No humor galhofeiro de hoje.
Revendo as peças de teatro que tanto me divertiram ou sensibilizaram ao
longo da vida, de Molière a Ionesco, com Óscar Wilde, Pagnol, Anouilh, Sartre,
entre tantos outros, sem esquecer os dramaturgos gregos e latinos da minha
curiosidade inconstante - hoje mais circunscrita aos números revisteiros
televisivos, a revisão de leituras (caseiras) substituta do parcimonioso
acompanhamento no que toca aos novéis literatos, tantas vezes admiráveis, é
certo – julgo que o humor hoje, pese embora a qualidade dos actores em cena, se
circunscreve em parte, na questão dramática, ao gozo tantas vezes grosseiro das
próprias personagens públicas, em jeitos de grosseira farsa as mais das vezes
achincalhante, que tantas vezes me/nos repugna. Tal é o caso do tema tratado
hoje por Alberto
Gonçalves, como
sempre brilhante e com quem concordo quando afirma que o “humor anda pelas ruas da amargura”, apesar de ele achar graça num
tema – da transsexualidade - que a mim me desgosta, e é inútil indicar o motivo,
comentadores mais capazes o fizeram, (eu limito-me ao motivo do respeito pelo “outro”,
salvo em caso de uma actuação proveniente de deformação do carácter): “Curiosamente ou não, apesar
das abébias não me lembro de o humor andar tanto pelas ruas da amargura. Excepções, cada vez mais
excepcionais, à parte, a comédia actual é uma tristeza – e o paradoxo não é
fortuito”.
Ricky
Gervais acha que as mulheres não têm pénis!
Fazer boa comédia nunca foi tão fácil,
o guião já chega pronto. O movimento “woke” em geral e as “políticas
identitárias” em particular são ridículos o suficiente para dispensar adornos.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 28 mai 2022, 00:1945
Estreou na Netflix o novo espectáculo de stand up de Ricky Gervais, “SuperNature”. A data? 24 de Maio. A
hora? Cerca de 10 minutos antes de alguém recortar o pedaço em que ele goza com
os transsexuais, publicá-lo nas “redes sociais” e a internet rebentar de raiva.
O programa tem graça. O pedaço em questão também. Gervais aproveita um facto
relativamente antigo, que recentemente virou interdito: ao contrário dos
homens, as mulheres não têm pénis. A propósito das “novas mulheres”, as que
“têm barba e pila”, uma amostra: “Agora
as mais antiquadas dizem: ‘Ai, querem usar as nossas casas de banho’. Por que
não poderiam usar as vossas casas de banho? ‘Porque são para mulheres’. Elas
são mulheres – vejam os seus pronomes! Há alguma coisa nesta pessoa que não
seja de senhora? ‘Bem, o pénis dele.’ DELA, seu preconceituoso! ‘E se ele me
violar?’ Se ELA te violar!”
Fazer boa comédia nunca foi tão fácil. Por dois
grandes motivos. O primeiro é que o guião já chega pronto. O diálogo simulado
acima é completamente plausível. Gervais não inventa nada. O movimento woke em geral e as “políticas identitárias” em particular são
ridículos o suficiente para dispensar adornos. Há mesmo quem defenda que o sexo
(ou o “género”, no jargão em voga) não depende dos órgãos reprodutivos mas da
convicção individual. Notem que não digo que um sujeito não possa preferir ser mulher, ou
sentir-se mulher, ou tentar parecer-se anatomicamente com uma mulher. Digo que
isso não invalida um pormenor, pueril ainda há meia dúzia de anos: o sujeito
continua a não ser uma mulher. E teimar no contrário é, além de um acto
primitivo e uma negação cega dos conhecimentos científicos básicos, engraçado.
Um princípio similar leva a que, para lá do sexo
oposto, seres humanos se “assumam” como animais, personagens de ficção ou
objectos inanimados. Basta mudar o pronome, a farpela e os derradeiros vínculos à realidade.
Desde que ninguém se “assuma” como membro de uma etnia diferente da biológica,
a biologia que lixe: o fundamental é a criatura estar bem “consigo própria”.
Eu, por exemplo, apenas estarei bem “comigo próprio” quando romper com as
amarras da naturalidade e até da singularidade e me definir enquanto dezassete
polacos. Lá para terça ou quarta-feira tenciono meter a papelada no registo
civil (o pronome será “tamte”, “aqueles” em polaco).
O segundo grande motivo pelo qual a boa comédia nunca
foi tão fácil é que hoje temos dois pretextos de galhofa. Achamos graça quando o
comediante conta a piada e achamos graça quando a ira dos taradinhos do Twitter
se ergue contra o comediante. Se nos alhearmos das componentes fascista
e inquisitorial, a indignação woke é divertidíssima. No caso de Gervais,
como de resto acontece com frequência, as dezenas de milhares de “posts”
furiosos não o acusam de distorcer o evangelho “identitário” para efeitos de
enxovalho, o que, repito, ele não faz nem precisa de fazer. A fúria dessa
gente advém justamente do facto de o artista britânico se limitar a transcrever
os “argumentos” em jogo. E se há coisa que os fanáticos não toleram é que as
suas posições absurdas e totalitárias alimentem a paródia alheia.
Curiosamente ou não, apesar das abébias não me lembro
de o humor andar tanto pelas ruas da amargura. Excepções, cada vez mais
excepcionais, à parte, a comédia actual é uma tristeza – e o paradoxo não é
fortuito. Há meses vi uma rábula do “Saturday
Night Live” em que, eu fique ceguinho, se gozava com os cépticos das
políticas a pretexto da Covid. De Lenny Bruce e George Carlin, que nestes
tempos seriam perigosos “negacionistas” e “homofóbicos”, saltou-se, com umas
escalas decentes pelo meio, para a defesa amestrada dos governos de esquerda e
das tresloucadas “causas” da esquerda. Nos delírios woke
não se toca, a menos que para pregar a “tolerância”, a “diversidade” e a
“inclusão”. E se se tocar, arrisca-se o “cancelamento”, que é o eufemismo em vigor para
difamação, perseguição e censura. Se forem ricos e influentes o bastante, alguns
profissionais, como Gervais, Dave Chappelle e Bill Burr, insistem em resistir
ao ódio. Outros, como Kevin Hart, cedem-lhe (ao que me constou). Um terceiro e
selecto grupo, que inclui Louis C. K. ou Woody Allen, não escapou à fogueira. A
vasta maioria, leia-se os que lutam por uma carreira, não tem hipótese. Em
“SuperNature”, Gervais fala dos novatos que, nos clubes de “stand up”, assinam
termos de responsabilidade em que se comprometem a não ofender “minorias”.
Eis o ponto: as “minorias”, ou essencialmente os “activistas” que
ganham a vida à custa delas, não admitem ser ofendidas (embora admitam ofender). Dado que o humor implica com frequência a ofensa, os
“activistas” não admitem o humor. Aliás, esqueçam as
minudências, que o verdadeiro ponto é o seguinte: o movimento woke integra-se
numa vasta ofensiva contra a liberdade, e a favor da instauração de um mundo
minado e sombrio, que reduz os sujeitos a sombras ordeiras e as relações à
chantagem implícita. Idealmente, não seríamos pessoas, e sim – aqui não há acasos – máscaras. É por isso que a comédia, a
autêntica e subversiva (passe a redundância), é um dos obstáculos e um dos
alvos. É por isso que é fundamental a sobrevivência do riso, um estremecimento
que nos ajuda a manter livres e humanos. É por isso que essa é a resposta
adequada à “ideologia de género” e peçonhas similares: rir, que só não é o
melhor remédio porque o fanatismo não tem cura.
POLITICAMENTE CORRECTO SOCIEDADE COMÉDIA ARTE CULTURA IDENTIDADE DE GÉNERO
COMENTÁRIOS:
Luís Abrantes: Muito bom como sempre… Claro que a cambada comuno bloquista ditatorial do
caviar já desatou a chiar…
jota santos: parece-me que a igualdade de deveres e direitos dos cidadãos está
devidamente consagrada na nossa constituição. Artigo 13.ºPrincípio da
igualdade1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante
a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo,
raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou
ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação
sexual. portanto, estamos perante uma discussão supérflua e de pessoas que não
pretendem cumprir com o princípio essencial para a vida em sociedade, o
respeito mútuo. advoga
diabo: Quem viu After
Life percebe que a arte de Gervais, genuíno conservador, está também em
armadilhar e expor quem, como AG, confunde as coisas, vivendo de um
reaccionarismo amargo estruturalmente destrutivo. f Teixeira: E está tudo dito! Este texto,
sobretudo os últimos dois parágrafos, deviam ser de leitura livre. O Observador
faria serviço público. Diogo
Araújo Dantas: Claramente, esse Gervais é um neonazi. Todos estes delírios baseiam-se na ideia (bastante
troglodita aliás) de que um homem ou uma mulher têm de ter, em todo e qualquer
momento, comportamentos e sentimentos que se caracterizam como “masculinos” ou
“femininos” respectivamente... Daí, na cabeça desta gente, por exemplo, se um
rapaz de 9 anos não gosta de jogar futebol talvez seja necessário avaliar se
ele é mesmo um rapaz... ou se uma rapariga gosta de xadrez provavelmente há ali
um rapaz escondido...e acham bem incentivar essas mesmas crianças a fazer essa
“auto-descoberta”...claro, algumas delas convencem-se dos delírios que lhes
foram incutidos... Paulo
Cardoso; Considero esta
crónica de A.G., uma das melhores, que já escreveu. Paulo Silva: Caro AG, o humor é a forma mais
inteligente de desmanchar dogmatismos e conveniências. Por isso é tão
subversivo aos olhos de inquisidores e autoritários. Da “luta de classes” à
“política de identidades”, (que mais parece guerra), o marxismo cultural
refundou o projecto revolucionário de esquerda, (pleonasmo). O proletariado
aburguesou-se e foi acusado de conservadorismo pela nova-esquerda. Os novos
oprimidos aí estão eles como rendição da soldadesca de assalto ao poder: a
mulher, o ‘bom selvagem’, o queer...
Mas lembrem-se das sábias palavras do radical Saul Alinsky the issue is never the issue; the issue
is always the Revolution! Destruir os alicerces é sempre o objectivo. Maria Tubucci: Bom dia. Nem mais, acha o RG e acha
qualquer pessoa mentalmente sã. A tribo woke, negacionista da biologia humana,
tem de ser ridicularizada com as suas próprias insanidades. Espero que esta
ridicularização se acentue, e não, não é discurso do ódio, mas sim da
realidade, já não há paciência para aturar tanto demente. O Desejado > Maria
Tubucci: Já repararam que é
fundamentalmente um movimento anti mulheres? Há alguma mulher que se julga
homem a ganhar todas a competições desportivas masculinas? Hmm, não me parece. Há alguma mulher presa que se diz homem a
reclamar o direito de ser transferida para uma prisão masculina? Hmm, não vejo
nenhuma. Há alguma mulher que se diz homem que tenha ganho o título de Homem do
Ano? Não me parece. No fim quem sofre? As
mulheres como sempre!
João Floriano: Excelente! Os conhecimentos científicos pueris e básicos são a última
barreira às questões identitárias: têm de ser cancelados e reescrever as leis
do Universo. Se for necessário voltemos a acreditar que é o Sol que se move à
volta da Terra. Até pode ser que Darwin e a selecção das espécies possam ser
reaproveitados a uma nova luz woke. Afinal de contas sobrevive a espécie que
melhor se adapta e para já os wokes estão muito bem adaptados, sobretudo na CS.
Por cá o PS, que em 2015 tinha derrubado o muro entre o pensamento democrático
e a esquerda marxista e trotskista com os resultados que todos nós conhecemos,
abraça agora os wokes. Não tenho qualquer vontade de rir. Lidia
Santos: Na verdade
atingimos o cúmulo do ridículo e do absurdo. FME: Há qualquer coisa aqui que não bate certo. Tema
interessante, mas artigo muito curto que termina de forma abrupta. Será que
vamos ter parte II amanhã? Mas, o habitual sarcasmo da escrita também parece
que está off. Diria que o artigo desta semana foi para encher chouriços ou
estamos perante uma greve. Américo Silva: A mudança de sexo movimenta
cerca de mil milhões de euros, em aumento progressivo, uma oportunidade de
desenvolvimento para o país, unidades de transsexualização no interior
desfavorecido do Minho ao Algarve, associadas ao turismo, onde o cliente entra
mulher e sai homem, ou vice-versa, uma indústria de mão de obra intensiva,
cozinheiros, psicólogos, hoteleiros, cirurgiões, enfermeiros, e muitos outros.
Acopladas poderiam implantar-se unidades de
destranssexualização, um produto muito mais caro e elaborado, uma vez que cerca
de 20% se vão arrepender, pena que alguns destes se suicidem antes de gastar o
guito. josé maria:
Notem que não digo que um
sujeito não possa preferir ser mulher, ou sentir-se mulher, ou tentar
parecer-se anatomicamente com uma mulher. Digo que isso não invalida um
pormenor, pueril ainda há meia dúzia de anos: o sujeito continua a não ser uma
mulher. E teimar no contrário é, além de um acto primitivo e uma negação cega
dos conhecimentos científicos básicos. O dr. Gonçalves tem uma aptidão insuperável para
mostrar a sua crassa ignorância e não perde uma ocasião para demonstrar que não
sabe a diferença científica fundamental entre sexo e género... Manuel
Norberto Valente Sousa > josé maria:
Ainda bem que
existe o José Maria, um ser que até no nome exibe a sua dualidade de género,
para explicar ao ignorante Gonçalves, e já agora a todos nós, essa crucial
diferença! Bem haja! Ficamos a aguardar….impacientes, como é óbvio. Paulo Silva > josé maria: O termo ‘mulher’ refere-se a
sexo ou a género?... Quando o sr. josé maria lava a loiça, aspira o chão da sala, ou vai comprar
umas hortaliças à mercearia do bairro para fazer uma sopa, é 'josé' ou é
'maria'?… José
Dias > josé maria:
Pode insistir na
diferença entre sexo e género - sendo que chamar-lhe de
"científica" já é esticar a corda ... - mas nem tal suposta distinção
impede que um homem não seja uma mulher ou vice versa. Também há quem se julgue
Napoleão não o sendo e tal justifica-se cientificamente pela diferenciação
entre os sãos de cabeça e o doente ... o que não obsta a que este último continue
a sentir-se Napoleão nem que os primeiros tenham de acreditar em tal mesmo que
vejam o chapéu e a mão na barriga. Luis Martins > josé maria: Por mais que os ideólogos woke
e das esquerdas progressistas ultra-globalistas queiram, existem diferenças
entre o homem e a mulher e não, não são iguais entre si tal como um leão não é
igual a uma leoa mesmo que lhe cortem os tintins e lhe rapem a juba. Para mim
este é o ponto ridículo de toda a verborreia wokista, querer impingir à
força que não há diferença nenhuma entre o homem e a mulher e ainda se dão ao
luxo de evocar a "igualdade" quando a "igualdade" nada tem
que ver com isto. Lá porque há diferenças entre o ser biológico homem e mulher não quer dizer
que não possa haver igualdade. A igualdade é o tratamento igual de ambos
pela sociedade, é o acesso à mesma justiça, à mesma educação, às mesmas
oportunidades, etc, etc e não a igualdade anatómica, fisiológica e biológica.
Tudo o resto são lérias de ideólogos fanáticos sem noção do ridículo e da
realidade.
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