quarta-feira, 4 de maio de 2022

Histórias da História


A bem contada por Henrique Burnay sobre a ameaça que há muito a China representa, na sua luta de potentado ambicioso do domínio mundial, entre as outras potências - seguida de bons comentários, de que destaco os do comentador FC, pela sua inteligência crítica na questão das várias actuações dos EU, que embora desejoso de domínio - como os outros potentados seus parceiros na ambição, - generosamente vai defendendo o mundo contra a crueldade desses elementos sectários e ambiciosos, e assim  sacrificando os seus soldados, perante a ingratidão dos graves defensores dos seus heróis de estimação...

A seguir é a China

Com a guerra da Ucrânia abriu-se o confronto entre a Europa e a Rússia. Mas o confronto não vai ficar por aqui. As mesmas razões vão levar ao confronto com a China. Provavelmente económico.

HENRIQUE BURNAY Consultor em assuntos europeus

OBSERVADOR, 29 abr 2022

A história da guerra da Ucrânia, mesmo antes de terminar, é já uma lição sobre a relação entre a Europa e a China. Mais tarde ou mais cedo vamos ter de falar disso.

Tal como a pandemia, a invasão russa da Ucrânia veio acelerar, ainda mais, processos que estavam a acontecer. Há vários anos que se fala sobre a dependência ocidental da China, mas agora que ficou à vista o exemplo prático de uma dependência económica, a questão tem muito maior importância. E urgência.

Desde a viragem para a Ásia, de Barack Obama, e a crescente conflitualidade e assumida confrontação com a China, de Trump, que a relação entre as duas potências económicas e os seus principais parceiros se começou a redesenhar. Com a pandemia, a situação agravou-se. Primeiro, descobriu-se que o regime chinês tinha tentado ocultar a emergência de uma grave pandemia que ameaçava espalhar-se, como se espalhou, pelo mundo. Depois, descobriu-se que muito do que era necessário para combater a pandemia estava na China, dos ventiladores às máscaras, passando pelos medicamentos. Mas a ciência não estava, como se viu com as vacinas. Finalmente, o impacto da pandemia nas cadeias de abastecimento vindas da China mostrou a fragilidade que a dependência da China criava. De um momento para o outro, por uma pandemia, ou por outra razão qualquer, o Ocidente podia ficar sem microchips, sem telefones, sem roupa, sem caixilharias de alumínio, sem medicamentos, sem… uma infinidade de produtos essenciais que são produzidos na China. E, não se diz mas alguém há-de pensar, se, por um qualquer motivo, de um momento para o outro o Ocidente, e em especial a Europa, perder o acesso ao mercado chinês, as contas anuais de muitas das principais indústrias europeias, especialmente alemãs, francesas e americanas, vão sofrer enormes prejuízos.

A exibição da dependência da cadeia de abastecimento e dos seus riscos alimentou a narrativa política europeia mais recente. A actual Comissão Europeia tinha tomado posse com uma grande visão geoeconómica: tornar a dupla transição verde e digital em oportunidades para a economia europeia. Daí até às teorias, muito francesas, de autonomia estratégica, foi um instante. A Europa precisava de regular a economia digital e impor a aceleração da transição energética para ganhar competitividade em ambos os domínios. Falta explicar como é que se passa da liderança regulatória para o domínio industrial, mas essa é uma questão que os mentores da estratégia europeia não têm aprofundado. Excepto quando França, ou quem fala como França, do comissário Breton a várias associações empresariais europeias, diz que é necessário criar campeões europeus que possam competir à escala global. Protecionismo, portanto..

O que é que isto tem que ver com a China? Tudo. A Europa depende muito do gás e (menos, mas também) do petróleo russo. Mas depende profundamente mais dos produtos que vêm da China a baixo custo, e dos produtos que vende à China, em quantidades industriais. Esta dupla dependência, que também pesa na balança chinesa, é o novo problema de que ainda não se fala. Mas que mais tarde ou mais cedo se terá de falar. E, ao contrário da Rússia, a China é, e quer ser, percebida como um modelo alternativo ao Ocidente. E tenta que a Europa seja autónoma dos Estados Unidos. Leia-se desalinhada.

A China pode não invadir Taiwan, e pode não voltar a massacrar estudantes em Tiananmen, mas a sua falsa neutralidade quanto à guerra já não passa despercebida e, eventualmente, sem consequências. Por outro lado, no Ocidente, e à excepção de quem tem sincero, mesmo que inconfessado, carinho pelo modelo autoritário chinês, até quem olhava com espanto para a performance económica chinesa já não pode ignorar que parte desse sucesso é fruto da dependência europeia das fábricas chinesas. E que oferece a algumas indústrias europeias, desde logo à automóvel, um importantíssimo mercado de que quase dependem.

E agora? Logo se verá. Mas uma coisa é certa, seja por força da necessidade de reduzir dependência e interdependência com regimes potencialmente adversos, seja pela possibilidade de um evento que obrigue governos e empresas ocidentais a cortar com a China, a Europa, tal como os Estados Unidos, vai querer descobrir alternativas à China. Uns querem fazê-lo dentro da Europa. Outros querem reglobalizar rapidamente, mas apenas entre amigos. Ou, pelo menos, não inimigos. Essa foi, para já, a primeira lição que o Ocidente parece ter escolhido aprender sobre a guerra e a relação com a China.

A outra questão é perceber como é que isto tudo se encaixa numa China que nos lê, sabe o que escrevemos e pensamos pubicamente, e compreende as alterações em curso. Se nós antecipamos que vamos querer depender menos da China, Pequim fará o quê? Ignorará o risco? Antecipará o afastamento? Seja o que for, o efeito nas economias europeias do bloqueio gerado pelos incompreensíveis confinamentos em Xangai pode ser um retrato antecipado do custo de desligar da China. Para o Ocidente e para os chineses.

CAFÉ EUROPA  UNIÃO EUROPEIA  EUROPA  MUNDO  CHINA

COMENTÁRIOS:

ンドレ -アンド: a europa arreou as calças aos russos e aos chinocas, está na altura de as subir e voltar ao velho continente e produzir e fechar-se ao que vem de lá... para vilão ..vilão e meio                Marco Gomes:  A falta de visão estratégica da desunião europeia tem sido gritante mas foi tudo feito em prol dos interesses económicos ocidentais, talvez agora comecem a abrir " a pestana" em relação à deslocalização para oriente de maneira a fomentarem cada vez mais lucro, todos conseguem ver estas políticas erróneas mas ninguém quer saber, só quando são mesmo obrigados a tomar outro tipo de medidas é que acordam. A desunião europeia tem sido uma desgraça em termos de liderança, ou melhor, na falta dela!           Ah Pois: Sim, claro que a seguir é a China e os EUA sem vão colapsar de vez a menos que destruam o planeta e aí não estão cá para confirmar. Joanaquidiaca Quidiaca: A Europa é uma marionete dos EUA e estes gestores políticos Europeus são a pior liderança que já existiu na Europa de todos os tempos, isso mostra que todos actuais Presidentes Europeus são agentes Clandestinos Americanos para destabilizar o velho continente. Fim de citação.            Joao Almeida Garrett: É isto mesmo. Há que reindustrializar a Europa, apostando nos países com vantagens comparativas em termos de custos, incluindo naturalmente os custos logísticos. Portugal e os países de Leste, incluindo a Ucrânia, estão bem posicionados para isto. Definitivamente, a China não é, a vários títulos, de confiança.           António Cézanne > Joao Almeida Garrett: Portugal? Mas quem é que vem para cá investir em qualquer tipo de indústria com esta carga fiscal sobre as empresas que existe? Com estas taxas e taxinhas que são perto de 650? Com esta burocracia que existe, que obriga a certidões e mais certidões, certificados e mais certificados? Uma aberração completa! Estaria bem posicionado sim, com outra gestão, não esta gestão socialista que há 20 anos praticamente seguidos assalta, endivida e desmembra completamente o país. E o problema, é que talvez o momento certo para isso que refere esteja perto, mas repito, com esta gestão socialista, mais uma vez vamos perder o barco. Não temos qualquer hipótese!            J Sm: 3 d Mais um que não quer perceber as causas da decadência do Ocidente. As guerras são sempre civilizacionais e o Ocidente ateu e permissivo não tem armas (por mais armas que tenha) para combater os povos que acreditam em Deus. Tenha Deus os nomes que tiver. Ninguém vai morrer pelo euro.             Nuno Garcia > J Sm: Vai morrer pelo yuan, pelo rublo, ou pela liberdade de expressão e opinião que existe em grande quantidade na China e na Rússia, (na China nem de culto há, já que fala em Deus), deve ser isso.            mário Unas: Meu caro, a Europa é lenha para queimar no fogo ateado pelos EUA e a Rússia.           FC > mário Unas: se nós deixarmos...           Censurado Censurado: 3 d Este colunista é uma grande falácia. Mais um faccioso. Acusa quem percebeu que quem provocou o actual conflito armado na Europa foram essencialmente os EUA de antiamericanismo?! Com uma série de falácias. Como se o próprio alargamento da Nato para leste ou a utilização da Ucrânia tivesse alguma a ver com a natureza do regime russo?! Quando são inclusive a par com a UE, esta como quase sempre por omissão, os grandes responsáveis pelo ressurgir do nacionalismo na Rússia pelo saque da própria Rússia que se seguiu à queda do muro. Os EUA vieram para a Ucrânia pela mesmíssima razão porque vão para todos os países. Por algum interesse dos EUA. Que é só que faz mexer os EUA historicamente. Inclusive nas duas grande Guerras quando vieram para a Europa qd foi adequado para eles e não para nós. Por norma para saquear algum recurso natural. O que no caso da Ucrânia só acontece indirectamente. Ou quantos países pobres já "ajudaram" os EUA? Só falta dizer que também foram para o Irão logo a seguir à II Guerra para salvar o Irão da Democracia do Mosaddegh. Já que os EUA também têm a fama de serem muito amigos da Democracia quando as derrubam com a mesma facilidade com que derrubam ditadores. Quando deixam de assegurar os interesses dos EUA. E depois de instalarem a maioria da segunda metade do Sec. XX, diga-se de passagem. Porque se há razão pela qual os EUA nunca se mexem, desde que vejam assegurados os seus interesses, é a natureza dos regimes. Quando até com as monarquias do golfo mais sanguinárias e logo a começar pela grande democracia saudita têm tão boas relações… Dizer mãos o quê? Os EUA foram para o Irão em 54 pela mesmíssima razão que já foram este século para o Iraque. Pelo petróleo. Para em ambos os casos deixaram o Médio Oriente a arder. C/ aiatolas e todo o tipo de fundamentalistas. E c/ um crescimento do terrorismo que até assusta. E estava aqui o resto do dia a falar das grandes razões de todas as intervenções externas dos EUA. Já na Ucrânia a intenção, além da intenção de maluquinhos como a Sra. Nuland, foi antes de mais fechar o cerco com mísseis à Rússia. Segundo a doutrina Wolfowitz. E com o surgimento dos mísseis hipersónicos russos de repente até a Polónia ficou muito longe de Moscovo. Isto já depois de terem rasgado unilateralmente dois dos tratados de controlo de armas mais importantes para todos nós. E num segundo nível, para não descer para níveis directamente associados à corrupção na Ucrânia, para isolar/enfraquecer a Rússia e a própria UE. Que por mais que escutados os seus lideres e por mais que f*uck the UE, continua a apoiar a presença dos EUA na Europa? Mesmo que tb tenha sido sempre mais que óbvio nunca iriam permitir a entrada em funcionamento do Nord Stream II onde a Europa também gastou milhões! E até nos avisaram com anos de avanço. Ainda assim com menos que a Rússia avisou que nunca iria permitir a Nato na Ucrânia. De forma que agora resta continuar a tentar enfraquecer a Rússia morram os desgraçados que morrerem na Ucrânia. Já que ainda não é desta que voltam a pôr as mãos nas maiores energéticas russas. Muito menos nos minerais raros. Porque a Rússia em termos de recursos naturais tem o futuro mais que assegurado. Mas numa coisa concordo, a seguir vão tentar fazer o mesmo à China. Infelizmente para os EUA com o mesmo sucesso. Porque o mundo já mudou. E com o mundo já aí está uma Nova Ordem Mundial verdadeiramente multilateral. O tempo do polícia do Mundo acabou. Assim como a grande potência hegemónica do mundo. Que roubou às duas anteriores grandes potências colonizadoras. Não foi por acaso que De Gaulle nunca foi muito à bola com os EUA. Um dos poucos líderes europeus até hoje a insurgir-se contra a maior fraude financeira de sempre. O dólar. P.S. Só enfatizar um dado de que nunca se fala quando se aborda o crescimento chinês. 25% do seu investimento foi sempre suportado pela sua diáspora. Como África acaba de descobrir para ver se sai da miséria.             FC > Censurado Censurado: Todo esse ódio aos EUA —infelizmente partilhado por demasiada gente, desde a extrema-direita à extrema-esquerda (Veja-se a situação em França onde a Le Pen e Melanchon obtiveram juntos a maioria dos votos, mesmo dizendo bem de Putin..), deve-se, a meu ver, a um sentimento (ressentimento?) europeu de inferioridade em relação aos EUA. Porquê? porque sem os EUA a Europa era carne para canhão para Nazis e Soviéticos. Inveja portanto. E porque a luta pela Liberdade dá muito mais trabalho do que esperar que um gentil ditador "democrata" nos resolva os problemas através de um Estado "magnânimo e justo". Entre os EUA como polícia do mundo e a China ou a Rússia como polícias do mundo, venham vivamente os primeiros. O problema é que desde Obama os próprios EUA se têm afastado do Mundo, deixando-o à mercê de Talibãs, ou de ditadores turcos, sírios, russos ou chineses. É aí que Putin aparece: por ausência de ambição e coesão ocidental. Porque passou a haver um espaço vazio. Quanto a essa ideia de que a Nato quis cercar a Rússia, diga-me então porque é que os EUA, os alemães ou os franceses se opuseram à entrada da Ucrânia na Nato? porque é que arrastaram os pés em relação à sua entrada na UE? E porque é que agora a Finlândia e a Suécia querem deixar de ser "neutros" e passar a pertencer à Nato? Quem é que lhes está a apontar a pistola à cabeça? Os americanos ou os russos? Felizmente, ainda vivemos num pais onde não há censura como na China ou na Rússia, mas onde infelizmente existe muita auto-censura: fica tão bem dizer mal dos EUA...para não ter que dizer abertamente bem dos Putins deste Mundo... Uma maioria silenciosa?         Ah Pois > FC: Você, como toda a gente baralhada de ideias, traz muito pontos ao mesmo tempo o que inviabiliza qualquer resposta. Mas reflicta um pouco se esse seu amor aos EUA tem alguma lógica, quando os próprios americanos confessam que se usam da Europa.             Nuno Casanova > FC: Bravo!            FC  > Ah Pois: Eu tentei responder aos vários pontos levantados por "censurado censurado". Não se trata de amor ou de ódio. Trata-se de estar atento à história e de tomar alguma distância. A retórica a favor ou contra os EUA ou a URSS já é velha, mas o facto é que o ressentimento permanece. E esse, em vez de ser ignorado ou alimentado, deveria ser objecto de uma reflexão. Ou pelo menos deveria ser actualizado. A mim interessa-me a UE. Mas essa como que tende naturalmente à desagregação. Uni-la é quase um acto contra natura. A guerra veio despertar um sentimento novo. O que fazer com a UE? como queremos que ela seja? que papel é que será o nosso nessa ideia? Que sacrifício estamos dispostos a fazer? Essa é a discussão que está na ordem do dia e que acabamos por não ter quando colocamos a nossa visão do mundo na esfera dos nossos ódios de estimação, tantas vezes infundados ou construídos sobre mal entendidos. Esta guerra é uma oportunidade para pensar quem somos e o que queremos ser. A UE nasceu de um desejo de perpetuar a Paz e perante a Guerra, ou resiste ou desaparece. É isso que Zellensky nos recorda todos os dias. Só isso.           Ah Pois > FC: Acho que irá ver dentro de pouco tempo a reviravolta que isto vai dar. Primeiro, não irá haver integração europeia nenhuma inspirada por um país controlado por nazis que andou a praticar genocídio contra o próprio povo desde 2014. Segundo, não se pode cancelar a Rússia nem agora nem nunca. Uma coisa é os americanos se quererem servir da Europa para isso, outra será a realidade. Terceiro, a insatisfação europeia está em crescendo. França, parte da Alemanha, Grécia, parte de Itália. As pessoas começam a conjecturar o que é afinal esta ideologia woke, que pretende aglomerar tudo desde socialistas a nazis, reduzindo a liberdade de informação e expressão em nome duma "democracia" que cada vez o é menos.           FC  > Ah Pois: 2 d: 1"um país controlado por nazis" é o slogan da propaganda russa para justificar a invasão. Não é a realidade. Em 2014 a Rússia financiou separatistas na Crimeia e no Dombass, armou-os e apressou-se a entregar-lhes armas e a reconhecer-lhes a independência e a integração na Federação Russa, fazendo do governo Ucraniano —que naturalmente recusou esse acto— um regime que "massacra o seu próprio povo" porque reage legalmente e militarmente a um acto ilegal e forjado por Putin. Como fez Hitler com os Sudetos alemães em 1938 para justificar a invasão da Checoslováquia onde se integravam essas regiões.2Não se pode cancelar a Rússia, mas deve-se tentar cancelar Putin como se devia cancelar Hitler (e assim foi feito) e como se devia ter cancelado Estaline. Putin é hoje o resultado do uma espécie de Nazismo combinado com Estalinismo. Em todo caso não é um democrata. É um perigoso genocida que interfere na vida de todos nós.3A insatisfacção europeia pode estar de facto em crescendo, mas a maioria ainda quer continuar no Euro. E por pouco "democrática" que seja a nossa democracia (nomeadamente a portuguesa que elegeu com maioria absoluta o Partido Socialista e a sua oligarquia para governar o país ou que admite russos pró-Putin a acolher e investigar refugiados ucranianos), a democracia europeia é mais democrática que a "democracia" Russa ou Chinesa, ou turca ou venezuelana ou síria ou cubana etc... Por isso se a Europa pode estar melhor então mude-se a Europa, democraticamente, em vez de a destruir. Esta é uma boa altura de o fazer. Este é o desafio. Sobre os extremismos europeus sugiro que leia este artigo de Jaime Nogueira Pinto: https://observador.pt/opiniao/a-franca-em-marcha/

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