segunda-feira, 9 de maio de 2022

Não digo que não


Que o regresso ao Decálogo, não fosse de prática lectiva necessária, introdutória de cada aula, como espécie de tabuada a fixar, pelo menos no que toca aos cinco ou seis mandamentos que ordenam o apoio em princípios subjacentes ao reconhecimento do Homem como entidade que se governa não só pelo instinto, como os Bichos, mas por valores morais impostos aquando do seu estabelecimento por Moisés: honrar os pais, não furtar, não matar, não cobiçar coisas alheias, respeitar o próximo ……

Seria apenas um ponto de partida obrigatório, como educação necessária. Mas o Ministério da Educação é o primeiro a transgredir, a não respeitar a sanidade física e intelectual dos professores, com o excesso burocrático que os impede de dedicar tempo ao estudo, e dificilmente assim a instrução cobrirá os parâmetros da cultura a dinamizar, em cada disciplina, coisa, naturalmente, imprescindível, mau grado o pessimismo de Salles da Fonseca, no texto que segue:

DOS BICHOS E DOS HOMENS

HENRIQUE SALLES DA FONSECA          A BEM DA NAÇÃO, 08.05.22

Desta vez, refiro-me a um quase-continente cheio de caipiras e de jagunços.

Desse país era oriundo o motorista que há dias nos conduziu em breve percurso em Lisboa e que afirmo que, «por lá, o ensino privado não chega nem à sombra do ensino público em Portugal». Fiquei contente por saber que aquele imigrante se sente bem por cá e fiquei triste por ter a confirmação de que ainda não foi desta vez que aquele quase-continente conseguiu democratizar a educação de qualidade. E digo «educação» pois à Escola actual não competia apenas a «instrução». Porquê? Por duas razões que me parecem fundamentais: 1. A destruição (mais ou menos intencional) da família; 2. O imediatismo consumista, exibicionista e hedonista que tomou conta dos objectivos dos actuais cidadãos do mundo.

E é este ser - que vagueia pelas selvas urbanas e que as televisões exibem doentiamente que só aceita direitos rejeitando as obrigações - que vem pondo filhos no mundo. Estes, pois, os que têm que ser educados e não apenas instruídos. Por muito que nos custe, temos que admitir que a missão é a de transformar «bichos» mais ou menos bárbaros em cidadãos responsáveis. Por isto, os Ministérios passaram a ser da Educação e não mais da Instrução. Eis por que ao pessoal docente e não docente se tem de pedir que sejam domadores de feras e, em paralelo, que sejam exemplos de civismo, de ética e de moral. Oxalá que sobre tempo para ministrar os programas curriculares.

Assim respondo à pergunta de Schiller por que é que ainda somos uns bárbaros.

Sem pretensões de esgotar o tema, avanço com mais um mote para reflexão: - Bárbaro é todo aquele que ignora o Decálogo.

Continuemos                  Henrique Salles da Fonseca

Tags: filosofia

COMENTÁRIOS:

Adriano Miranda Lima 08.05.2022: No entanto, Dr. Salles, à nossa política de Educação tem faltado uma verdadeira planificação com objectivos estratégicos bem definidos no tempo e apoiados com meios adequados. Falta, essencialmente, uma política que valorize a classe dos professores, o que passa não apenas pela sua cuidada formação académica como pelo seu estatuto remuneratório. Falo com conhecimento de causa porque sou pai de duas professoras do ensino secundário. A mais velha, licenciada em Biologia, está no ensino há 23 anos e recebe mensalmente o que a minha empregada doméstica consegue realizar no mesmo período. A mais nova, licenciada em História, teve de desistir do ensino há 18 anos porque as colocações que foi conseguindo eram intermitentes e longe da sua residência, pelo que não era compensadora a remuneração que auferia. Hoje, parece não haver professores suficientes para as necessidades, e a tendência é para um agravamento do défice. Ora, quando a minha filha mais nova iniciou a carreira, havia excesso de licenciados em História, e daí não ter conseguido estabilidade nas suas colocações, tendo tido necessidade de mudar de vida. É por demais evidente que a planificação não tem funcionado. Aliás, em outros sectores não somos nem nunca fomos dados a planificar para atingir objectivos à distância, somos mais inclinados para acudir ao imediato, e não vale a pena explicar as razões, porque elas são bem conhecidas. Por esta e por outras é que países do Leste que entraram para a UE bem depois de Portugal já nos ultrapassaram em produtividade económica. Perante isto, a consecução dos objectivos de uma boa Educação requer que ao sector seja dada a prioridade que merece. Só assim conseguiremos ter “domadores de feras” competentes e motivados, Sr. Doutor.

 

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