Mas nu ou vestido é sempre uma ameaça contra
os corajosos, mesmo distanciados, num mundo que a internet aproximou,
juntamente com os muitos apoiantes dos putins omnipresentes.
"Putin também mata pessoas fora da Rússia": aliados de Navalny temem pela vida, após
ataque com martelo na Lituânia
Ex-assessor de Navalny foi atacado
com martelo na Lituânia: Leonid Volkov diz ser comportamento típico do
"gangster Putin". Opositores contra regime russo estão em
"risco" mas prometem não "desistir".
JOSÉ CARLOS DUARTE:
Texto
OBSERVADOR, 14
mar. 2024, 18:526
“O risco principal agora é sermos
todos mortos. É algo bastante óbvio.” Leonid Volkov, um dos braços direitos de Alexei Navalny, o principal
opositor ao regime russo que morreu no passado dia 16 de fevereiro numa colónia
penal no Árctico, parecia adivinhar o futuro numa entrevista esta
terça-feira ao jornal independente russo
Meduza. Mesmo estando a residir actualmente na Lituânia, o antigo
assessor advertia que o Presidente russo, Vladimir Putin, não mata quem se cruza
no seu caminho “apenas dentro da Rússia”: “Também mata fora da Rússia”.
Ao final do noite desta terça-feira, no quintal de sua casa em
Vilnius, o antigo aliado de Alexei Navalny estava no carro, quando alguém
partiu a janela e disparou gás pimenta contra os seus olhos. O
agressor usou depois um martelo para bater na perna de Leonid Volkov. Após o
ataque, o homem de 43 anos recorreu às redes sociais para denunciar o que lhe
tinha acontecido. “Queriam fazer bifes comigo”, ironizou. O também opositor foi
levado para o hospital, mas ficou apenas com o braço partido e com algumas lesões
na perna. “Dói a andar, mas não há qualquer fractura.”
A mulher de Leonid Volkov foi
testemunha de tudo o que se passou. Na sua conta pessoal do X (antigo Twitter),
Anna Biryukova partilhou a
aflição que se sentiu naqueles momentos, devido a uma escolha que caracterizou
como “asquerosa”: “Ou corria para ajudar o meu marido que estava a ser atacado,
ou deixava as minhas crianças a dormir sozinhas”. “Não desejo isso a ninguém”,
escreveu, para logo depois deixar uma garantia em relação à oposição contra o
regime: “Vamos trabalhar ainda mais arduamente. E mais zangados”.
▲ O estado do carro de
Leonid Volkov
Num
vídeo publicado nas redes sociais após ser atacado, Leonid Volkov igualmente
assegurou que vai continuar a opor-se ao regime russo e não vai “desistir”,
apesar das ameaças. O antigo braço de direito de Alexei Navalny, que organizou
campanhas eleitorais, chegou a cumprimentar diretamente o Presidente — “olá,
Vladimir Vladimirovitch Putin” —, não tendo dúvidas de que foi o chefe
de Estado que esteve por trás do ataque. “É típico e característico de
Putin, o gangster de São Petersburgo”, atirou
o dissidente, numa referência à cidade em que nasceu o Presidente russo.
Após a morte do principal opositor ao
regime, os seus aliados prometem não desistir. No
entanto, mesmo que estejam no estrangeiro, receiam que este tipo de
ataques se repitam. Não
por acaso, o paradeiro de Yulia Navalnaya, mulher de Alexei, e dos seus dois
filhos não é conhecido — sabe-se apenas que estão a viver fora da Rússia, não
tendo regressado ao país sequer para o funeral. Ivan Zhdanov, antigo director da
Fundação Anticorrupção, fundada por Alexei Navalny, deixou o
aviso no X de que o Presidente russo vai agora “atrás” dos
dissidentes “que deixaram a Federação Russa”.
Os perigos e a noção dos riscos do
círculo mais próximo de Navalny
Todos aqueles que eram próximos de Alexei Navalny sabem que actualmente
podem correr risco de vida — e o que aconteceu na terça-feira foi apenas uma
confirmação de que o regime russo não olha a meios para terminar com qualquer
resistência e oposição. Se por um lado realçam que nunca vão baixar os braços,
por outro reconhecem que existem ameaças.
▲ Quem
estava no núcleo duro de Alexei Navalny pode correr risco de vida AFP VIA GETTY IMAGES
“Não
importa quantas medidas de segurança tomemos, o número de recursos aplicados
contra nós é sempre incomparavelmente maior”, assinala Ivan Zhdanov, que
mantém, no entanto, uma visão optimista. “Há mais pessoas honestas. Há
sempre alguém que vai colocar-se no nosso lugar”, frisa o opositor. Em contrapartida, aponta que há
“diferentes grupos” em redor do Presidente russo que estão dispostas a sujar as
mãos para “lhe fazerem um favor e mostrarem que são fixes”.
Citado pelo jornal Politico, Mark Galeotti, analista
especialista na Rússia, considera que esta táctica russa não é propriamente uma
novidade. “A mensagem é: se
escolheres ser inimigo da pátria, então não podes ficar surpreendido da forma
como a pátria lida contigo”, diz, indicando que é “muito fácil” para o
regime russo “dar algum dinheiro a um bandido qualquer para que ele ataque alguém”.
No entender de Mark Galeotti, já não
existe um “meio termo” para Vladimir Putin. Agora, ou se está a favor, ou se está contra o regime, como mostra o ataque
contra Leonid Volkov. “É uma abordagem que Putin adoptou”, tendo como
pano fundo a ideia de que a “Rússia está em guerra contra o Ocidente”: “Todos
os russos que não são patriotas [no entender do Presidente russo] são
traidores”.
"Todos os russos que não são
patriotas [no entender do Presidente russo] são traidores - Mark
Galeotti, analista especialista na Rússia
Por tudo isto, numa entrevista à Reuters esta
terça-feira horas antes do ataque, Leonid Volkov sinalizou que
a oposição russa estava a viver “tempos muitos sombrios e muito desafiantes”.
Ainda assim, o opositor frisou que mantém uma “determinação muito forte” para
continuar o trabalho de Alexei Navalny.
Devastado pela morte de Alexei Navalny —
“não há ninguém como ele” —, Leonid Volkov considera que o trabalho do seu
círculo mais próximo, independentemente das represálias que possa sofrer, é
“continuar o seu legado”. Além
disso, na entrevista à Reuters, o dissidente deixou críticas à forma frouxa
como o Ocidente tem confrontado o Presidente russo. “Vejo consequências
devastadoras? Não. O Ocidente consegue igualmente aplicar consequências
devastadoras a Putin? Duvido”.
Lituânia investiga e garante: “Não temos
medo de Putin”
As autoridades lituanas estão a
investigar o caso e já apresentaram uma conclusão preliminar: que é
“provável” que o ataque tenha sido organizado pela Rússia. Num comunicado do Departamento da Segurança do Estado da Lituânia,
lê-se que o objectivo do Kremlin passaria por “travar a implementação de
projetos da oposição russa”, algo que está conectado com “as eleições
presidenciais russas antidemocráticas”.
▲ Presidente
da Lituânia, Gitanas Nausėda, avisa que país não "tem medo" de Putin
e das suas ameaças STEPHANIE
LECOCQ/EPA
Por
sua vez, a ministra do Interior lituana, Agnė Bilotaitė, prevê que estas
“provocações” possam mesmo “aumentar”, principalmente dias antes das eleições.
Mas isso não aumenta o nível de insegurança da Lituânia: “Por agora, no que
concerne ao nível de ameaça no nosso país, certamente não aumentou como resultado
deste evento particular. As pessoas podem sentir-se seguras”.
Não obstante, o Presidente da Lituânia
deixou bem claro. “Só posso
dizer uma coisa a Putin — ninguém tem medo de si aqui”, avisou Gitanas Nausėda, que disse
ser “claro” que ninguém deve “ficar
surpreendido” pelo ataque contra Leonid Volkov. “Eu quero tornar muito
claro que as autoridades vão investigar e espero encontrar os culpados.”
Na mesma linha, o ministro dos Negócios
Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, atacou as “ameaças
vazias” de Vladimir Putin que são expressão do seu “pânico”: “As suas palavras
não nos devem assustar. Ele está assustado que todos um dia vejam que o imperador
não usa roupas”.
RÚSSIA MUNDO GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA LITUÂNIA
COMENTÁRIOS:
Cabanas
de Viriato: Os defensores
da livre expressão no Canadá também temem pela vida. José B Dias: Será só a mim que parece muito esquisito que um
"atentado contra a vida", um ataque "muito profissional",
ao "estilo de São Petersburgo, seja feito com um martelo e que resulte
numas escoriações numa perna e num braço? E
que o visado afirme que lhe deram "15" pancadas na perna? Quem conta
numa circunstância em que assume a vida em risco? Rui Pedro Matos: E o BE e PCP e Livre e PS gostam disto.... Nuno Borges: Já Ferdinand mandou matar Wallenstein. Não se consegue fundar um império de Vladivostok a
Lisboa sem mandar matar todos os bicornes. Para isso nomeou Raimundo. Luis Silva: Os aliados de Navalny também eram criminosos como
ele. Pertinaz: Há
que cercar as embaixadas russas por toda a Europa e obrigá-los a uma semana de
dieta forçada…
Nenhum comentário:
Postar um comentário