciência daquilo que é a esquerda, fica um bocado perdido e hoje já não sabe bem porque se indignar. Creio que seja devido a isto que na falta da "indicação" do que é um "novo escândalo" ele possa deixar passar coisas como estas. Claro que a esquerda nunca vai sinalizar estes casos como escândalos.

 Paulo Silva: Que tudo isto é uma vergonha, é. Agora queremos saber a dimensão e o tipo de vergonha. Só negligência e ingenuidade, ou outra coisa?… Da polícia política do Czar, a Okhrana, passando pela Tcheka e o NKVD ao KGB... a Rússia é uma potência da espionagem mundial, e, cereja no topo do bolo, é hoje dirigida por um ex-oficial dos serviços secretos. Putin é um camaleão que engana muitos, mas também tem os que não precisa de enganar, infelizmente. Os seus dedicados vassalos. O problema pode não se resumir à Câmara de Setúbal, mas pelas declarações do vereador Fernando José este caso pode configurar algo mais grave do que simples negligência. O autarca do PCP conhecia bem o cidadão russo pró-Putin Igor Khashin. Já muitos ouviram falar no caso dos Arquivos Mitrokhin, e do desaparecimento dos ficheiros da PIDE. As eleições ainda estão longe, mas aí veremos se os portugueses deixaram passar, uma vez que ao dono dos cordões sanitários se lhe acabou a corda.

 

OS DARLINGS DO PCP

O PCP apoia o regime cubano. É natural, sendo uma ditadura, com a repressão associada, Cuba tenta implementar um regime comunista, com algumas qualidades, mas sobretudo com algumas limitações e muita coerção. O PCP apoia o regime norte-coreano. Na Coreia do Norte existe, de forma não constitucional, um regime monárquico dinástico, que passa de pais para filhos. Muito mais do que caracterizar-se pela procura do comunismo, o regime norte-coreano caracteriza-se pela arbitrariedade, pela violência e por um superior grau de loucura. O PCP apoia o regime chinês que, dizendo-se comunista, pratica o capitalismo mais feroz. Embora nem sempre de forma explícita, o PCP apoia os regimes da Bielorrússia e de Moscovo, ditaduras parasitadas por riquíssimos oligarcas, que mais facilmente podem ser considerados de direita do que de esquerda. Com a queda do muro, o critério de proximidade com o partido comunista deixou de ser a procura do marxismo-leninismo. Actualmente o critério define-se por oposição. O PCP sente-se próximo de todos os que se opõem ao mundo livre, às chamadas “democracias burguesas” que são as nossas, e a qualquer forma de amizade com os Estados Unidos. Várias vezes, especialmente em alturas próximas do 25 de Abril, se diz que o PCP lutou pela liberdade. Pois é claríssimo que não. O PCP que lutou de forma aguerrida e tenaz contra o Estado Novo, nunca o fez com ensejos de liberdade, mas sim com vontade de impor uma ditadura que seria muito pior. Ideologias como o comunismo, ou o fascismo, são incompatíveis com a liberdade. Tal é facílimo de compreender, mesmo pelos charlatões que se gabavam de ter derrubado o muro que separava os comunistas dos outros partidos.

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