sábado, 21 de maio de 2022

As perplexidades são coisa ruim


Que por vezes resultam em obras primas como “Tabacaria”, outras em bufonaria, igualmente de engenho genial, como é o caso deste texto de AG, embora tal resulte, por vezes, de verdadeiro sofrimento alheio, mas que seria bem menor, caso não houvesse tanto alarde sobre o problema focado na sua sátira. Alarde exibicionista, com reflexos sobre as criaturas visadas, e sobre o ensino pretensioso esmiuçando temas que pertencem ao foro íntimo e sanitário dessas pessoas e respectivas famílias, tal como é todo esse alarido à volta das variantes sexuais que talvez preferissem não ser tão atentatoriamente visadas numa catalogação extremista, que lhes nega a possibilidade de passar discretamente como seres humanos, apenas, com o direito às suas opções de vida. No fundo, é essa a mensagem que a “peça” de Alberto Gonçalves brilhantemente traduz.

Por uma escola sem segredos, sem intolerância e sem nexo

A quantidade de peritos preocupados com o sexo do corpo discente é directamente proporcional às consumições que o sexo alimenta. Quanto mais criaturas esmiúçam o drama, maior é o drama.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVAOR, 21 mai 2022, 00:267

 “Quatro em cada cinco jovens LGBT ocultam orientação sexual aos docentes”, rezava a manchete do Público na terça-feira. A revelação, sem dúvida escandalosa, consta de um “estudo” do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, o qual, para reforçar a indignidade, acrescentava que os alunos em questão não ocultam a orientação sexual apenas aos docentes, mas também aos funcionários escolares. Não tarda, nem sequer se assumem na papelaria onde compram as sebentas. O mundo está realmente perdido.

No “secundário” da minha juventude não havia segredos. Fôssemos homossexuais ou hétero, pansexuais ou assexuais, a nossa inclinação tornava-se familiar ao professor de Química logo após dez minutos da aula de apresentação. Lembro-me de um colega do 9º ano, o Zé Luís, que não pedia uma tosta mista sem antes informar a senhora do bar de que era (ele, não a senhora) scolio-sexual (o que, ao contrário do que possa parecer, não significa atracção por indivíduos que padecem de escoliose). E lembro-me do entusiasmo da turma no momento em que, a meio de uma partida de voleibol do 11º-F, a Carla Alexandra se confessou uma semi-rapariga panromântica não binária. Eu mesmo liguei de madrugada à “setora” de Inglês para esclarecer dúvidas acerca do simbolismo de um pólo cor-de-rosa que envergara no dia anterior. A franqueza imperava.

E a franqueza era recíproca. Os professores, os funcionários e a senhora das tostas mistas naturalmente partilhavam connosco a sua identidade de género e as suas preferências sexuais. Eis uma saudação típica: “Bom dia a todos! O meu nome é Ricardo Areias, sou o vosso professor de Matemática, gosto de coleccionar moedas e defino-me como ‘genderqueer’ com uns pozinhos de poliamoroso aos sábados. Os pronomes por que atendo são ‘aqueloutrx’ e ‘Y’. Bem, agora vamos lá ouvir com atenção a história da minha relação fluída com três técnicos dos serviços de água e saneamento que quero entrar na trigonometria logo no início do segundo período. Ou do terceiro, vá, que não pretendo criar ansiedade a ninguém.” Hoje, pelos vistos, não há nada disto. Hoje, receio bem, é possível que os próprios professores – e os funcionários, Deus do céu – escondam a sexualidade deles dos alunos.

O que causou tamanho retrocesso? Não foi de certeza a falta de “estudos”, inquéritos, associações, institutos e observatórios dedicados a analisar a situação – e a concluir sempre que está pior. Aliás, fica até a ideia de que a quantidade de peritos preocupados com o sexo do corpo discente (sem trocadilhos) é directamente proporcional às consumições que o sexo alimenta. Quanto mais criaturas esmiúçam o drama, maior é o drama. Quanto maior é o drama, mais criaturas aparecem a esmiuçá-lo. E assim continuamos num círculo vicioso de ocultação, vergonha, bullying e outras calamidades, felizmente denunciadas por investigadores/activistas. As calamidades aumentam de seguida? Aumenta-se, em subsídio e número, os investigadores/activistas. E por aí afora.

Um troglodita reaccionário e negacionista, passe as redundâncias, recomendaria juízo, o fim da histeria e o regresso da criançada a uma vida normal, cheia de dúvidas, maçadas e borbulhas. Sucede que sou uma pessoa sensível, pelo que nunca me ocorreria insinuar a existência de excessiva aflição com as tragédias hormonais da adolescência. Pelo contrário, afirmo sem hesitações que urge incrementar o nível de aflição. Na época actual, já não se justifica ocupar uma percentagem absurda dos programas com “matérias” anacrónicas e desligadas de uma realidade que começa em Harry Styles (um moço que se veste de mulher) e termina em desabafos no Tik Tok.

Se repararmos, em pleno século XXI ainda sobram uns intervalos em que o sistema educativo despeja nas cabeças dos petizes, das petizas e d@s petizex informações ridículas sobre Stuart Mill, Camões e Pitágoras, que além de caducos são símbolos da supremacia branca e do heteropatriarcado (não ponho as mãos no fogo por Pitágoras). É inadmissível. E é tempo precioso que poderia e deveria ser empregue nas supremas funções do ensino: poupar os fedelhos a contrariedades, convencer os fedelhos de que são espectaculares, garantir aos fedelhos que o mundo se curvará aos respectivos pés. Salvaguardadas a Educação Sexual e a Cidadania, importa substituir as restantes disciplinas em vigor por Introdução à Tolerância, Identidade(s) I e II, Inclusividade Avançada, História das Minorias, Culturas Trans(itórias), Princípios de Susceptibilidade, etc. Imagino uma escola repleta de psicólogos, assistentes sociais, sociólogos e gabinetes de apoio. Imagino um “life coach” para cada aluno.

Não imagino é que, em semelhante sarrabulho, alguém aprenda alguma coisa. Óptimo: se aprendesse, no futuro não haveria profissionais disponíveis para dedicar a carreira a “estudar” o grau de intimidade entre professores e alunos. Ou há “estudos”, ou há estudo.

IDENTIDADE DE GÉNERO  SOCIEDADE  DIREITOS LGBTQ   DIREITO   JUSTIÇA

COMENTÁRIOS:

Jose Costa: Brilhante! Só mesmo com ironia se pode aturar tanta imbecilidade.           José Manuel Pereira: É rir que nos faz falta e nada como uma boa crónica do AG para isso, tal como esta,           Antonio Marques Mendes: Brilhante!           FME: Uma delícia de ler. Quanto ao tema, é uma grande machadada na minha antiguidade, já que me desconecta precocemente deste novo mundo em que o género é indefinido. Se eu nascesse agora homem novamente, será que rodeado de tanto pan… iria enjoar os “air-bags” femininos que lutam para rebentar com os decotes? Será que uma bonita prateleira a bambolear-se à minha frente seria apenas uma tipa armada com o cio? Enfim, um mundo novo que nasce para Homens novos, perdão, para hominídeos novos de género indefinido.           Madalena Gaspar: Também vi isso nesse suposto jornal. Mas aquilo era uma peça, a coisa e a "notícia", de tal forma tosca e claramente de propaganda à agenda que se conhece que a quase ninguém deixa dúvidas. O artigo está uma obra excelente de fino humor, mas o assunto é muito grave e mero reflexo de algo global. A esquerda tem toda a educação e os anexos, de ditos laboratórios a institutos e associações, minados de pervertidos e de predadores. Que empenham todo e cada instante das suas vidas naquilo a que em inglês se chama de grooming sexual das crianças. Já vai muito mais avançado no asilo anglo-saxónico, mas por cá vão também apressando muito esse caminho. Pretendem e começam pelo trabalho de sexualização precoce das crianças, mas o intuito final é dinamitar e desconstruir todas as "opressões", que são as censuras que ainda existem, inclusive como crime, e que impedem que os adultos possam livremente desenvolver e concretizar as suas "atracções românticas" pelas crianças. Ou os pais se começam a informar, a abrir os olhos e a acertar o passo a estes predadores ou só vão perceber o que se está a passar quando o Joãozinho aparecer em casa a sangrar do rabo e tenha que ser levado ao médico para cozer ou então a dizer que aprendeu na escola que se deve castrar e passar a chamar-se Joaninha. Às meninas os próprios predadores pagarão os abortos às escondidas.            José Paulo > C Castro: Já estivemos muito mais longe desse cenário. A escola é hoje um laboratório de conhecimentos subjectivos. Por enquanto, afecta o discurso do professor de Matemática. Depois, será a própria Matemática.            Fernando Gonçalves: LGBT? Lager, games, bacon and tits, right?

 

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