Não obstante a perda do pai, desaparecida
a mãe praticamente ao nascer, tantos traumas já, numa pequena vida. É claro que
todos ficamos felizes, com este caso de uma menina que assim poderá ficar grata
ao presidente russo, que dela se serviu para propaganda pessoal. Mas não
esquecemos os outros - meninos e velhos e de todas as idades, de destinos
incertos, de sofrimentos absurdamente impostos com tal malvadez, que a tantos trucidou.
Será que os Russos aceitam tão facilmente tais desgraças que não são só
alheias, mas que incidem sobre os seus próprios naturais, a quem se deu ordem
de matar e ocasionalmente de morrer?
Um caso feliz, que a menina de doze anos
lembrará para sempre com terror.
Menina de 12 anos que ficou órfã em
Mariupol e foi levada por russos reencontra-se com o avô
Kira Obedinsky ficou órfã após a morte
do pai num ataque ao prédio onde se refugiava. Foi levada pelas forças russas e
acabou em Donetsk, onde foi 'usada' pela propaganda russa. Já reencontrou o
avô.
OBSERVADOR, 04 mai 2022
▲Reencontro
entre Kira e o avô foi possível devido a um acordo entre a Ucrânia e a Rússia
Uma
menina de 12 anos, que perdeu o pai num ataque em Mariupol já está junto do
avô. Alexsandr Obedinsky reencontrou-se com a neta na região separatista de
Donetsk, para onde Kira foi levada pelos russos depois da morte do pai.
Kira
Obedinsky teve alta do hospital pediátrico de Kiev esta terça-feira e vai ficar
a viver com o avô. Antes de sair, na semana passada, recebeu a visita do
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que lhe ofereceu um iPad. “Ela não
conseguia acreditar que aquilo lhe estava a acontecer. Todos nós precisamos de
emoções positivas agora, a Kira também”, disse o avô, Alexsandr Obedinsky, de
67 anos, citado pelo The Guardian.
A história de Kira deu muitas voltas até
ali chegar. Nos
primeiros dias da guerra, refugiou-se numa cave de vizinhos, em Mariupol, com o
pai, a madrasta (Anya) e os filhos desta. O edifício foi atingido num ataque:
todos, incluindo Kira, foram retirados dos escombros por equipas de resgate,
excepto o pai, que não sobreviveu. A menina, que já tinha perdido a mãe duas
semanas depois de nascer, ficou órfã.
Anya decidiu retirar as crianças de
Mariupol, mas quando tentavam sair da cidade sitiada, uma delas pisou uma mina.
No caos que se gerou, Kira acabou nas mãos de soldados russos, que a levaram a
sangrar dos estilhaços para o hospital regional de Donetsk, região controlada
pelos separatistas.
Kira
chegou mesmo a aparecer na televisão estatal russa para mostrar que os cidadãos
ucranianos estariam a ser bem tratados e que ela própria não tinha sido raptada. Também gravou um vídeo para o avô, a mostrar que
estava bem, mas Alexsandr não acreditou. À CNN Internacional, a
menina contaria mais tarde que o hospital não tinha espaço suficiente para toda
a gente, a comida era má, as enfermeiras “gritavam”.
Um áudio divulgado pela CNN Internacional e enviado a
Alexsandr mostra Kira a
dizer que quer chorar: “Não te vejo há tanto tempo”, diz. Alexsandr conta que
um oficial de Donetsk o convidou a ir buscá-la, mas tal não foi possível por
causa da guerra. O avô ligou para o hospital que o informou que Kira seria
levada para um orfanato na Rússia. Alexsandr empenhou esforços para se
reencontrar com a neta: “Bati em todas as portas, a da Cruz Vermelha, o
nosso governo”, revela.
Esse
reencontro, que aconteceu na semana passada, foi possível devido a um acordo
entre a Ucrânia e a Rússia. A
vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, telefonou a Alexsandr a
informá-lo de que seria possível “trazer a Kira de volta”. Para que isso
acontecesse, o avô teria de ir para Donetsk. “Ela perguntou se estava
disponível para o fazer, com garantias de segurança do Presidente Zelensky. Eu
disse que estava pronto e levaram-me”.
Alexsandr
chegou a Kiev a 17 de abril para discutir a logística da viagem que o levaria à
neta. Começou por ir para a Polónia, de onde partiu para a Turquia e daí para
Rostov, na Rússia, com destino a Donetsk. “Passámos lá a noite e de manhã
levaram-me à Kira. Estava outra mulher comigo, que também lá foi para trazer o
neto”, explica.
O
momento em que voltou a pôr os olhos na neta foi emocionante, refere. Kira
parecia-lhe saudável, com calças de ganga e uma camisola. Os dois voltaram
juntos pela mesmo rota que Alexsandr seguiu para ir buscar a neta. A Kiev
chegaram a 26 de abril e Kira foi logo internada no hospital pediátrico de
Ohmatdyt, onde recebeu a visita de Zelensky.
Avô
e neta ainda não conversaram sobre a morte do pai. “Ela não gosta de falar
sobre isso” e Alexsandr diz que também não insiste, até porque a menina está a
ser seguida por psicoterapeutas. “Está ok, tendo em conta aquilo por que
passou”, sintetiza. Kira vai ficar a viver com o avô, em Chernivtsi, no
sudoeste da Ucrânia.
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