Que o regresso ao Decálogo, não fosse de
prática lectiva necessária, introdutória de cada aula, como espécie de tabuada
a fixar, pelo menos no que toca aos cinco ou seis mandamentos que ordenam o
apoio em princípios subjacentes ao reconhecimento do Homem como entidade que se
governa não só pelo instinto, como os Bichos, mas por valores morais impostos aquando
do seu estabelecimento por Moisés: honrar os pais, não furtar, não matar, não
cobiçar coisas alheias, respeitar o próximo ……
Seria apenas um ponto de partida
obrigatório, como educação necessária. Mas o Ministério da Educação é o
primeiro a transgredir, a não respeitar a sanidade física e intelectual dos
professores, com o excesso burocrático que os impede de dedicar tempo ao estudo,
e dificilmente assim a instrução cobrirá os parâmetros da cultura a dinamizar, em
cada disciplina, coisa, naturalmente, imprescindível, mau grado o pessimismo de
Salles da Fonseca, no texto
que segue:
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA A BEM DA NAÇÃO, 08.05.22
Desta
vez, refiro-me a um quase-continente cheio de caipiras e de jagunços.
Desse
país era oriundo o motorista que há dias nos conduziu em breve percurso em
Lisboa e que afirmo que, «por lá, o ensino privado não chega nem à sombra do
ensino público em Portugal». Fiquei contente por saber que aquele imigrante
se sente bem por cá e fiquei triste por ter a confirmação de que ainda não
foi desta vez que aquele quase-continente conseguiu democratizar a educação de
qualidade. E digo «educação» pois à Escola actual não competia apenas a
«instrução». Porquê? Por duas razões que me parecem fundamentais:
1. A destruição (mais ou menos intencional) da família; 2. O
imediatismo consumista, exibicionista e hedonista que tomou conta dos
objectivos dos actuais cidadãos do mundo.
E
é este ser - que vagueia pelas selvas urbanas e que as televisões exibem
doentiamente que só aceita direitos rejeitando as obrigações - que vem pondo
filhos no mundo. Estes, pois, os que têm que ser educados e não apenas
instruídos. Por muito
que nos custe, temos que admitir que a missão é a de transformar «bichos»
mais ou menos bárbaros em cidadãos responsáveis. Por isto, os Ministérios passaram a ser da
Educação e não mais da Instrução. Eis por que ao pessoal docente e não
docente se tem de pedir que sejam domadores de feras e, em paralelo, que sejam
exemplos de civismo, de ética e de moral. Oxalá que sobre tempo para ministrar
os programas curriculares.
Assim
respondo à pergunta de Schiller por que é que ainda somos uns
bárbaros.
Sem
pretensões de esgotar o tema, avanço com mais um mote para reflexão: - Bárbaro é todo aquele que ignora o Decálogo.
Continuemos… Henrique Salles da Fonseca
Tags: filosofia
COMENTÁRIOS:
Adriano Miranda Lima 08.05.2022: No entanto, Dr. Salles, à nossa política de Educação tem
faltado uma verdadeira planificação com objectivos estratégicos bem definidos
no tempo e apoiados com meios adequados. Falta, essencialmente, uma
política que valorize a classe dos professores, o que passa não apenas pela sua
cuidada formação académica como pelo seu estatuto remuneratório. Falo com
conhecimento de causa porque sou pai de duas professoras do ensino secundário.
A mais velha, licenciada em Biologia, está no ensino há 23 anos e recebe mensalmente
o que a minha empregada doméstica consegue realizar no mesmo período. A mais
nova, licenciada em História, teve de desistir do ensino há 18 anos porque as
colocações que foi conseguindo eram intermitentes e longe da sua residência,
pelo que não era compensadora a remuneração que auferia. Hoje, parece não
haver professores suficientes para as necessidades, e a tendência é para um
agravamento do défice. Ora, quando a minha filha mais nova iniciou a
carreira, havia excesso de licenciados em História, e daí não ter conseguido
estabilidade nas suas colocações, tendo tido necessidade de mudar de vida.
É por demais evidente que a planificação não
tem funcionado. Aliás, em outros sectores não somos nem nunca fomos
dados a planificar para atingir objectivos à distância, somos mais inclinados
para acudir ao imediato, e não vale a pena explicar as razões, porque elas são
bem conhecidas. Por esta e por outras é que países do Leste que entraram
para a UE bem depois de Portugal já nos ultrapassaram em produtividade
económica. Perante isto, a
consecução dos objectivos de uma boa Educação requer que ao sector seja dada a
prioridade que merece. Só assim conseguiremos ter “domadores de feras”
competentes e motivados, Sr. Doutor.
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