domingo, 31 de março de 2024

Páscoa


Um dia bonito, no seu significado de regresso. Mas as guerras hoje, por lá, onde Jesus andou e ressuscitou, resultam em ironia. Macabra, ajudando à descrença. Um suave texto de reflexão, pelo Sr. P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA, a quem agradecemos, pelo prazer colhido. À Internet também, pela revisão do conceito.

O Paradoxo da Páscoa

Nas ressurreições de Lázaro e dos filhos de Jairo e da viúva de Naim não houve nenhuma dúvida quanto à identidade do ressuscitado. Não assim com Jesus de Nazaré.

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA, Colunista

OBSERVADOR, 30 mar. 2024, 00:1714

São Paulo é categórico, ao afirmar que a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã: “se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé (…). Se somente nesta vida esperamos em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Cor 15, 17.19). Este acontecimento, embora atestado por inúmeras testemunhas, permanece misterioso, porque os que melhor conheciam Jesus não foram capazes de O identificar, quando O viram logo após a sua ressurreição. Paradoxo da Páscoa: como podem ser garantes do fundamento da fé cristã aqueles que, conhecendo-o tão bem, não O reconheceram depois da sua ressurreição?!

Os Evangelhos referem três ressurreições atribuídas a Cristo: a de Lázaro (Jo 11-1-44), a da filha de Jairo (Mt 9, 18-26) e a do filho da viúva de Naim (Lc 7, 11-17). Nestes três casos não houve nenhuma dúvida quanto à identidade do ressuscitado, pois foi sempre óbvio que se tratava da mesma pessoa. Não assim com Jesus de Nazaré.

São Marcos refere as diferentes aparições de Cristo no dia da sua ressurreição: primeiro a Maria Madalena, depois aos discípulos de Emaús e, “finalmente, aos próprios onze, quando estavam à mesa” (Mc 16, 14). Na segunda aparição, Jesus de Nazaré “apareceu com um aspecto diferente”. Mas, não é pela aparência que se conhecem as pessoas?! Se o aspecto era diferente, como podiam saber que era a mesma pessoa?!

São Lucas diz que, quando as mulheres foram ao sepulcro, “apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, eles disseram-lhes: ‘Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!’” (Lc 24, 5-6). São Mateus e São Marcos esclarecem que quem lhes apareceu foi um “anjo do Senhor”, cujo “aspecto era como de um relâmpago; e a sua túnica branca como a neve” (Mt 28, 2-3; Mc 16, 5-8).

Em relação a esta aparição há, portanto, discordâncias quanto à natureza e número: apareceram dois homens, como disse Lucas; ou um anjo, como referiram Mateus e Marcos?! Se um anjo é tido por dois homens, a aparição de Cristo ressuscitado não pode ser também a de um anjo?! Neste caso, não provaria a ressurreição do Nazareno, até porque aquele que é mentiroso e pai da mentira (Jo 8, 44) pode disfarçar-se de anjo de luz (2Cor 11,14) e dar assim a conhecer, como real, o que poderia nunca ter acontecido.

São Lucas refere, com muito pormenor, a aparição de Jesus aos dois de Emaús. Como discípulos que eram, deviam conhecer bem o Mestre. No terceiro dia depois da morte de Cristo na cruz, decidiram regressar à sua terra. Foi então que se “aproximou deles o próprio Jesus, e se pôs com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de O reconhecer(Lc 24, 15-16). Esta sua incapacidade para reconhecerem o seu Mestre é muito suspeita, não apenas porque eram seus alunos, mas também porque foi dele que falaram demoradamente: “começando por Moisés e seguindo por todos os profetas, [Jesus] explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito” (Lc 24, 27). Ou seja, estão com Ele, a falar dele, e não O reconhecem?! É caso para perguntar: seria mesmo Jesus de Nazaré?! Só ao fim do dia, quando fazem uma paragem, para tomar uma refeição, é que, ao partir Jesus o pão, “os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença” (Lc 24, 31).

É paradoxal este testemunho dos discípulos de Emaús: como acreditar em quem, sendo discípulo do Mestre, está com Ele, horas a fio, e não O reconhece?! Se se afirma a sua inicial cegueira, quanto à identidade do estranho transeunte, como aceitar que, depois, vejam a Jesus de Nazaré?! Se não era crível o seu primeiro testemunho, quando não reconheceram o Mestre, porque há-de sê-lo o segundo, quando identificam o seu companheiro de viagem?! Não seria mais razoável crer que era verdadeiro o seu primeiro testemunho, que era também o mais natural, e que o que viram, ao lusco-fusco, quando caiu a noite e estavam já cansados do caminho, foi uma alucinação?! Se assim tivesse sido, ficaria também explicado o súbito desaparecimento posterior de Cristo.

Quando Jesus apareceu, no dia da sua ressurreição, aos apóstolos, estes, “dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito” (Lc 24, 37). Ora, uma tal perturbação não aconteceu nas outras ressurreições, em que ninguém duvidou de que se tratava da mesma pessoa, em corpo e alma. Se Lázaro e os filhos de Jairo e da viúva de Naim, depois de ressuscitados, não foram confundidos com nenhum espírito, foi o corpo de Cristo ressuscitado que apareceu aos apóstolos?! Porque a dúvida era pertinente, o suposto ressuscitado disse aos espantados e atemorizados discípulos: “‘Vede as minhas mãos e pés: sou eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne, nem ossos, como verificais que eu tenho’. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.” (Lc 24, 39-40). Como nem assim ficaram convencidos de que era Ele mesmo, “perguntou-lhes: ‘Tendes aí alguma coisa que se coma?’ Deram-lhe um bocado de peixe assado; e tomando-o, comeu diante deles” (Lc 24, 41-43).

Não consta que nenhum espírito coma, mas também não é natural que um verdadeiro corpo apareça e desapareça. Com efeito, misteriosas são as suas aparições e desaparições. Depois de os de Emaús O terem reconhecido, “ele desapareceu” (Lc 24, 31). Mais tarde, quando estes discípulos contavam aos apóstolos o que lhes tinha acontecido, “Jesus apresentou-se no meio deles” (Lc 24, 36). Não aparece naturalmente, mas surge, instantaneamente, num sítio onde antes não estava. É o que também diz São João: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles” (Jo 20, 19).

É o evangelista João quem refere que Maria Madalena, estando junto ao túmulo, “contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Perguntaram-lhe: ‘Mulher, porque choras?’ E ela respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram.’ Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta de que era ele. E Jesus disse-lhe: ‘Mulher, porque choras? A quem procuras?’ Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: ‘Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo.’ Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’ Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: ‘Rabbuni!’ – que quer dizer: ‘Mestre!’” (Jo 20, 12-18).

Mais uma vez alguém, que conhecia muito bem Jesus e que o tratava com a distância e reverência devida pela criatura ao Criador e pela discípula ao mestre, não O reconhece, apesar de estar a falar com Ele e dele!! Mais uma razão para duvidar de que fosse mesmo Jesus, embora ela estivesse certa de que assim era e, por isso, de seguida, foi “e anunciou aos discípulos: ‘Vi o Senhor!’” (Jo 20, 18).

É sabido que Tomé estava ausente, quando Jesus apareceu aos demais apóstolos, no dia da sua ressurreição. Não tendo acreditado no unânime testemunho deles, disse: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito” (Jo 20, 25). Não obstante a impertinência da sua reivindicação, Jesus apareceu uma semana depois e “disse a Tomé: ‘Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Tomé respondeu-lhe: ‘Meu Senhor e meu Deus!’” (Jo 20, 27-28). Como é possível que Jesus pudesse mostrar as suas chagas a Tomé e as não tivessem visto os discípulos de Emaús?! Quer isto dizer que Cristo ressuscitado tem várias aparências, nem sempre coincidentes?!

É o que também se deduz de um outro episódio, quando, “ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele” (Jo 21, 4). Disse-lhes que deitassem as redes para o lado direito da barca e, graças à pesca milagrosa, reconheceram-no. Pela sua aparência e voz não O tinham identificado, apesar de ser a terceira vez que aparecia aos apóstolos, e a quarta a Pedro!

Não restam dúvidas de que Cristo ressuscitou, como todos os apóstolos e mártires testemunharam e confirmaram, não apenas com a sua palavra, mas também com a sua vida. Mas, por que razão os evangelistas não ocultaram esta manifesta dificuldade de os seus mais próximos amigos O reconhecerem, depois de ressuscitado?! Não seria mais fácil crer na ressurreição de Jesus se o seu reconhecimento, por aqueles que melhor O conheciam, tivesse sido imediato?!

Esta aparente contradição é o paradoxo da Páscoa, que tem fácil explicação: enquanto Lázaro e os filhos de Jairo e da viúva de Naim apenas regressaram à vida mortal que antes tinham, tendo todos eles voltado a morrer, Jesus de Nazaré ressuscitou para uma nova vida na glória. Os evangelistas atestam a realidade da sua ressurreição, bem como a certeza da sua identidade e realidade corpórea, sublinhando a sua misteriosa transcendência, que a razão humana não pode compreender. Por isso, embora a ressurreição de Cristo seja uma evidência, é também um mistério, a que só se pode aceder pela fé. Se a ressurreição fosse apenas voltar à vida anterior, mais do que graça seria, como as cíclicas reencarnações em que acreditam algumas religiões orientais, uma maldição e uma desgraça.

À imagem e semelhança de Cristo ressuscitado, todos os homens estão destinados à glória, que consiste na participação da plenitude do amor que Deus é, e a que se acede, segundo a esperança cristã, pela profissão da fé e a prática da caridade. Santa Páscoa!

PÁSCOA    SOCIEDADE

COMENTÁRIOS (de 14)

Nuno Alves: Que nesta Páscoa os que apenas reconhecem um Jesus humano, possam reconhecer um Jesus divino. Que os nossos olhos se abram para a porta desconcertante, da ressurreição aberta para nós. Santa Páscoa.               Ana Luís da Silva > bento guerra Tem razão quando diz que é estranho para nós seres humanos que Deus se apresente como Cristo sofredor, pregado numa cruz. Para o entender é necessário começar a entrar na pedagogia da Salvação. Para nós, seria mais “compreensível” que Deus se apresentasse Todo-poderoso. A dinâmica da liberdade que permite ao ser humano salvar-se ou não, exige que Deus não se imponha pelo lado do poder, mas pelo lado do amor, da conversão do coração (entendido como o centro da pessoa: a sua vontade, a sua inteligência, a sua alma). Por outro lado, Deus que se entrega para nos salvar, só pode ser entendido se reconhecermos que precisamos de ser salvos. Tal implica um caminho pessoal que nem todos estamos dispostos a trilhar. Opções..               Ana Luís da Silva: Excelente texto! Muito obrigada ao padre Portocarrero de Almada por esta meditação tão consoladora para o tempo de silêncio e reflexão de sábado santo. Bem-haja e votos de Santa Páscoa.                        Lily Lx: Santa Páscoa!

NOTAS:

TEXTO DA INTERNET: Significado de Páscoa Cristã

A Páscoa Cristã é uma das festividades mais importantes para o cristianismo, pois representa a ressurreição de Jesus Cristo, o filho de Deus.

A data é comemorada anualmente no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no início da primavera (no Hemisfério Norte) e do outono (no Hemisfério Sul). A data é sempre entre os dias 22 de março e 25 de abril.

Dentro do cristianismo, diferentes religiões e denominações celebram a Páscoa de maneira diferente. Por exemplo, os protestantes celebram de maneira diferente que os católicos. Enquanto os católicos são encorajados a não comer carne na Quaresma, para os protestantes não existe essa restrição. Além disso, os protestantes não costumam celebrar todos os dias da Semana Santa como os católicos, dando mais importância à Sexta Feira Santa e Domingo de Páscoa.

Durante os 40 dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa - período conhecido como Quaresma - os católicos dedicam-se à penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz.

A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, ocasião em que as pessoas cobriam a estrada com folhas da palmeira, para comemorar a sua chegada.

A Sexta Feira Santa é o dia em que os cristãos celebram a morte de Jesus na cruz. E por fim, com a chegada do Domingo de Páscoa, os cristãos celebram a Ressurreição de Cristo e a sua primeira aparição entre os seus discípulos.

A Páscoa já era comemorada antes do surgimento do Cristianismo. Tratava-se da comemoração do povo judeu por terem sido libertados da escravidão no Egipto, que durou aproximadamente 400 anos.

Segundo a Bíblia, supostamente Jesus teria participado de várias celebrações pascais. Quando tinha doze anos de idade foi levado pela primeira vez pelos seus pais, José e Maria, para comemorar a Páscoa, conforme narram algumas das histórias do Novo Testamento da Bíblia.

A mais famosa participação relatada na bíblia foi a "Última Ceia", onde Jesus e os seus discípulos fizeram a "comunhão do corpo e do sangue", simbolizados pelo pão e pelo vinho.

As dores íntimas


As mais poderosas.

Putin está a sofrer, conquanto se abstenha.

De participar nas homenagens às vítimas dos atentados, levando flores e concentrando-se.

Em directo/ Europa está em era de "pré-guerra", avisa primeiro-ministro polaco Donald Tusk

PM polaco diz não estar a "exagerar" e reforça que "qualquer cenário é possível". Força Aérea ucraniana diz que russos atacaram com 12 drones durante a madrugada.

BEATRIZ FERREIRA: Texto

CÁTIA BRUNO: Texto

Actualizado há 1h

OLIVIER MATTHYS/EPA

Momentos-chave

Há 1hUcrânia instala 10 mil dentes de dragão em redor de Kiev

Há 1hAtaque russo provoca dois mortos em Krasnohorivka, Donetsk

Há 2hEconomia na Ucrânia cresceu 5,3% em 2023

Há 5hAtaques russos em Kherson e Kharkiv matam uma pessoa e ferem três

Há 6hDiplomatas estrangeiros depositam flores em homenagem a vítimas de atentado em Moscovo

Há 7hPutin não tem participado em homenagens a vítimas dos atentados. Kremlin diz que "isso não significa que não sofra"

Há 9hEuropa está numa era de "pré-guerra", avisa Tusk, que diz que "literalmente qualquer cenário é possível

Há 9hMais de 1.700 instituições culturais ucranianas sofreram danos em resultado dos ataques russos

Há 11hZelensky faz mudanças na sua equipa política

Há 11hAtaque com drones à Ucrânia durante a noite

Actualizações em directo

Há 1h19:23 Tiago Caeiro

Ucrânia instala 10 mil dentes de dragão em redor de Kiev

Quase dez mil pirâmides de cimento foram colocadas na região de Kiev, como parte de uma estratégia para fortalecer a defesa daquela região ucraniana, escreve o Kyiv Independent, citando o governador Ruslan Kravchenko.

A operação inclui a construção de um extenso sistema de trincheiras, abrigos, valas antitanque e outras barreiras não explosivas, segundo Kravchenko.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou em março que o país estava a construir mais de dois mil quilómetros de fortificações.

Segundo o Wall Street Journal, a Ucrânia espera um ofensiva russa na primavera.

Há 1h19:11 Tiago Caeiro

Ataque russo provoca dois mortos em Krasnohorivka, Donetsk

Pelo menos duas pessoas morreram e uma ficou ferida, num ataque de artilharia russo à cidade de Krasnohorivka, na linha da frente da região de Donetsk, avança o Kyiv Independent, citando o gabinete do procurador-geral da Ucrânia.

As duas vítimas mortais são dois idosos: um homem de 73 anos e uma mulher de 70, que se encontravam nas respectivas casas.

O governador ucraniano da região de Donetsk, Vadym Filashkin, diz que a cidade de Krasnohorivka (que, antes da guerra, tinha cerca de 16 mil habitantes) é um “dos locais mais perigosos do país” e pede aos habitantes que ainda se encontram na cidade para que saiam.

Recorde-se que cerca de 40% do oblast de Donetsk ainda se encontra nas mãos ucranianas.

Há 2h19:01 Tiago Caeiro 

Oligarca terá dirigido campanha para promover propaganda russa junto do Parlamento Europeu

O ucraniano Viktor Medvedchuk, exilado na Rússia, terá levado a cabo uma operação de propaganda pró-Kremlin junto dos deputados europeus, sendo que alguns poderão ter recebido dinheiro de Moscovo.

Há 2h18:24 Alexandra Machado 

Economia na Ucrânia cresceu 5,3% em 2023

A Ucrânia registou um crescimento do PIB de 5,3% em 2023, depois de uma queda de 28,8% em 2022, quando começou a invasão da Rússia.

O dado preliminar foi divulgado pelo organismo de estatísticas ucraniano.

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Segundo o El Mundo, o crescimento supera as expectativas dos analistas.

O Banco Nacional da Ucrânia, em janeiro, estimou um crescimento de 5,7% em 2023, projectando para 2024 um crescimento de 3,6%, cortando a projeção para 2025 de 6% para 5,8%. Para o primeiro trimestre deste ano, no entanto, melhorou a projeção para 7,1% para 5,4%, antecipando um abrandamento para 4,8% no segundo trimestre.

Já quando apresentou o Orçamento do Estado em novembro, o governo ucraniano apontou para 2024 um crescimento de 4,6%, menos que a projeção de 5% anterior. E o FMI aponta para um abrandamento este ano de 3-4%.

Há 4h16:23 Agência Lusa 

PPE quer debate urgente no Parlamento Europeu após deteção de rede de propaganda russa

O Partido Popular Europeu (PPE) apelou hoje a um debate urgente no Parlamento Europeu, depois de a instituição ter anunciado na sexta-feira estar a analisar a denúncia de que eurodeputados estão a ser pagos para difundir propaganda pró-russa e influenciar as eleições europeias.

“Na sequência das revelações sobre a interferência russa na Europa, o grupo PPE apela a uma sessão plenária urgente no Parlamento Europeu”, afirmou em comunicado o partido com mais assentos no Parlamento Europeu e o que actualmente ocupa a presidência da instituição, liderada por Roberta Metsola.

O PPE destacou a sua “firme oposição à desinformação e propaganda” que é lançada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, que “representa um perigo para a democracia e que deve ser denunciado a todos os níveis”.

Na sexta-feira, um porta-voz de Metsola disse que a presidente do Parlamento Europeu está ciente das acusações, “estando a analisá-las”.

Isto acontece depois de, na quarta-feira, o primeiro-ministro da República Checa, Petr Fiala, ter anunciado que os serviços secretos checos desmascararam uma rede financiada por Moscovo que estava a difundir propaganda pró-russa sobre a Ucrânia e estendia a sua influência até ao Parlamento Europeu.

O portal de notícias Voice of Europe, com sede em Praga (capital da República Checa), estava a ser usado para espalhar informação destinada a dissuadir a União Europeia (UE) de ajudar a Ucrânia na sua luta contra a invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.

Segundo Fiala, a rede pró-russa agora desmascarada pelos serviços secretos checos (BIS) desenvolvia actividade que “poderia ter um efeito significativo na segurança da República Checa e da UE”.

Segundo o jornal Denik N, os políticos europeus que cooperam com o ‘site’ de informação Voice of Europe, que divulgou apelos de alguns deles para deixarem de ajudar a Ucrânia, foram pagos com dinheiro russo, que também financiou campanhas para as próximas eleições europeias.

Os pagamentos envolvem políticos de países como Bélgica, França, Alemanha, Hungria, Países Baixos e Polónia, de acordo com o jornal, que cita uma fonte diplomática checa. Essa fonte sublinhou ainda o envolvimento do partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD).

O serviço de imprensa do Parlamento Europeu explicou que a instituição está a averiguar as acusações relativas ao site Voz da Europa, em torno do qual esta rede de influência pró-russa foi supostamente desenvolvida.

Há 5h15:53 Joana Moreira:

Ataques russos em Kherson e Kharkiv matam uma pessoa e ferem três

Uma pessoa morreu e três ficaram feridas nas últimas 24 horas em ataques russos em Kherson e Kharkiv, informaram as autoridades ucranianas, citadas pelo jornal Telegraph.

Foi na cidade de Kherson que uma pessoa foi morta e outra ficou ferida na sequência dos ataques. Em Kupiansk, Kharkiv, um homem de 87 anos ficou ferido quando um edifício residencial de cinco andares foi atingido. O terceiro ferido é um homem de 28 anos, que assim ficou quando um dispositivo explosivo foi detonado na aldeia de Pokotylivka, também em Kharkiv. A informação foi avançada pelo governador Oleksandr Prokudin, no Telegram, cita o meio britânico.

Há 6h15:07 Joana Moreira:

A Rússia "mantém uma vantagem quantitativa significativa" na guerra

“A Rússia mantém uma vantagem quantitativa significativa no conflito, superando a Ucrânia em número de munições e equipamento”, afirmou o ministério da Defesa do Reino Unido, através da rede social X.

“É provável que esteja a recrutar cerca de 30.000 efectivos adicionais por mês e pode, muito provavelmente, continuar a absorver as perdas e a prosseguir os ataques destinados a desgastar as forças ucranianas.”

Há 6h14:48 Cátia Bruno:

Diplomatas estrangeiros depositam flores em homenagem a vítimas de atentado em Moscovo

Vários diplomatas estrangeiros prestaram hoje homenagem às vítimas do atentado no Crocus City Hall, em Moscovo, participando na cerimónia prevista para este sábado e depositando flores no local.

Segundo a agência Reuters, estiveram presentes representantes das embaixadas norte-americana e britânica, de vários países da União Europeia e ainda diplomatas de países africanos e da América Latina.

A Sky News nota que a agência de notícias russa RIA se referiu à participação de alguns representantes de “Estados hostis” na homenagem.

Há 7h13:33 Agência Lusa

Putin não tem participado em homenagens a vítimas dos atentados. Kremlin diz que "isso não significa que não sofra"

O Kremlin garantiu hoje que o Presidente russo, Vladimir Putin, que ainda não compareceu a qualquer homenagem às vítimas do ataque perto do Moscovo, nem visitou as famílias ou os feridos, sente dor pelo sucedido.

“O chefe de Estado sente-se pessoalmente e totalmente preocupado com este tipo de tragédias. Acredite, mesmo que não veja lágrimas no seu rosto, isso não significa que ele não sofra”, disse o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, numa curta entrevista transmitida hoje.

“É improvável que alguém saiba e entenda o que ele está a passar, incluindo você e eu”, acrescentou Peskov, dirigindo-se a um dos jornalistas.

Em 22 de março, homens armados entraram no Crocus City Hall, uma grande sala de concertos perto de Moscovo, e dispararam contra a multidão e incendiaram o edifício.

De acordo com o último relatório das equipas de resgate russas, pelo menos 144 pessoas morreram e 695 ficaram feridas durante este ataque reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico, o ataque mais mortal dos últimos vinte anos na Rússia.

O Presidente russo só admitiu na segunda-feira que o ataque foi cometido por “islamistas radicais”, mas as autoridades russas acusaram a Ucrânia e os seus aliados ocidentais, que o negam veementemente, de o terem “facilitado”.

Há 9h11:26 Joana Moreira:

Europa está numa era de "pré-guerra", avisa Tusk, que diz que "literalmente qualquer cenário é possível

O primeiro-ministro polaco alertou a Europa para o facto de se encontrar numa era de “pré-guerra” e numa situação “não vista desde 1945”. Numa entrevista ao jornal alemão Die Welt, publicada esta sexta-feira, Donald Tusk afirmou que o continente precisa de aumentar o investimento na Defesa no meio da ameaça contínua da Rússia e da incerteza quanto ao apoio dos Estados Unidos.

“Literalmente qualquer cenário é possível”, disse Tusk. “Sei que parece devastador, especialmente para a geração mais jovem, mas temos de nos habituar ao facto de ter começado uma nova era: a era pré-guerra”, acrescentou. “Não estou a exagerar — está a tornar-se mais claro todos os dias”.

As declarações de Donald Tusk acontecem dias depois de um míssil russo ter sido detectado no espaço aéreo polaco.

Há 9h11:17 Joana Moreira

Mais de 1.700 instituições culturais ucranianas sofreram danos em resultado dos ataques russos

Um total de 1795 instituições culturais em regiões ucranianas libertadas foram danificadas em resultado dos ataques russos, afirmou o ministro da cultura em exercício, Rostyslav Karandieiev, de acordo com a agência noticiosa ucraniana Ukrinform.

Num discurso proferido ontem, Karandieiev descreveu a devastação que foi deixada no país. “A partir de hoje, foram confirmados danos em 1.795 instituições culturais nos territórios desocupados”, disse.

“Estamos a registar enormes perdas também noutros territórios, aparentemente pacíficos. Nem sequer passou uma semana desde que um míssil russo destruiu um objecto de infraestrutura cultural – a Academia Estatal de Artes Decorativas e Aplicadas e Design, em Kiev. As nossas regiões ocidentais, infelizmente, também não estão protegidas do inimigo”.

Há 11h09:55 Cátia Bruno:

Zelensky faz mudanças na sua equipa política

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou mudanças na equipa do seu gabinete depois de, no mês passado, ter feito substituições nas chefias militares.

Andriy Smyrnov, responsável pelas questões legais, e Oleksiy Dniprov, gestor do gabinete, foram afastados, diz a Sky News.

Para os seus lugares entram Olena Kovalska, até aqui conselheira para a criação de um tribunal que julgue a Rússia, e Iryna Mudra, vice-ministra da Justiça.

Há 11h09:33 Cátia Bruno

Ataque com drones à Ucrânia durante a noite

A Ucrânia foi alvo de um ataque com uma série de drones durante a noite, confirmou a Força Aérea do país.

De acordo com os militares, os russos terão disparado 12 drones, dos quais 9 foram interceptados pelos ucranianos nas regiões de Kherson, Odessa, Dnepropetrovsk e Poltava, segundo o Ukrainska Pravda.

Para além disso, foram ainda disparados quatro mísseis anti-aéreos para a região de Donetsk.

Não são conhecidos registos de vítimas, para já.

Há 11h09:30 Há 16h09:55 Cátia Bruno

Há 16h09:30

Cátia Bruno

Bom dia.

O Observador vai continuar a acompanhar todas as notícias relacionadas com o conflito na Ucrânia.

Se quiser recordar os acontecimentos da véspera, pode consultá-los aqui.

sábado, 30 de março de 2024

Amêndoas de Páscoa


Neste rever literário de encantamento, por JAIME NOGUEIRA PINTO. Talvez que pudessem aproveitar a Putin, fazendo-o repensar nos valores da vida, ele que, ao que parece, está mais virado para as explosões mortíferas, da sua religiosidade pragmática… Mais as explosões alheias, é certo, causadoras de gozos emocionais do foro íntimo, naturalmente contidos, a deixar prever outros mais, em forjamento contínuo. Talvez sem paralelo nas histórias dos escritores russos referidos por JNP, de uma filosofia mais universal, Putin sendo um espécime mais do calibre dos bichos da selva, de instintos sem freio, tirante os sofismas das aparências, por vezes necessárias, neste mundo já sem Cristo e sem resgate.

Quatro escritores russos, em tempo de Páscoa

Mais que os filósofos e os teólogos, os grandes escritores, os grandes ficcionistas russos interpretaram e contaram o mistério de Cristo e da Paixão de Cristo.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 30 mar. 2024, 00:18

Em A Ideia Russa, o historiador Nicolai Berdyaev defende que as figuras do pensamento religioso russo e da busca religiosa no século XIX não foram filósofos, mas romancistas, como Dostoievski e Leo Tolstoi.

Para o autor de As raízes e o sentido do comunismo russo e de outras obras fundamentais para o entendimento da Rússia e do comunismo, a ficção de Dostoievski é comparável, em novidade e alcance, à obra de Nietzsche ou de Kierkegaard, já que é, fundamentalmente, ao escritor de Crime e Castigo que se deve toda uma “nova antropologia”, que encara o homem como “uma criatura contraditória, trágica, altamente infeliz; e não apenas sofredora, mas amante do sofrimento”.

Condenado pelo Grande Inquisidor de Dostoievski

Mas se o sofrimento e a redenção pelo sofrimento estão presentes em toda a obra de Dostoievski, estão-no especialmente no “Grande Inquisidor”, uma parábola contada por Ivan a Aliócha nos Irmãos Karamazov. Na parábola, Cristo, o Cristo evangélico, reaparece em Sevilha, no século XVI; anda nas ruas, o povo reconhece-o, faz milagres, cura doentes, ressuscita uma menina. Entretanto – estamos na Espanha da época áurea da Inquisição – chega o Grande Inquisidor, manda prender Cristo e interroga-o. O Grande Inquisidor encara a liberdade do Homem, a que lhe permite pecar e perder-se, como um risco desnecessário, e considera Cristo um perigo para a humanidade, porque entrega a Liberdade aos homens, incapazes de a usarem com discernimento. E assim o Inquisidor volta a condenar Cristo. Para ele só pelos caminhos do Mal, do Demónio, se pode chegar à unidade dos homens: é preciso dar-lhes pão, satisfazer-lhes as necessidades básicas e, porque é “fraca, pecaminosa e ignóbil” a raça a que pertencem, controlar-lhes a consciência e a livre expressão. Jesus cala-se perante o discurso do Inquisidor. A história é ambígua; o Inquisidor parece um pessimista antropológico, que enuncia as grandes forças que movem a Terra e os homens – que não são a Liberdade, o livre arbítrio, a Verdade, a Justiça, o Amor, mas o milagre, o mistério e a autoridade. Cristo não lhe responde, permanece calado durante todo o interrogatório.

Tosltoi: “Istina”, e não “Pravda”

Leo Tolstoi não vai tão fundo como Dostoievski na ética cristã, mas é, para Nobokov, o maior dos escritores russos, um “pregador” laico que influenciou com as suas histórias largos círculos da Intelligentsia e da sociedade. Tolstoi lutava pelo aperfeiçoamento da escrita e da ficção, mas era também um moralista com uma ética de Sermão da Montanha, incutindo o complexo de culpa nas classes altas. Como insistia Nabokov, o autor de Guerra e Paz mantinha, na sua alma e na sua pena, um diálogo ou um combate entre a ética e a estética, entre o pregador e o artista, sempre à procura da Verdade absoluta, da Istina, que não significa o mesmo que Pravda, que é apenas a verdade relativa.

A Istina é, para Nabokov, a verdade essencial, a verdade filosófica, a Verdade com maiúscula. Pravda é a verdade correcta, a que não é mentira, uma verdade de acordo com as regras, com o direito. Foi também entre 1918 e 1991 o nome do órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética. Verdade mais que relativa, diríamos.

Bulgakov: O Mal absoluto visita o mal relativo

Esta procura da Verdade continuou a marcar os escritores russos que, no século XX, presenciaram a passagem da autocracia czarista (limitada a partir de 1905) ao socialismo totalitário, depois da revolução bolchevique de 1917. Um deles – e para mim um dos mais extraordinários, pela obra e pela vida – é Bulgakov.

Nascido em Kiev em 1891, Mikhail Bulgakov, licenciou-se em medicina na Escola Médica de Kiev, em 1916, e voluntariou-se como médico militar no Exército Branco, durante a guerra civil. Depois da guerra, em vez de emigrar como muitos dos vencidos, foi para Moscovo, onde iniciou uma carreira literária, publicando várias obras.

Mas é claro que, dado o seu passado e a sua crítica implícita ao regime, foi denunciado e marginalizado pela Associação Russa dos Escritores Proletários, que tutelava, censurava e congelava escritos e escritores. Na desgraça teve alguma sorte, não acabando numa cela da Lubianka ou num campo de trabalhos forçados. A sorte foi que, o seu livro A Guarda Branca, teve uma versão teatral como Os Dias dos Turbin, exibida no Teatro de Arte de Moscovo; Estaline gostou da peça e foi vê-la quinze vezes. E quando Bulgakov, sem trabalho, com os livros sem publicação, quis, em 1930, emigrar, o Czar Vermelho telefonou-lhe e convenceu-o a ficar na Rússia, dizendo-lhe que longe da pátria os escritores russos secavam, e arranjando-lhe um lugar modesto como consultor do Teatro de Arte, de onde Bulgakov tinha sido afastado por Stanislavsky. Mas a perseguição burocrática continuou e Bulgakov, que em 1932 se casou pela terceira vez, com Elena Shilovskaya, não viu mais as suas obras publicadas. Nestas obras não publicadas estava O Mestre e Margarida, que começara a escrever em 1928.

É um romance iniciático, fascinante, às vezes caótico, mas que além da história da paixão do Mestre por Margarida, narra a visita a Moscovo, à Moscovo comunista do pós-leninismo dos anos vinte, de Woland, uma personagem que encarna o Mal, talvez o próprio Demónio.

Aqui não posso deixar de me lembrar do professor Jorge Borges de Macedo, numa conversa sobre Bulgakov e O Mestre e Margarida: “O Demónio, o Mal absoluto, visita Moscovo comunista, o mal relativo. E os do mal relativo, os comunistas, não acreditam no Mal absoluto… Woland mata alguns de forma mágica, transcendente e comprometida, logo impossível para estes pequenos adeptos do materialismo científico”, dizia ele.

Assim, no início do romance, Mikhail Berlioz, um importante editor do regime, afirma categoricamente a verdade comunista: “o principal não é se Jesus era bom ou mau, mas que esse mesmo Jesus, como pessoa, nunca existiu no mundo e todas as histórias sobre ele eram mera ficção […] os cristãos criaram um Jesus, que, de facto, nunca existiu”.

Aí aparece o mágico, o professor Woland, o próprio Satã, que vai dizendo, sussurrando, também categoricamente ao editor comunista:

“Jesus existiu… não são precisos muitos pontos de vista. Ele existiu, é tudo…”

Jesus Cristo entra no romance, numa narrativa imaginada do seu julgamento por Pôncio Pilatos, a lembrar a visão do Jesus silencioso do Grande Inquisidor de Dostoievski. Mas o Jesus de Bulgakov fala, responde. É um homem simples, bom, mas ingénuo. Um optimista antropológico que acha que todos os homens são bons. Pilatos começa por acusá-lo de querer instigar o povo a destruir o Templo, mas Jesus responde: “Nunca, Hegemon…” E diz a Pilatos que o que disse era que o templo da velha fé cairia e que um novo Templo da Verdade seria construído. O Jesus de O Mestre e Margarida é humilde, simples, aparentemente longe do Filho de Deus, ou do que os homens imaginavam que podia ser o Filho de Deus. Bulgakov afasta-se em muitos pormenores da narrativa evangélica, embora haja um seguidor de Jesus, Mateus Levi, que o acompanha e toma notas e que, num diálogo com Woland, parece confirmar que ele é Ele ou que ele é também Deus. Bulgakov deixa de parte muita da narrativa evangélica para guardar o essencial. No fim, por uma série de convergências, típicas da intencionalidade caótica e consequente de Bulgakov, pode concluir-se que há um Deus; que Jesus viveu e morreu e que em sentido espiritual ainda vive e está activo no mundo; que não há pessoas essencialmente más e que todas as pessoas são boas; que os homens chegarão, eventualmente, ao Reino da Verdade e da Justiça, onde não haverá lugar para a autoridade opressora; e que apesar dos erros e pecados na vida, é sempre possível esperar a Redenção.

E neste romance exótico e admirável, a mensagem mais poderosa dada a partir de um o retrato informal e original de Cristo, é o Jesus da Paixão e da Redenção, um Jesus que acaba por perdoar e receber no seu Reino o Pôncio Pilatos que o condenou por medo.

O livro da vida de Pasternak

O último destes quatro escritores é Boris Pasternak, prémio Nobel da Literatura em 1958. Pasternak nasceu em Moscovo em 1890 numa família abastada de judeus russos, que se reclamavam descendentes do judeu português Isaac Abarbanel. Quando da revolução bolchevique na Rússia, melhor, quando da revolução democrática contra a monarquia, causada pelos desastres da Guerra, Pasternak escreveu um poema, “A revolução russa”, em que associava a revolução de Fevereiro de 1917 a um triunfo dos ideais cristãos de igualdade e fraternidade: “E o socialismo de Cristo soprou livre e fundo”.

Esta associação do cristianismo e do cristianismo dos primeiros cristãos ao marxismo, fazendo de Cristo um herói do Proletariado, tinha os seus pergaminhos em alguns autores comunistas, como Rosa Luxemburgo e Karl Kautsky. Embora o materialismo dialéctico faça parte da ortodoxia comunista, embora Marx seja claro quando nega a existência de um “mundo invisível”, não apreensível pelos cinco sentidos, e Lenine insista na ilusão criada pela religião, cúmplice dos poderes políticos estabelecidos, embora a realização do “reino fraterno e igualitário do socialismo” na terra se fizesse pela violência e pelo terror, havia uma aproximação evidente entre o marxismo e cristianismo, até porque a fraternidade, mesmo desvirtuada, pressupõe um Pai comum e a igualdade, mesmo imposta, é dificilmente justificável sem a revelação cristã. E as interpretações de alguns textos evangélicos, como o Sermão da Montanha, podiam der origem a alguma ambiguidade entre a fraternidade igualitária do cristianismo e a fraternidade da utopia marxista. Anatoli Lunatcharski, que em Outubro de 1917 foi nomeado pelo governo bolchevique como responsável pelo Comissariado do Povo para a Educação, chamou à revolução bolchevique a “nova páscoa revolucionária”. Talvez porque a maioria dos russos, sobretudo das classes populares, era religiosa, fiel à Igreja Ortodoxa.

De qualquer forma, o poema de Pasternak, que começa, na primeira parte, com “o sopro livre e fundo do socialismo de Cristo” na Revolução de Fevereiro, contrai-se abrupta e violentamente em Outubro, na segunda parte, com a trágica e mortífera chegada dos bolcheviques ao poder.

A Pasternak aconteceu o que aconteceu a Bulgakov. Nos anos 30, tornou-se suspeito aos olhos do regime e foi marginalizado; mas Estaline que, por alguma razão, gostava dos seus poemas, decidiu poupá-lo, protegendo-o dos seus esbirros.

Quando, na destalinização, Pasternak concluiu o Doutor Jivago, em 1956, o romance, por sair dos cânones soviéticos, não foi publicado na URSS e acabou por ser publicado em Itália, depois de uma intrincada odisseia. Ao tempo dizia-se que a CIA publicara simultaneamente uma edição pirata em russo.

O livro, em parte autobiográfico, está impregnado pelo cristianismo da velha Rússia e de todas as idades dos Homens, sobrevivente e resistente na ditadura do materialismo científico.

A última parte do Doutor Jivago são os poemas do protagonista, Yuri Jivago. E o último destes poemas, o final, “quando é chegado o livro da vida à página mais sagrada que contém”, chama-se, significativamente, “O Jardim de Getsémani”, ou, na tradução de David Mourão Ferreira, “O Horto de Getsémani”: a agonia de Cristo que precede a prisão e o calvário.

Ao contrário de Bulgakov, que usa criativamente os Evangelhos, Pasternak é mais ortodoxo, sobretudo aqui, no fim, na morte – na de Yuri Jivago, na sua, na nossa, na morte de Cristo. E é o próprio Cristo que fala, em fim de livro, na hora de maior sofrimento, na hora da Sua entrega ou da Sua “descida ao túmulo em tormento voluntário”, para se erguer ao terceiro dia e nos resgatar.

Santa Páscoa da Ressurreição!

A SEXTA COLUNA   HISTÓRIA   CULTURA   PÁSCOA    SOCIEDADE

E as greves já começaram


E as reclamações organizadas pelos do costume, a pretender demonstrar que o povo é quem mais ordena… orquestrado, é certo, por aqueles que verdadeiramente o afirmam, que são todos esses que quereriam estar no lugar agora ocupado por uma direita deficitária, aparentemente mais séria, num país de brincalhões sem ponta de vergonha na pele, nem do agasalho da vergonha e do dó de si próprios.

O PSD escolheu um caminho duvidoso

O PSD até terá pretensões reformistas. Mas o PS não existe para facilitar reformas. Não é provável, portanto, que um governo dependente da benevolência socialista fique na história do reformismo.

OBSERVADOR, 29 mar. 2024, 00:20118

Durante algum tempo, pareceu que não ia acontecer por cá. Por todo Ocidente, as crises da globalização fizeram crescer as esquerdas radicais e as direitas nacionalistas. Em poucos anos, surgiram partidos novos, e velhos partidos mudaram de orientação. Em Portugal, no entanto, o parlamento continuou a abrir o mesmo leque partidário da Assembleia Constituinte de 1975, como um imperturbável museu de história política. Em 2019, porém, o sistema abriu brechas. A 10 de Março, veio abaixo.

A dúvida sobre se a história ia passar por aqui teve a ver com o PS. A certa altura, os socialistas deram a impressão de ter encontrado a fórmula, numa sociedade envelhecida e debilitada, para blindar o sistema contra renovações: capturar o Estado e clientelizar os seus dependentes, usando o apoio do BCE e os fundos europeus. A comunicação social contribuiu, cancelando quem não cantava no coro. Mas nem assim o sistema aguentou. Não podia. Os abalos eram demasiado grandes. Com muitas ou poucas queixas, os portugueses viviam por volta de 1995 num país que era deles, mais ou menos funcional, e que esperavam se tornasse melhor, numa Europa aparentemente destinada à paz e à estabilidade. Tudo isso acabou, com o mais longo período de divergência económica em relação à Europa ocidental desde a II Guerra Mundial, as migrações descontroladas, o wokismo oficializado, e o retorno à Europa da inflação e dos conflitos entre grandes potências. Neste contexto de declínio e de incerteza, os abusos e a incapacidade da oligarquia tornaram-se insuportáveis. Foi isto, e não qualquer excerto de prosa judicial, que derrubou António Costa. E foi isto, e não qualquer birra passageira do eleitorado, que avassalou o sistema partidário.

É possível, porém, que o sistema tente resistir, com um novo protagonista. Após o 10 de Março, Luís Montenegro tinha, em teoria, dois caminhos. Um deles era tentar organizar a maior maioria de direita de sempre, de modo a viabilizar um governo de ruptura com as políticas dos últimos anos. Tratava-se de reunir a direita para fazer reformas, como António Costa reuniu a esquerda em 2015 para resistir às reformas. O outro caminho era propor-se como o novo porteiro do sistema, e esperar que uma governação concentrada na satisfação dos dependentes do Estado e na distribuição do PRR lhe traga os votos de que até agora beneficiaram os socialistas. As “linhas vermelhas” já tinham revelado inclinação pelo segundo caminho. O acordo com o PS para a partilha da presidência da Assembleia da República confirmou a opção.

A Luís Montenegro, no entanto, este caminho deveria merecer alguma reflexão. O PSD até pode, caso se mantenha no governo, saciar a obsessão de “reconciliar-se” com os pensionistas. Mas entretanto, já Pedro Nuno Santos provou que “só o PS resolve”, sempre no lugar do patrão, e André Ventura ficou livre de responsabilidades, como oposição ao bloco PSD-PS. Quando a nossa estratégia também serve aos nossos adversários, devemos duvidar. Resta saber se serve ao país. Talvez Luís Montenegro tenha pretensões reformistas. Mas o PS não existe para facilitar liberalizações (chamemos as reformas pelo seu verdadeiro nome). Não é provável, portanto, que um governo dependente da benevolência socialista fique na história do reformismo. Mas sem reformas, só por grande acaso é que a economia voltará a convergir, a saúde e a educação estarão garantidas, e a sociedade recuperará confiança. O que significa que a turbulência e a transformação do sistema partidário não está para acabar. De facto, ainda só agora começou.

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA    POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 114)

Maria Cordes: A lucidez do seu artigo é extraordinária, uma leitura, na bola de cristal. Foi tudo dito. O não é não de M. é de uma irracionalidade ditatorial e ofensiva. Se o Chega é errático, o que poderemos chamar a esta divisa, endossada pelo PSD? Tem semelhanças com a inquisição em relação aos cristãos novos. O que é que M. sabe dos votantes do Chega para lhes chamar renegados, apostatas, lascivos e idólatras. Se me conhecesse achava-me uma pessoa normal, educada, bem formada no ensino público, não o de agora. Votei Chega, não quero o Centrão, lembro a destruição da CGD pelos senhores da AD +PS, sem que nada lhes tivesse acontecido. Estou perante um país destruído, com os mais bem preparados e não só, incluindo a família a sair para outras paragens. A funcionar, só a Alta Autoridade a esbulhar-nos. Assisto ao desrespeito assumido dirigido a parte da população, e a cereja em cima do bolo, ao repescar de quem nos colocou na cauda da Europa. Será que o Srs. Montenegro, Melo e outros tantos, estão bem do juízo? Têm a oportunidade de emendar a deriva do país, pela primeira vez, e vão aliar-se aos que impunemente, roubaram a entidade, alguma qualidade dos serviços públicos, destruíram as forças armadas e estão a vender a nacionalidade por um prato de lentilhas.!                   Miguel Seabra: Montenegro só é primeiro ministro graças à maioria de direita, caso contrário já teríamos nova geringonça. Essa maioria só existe pelo crescimento do Chega, porque a AD não conseguiu descolar. Ao rejeitar o apoio do Chega traçou o seu destino: vai ser derrubado pela esquerda unida com a abstenção do Chega, que assim evita contaminá-lo com um apoio indesejado. Que oportunidade perdida! Que idiota inútil! Venha outro!               Alexandra Ferraz: Rui Ramos é um dos poucos oásis que ainda subsistem no imenso deserto de resistência ideológica em que se tem tornado o Observador... Só mesmo por estes oásis ainda sou assinante deste meio de comunicação que, a não ter cuidado e a não ser melhor ' observador' do meio envolvente irá ter o destino da comunicação social instalada face ao poder das redes sociais. O sistema partidário de Abril fez 50 anos e rançou. Acontece! Tudo tem um prazo de validade e quem não perceber desaparece. É a realidade. Mas há quem não consiga sair da bolha politico-mediática... azar! O mundo não pára. Muitíssimo obrigada ao Rui Ramos por mais uma vez eu ter podido lavar a minha alma 🙏 uma Santa Páscoa!              Pobre Portugal:  “Se 1.169.836 de pessoas é um número insuficiente para ter voz, é bem possível que o povo lhes dê um número suficiente da próxima vez.” (Leonor Gaião)                Rui Lima: Parem e pensem sem o Observador como seria a imprensa nacional? Só haveria espaço para os cronistas do sistema. Sim, também temos o jornal Sol que vou comprar daqui a momentos , não está alinhado, tenta lutar e sobreviver contra os donos disto tudo. No papel temos 140 deputados de direita e 90 de esquerda e vamos ter uma política de esquerda. Isto é gozar com o povo. O PSD é apenas a direita da esquerda, querem o poder , o PS tem o PSD na mão por isso vamos ter a mesma política do Costa feita por Montenegro.             Maria Tubucci: Muito bem Sr. RR. A espécie mais forte é a espécie que se adapta. O PS de Costa sobreviveu porque se adaptou, o PS de PNS também se irá adaptar. O LM ao manter “o não é não” prova que o PSD não se irá adaptar, escolheu um caminho duvidoso que pode conduzir à sua extinção. O CH está sempre a adaptar-se. Como dizia Napoleão: “Tenho mais medo de um exército de carneiros chefiados por um leão do que de um exército de leões chefiados por um carneiro” Vejamos. O PSD foi a eleições com 2 pesos mortos às costas, não aumentou quase nada e ainda perdeu 3 deputados para o ADN, após as eleições não soube calar um desses pesos mortos que deu cabo de um acordo parlamentar, entregando ½ presidência da AR ao inimigo, em vez de ter ficado com ela toda. Só estamos no início e LM já tem 2 derrotas.             Fernando CE: Parece que pode ter razão. Mas este será um governo de transição para um governo de direita.               Carlos Fernandes: Artigo escrito com uma simplicidade, profundidade e reflexão admiráveis. Parabéns! Não conseguiria explicar melhor tudo o que penso a nível político e social. Obrigado pela reflexão....             Hugo Silva > Carlos Quartel: Votos emocionais? Risível, para não dizer outra coisa. A AD teve uma vitória pífia, o PSD, teve o mesmo número de deputados que o PS, acordem que já é tempo. Você devia estar preocupado com o PS e restante esquerda. Esses sim deveriam ser a preocupação do PSD, não o CH. A comunicação social consegue doutrinar as mentes mais influenciáveis. Se não fosse o CH o PSD nunca seria governo, nunca. Os abstencionistas tinham ficado em casa. Os que migraram de outros partidos para o CH nunca votariam AD. Portanto, é agradecer e preocuparem-se em governar o país. Vitor Batista > Alfaiate Tuga: Consegue provar que assim foi? consegue provar que a AD teve os votos que teve por causa do não é não? pessoalmente deixei de votar AD por causa da incapacidade de se distanciarem das esquerdas, e ao fim de muitos anos tive a resposta: o psd tornou-se um partido também ele parasita como todas as esquerdas, e não são para levar a sério, irão pagar caro por isso, porque não são carne nem peixe, tornaram-se cobardolas e oportunistas.               João Floriano: O PS não vai permitir de modo algum que as coisas corram bem a Montenegro. É apenas um questão de reorganizar os piratas, remendar as velas, verificar os danos no casco, içar uma Jolly Roger renovada, estabelecer a nova rota do tesouro e pôr de novo o barco em pleno funcionamento. E nessa altura vamos ver qual será a atitude do PSD em relação ao CHEGA e aposto que não será de ghosting.            Xico Nhoca > Fernando CE: Há 3 coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.             Pedro de Freitas Leal: Rui Ramos, claro e magistral como sempre, entendeu rapidamente aquilo que se está a tornar óbvio. PSD significa afinal PS Dois.               Fernando Cascais: O PSD, apesar dos seus 50 anos bem vividos, continua, surpreendente, com a inocência da adolescência. Em 1985 o PSD tinha 11 anos, assim como a maioria dos partidos políticos que se sentavam no hemiciclo à excepção do PCP que nasceu em 1921. Nos idos do primeiro governo de Cavaco Silva foi possível o PSD governar com brilharete durante dois anos com um governo minoritário catapultando o PSD para uma maioria absoluta nas eleições seguintes. Em 2024, o PSD tem como principal aposta a repetição do que se passou há 40 anos, ou seja, acredita que a conjuntura política de 1985 é comparável à de 2024. O PS não vai deixar que a história se repita. O Chega também conhece a história. Este governo minoritário da AD não vai ter a mesma hipótese de brilhar que teve Cavaco Silva em 1985 quando todos desconheciam o resultado de deixarem um governo minoritário governar durante dois anos. Também a nobreza e o respeito político que existia em 1985 extinguiu-se. Este governo AD até pode ser excelente, mas, a oposição não lhe vai dar a mínima possibilidade de cair nas boas graças do eleitorado ou até mesmo de se espalhar, não vá o eleitorado confundir com vitimização. Não vai conseguir aprovar o Orçamento de Estado para 2025, a não ser que consiga negociar uma legislatura alternada com o PS (Bloco Central) ou que faça um verdadeiro acordo de governo com o Chega. Tudo o resto são sonhos lúdicos não concretizáveis.                     Carlos Chaves: Caríssimo Rui Ramos, obrigado por mais esta excelente análise politica do que nos está a acontecer. Se juntarmos esta sua análise à de ontem do João Marques de Almeida, ninguém pode dizer que não está informado do que se está a passar! Se o PSD persistir no caminho de acordos com o PS, cava a sua sepultura, os eleitores de direita não perdoam estas traições, estamos fartos de socialismo!                     António Afonso: O comportamento de André Ventura é vergonhoso e inaceitável numa democracia. Truculento, trafulha, mentiroso e manipulador! Já quanto à qualidade do seu grupo parlamentar não me parece que seja grande coisa.               Sérgio Coelho: Brilhante, como sempre! Os "fofinhos de centro" e da eterna "alternância" da gamela dos contribuintes são mesmo uns idiotas e preferem ressuscitar os moribundos do CDS e continuar, com desprezo e arrogância, a afrontar e marginalizar os das "linhas vermelhas e cercas sanitárias".... Ainda não perceberam que Chega!!                 Vitor Batista: Este é daqueles artigos que deveria ser de leitura obrigatória nas escolas! mostra que o ps não se interessa pelo bem comum, mas somente pelas suas clientelas parasitárias e muito dadas ao nepotismo amiguismo e corrupção, e de agora em diante sabemos que psd é igual a ps, é de facto tudo da mesma trampa e a diferença estará no cheiro. Pobre país e pobre gente.                 Ana Luís da Silva: Rui Ramos coloca aqui (corajosamente) o dedo na ferida. O sistema tenta resistir à mudança. Não sei o que fará este governo, mas sei que os 50 deputados do CHEGA vão trabalhar e muito. Só que em vez de convergirem PSD e CHEGA por Portugal, vão digladiar-se para gáudio dos socialistas a assistir (literalmente) “de bancada”. Um desperdício.                   Alexandre Barreira:  Pois. A verdade é que o Chega conseguiu eleger o "camarada" Amorim para nº. 2 da AR. Ex-Activista do "verão quente-75". Grande "amigo" do Dr. Freitas do Amaral. E "confidente"....do Dr. Álvaro Cunhal. Não haja dúvidas que. O que hoje é mentira...ontem era verdade.....!!!               Hugo Silva > Velha do Restelo: Tem a certeza que todos os que votaram na AD, votaram porque Montenegro disse "não é não"? Falou com todos eles? Conheço bastantes que pós eleições não se opunham a um acordo com o CH, acham que é preferível estabilidade a novas eleições.               Tristão: Até tu, Rui Ramos! 😞 Mas que artigo mais infeliz…  O governo, que é minoritário, vai depender tanto da “benevolência” do PS como do CH, mas claro, reformista vai ser difícil, está entalado entre dois partidos estatistas, ou pensa que o CH quer liberalizar alguma coisa? Só dois exemplos: Quer aumentar todas as pensões mais baixas até ao nível do salário mínimo, sem critério algum, só para comprar votos e aumentar a despesa desgraçadamente para todos os que pagam impostos neste país com língua de palmo. Quer manter a TAP na esfera estatal, para fazer política com uma empresa pública para nós mais tarde pagarmos os desvarios de gestão danosa que invariavelmente acontecerão. Vê aqui algum liberalismo? Já para não falar de toda uma forma de estar onde a mentira despudorada impera e a sem vergonha é a regra. Esta gente é imprestável, pelo menos comportam-se assim, até admito, não por convicção mas por estratégia. Seja como for, na altura exacta se irá ver quem está do lado das reformas, pois o não é não, que as cabecinhas teimam em não perceber,  não impede acordos no parlamento que, estou certo, vão-se realizar mas só para dar dinheiro, para reformas a AD vai ficar sozinha, querem uma aposta?              Paulo Silva: Caro Rui Ramos, antes de ter escolhido o caminho duvidoso de “novo porteiro do sistema”, o PSD deveria ter resolvido um problema de dúvida existencial, um problema congénito de (in)definição ideológica que o marcou sempre. Embora o PPD tenha nascido à esquerda - por razões conjunturais e opções estratégicas, (boas ou más), dos seus fundadores - um facto indesmentível, o seu espaço de evolução natural é o centro-direita. Sempre foi. O centro-esquerda já pertence a um outro, (não pequeno), grande partido: o PS. Ter dois grandes partidos a disputar o mesmo espaço político é complicado. Mas o pior neste momento é que com a estratégia das “linhas vermelhas”, já em si uma cedência inaceitável a terceiros, Luís Montenegro arrisca-se a ser comido por inteiro. O compromisso do “não é não” referia-se apenas à governação, mas ao não querer conversar com André Ventura na questão da eleição dos membros para a mesa da AR, está a dar o flanco àqueles que têm uma interpretação maximalista e abusiva do “não é não”, como é o caso do comunista utópico Rui Tavares. Qualquer dia o chefe do Livre e tontinhos como Pedro Marques Lopes estão a dizer que a AR só conta [com] 180 deputados… (ironicamente um número defendido por AV).           Vitor Batista > Rui Lima: Você escreveu a maior verdade que por estes dias os mesmos de sempre não querem admitir! 140 valem menos do que 90,parabéns!                 bento guerra: Nem mais, já que o Chega é para manter na "cerca sanitária". Só "contaria", o problema é que conta   João Floriano > Rui Lima: No papel temos 140 deputados de direita e 90 de esquerda e vamos ter uma política de esquerda isto é gozar com o povo . A maior verdade que já li aqui hoje.               Alfaiate Tuga: Portanto, o articulista acha que o Montenegro deveria após 10 de março, destratar grande parte do eleitorado que votou nele, deitando o não é não para o caixote do lixo e fazer um acordo com o Chega. Pois caro Rui Ramos, está redondamente enganado e explico porquê. Primeiro o carácter, se o Montenegro fizesse um acordo com o Chega, começaria logo por dizer aos portugueses que não passava de mais um aldrabão sem palavra, depois daria ao PS fundados motivos para dizer que o que o Montenegro diz não é para levar a sério. Agora a política, um acordo com o Chega iria permitir ao Ventura exponenciar o seu populismo , teria logo à partida um ganho de causa, ter forçado o Montenegro a desdizer-se, depois iria inundar o tictocas com vídeos a dizer que foi graças ao chega que todas as benfeitorias foram feitas, baixas de impostos, aumentos para polícia, professores, médicos, etc,etc, Quando o ventura percebesse que já não havia mais medidas para agradar ao povo, deitava o governo abaixo na expectativa de aumentar a bancada parlamentar nas eleições seguintes. O chega tem a mesma legitimidade dos demais partidos eleitos, tem é um problema de coerência e ânsia de protagonismo. Primeiro só havia governo de direita se o chega integrasse o governo, depois já não era preciso integrar o governo mas tinha que haver acordo, depois vem para a televisão dizer que tem um acordo (que afinal não tinha), para eleger o presidente da assembleia da república , e por fim não permite ao PSD eleger Aguiar Branco, depois queixa-se que o PSD fez um acordo com o PS , quando foi o próprio chega que impossibilitou a eleição do deputado inicialmente indicado pelo PSD. O articulista fala de unir a direita, então ainda não percebeu que o Chega não é de direita, o Chega tem ideias de direita nos costumes e imigração de vez em quando, pois como percebeu que os brasileiros já são muitos e como tal esses já  são bem vindos….Grande parte das medidas que o Chega defende para a economia seriam facilmente aprovadas pelo PCP, aliás , muitos dos que votaram chega votaram antes à esquerda e vão lá voltar quando perceberem o que é realmente o Chega. O chega é um partido populista que promete tudo a todos sem fazer contas, pois sabe que a factura não lhe chega. Deixem o governo governar e a assembleia da república funcionar, os 50 deputados do chega podem apresentar as suas medidas, vetar ou aprovar as medidas dos outros e o povo estará cá para avaliar, o Montenegro não pode é dar o dito por não dito e pior, sem vantagem nenhuma como acima expliquei…O Chega ficou amuado? Comece a comportar-se com seriedade se quiser ser levado a sério                . Vitor Batista > Velha do Restelo: Vamos ver se é de palavra ou não, e não vale a pena culpar o Ventura porque quem traçou linhas vermelhas e disse que não é não foi Montenegro, e na primeira oportunidade correu para o colo dos corruptos mafiosos, fez aquilo que sempre desejou, culpar Ventura é um exercício de retórica tacanho cobarde e egoísta, queriam Ventura a passar cheques em branco não era? a politica não é assim, porque tudo o que parece é! mas já vão tarde, e os mesmos de sempre que não querem que este país progrida já conseguiram aquilo que queriam, os inúteis levam a melhor.                 Alexandre Arriaga e Cunha: Grande lucidez! Oxalá Luis Montenegro leia e releia este artigo 🤞              José Miranda: Brilhante, curto e certeiro!                    José Carvalho: Brilhante Rui Ramos. Infelizmente o seu brilho na análise da situação é raro no Observador, e uma voz no deserto no conjunto da comunicação social.              Paulo Silva > S N: Se não tivesse memória de 2022 nem consciência das declarações de Carlos Moedas, Paulo Rangel, Nuno Melo et alii e do silêncio de Luís Montenegro, também acharia inesperado... Há com cada uma...              Carlos Real: Sinceramente estou farto do palavreado sem nenhuma substância. Reformas significam alguma coisa? Eu posso concretizar duas. Na saúde, seria podermos aceder ao privado, e o Estado comparticipar numa percentagem. Isto existe em países avançados. Seria uma ADSE alargada a todos, e não aos privilegiados do costume. Outra seria passar um cheque ensino de 500 euros mensais, para que cada jovem pudesse ter aulas todos os dias, e em todas as disciplinas. O público, como sabemos, só funciona quando os sindicatos deixam. Já é tempo de passarmos ao concreto e deixarmos a alta política para os deuses do faz de conta. De políticos de feira os portugueses já receberam dose excessiva.                vitor Manuel > António Afonso: Vão chorando, que ainda mais chorarão ...