Uma boa análise, só possível na isenção
e na qualidade literária - e humana, está visto, que é ditada pela
sensibilidade e o sentimento de humilhação, pelo caricato de tanta presunção…
Mudar (de uma vez por todas, caramba!)
Pedro Nuno Santos não é capaz do impossível: tendo
estado dentro do governo, esconder o que não fez, disfarçar o que fez e
iludir-nos de que agora, agora sim, fará.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista,
colunista do Observador
OBSERVADOR, 06 mar. 2024, 00:2051
1Mudar ou não mudar, eis a questão. Não
há outra. Acordar na segunda feira e ter mudado. De vez. Não sei o que vai na
cabeça dos indecisos (deve ser horrível ser indeciso) e não lhes queria estar
na pele. Mas espantará qualquer ser
normalmente constituído que haja ainda quem hesite em mudar. Sabendo-se
quanto a hesitação valsa por entre fantasmas de papel ao som de música
requentada: o PS não tem feito outra
coisa que não seja brandir datas fora de prazo (2011/2015), recheá-las com
mentiras e falsos anúncios de repetição e atirá-las à cara do eleitorado do seu
único adversário, a AD. Como
alcance eleitoral é confrangedoramente modesto, como argumento é obsessivo,
como estado de ânimo é porém eloquentíssimo: têm tão pouco mais para oferecer
ao país? (Além de que é preciso ter algum cuidado com a memória, às vezes é
perigosa: há outros que também estiveram, também viram, também se lembram).
Igualmente surpreenderá
qualquer pessoa comum que nunca se descodifique o fundo e a forma da campanha
socialista. Que estratégia? Que rumo? Com quem? Não sabemos. Percebe-se que
quadraturas do círculo não são para qualquer um: Pedro Nuno Santos não tem sido
capaz do impossível: de, tendo estado dentro do governo, esconder o que não fez
, disfarçar o que fez e convencer de que agora, agora sim, fará.
Não tendo o candidato socialista
poderes de prestidigitação para sendo o mesmo deixar de ser o mesmo, o país
teria que recorrer a prodigiosos níveis de entre-ajuda para aceitar tamanha
inverosimilhança. Não sei se será possível.
Saldo socialista: uma semana a tropeçar em (contraditórias)
explicações politicamente mal amanhadas sobre a “governabilidade”; depois, dias
inteiros a reagir – acusando e deturpando – mas só reagindo; e depois… António
Costa, claro, who else? Vamos vê-lo mais vezes? Dilema para o actual líder: se
sim, é uma prova de pedido de socorro; se não, as despedidas da campanha serão
pálidas e desenxabidas mesmo que tudo se faça para que não pareça.
2Luís Montenegro esteve mais de um ano sob suspeita: estava feito com
o Chega, ia coligar- se com o Chega, governar com o Chega, casar com o Chega.
Durante uma eternidade ninguém lhe perguntou outra coisa nem lhe deu meio
minuto para expressar outra coisa. O PS sabia o que fazia: entregou a encenação
da peça parlamentar “Ventura sempre em cena” ao grande Augusto Santos Silva que
também sabia o que fazia. Fora do parlamento as televisões fizeram o que
puderam que foi muito: durante a mesma eternidade, o Chega foi o mais apetecido
cabeça de cartaz de que há memória televisiva. Tudo sobre rodas: Ventura
agradeceu esta grátis amplificação de si próprio, o país empobreceu em decência
politica, Montenegro que se lixasse. Nós vimos.
Iniciada a campanha, a
suspeita virou um cerco. Tudo contra a
AD, que ela tem sarna: à velocidade do som, esta AD foi convenientemente
“dada a ver” como se fosse a outra, a de 2011/2015 (a que viria a ganhar as
eleições legislativas de 2015); acusada de ir fazer o mesmo como se as circunstâncias
fossem as mesmas — bancarrota produzida pelo PS; uma troika chamada pelo PS; e
duríssimas condições, negociadas pelo PS — o cerco aperta, fechado sobre
denúncias e mentiras. A pobreza de argumentos políticos do PS chega a
embaraçar.
Tal como nos truques de prestidigitação (outra vez eles) esfumaram-
se - de uma assentada! – os últimos nove anos: politicamente não existiram.
Saltou-se no tempo, ora bem. De um lado há uma mistificação desta AD, a de
hoje; do outro, um ex-ministro que nunca cumpriu, doublé de candidato que
promete “acção”: assente no seu bom amigo Estado, escolhido como o melhor
potenciador de acções e bondades governativas, santo Deus. Criação de riqueza,
iniciativa privada, saúde das empresas, crescimento económico numa palavra, diz-lhes
só assim-assim.
Falando de Estado, ocorreu-me agora que apetecia perguntar ao
candidato socialista – e aos outros – que fará para repor a autoridade do
Estado, prioridade que deverá ser absoluta de qualquer governo, mesmo dando de
barato o medo dos políticos de sequer pronunciaram hoje a palavra “autoridade”. Não fosse vir a família Mortágua — a avó
que afinal é uma privilegiada, o pai que afinal nunca estaria preso
perpetuamente, a filha que devia pedir emprestados os olhos a Catarina Martins
para adocicar o gelo do olhar – brandir o “regresso do fascismo”. (Lembrete:
já houve polícias na rua manifestando-se
à margem da lei, já houve ameaças ao Estado de direito através da ameaça da não
realização de eleições, já houve anúncios (?) de insubmissão vindos das Forças
Armadas… Que mais para provar uma real deliquescência da autoridade do Estado
como não se via há décadas? Para não lembrar que a Justiça deixou de ser uma
instituição confiável e um poder acima de qualquer suspeita mas fiquemos por
aqui. A lista seria tão longa, quanto dramaticamente já conhecida).
3E então, não se muda?
LEGISLATIVAS
2024 ELEIÇÕES
LEGISLATIVAS POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 55):
JOHN MARTINS: Muda, muda, cara MJ.E se algumas
dúvidas havia basta ver o comício de ontem, do PS, na Aula Magna; onde esteve
Costa e por precaução, nem falou. Era mais que evidente e notava-se o semblante
carregado de toda gente. Parecia uma cerimónia fúnebre. Então o discurso de
Pedro Nuno, não teve ponta por onde pegar. Mostrou de facto o que é. Uma nulidade. Transportando para todos nós o dever de ajudarmos
Montenegro a subir a 1º Ministro. As diferenças são grandes e a oportunidade é
só uma. Carlos
Chaves: Esta escumalha tão bem descrita neste artigo da Maria João,
escumalha onde incluo a esmagadora maioria da comunicação social, conseguiu
durante estes nove anos o que se julgava impossível, uma grande parte dos
portugueses aceitarem viver na mentira e estarem confortáveis com isso! Só
isto justifica que após tamanho desastre, ainda existam dúvidas que a mudança é
imperativa, e que é a única que nos pode devolver a esperança. Corrigir
os erros passados e retomarmos o caminho do crescimento (a todos os níveis),
tal qual nos mostraram Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho! Rui
António: Excelente crónica Maria João, parabéns. Lúcida e certeira como sempre. Domingo
veremos se Portugal decide de vez pela mudança ou se prefere continuar neste
marasmo, até à próxima crise… Obrigado. Alves
Ramos: Excelente. Parabéns e obrigada por pôr a nu o rei que puseram no andor. Tristão: Anda muita gente entusiasmada
com as sondagens, sabem, eu não lhes ligo nenhuma, sejam ou não favoráveis. Que
ninguém tenha dúvidas, as eleições não estão ganhas é preciso continuar a
convencer os indecisos, aqueles que por uma razão ou outra ainda têm dúvidas,
não os fanáticos, com esses é tempo perdido. Temos de saber explicar que
votar Chega é votar indirectamente no PS desmascarando uma vez por todas esse
conluio entre esses dois partidos que se querem alimentar um do outro esmagando
a AD. Vamos livrar o país de socialistas e de extremismos desnecessários,
fúteis e até, como alguém tem dito, infantis. Madalena
Magalhães Colaço: O PS agarrou-se a uma sondagem para a propalar na campanha, que os anos
da geringonça foram os melhores para a maioria dos portugueses. Não
admira, pois no tempo da geringonça, os portugueses puderam ter sossego pois
nem uma única greve perturbou as suas vidas apesar das reivindicações do PCP e
do BE ficarem por cumprir e ambos os partidos serem responsáveis pela
degradação de todos os serviços públicos. Lembrar que nos anos da
geringonça, Costa distribuiu pelos reformados e por quem lhe dá votos aumentos
de salário que agora tanto gostam de propalar. É bom lembrar que Costa nunca o
poderia ter feito se Mário Draghi não começasse a comprar a dívida dos estados
a partir de 2015. A Costa foi retirada a pressão, pelo BCE, de que não tinha problemas de ir
ao mercado emitir dívida, dívida esta que nos sustenta, e que paga os
reformados e o funcionamento do estado. No tempo de Passos Coelho, o que a
Troika exigiu teve de se cumprir, caso contrário nenhum investidor nos comprava
a dívida, só pagando taxas de juro acima dos 7,5%, fasquia de Teixeira dos
Santos. Em lugar de aproveitarem esses anos de juros negativos, desperdiçaram
tudo. A degradação dos serviços públicos é bem visível e é preciso lata
Costa vir orgulhar-se de deixar Portugal como está, mas o que ainda é mais
desconcertante é ouvirmos comentadores, que se dizem de direita que o comício
de Costa foi uma lufada de ar fresco. Fernando C: Muito bem. E
quando ocorre, para além de todas as desgraças à vista, o próprio governo vir
dizer há dois dias que há países que se podem recusar a extraditar delinquentes
por causa da degradação das prisões portuguesas , batemos no fundo. Existem
contas certas de facto, mas à custa da degradação dos serviços públicos. Paulo
Valente Ferreira: Tenho pena que o seu artigo não chegue a todos neste país, qual manifesto
que deveria ser colado em paredes e muros para que todos o lessem. O PS
nunca passou de uma ‘manifestação de interesse’, com morte anunciada, que nunca
deu resposta a nada, com o fito de iniciar a campanha eleitoral para as
eleições seguintes.
João Ramos: Muito bem Maria João, mas infelizmente ainda há muito
ignorante (ou idiota) cá pelo burgo, a ver vamos e haja esperança… só uma nota,
Costa foi quase de certeza o pior primeiro ministro ou pelo menos o mais sem
vergonha que por lá passou, penso que nunca será demais repeti-lo aos quatro
ventos, faz bem à mente… Filipe
Paes de Vasconcellos: Vamos mudar vamos! Vamos mudar e ”ir à mão” -como pedia a minha Mãe- dos
medíocres que através da sua tacanhez ideológica própria dos regimes
socialistas já levaram que Portugal falisse por 3 vezes. E agora com o Costismo
conseguiram falir o país mas por sectores, educação, saúde, justiça, segurança
pública, … Nunca vi Contas tão Erradas. Vamos abandonar a mentalidade própria
de um regime tacanho que nunca valorizou, mas sim tolerou, o Trabalho, o
Risco, a Criação de valor, o Investimento privado, os Lucros, I.é. a Economia
Privada, o Capital! Só assim se conseguirá criar riqueza para que se possa
distribuir a prosperidade que advém do trabalho e tornar Portugal um país onde
se veja a Felicidade dos seus cidadãos. joão MeloTristão: A questão é bem mais complicada. Já li alguns artigos
que referiam essa complexidade, e realmente ainda não me decidi sobre qual será
o meu voto. O cenário é o seguinte: podemos dizer que o Chega terá um
valor próximo dos 15 a18%, AD será de 25 a 30%, ou por aí... Acontece que
poderemos dar como quase certo que o Chega tem 15% garantidos, pessoas
que não vão mudar a sua intenção de voto até dia 10 março. Portanto, esses 15%
nunca irão transitar para a AD. Se a AD andar pelos 25% e tiver mais 3% ou 4% não
faz muita diferença, tendo em conta aquilo que Montenegro nos tem dito. Se eles
ficarem com 26% a 28% fazem o quê sem o Chega? Nada. A ideia é dar peso
ao Chega, para funcionar como centro de gravidade, e obrigar a AD (PSD) a
integrar o Chega, moderando-o nesse caminho. Se isto não for feito vamos ter
mais 4 anos de socialismo, a caminho do comunismo. A tese é a de que AD + CHEGA
tenham o maior valor possível, e que esse peso, sendo tão grande, obrigue a AD
a repensar a sua posição, e não insistir em manter-se orgulhosamente só, porque
isso vai-lhe sair caro. Ou querem que a direita governe, ou querem entregar o
país para mais quatro anos disto que tivemos até agora (ou mesmo pior) António Soares: Boa, boa crónica. Gosto da coerência com que
comenta nas TVs, ao contrário da maioria dos comentadores, sobretudo os da ala
mais á direita, que dão uma no cravo e outra na ferradura, sendo incapazes de
se libertarem dos complexos de esquerda, ou nalguns casos nítida subserviência
á esquerda, como o Pedro Marques Lopes e o ex e sempre comunista Pacheco
Pereira. Francisco
Ramos > Carlos Quartel: Eu acho que o mistério não é
insondável. O que Francisco Assis fez até agora foi só disfarçar o seu
oportunismo. Como viu a oportunidade dum tacho quis aproveitar. Podia não
surgir outra oportunidade tão cedo. Carlos
Real: Mudar, muda-se para o Chega. Tal
como fizeram com Trump, Bolsonaro e Milei nas Américas. Tal como Orban e
Merloni na Europa. Sim, os ventos de quem coloca os temas centrais da emigração
e corrupção no centro da agenda. Macron já foi obrigado a ir buscar as
propostas de Le Pen. Quanto a corrupçao basta um jornalista fazer uma pequena
investigação. Os lusitanos mudaram. Hoje a vergonha não existe. Fui ao
Starbucks de Almada, e a mensagem mais escrita na zona da recepção dos
alimentos, é gente a dizer que quer ser
rica e odeia os pobres. Literalmente. O único voto útil no espaço da direita e
no Chega. O único que nos alerta para o caos que aí vem da imigração portas
abertas. Por este caminho vamos voltar às barracas e a marginalidade de quem
está dependente das máfias. As redes agradecem poderem traficar e acenar com o
facilitismo europeu. O dia 10 vai ficar duplamente histórico. O Alentejo vai
poder ver-se livre dos representantes comunistas (tem neste momento um deputado
em Beja). O Chega poderá eleger 3 deputados (um em Beja, Évora e mais difícil
em Portalegre). Por isso na 2ª vou comemorar com um almocinho de grãos regado
por uma Tapada das Lebres tinto. Estou farto dos velhos do Restelo. A AD do
seculo passado so sabe juntar o Balsemão, Cavaco, Durão, Santana e o catavento
do Marcelo. Relíquias do tempo da ardósia na primária. Nem sabem usar o tiktok.
Até nisso o Ventura posiciona-se no século 21. O futuro constrói-se no Domingo.
Com o Chega. Carlos
Quartel: PNS foi um erro anunciado. Acredito que haja, dentro do PS, fortes
preocupações com a linguagem e postura do candidato, mais própria do BE, com
hostilidade e provocação permanentes para quem não é da seita. Pode ser um
perigo no poder, dividindo portugueses e criando um ambiente de ódio. Penso mesmo que quem cria esse
ambiente de ódio, há já bastante tempo, tem sido o PS, com Ana Gomes a pedir a
ilegalização do Chega, mas deixando de fora os partidos que, esses sim, estão
fora do regime e anseiam pelos planos quinquenais, pelo partido único, pela
censura. O que faz Francisco Assis no meio disto tudo ?? Como aceita ser
candidato e colaborador de semelhante exemplar ?? Insondáveis mistérios
......... F. Mendes:
Muito bom artigo.
Comento assim: Se o PSD tivesse denunciado, a tempo, as múltiplas mentiras fabricadas pela
esquerda, e propaladas por uma CS abjecta, assumido o tema do controlo da
imigração como prioridade, e denunciado a estatização da sociedade - na
economia, como na saúde, educação, etc. -, o partido teria agora mais de 40 %
das intenções de voto. Assim, vamos ter que aguardar por 10 de Março, ou mesmo
para além daquela data., para saber o nosso destino. Quem puder, que fale com
indecisos seus conhecidos para os alertar para esta triste realidade,
parcialmente aqui descrita pela MJA. Obrigado
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